Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (crítica II)

Para Victor Bruno, a última parte da saga de Harry Potter não é nada demais, nem nada de menos. Apenas o suficiente

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2

A saga de Harry, Hermione e Ron chega ao fim e Douglas Braga não gosta nada da sua conclusão

Especial David Fincher: A Rede Social

Na última parte do Especial, relembre o que Victor Bruno escreveu sobre A Rede Social, mais recente filme de David Fincher

Especial David Fincher: O Curioso Caso de Benjamin Button

Victor Bruno faz uma análise de O Curioso Caso de Benjamin Button, no penúltimo filme comentado neste especial

Especial David Fincher: Zodíaco

O nosso especial sobre David Fincher continua com Douglas Braga falando sobre Zodíaco, mais um thriller investigativo do norte-americano

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Reservoir Dogs XXX

Eis que, enquanto o público espera Tarantino decidir-se entre a prequela de Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009), a sequência de Kill Bill (Kill Bill Vol. 2, 2004) ou um filme com a Lady Gaga, surge um "remake" baseado em Cães de Aluguel. Mas não é qualquer remake: é um remake pornô.

A produtora Exquizite Films, que já havia anunciado o projeto ano passado (segundo o site Vírgula), agora lança o trailer, no AVN deste ano. Assista-o na janelaa baixo.



Agora, o nome do diretor: General Stone. Alguém aí se lembra do Coronel de Boogie Nights?

Por Victor Bruno

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Oscar 2011 - ao Vivo

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Os (25) eleitos

Por algum motivo que, pessoalmente, não consigo explicar, listas exercem um fascínio no mundo do cinema. Cria-se listas sobre tudo: melhores filmes, melhores falas, melhores roteiros, melhores fotógrafos, melhores atores e atrizes, melhores cenas, melhores beijos, melhores uma-paulada-de-coisas. Deve ser do universo cinematográfico. Desde que o Cinema é cinema, tem-se este hábito.

Isto não é de todo ruim. Dá um senso de organização. Existem pessoas que repudiam. Eu? Não. Não gosto, não gosto de fazer, mas não recrimino. Além deste senso de organização, listas possuem outra função: competência. Listas dão um ar de competência. De rivalidade. Imagine você se só existisse uma rede de supermercado (imagine se fosse – Deus nos livre – o Pão de Açúcar). Como seria isto? Sem a concorrência, o supermercado pararia de prestar atenção na qualidade do serviço, ou no cliente (isso se algum dia eles prestaram atenção no cliente). Afinal, seria apenas um supermercado – querendo ou não, você tem que ir lá.

O mesmo funciona com listas. O problema é: nunca elas soam agradáveis. É aquela velha história – não dá para agradar a todos. O que realmente é uma pena. Só que surge um problema maior. Bem maior. A falta de coerência. Quando olho para uma lista como esta, divulgada no meio desta semana pela Entertainment Weekly, sinto vontade de chorar.

Estão listados abaixo os 25 melhores diretores em atividade, segundo a EW.

  1. David Fincher
  2. Christopher Nolan
  3. Steven Spielberg
  4. Martin Scorsese
  5. Darren Aronofsky
  6. Joel and Ethan Coen
  7. Quentin Tarantino
  8. Terrence Malick
  9. Clint Eastwood
  10. Pedro Almodovar
  11. Paul Thomas Anderson
  12. Guillermo Del Toro
  13. Roman Polanski
  14. Danny Boyle
  15. Kathryn Bigelow
  16. David O. Russell
  17. David Lynch
  18. James Cameron
  19. Peter Jackson
  20. Edgar Wright
  21. Spike Lee
  22. J.J. Abrams
  23. Brad Bird
  24. Mike Leigh
  25. Wes Anderson

A única pergunta que faço é a seguinte: o que esses caras fumam? A real impressão é que eles pegaram uns indicados do Oscar aqui, uns pop ali (Edgar Wright, sério?) e socaram tudo numa lista aleatoriamente.

E modéstia à parte, eu acho que estou certo. Por que esta lista chega a ser constrangedora.

Por Victor Bruno

Coletânea Oscar 2011

Hoje deve ser o dia mais esperado do ano. Não, não é o dia das mães nem o aniversário do Ornitorrinco Cinéfilo. É dia de Oscar. O dia em que cinéfilos e não-cinéfilos estão sentados diante da TV assistindo a nata de Hollywood entrar no Kodak Theater para a receberem o prêmio de cinema mais popular (e polêmico) do mundo.

O Ornitorrinco Cinéfilo – sim, nós –, resolvemos lançar a coletânea de críticas escritas para os filmes indicados ao Oscar de Melhor Filme do Ano. Dos dez filmes, criticamos oito. Infelizmente deixamos pendentes O Vencedor, A Origem e O Discurso do Rei.

Cisne Negro
Minhas Mães e Meu Pai
127 Horas
A Rede Social
Toy Story 3

Bravura Indômita
Inverno da Alma

Da Redação

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Control

Control 2007 / Dirigido por Anton Corbijn
Com Sam Riley, Samantha Morton, Alexandra Maria Lara, Joe Anderson, James Anthony Pearson, Harry Treadaway, Craig Parkinson e Toby Kebbell



(3/5)

Falar sobre coisas populares sempre é difícil. Se fazem um filme sobre um livreco que arrebata multidões enfurecidas de fãs malucas, este filme tem que ser fiel ao extremo. “Por que não colocaram a parte que blá, blá, blá?” Falar sobre Joy Division deve ser quase a mesma coisa. Mesmo que não tenham milhares de fãs-clubes – e mesmo que pouquíssima gente saiba o que diabos seja Joy Divison, esta banda deixou sua marca no asfalto da história da música, e deve, por mais difícil que pareça ser (ou admitir), ser respeitada. Afinal, o Joy Division teve um dos líderes/vocalistas mais emblemáticos da História: Ian Curtis (Sam Riley). De todo modo, existem os fãs, que vão assistir ao filme querendo ampliar seus conhecimentos sobre a banda – ou apenas ver a imagem do seu ídolo numa tela de cinema. De todo modo, é fogo cruzado.

Ian Curtis – qualquer um que tenha o mínimo de conhecimento sobre o Joy Division deve saber isso – teve uma vida atribulada. Um sujeito de personalidade retraída, valores distorcidos pelos seus fluxos de consciência, um rebelde sem causa. Morreu jovem, aos 23 anos, assim como 90% dos líderes destas personalidades (Sid Vicious, alguém?). Teve seu coração e mente divididos entre três amores: Debbie (Samantha Morton), sua esposa; Annik (Alexandra Maria Lara), sua amante belga; e a música, personificada no Joy Division, banda que formou com os seus amigos de bar em Manchester (originalmente chamada de Warsaw). O diretor holandês Anton Cobijn tem que encaixar este quebra-cabeça (que, acreditem, é caótico) num filme de pouco mais de duas horas. Cobijn aqui é uma espécie de Peter Jackson – assim como o nerd neozelandês é fã de Tolkien, o holandês Cobijn é fã de Curtis. E não se esqueçam dos fãs do Joy.

Filmado totalmente em preto e branco, Cobijn tenta montar uma atmosfera depressiva, funcionando como uma espécie de espelho para a personalidade de Ian Curtis. O diretor emprega enquadramentos simétricos e chapados, tirando assim qualquer tipo de visão periférica que a imagem pudesse nos oferecer. Novamente, nota-se que o filme quer retratar fielmente a visão de mundo que o vocalista do Joy Division tinha: distorcido, negro e sem esperança. Olha-se sempre para a frente, por que o passado já não interessa, e o curso da vida não pode ser modificado. Curtis era um fatalista. Um emprego brilhante que esta “falta de elegância” estética visual adotada por Cubijn (e brilhantemente executada pelo seu fotógrafo Martin Ruhe) pode ser visto quando Ian, já apaixonado por Annik, diz para Deborah “Acho que não te amo mais”. Observe como Ruhe e Cubijn deixam o background da cena totalmente fora de foco, e a câmera não nos permite ver toda a rua.

Mas isso – por incrível que pareça – não é surpreendente, Cubijn tem como formação a fotografia documental. Seus enquadramentos simétricos (parecem ser retirados dos filmes do Kubrick, ou, de modo mais radical mais radical, dos filmes de Wes Anderson), soam como se fossem retirados de um photobook. E isso auxilia muito. Este clima austero ajuda demais no estabelecimento do que considero a melhor coisa do filme: a sua linearidade narrativa, e, acima de tudo, no bom andamento da trama. É incrível como Cubijn consegue manter um ritmo consistente durante todo o filme, quase sem nenhuma espécie de rapidez exagerada nas cenas, ou lentidão excessiva. O ritmo do filme é bem uniforme, calmo, corre sem pressa. Cubijn preza por uma montagem limpa, excepcionalmente executada por Andrew Hulme.

Por outro lado o roteiro de Control, escrito por Matt Greenhalgh – que parece ter se especializado em roteirizar filmes sobre ídolos da música, já que ele é o mesmo roteirista de O Garoto de Liverpool (The Nowhere Boy, 2009), filme que aborda os primeiros anos de carreira de John Lennon –, apresenta um excesso de elipses narrativas que tornam-se irritantes. E elas começam cedo na trama. Logo no início, em um instante estamos vendo Ian e Deborah numa árvore. De repente ele surta e pede-a em casamento. No instante seguinte, estamos na igreja. Mais um pouco e eles já estão tendo filhos (!). Isto não é realmente um problema do roteiro, mas exige que o espectador preste um pouco mais de atenção. Às vezes eu pensei, durante o filme, que estas elipses eram preguiça de Greenhalgh para contar a história. Logo descartei. É este o estilo do filme. Mas o que chateia mais nisso é que estes jump cuts constantes interferem exatamente numa das características mais importantes (e interessantes, sendo sincero) do protagonista: seus fluxos de consciência. Ou seja, seus monólogos interiores. O filme é aberto exatamente um destes fluxos, um diálogo entre Ian e Ian sobre a vida. Como ele tenta viver. E desde o princípio nós notamos o seu tom de voz afetado e triste, dois maneirismos que são extremamente bem interpretados por Sam Riley, numa ótima performance.

Riley (o protagonista do novo filme de Walter Salles, On the Road), por sinal, baixa o próprio Ian Curtis. É realmente impressionante vê-lo durante as apresentações da banda, assumindo o mesmo jeitão desengonçado do vocalista do Joy Division. Ou triste, dependendo da situação. Repare como ele se atém sempre ao canto do enquadramento, ou na parte mais escura. Artifício utilizado justamente para mostrar – novamente – o reflexo da sua personalidade. Todavia, apesar destas qualidades, no fundo, no fundo, o Curtis deste Control não parece ser nada além de um garotinho mimado com crises existenciais, uma falha crassa não de Riley, mas do roteirista Greenhalgh. Afinal quem era este rapaz, que, no início, se travestia de David Bowie e tinha uma gangue de fumantes? Sua epilepsia, nunca é bem abordada durante a trama. Quem é Annik, qual sua real função durante a trama, além de ser amante de Ian? São pontos abertos deixados pelo roteiro. Aqui e acolá Ian tem alguns monólogos interiores que revelam algo, mas, no mais, Greenhalgh parece sair catando o que acha mais interessante na vida de Ian Curtis e joga no roteiro. Felizmente os bons diálogos encenados pelas personagens (destaque para o desbocado Rob Gretton, interpretado por Toby Kebbell, de Rock'n'Rolla – A Grande Roubada (Rock'n'Rolla, 2008)) salvam tudo de um provável desastre. Destaque ainda para Samantha Morton, como Deborah, a alma da família Curtis.

Contando ainda com uma boa trilha sonora, povoada pelo som do punk-rock dos anos 70 na Inglaterra, Control prova-se um ótimo filme de um adolescente-adulto com crises existenciais. É uma espécie de “coming of age”, além de servir como guia para quem quer se adentrar nas matas da música britânica. Claro, não posso me esquecer do tremendo ato de coragem de Deborah Curtis em produzir o filme (ela, viúva de Curtis, é produtora executiva de Control).

Control não é nada além da história do Renato Russo britânico (até o registro de voz do cara é similar). E é assim que deve ser visto. Um bom filme didático sobre música.

Por Victor Bruno

sábado, 19 de fevereiro de 2011

127 Horas

127 Hours, 2010/ Dirigido por Danny Boyle
Com James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn, Clémence Poésy e Treat Williams


1/5

No ano de 2003, o engenheiro e montanhista Aron Ralston ficou com parte do braço preso debaixo de uma rocha quando estava escalando um canyon na região montanhosa de Utah, nos Estados Unidos. Aaron ficou impressionantes 127 horas no local, com pouca água, praticamente sem comida, quase nenhum equipamento e sem ninguém saber que ele estava ali. Após conseguir sobreviver, Aaron escreveu o livro "127 Horas - Uma Empolgante História de Sobrevivência" (título brasileiro), que fez bastante sucesso nos Estados Unidos, e não demorou para que sua história chegasse aos cinemas pelas mãos do premiado diretor Danny Boyle.

Entretanto, como retratar no cinema todo esse drama, em que otempo tem importância fundamental, sem cansar o espectador? Danny Boyle topou o desafio, mas o resultado é um fracasso retumbante. Nem tanto pelo roteiro, que é correto em si, mas pela montagem transloucada, trilha sonora sonora excessiva e, principalmente, a direção equivocada de Boyle.



"127 Horas" já começa mal, e toda sua introdução parece um grande equívoco. Dá-lhe a divisão em três partes de cada cena, a trilha insuportável de A. R. Rahman (que trabalhou com Boyle no fraco "Quem Quer Ser um Milionário?"), e takes longos de Aaron (James Franco) no canyon. Aind anesse início, Aaron encontra duas moças perdidas na região e as ajuda, momento que é alongado pelo diretor simplesmente para poder provocar um certo melodrama em cena outra posterior.

Eis que o acidente acontece, e Aaron fica com o braço preso debaixo da rocha. A partir de então, Boyle utiliza de todos os recusos possíveis para que não sintamos o tempo passar, o que por si só é uma ambiguidade em um filme que trata exatamente do passar do tempo! E lá se vão cortes rápidos, flashbacks inúteis e algumas seqüências pretensamente nojentas (envolvendo urina, por exemplo) que são absolutamente risíveis. O diretor falha em transmitir toda a agonia que aquele homem estava vivendo; se, por um lado, a água acabava, e seu único contato era com um câmera digital, há diversas cenas "engraçadinhas" que praticamente boicotam o filme a todo momento. O grande destaque e ponto alto do filme que ocorre quase no fim (cena com mutilação) é bem executado, mas não é impressionante como as campanhas publicitárias vêm alardeando.



Para interpretar o protagonista, foi escolhido o ator James Franco, uma das estrelas do momento. E sua atuação não justifica a indicação ao Oscar, já que ele realiza um trabalho apenas eficiente e sem maiores destaques. As pretensas cenas "fortes" não exigem tanto do ator, cuj odesempenho é a todo momento ajudado pela montagem rápida. Mas a Academia de Hlloywood parece gostar dele, e além da vaga de apresentador da cerimônia de 2011, Franco acabou recebendo uma indicação um tanto quanto indevida.

É, assim, de se surpreender a quantidade de indicações que "127 Horas" recebeu no Oscar (é, sem dúvidas, o mais fraco dos indicados a melhor filme) e em outras premiações, considerando que é um filmeco completamente mal realizado, em que aonde Danny Boyle atinge praticamente o fundo do poço.

Por Douglas Braga

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sobre a importância do diretor, e sua autoridade

Outro dia eu estava conversando com o corredator do blog, Pedro Ruback, quando surgiu a famosa incógnita, talvez a que mais tenha exaltado nervos na história do Cinema: “O diretor é o autor do filme”? Afinal, milhões de teorias e livros já foram escritos acerca deste tema. Aquele pessoal da Cahiers du Cinéma, principalmente François Truffaut, criou a famosa Teoria do Auteur, que afirma categoricamente – “O diretor é o autor do filme”. Logo, se um filme for bom, a culpa é do diretor. Se for mal, idem. Eu concordo. Afinal, nada vai para o filme sem o crivo do diretor. Não um diretor, mas o diretor. Quem você acha que é o autor de Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941)? Não é Bernard Herrmann e sua ótima trilha sonora. Também não é Gregg Toland e sua excelente fotografia. O autor de Cidadão Kane é Orson Welles, o diretor. Mas certamente Herrmann e Toland contribuíram bastante para o enriquecimento da estética audiovisual do filme. Welles não era fotógrafo. Muito menos músico. Os detratores da Teoria do Auteur (como a megera Pauline Kael) dizem que o filme é um conjunto de ideias de todas as pessoas que estão envolvidas na obra, desde o sujeito que varre o estúdio para a preparação do set, até o próprio diretor. Ora, não tenho dúvidas quanto a isso. Entretanto estas “ideias” só vão para o filme, sendo captadas em película, se o Sr. Diretor aceitar. Não adianta ficar emburrado, resmungar, chamar o cara de filho-da-mãe arrogante. O diretor é o dono do filme.

Não é arrogância, é uma simples questão de lógica. Veja, Martin Scorsese, em filmes como Os Bons Companheiros (The GoodFellas, 1990), prefere não utilizar trilha sonora composta para o filme. No filme supracitado, ele se utiliza de músicas que tocavam nas rádios na época em que a história acontece. E isto é brilhante! Sinceramente, pense – o que é mais interessante, criar uma cena que contenha o ritmo e som de uma música da época, ou chamar um cara (no caso de Scorsese, Howard Shore) para vir e criar tudo? Me soa muito mais interessante e – sim – autoral. Ali é o crivo (e a autoindulgência de Scorsese) sendo posto em prática. A mesma coisa acontece em Barry Lyndon (Barry Lyndon, 1974), de Stanley Kubrick, onde não há música composta para o filme, o filme foi composto para a música.

Agora, surge aí – o letreiro “Um Filme de...” pode, ou não ser utilizado? É arrogância ou não? A resposta mais óbvia é “Sim, claro, pode ser utilizado”. E esta é a resposta certa. Elementar, meu caro Watson. Se um filme segue o crivo do diretor, se a palavra final é a sua, se tudo gira em função da sua visão única e incomparável, qual o problema? O filme é um conjunto de ideias? Sim. Um filme tem um autor? Sim, e este autor é o diretor. Fim de papo. Arrogância seria se todos dessem uma de M. Night Shyamalan e pusessem, por exemplo, “M. Night Shyamalan's Am I a Dead Man Walking?”. Ou como Michael Cimino fez em O Portal do Paraíso (Heaven's Gate, 1980) e por “Michael Cimino's Heaven's Gate”, e ir além, e se abrir a boca para dizer “Esses caras, diretores de fotografia, como Vilmos Zsisgmond, que se acham mais importante que os diretores. Superiores. Quem se lembra quem fotografou Dr. Fantástico ou Barry Lyndon?” Eu me lembro, Michael. Tanto que por vezes a fotografia de Barry Lyndon é mais citada que o próprio Kubrick. Mas isso não vai servir para me contradizer, já que a ideia de fotografar o filme com luzes naturais, germinou e nasceu na mente do diretor Stanley, sendo soberbamente executada por John Alcott. O filme vive em função do diretor, não o oposto. E ponto final.

Match Point, de Woody Allen.

Por Victor Bruno

Toy Story 3

Toy Story 3, 2010 / Dirigido por Lee Unkrich.
Com Tom Hanks, Tim Allen, Don Rickles, Michael Keaton, Joan Kusack, Wallace Shawn, John Ratzenberger e Ned Beatty.


(4/5)

Em 1995, uma revolucionária técnica de animação invadiu o mundo do cinema. Trazendo personagens em três dimensões, com movimentos realistas e menos mecânicos e falsos como em animações Stop Motion, o filme Toy Story marcou uma revolução cinematográfica ampliando os horizontes dos efeitos especiais. John Lasseter foi o responsável pela direção dessa fantástica e envolvente aventura onde bonecos de brinquedo ganham vida, falam, correm e tem seus próprios conflitos. Não só isso, mas envolveu uma geração inteira de crianças que sonhavam com aqueles brinquedos de carisma enorme. Foi um sonho infantil se tornando realidade nas telas de um cinema. Qual criança nunca quis ter seus brinquedos com vida própria, nunca quis que eles conversassem consigo?

E assim se sustentou o divertido grupo de bonecos protagonizados por Buzz Lightyear (dublado por Tim Allen) e Woody (dublado por Tom Hanks), uma dupla nada convencional: um astronauta em guerra contra um poderoso inimigo intergaláctico e um caubói que vive uma vida de aventuras junto a seu cavalo. Toy Story não só envolveu por estes personagens, mas por um conjunto de diversos e distintos personagens. São dos mais variados tipos, alegres, medrosos, tristes e tímidos, personificações de uma geração de crianças, não há como uma criança não se identificar com menos de um deles.

Não demorou e chegou aos cinemas Toy Story 2, com uma aventura ainda mais envolvente e divertida e com técnicas de computação gráfica mais aprimoradas ainda, sem falhas e muito mais realista que antes. A equipe de direção, roteiro, animação e tudo o mais se expandiu de uma forma surpreendente e as salas de cinema lotaram assinando um sucesso comercial e entre as crianças incrível (na minha opinião, Toy Story 2 consegue ser o melhor da trilogia).

Então, dez anos depois do lançamento de Toy Story 2, chega às telas dos cinemas Toy Story 3 assinando à laser sua marca na história. Com uma história que segue a linha de suas anteriores, com os mesmos personagens, mas uma situação diferente e comovente, Toy Story 3 ganhou, não só as crianças de hoje como aqueles jovens que curtiram quando criança os bonecos favoritos, agora, muitos já adultos. Foi essa a estratégia e idéia da produção. Criar, assim como na realidade, uma situação que possa ser familiar àqueles que viveram os primeiros momentos da animação.

Em Toy Story 3, Andy, dono dos bonecos, está adulto e vai para a faculdade distanciando-se então de seus brinquedos mesmo ainda gostando deles. Esse terceiro filme marca um início conclusivo triste, mas realista da juventude atual. Andy se afasta de seus brinquedos e os brinquedos sentem falta dele e fazem de tudo para chamarem a atenção dos olhos de Andy, agora focados em coisas diferentes. O amadurecimento aqui, apesar do mostrado, não é um distanciamento dos sentimentos passados, dos apegos como muitos procuram cultivar. O jovem adulto é retratado como uma pessoa com sentimentos e lembranças. Mesmo que os bonecos sejam objetos materiais, é um marco na vida de qualquer pessoa que teve a oportunidade de passar horas inventando histórias e o filme consegue mostrar que essa nostalgia, esse momento criativo da vida não é apenas mais um momento da vida, não deve deixar de ser um marco quando adulto, deve ser lembrado e compreendido, nunca deve ser ignorado.

A aventura do grupo de bonecos começa quando, após um engano, eles são enviados como doação para uma creche. Lá eles conhecem diversos outros brinquedos que os recebem carinhosamente e dão uma impressão de liberdade e de felicidade, pois os nossos bonecos agora fariam parte do cotidiano de outras crianças que brincariam com eles com a mesma alegria como quando Andy brincava quando criança. Mas Woody, que nunca concordou em se distanciar de Andy, foge e vai em busca de seu verdadeiro dono enquanto os outros ficam. Os que ficam, liderados por Buzz, percebem que o lugar não é tão legal quando parece depois que são colocados em uma sala de crianças maiores e bagunceiras e sofrem grande perigo. Como se não bastasse, os brinquedos que alí pareciam hospitaleiros são na verdade controladores e maus criando uma verdadeira prisão aos nossos amigos.

Não sendo tão básico quando parece, o filme tem emoção e os personagens dele ainda mais. Mesmo os maus, conseguem nos convencer com seus conflitos e são belamente desenvolvidos. Mas, o que não colabora, para nós, mais atentos, é sua estranha falta de originalidade nesse meio de filme, o desenvolvimento dele. Ao mesmo tempo em que Toy Story 3 é um filme grandioso em idéias, ele se perde não conseguindo ir além de outros filmes que estão nas prateleiras das locadoras ou em cartazes. Os vilões são sempre sentimentais e seus conflitos nos fazem ficar com pena deles. O desenrolar soa batido, pois há uma grande massa de filmes infantis que usam dos mesmos recursos para conquistar as crianças e até mesmo os adultos.

Toy Story 3 mais parece apenas mais um filme que um destaque realmente, apesar de ser muito bom, claro. O que nos faz gostar realmente dele é o tratamento do jovem adulto e a nostalgia de ser criança, as lembranças que nunca morrem nem morrerão dentro de todas as pessoas. As crianças sentem isso até mais que muitos adultos, ou melhor, mais que a maioria dos adultos. Elas vêem a esperança de nunca esquecerem seus brinquedos. Muitos de nós, adolescentes adultos sentimos o mesmo, é o tipo de filme que nos faz voltar no tempo e lembrar de quando estávamos sentados no chão brincando com bonecos, aviões, carros e caminhões sem preocupação com o futuro e com conflitos. O que também não quer dizer que o filme sustente a idéia de um adulto sem amadurecimento.

Mesmo com seu simples e negativo desenvolvimento, talvez até clichê, Toy Story 3 encanta pelas suas qualidades que se sobrepõem a qualquer defeito. O filme concorre esse ano a incríveis cinco estatuetas do Oscar, desde “Canção Original” ao posto mais alto da premiação: “Melhor Filme”, concorrendo com filmes de peso como Black Swan e The King’s Speech, o grande favorito do ano. A direção é de peso, carregada por Lee Unkrich, diretor de outros grandes filmes como Monsters, Inc. e Finding Nemo. É diversão mais do que garantida!

Por Pedro Ruback

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Vidas em Jogo

http://www.critique-film.fr/wordpress/wp-content/uploads/2010/11/the-game-david-fincher-michael-douglas-critique-film-clown.jpg
The Game, 1997 / Dirigido por David Fincher
Com Michael Douglas, Sean Penn, Deborah Kara Unger e James Rebhorn



(3/5)

Imprensado entre dois grandes filmes na filmografia de seu diretor, Vidas em Jogo não recebe muita atenção, o que é realmente uma pena, já que este é um trabalho de grandes qualidades – com boas atuações, boa fotografia e uma história pra lá de interessante.

O terceiro trabalho de David Fincher (Zodíaco, Quarto do Pânico) é um interessante flerte com o cinema noir. Está tudo lá: fotografia escura, personagem principal anestesiado, lutando contra algo que ele mesmo não sabe o que é. Afinal, o que é o CRS? Ele está em todos os lugares, sabe de tudo, ante mesmo que pensemos. Se vamos sentir algo, o CRS já sabe de antemão o que sentiremos. É incrível.

Mesmo com esta premissa interessante, Vidas em Jogo foi atirado às traças. Ele deu o azar de está entre o cultuado Se7en – Os Sete Crimes Capitais (Se7en, 1995) e o polêmico e mortal Clube da Luta (Fight Club, 1999). Se o primeiro era um belíssimo filme de visual maravilhoso e de história bem construida, e se o segundo tinha visual igualmente belo e uma engenhosa história, este aqui também é. É um David Fincher menor, mesmo tendo defeitos irreparáveis.

No seu 48º aniversário, Nicholas Van Horton (Michael Douglas), um poderoso especulador financeiro sediado em São Francisco, recebe uma chamada de seu irmão, Conrad (Sean Penn) para um almoço. Chegando lá, Conrad entrega o presente de Nicholas: um cartão de uma empresa de recreação – a tal CRS. Ele diz que a empresa oferece um programa inesquecível. “Mudou a minha vida”, completa. Parece pegadinha, certo? Errado. A empresa já adquiriu fama, em mesas de bares, ginásios e pubs, ela sempre é citada como algo acima da nossa compreensão, que gente como você, ou eu, estamos longe de entendermos a sua magnitude. O que a tal CRS faz é tão perfeito que um dos comentaristas da empresa, quando perguntado por Nicholas o que, afinal, é isto, responde: “João, capítulo 9, versículo 25. 'Estive cego, mas agora posso ver.'”


Andando nas ruas, Nicholas depara-se, por acaso, com o prédio da CRS. Ele entra e – quase sem perceber – faz os testes para entrar no Jogo (repare que, a partir de agora, sempre que citar o Jogo, será em letra maiúscula). Aparentemente ele é recusado, mas naquela mesma noite, encontra um palhaço no seu jardim. É algo mórbido – foi naquele mesmo jardim que seu pai se matou, atirando-se do alto da casa. Na boca do palhaço – uma chave. Para que serve a chave? Só Deus sabe, mas as coisas começam a complicar: o âncora do jornal para a programação para falar com ele, canetas explodem na sua camisa, pessoas infartam na sua frente. Para um homem obcecado com o controle, essas surpresas são horríveis. E como ele mesmo havia dito, “odeio surpresas”.

É realmente interessante como a história é construída, mas a execução é pífia. Para todos os efeitos, Vidas em Jogo não é nada além de um bom filme de suspense. Entretenimento leve para as massas. Fincher, ou seus roteiristas, John D. Brancato e Michael Ferris, não subestimam a inteligência do espectador, ou se atém a resoluções fáceis para os problemas que surgem no decorrer da trama. Apostando num humor negro para estabelecer um laço de afinidade com quem assiste, o filme prende o espectador. Entretanto, o próprio roteiro é sabotado por si mesmo. Ferris e Brancato (roteiristas de coisas como Mulher-Gato e O Exterminador do Futuro – A Salvação) estabelecem tantas situações bizarras (como aquela em que Nicholas é drogado e enterrado num cemitério no México), que o final fica totalmente deslocado na trama. Tudo bem, é surpreendente? Totalmente. Mas subestima de forma lastimável a inteligência do espectador, coisa que – até então – não havia acontecido no filme. Por exemplo, até mesmo o romance cliché que supostamente aconteceria entre Christhine (Deborah Kara Unger) e Nicholas tem alguma importância na trama.

Mas o principal problema do filme reside exatamente onde normalmente residem os maiores acertos da filmografia de Fincher: a direção. O trabalho do diretor, plasticamente falando, é simplesmente brilhante. Entretanto, no estabelecimento de uma dinâmica tensa entre filme/público, Fincher falha miseravelmente. Mas a culpa é do roteiro, de certa forma. Fincher e Brancato não combinam. O roteiro investe num humor negro que não se encaixa com o objetivo da direção. E a direção de Fincher não se deu conta disso, falhando horripilantemente. Não estraga tudo, mas também não deixa o filme evoluir.

De todas as formas, não podemos atirar contra o filme aleatoriamente. Fincher até acerta. Ele constrói um tradicional visual barroco, com fotografia extremamente escura (e muito bela, diga-se de passagem, dirigida por Harry Savides) que auxilia na construção da densidade da paranóia que Nicholas passa a viver. E, mesmo com todas as falhas proporcionadas pelo roteiro, o filme ainda surpreende. Momentos brilhantes como a sequencia do hotel, onde Nicholas encontra carreiras de cocaína e milhares de fotos pornográficas, ou a psicodélica sequencia na casa de Nicholas, regada a ótima “White Rabbit”, do Jefferson Airplane, crivam este filme mediano. Então, é meio contraditório: Fincher faz um bom ou mal trabalho? Acredito eu que esteja no meio termo. Ele constrói tensão e uma sensação de melancolia. Logo na primeira sequencia do filme, logo após os títulos, quando vemos filmes da infância de Nicholas, percebemos que ele se tornou um sujeito triste e frio, tendo testemunhado o suicídio do próprio pai. (Acredito que essa sequencia tenha sido emprestada de Caminhos Perigosos, de Martin Scorsese, que começa de forma parecida.)

Este sujeito frio e melancólico, capaz de passar o aniversário comendo sanduíche enquanto assiste a CNN, é bem interpretado por Michael Douglas. Num personagem que tem que passar a expressão de medo, Douglas mostrou-se uma ótima escolha. Ainda que sua atuação soe dura e seca demais, e por vezes forçada (como na cena em que é dopado, na casa de campo), Douglas se sobressai. Sean Penn, em sua curta e limitada participação, faz um ótimo trabalho, mudando de faceta de forma brilhante. Observe como o Penn do início do filme, falando baixo e controlado, mas terrivelmente desbocado, não é o mesmo Penn paranóico do meio do filme, falando pérolas como “They fuck you and fuck you and fuck you, and just when you think it's over, that's when the real fucking begins!

Apesar dos erros e acertos, Vidas em Jogo é um filme interessante de um bom diretor. Como supracitado, é um Fincher menor. Um Depois de Horas (After Hours, 1985) mal construído e mais negro.

Por Victor Bruno

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Sobre os meninos egípcios na praça com notebooks e um fora em Boston

É público e notório – estamos vivendo um grande momento no mundo. A saída de Hosni Mubarak, a queda de seu regime autocrático, é algo que poucas vezes nós podemos ver em vida. É um momento de júbilo para os jovens egípcios que – heroicamente – foram para as praças do Cairo clamar pela saída de um tirano. Um tirano que, ironicamente, chegou ao poder com um golpe e uma revolta.

Há trinta anos, quando Mubarak subiu ao poder, seu antecessor, Anwar Al Sadat, foi morto por um grupo extremista muçulmano. Hoje, seu poder foi morto por um grupo de milhares de jovens enfurecidos, vítimas de uma opressão aterradora. O que será no futuro? Ninguém sabe ao certo. Pode ser que o Egito vire uma democracia de facto. Ou não. Pode ser um novo Irã da vida. É a mesma dúvida que há na Tunísia, mas por hora, status quo. Ora, Tunísia e Egito acabaram de mostrar algo incrível, que – assim como o grande momento que estamos vivendo no mundo – é público e notório.

Tunísia e Egito devem muito a Mark Zuckerberg, Erica Albright e Tim Benners-Lee. Tim Benners-Lee inventou a Internet, enquanto Mubarak subia ao poder e sapateava no túmulo de Al Sadat. Erica Albright, pouco mais de vinte anos depois, estava chutando a bunda de Mark Zuckerberg e o mandava capinar. No som e na fúria, o tolo que conta a história das nossas vidas, criou o Facebook. E foi com esse mesmo Facebook azulzinho que os jovens egípcios deram uma de Albright – mandaram Mubarak ir capinar.

Capinaremos, então”, disse Mubarak hoje, 11 de fevereiro de 2011. Alguns mais afobados poderão tirar que aqui estou dizendo “Zuckerberg + Pé na Bunda = Liberdade”. Depende. A verdade é que A Rede Social (The Social Network, 2010) alavancou Zuckerberg. Eu aposto meu computador que mais da metade dos jovens que utilizaram o Facebook viram A Rede Social, e – assim como eu – criaram uma conta no Facebook. O Facebook está se saindo como a prensa de Gutenberg. Como o próprio Zuckerberg disse, “De tempos em tempos, as formas da mídia mudam”. E o jovem de chinelos Adidas está completamente certo. Dou toda a razão do mundo para Mark. Por que não? Foi com a prensa de Gutenberg, Lutero derrubou a hegemonia da Igreja Católica na Alemanha e fundou uma das maiores vertentes do cristianismo. “Obrigado, Gutenberg.” Quer uma prova? Assista Lutero (Lutero, 2003), ou leia um livro de História.

Séculos mais tarde, foi a vez do jornal. Os intrépidos Bob Woodward e Carl Bernstein investigaram os podres do governo Nixon, toda maracutaia do Watergate. Resultado? Richard Nixon caiu. A mídia mudou, mas o princípio é o mesmo, a palavra escrita à tinta. Não à lápis. Não estou mentindo, rapaziada. Assistam Todos os Homens do Presidente (All the President's Men, 1976), de Alan J. Pakula.

Agora, quarenta, cinquenta anos depois, estamos aqui. O Facebook mete bronca. Os jovens, no calor da fúria, escreveram na língua árabe o que William Wallace disse em inglês: “Liberdade!” E lá estava Fincher documentando em celulóide o processo de criação desta poderosa arma. E o princípio continuou o mesmo: a palavra escrita. A palavra escrita numa tinta digital.

E o cinema, mais uma vez, foi a testemunha que levará a história às gerações futuras. Agora os meninos egípcios sejam bem-educados e digam “Obrigado, Zuckerberg.”

Por Victor Bruno

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Inverno da Alma

Winter's Bone, 2010 / Dirigido por Debra Granik
Com Jennifer Lawrence, John Hawkes, Shelley Waggner e Garret Dillahunt



(3/5)

Logo nos primeiros segundos de Inverno da Alma, a nova sensação do cinema independente norte-americano, a direção de Debra Granik já nos deixa uma mensagem bem clara: haverá gelo. Não sangue, não violência, mas gelo. Muito gelo. Debra Granik e sua câmera tremeliquenta vão nos empurrar para uma lenta viagem situada nas gélidas montanhas Orzak, no Estado do Arkansas, Estados Unidos.

Ree (Jennifer Lawrence) é uma garota retraída e aborrecida, que vive num mundo cinza e estranho. Ela mora com a mãe, que está permanentemente doente (“Ela está doente, e estará no futuro, também”) e fala o mínimo possível, e com os irmãos, Ashlee e Sonny (Ashlee Thompson e Isaiah Stone, respectivamente). Aparentemente, tem a ambição de ingressar nas Forças Armadas, já que receberia a quantia de 14 mil dólares, o que ajudaria bastante a melhorar a situação.

Entretanto, tudo muda quando a polícia bate a sua porta e o delegado Baskin (Garret Dillahunt) a avisa de que seu pai, um traficante de drogas, foi solto sob fiança. Nada demais, certo? Errado. Segundo Baskin, a garantia da fiança é a casa e o terreno onde a família vive, e que ele tem somente uma semana para aparecer no julgamento. Em busca do pai e com a ajuda de seu tio, Teardrop (John Hawkes), Ree irá submergir no mundo da produção e venda das drogas.

Filmado de modo totalmente digital e baseado no livro de Daniel Woodrell, Inverno da Alma caminha a passos de tartaruga. A lenta narrativa impressa pela diretora Granik torna-se repetitiva e ojerizante. A história de Ree é contada na forma de uma frieza apavorante. Em nenhum momento nós nos sentimos imbuídos de qualquer tipo de ânimo. Se o início melancólico, com a imagem dos irmãos caçulas de Ree pulando em um pula-pula (sua única diversão), nos deixa claro que o filme vai seguir um tom bem cinzento, as cenas de ação também não dão oxigênio para o espectador. Aliás, a cena de ação. Granik tenta estabelecer um roteiro que construa uma atmosfera bastante densa, densa que dê para cortar com uma faca.

Mas falha. E falha vergonhosamente. Nem a sua direção e nem o roteiro (escrito por ela mesma e Anne Rosellini) permitem algum tipo de aproximação emocional. Culpa da direção fria adotada por Granik. Talvez tenha sido a inexperiência. Antes deste filme a diretora tinha apenas uma obra no currículo, um indie chamado Down to the Bone, com Vera Farmiga, que permanece inédito no Brasil. Granik se arma com uma auto-indulgência perigosíssima, que põe em risco toda consistência do filme. Não existem músicas incidentais. De verdade, quase não há música. Se eu bem me recordo, as únicas peças musicais escutadas durante Inverno da Alma são a do início, uma melancólica canção tradicional do Missouri, a do final (belíssima, por sinal), e o banjo numa festa de aniversário.


Filmado – como citado anteriormente – de modo totalmente digital, Inverno da Alma mostra como esse tipo de captação abre cada vez mais espaço para novos cineastas. Filmado com a poderosa Red One (o mesmo tipo de câmera que David Fincher utilizou em A Rede Social), Granik e seu diretor de fotografia Michael McDonough seguem à risca a “regra” do cinema independente: mexa a sua câmera o máximo possível e filme com escala de cinza. Realmente a paleta de cores varia entre o cinza e o azul, mas não poderia ser de modo diferente. Estamos no meio do inverno. A temporada de retração e frieza das pessoas. Neste ponto, Granik acerta em cheio.

Inverno da Alma também acerta na construção de um clima depressivo. Se dependesse apenas disso, seria excelente. A sensação de perda é uma constante no filme. Veja, por exemplo a cena em que Ree olha para o guarda-roupa de seu pai. Nesta cena é descarregada toda uma carga emocional fortíssima, brilhantemente interpretada por Jennifer Lawrence, o que mostra que sua indicação não foi um erro da academia. Ela constrói uma personagem de forma brilhante. A curvatura nas costas, mostrando um peso, uma cruz, que não consegue tirar; a fala retraída e fechada, a sobrancelha quase sempre para baixo, mostrando uma fúria incontrolável... tudo isso Lawrence põe em sua personagem, misturando com uma sensação de completa anestesia. Um exemplo de como Lawrence interpreta bem? Veja como ela reage ao silêncio arrasador da mãe, mesmo que seja por sua doença, quando ela mostra seu desespero no bosque que cerca a sua casa.

Se fosse um drama familiar, Inverno da Alma seria um dos melhores filmes do ano. Mas não é. O enredo se perde completamente. O que eu pensei, em dado momento do filme, é que as roteiristas estavam lendo o livro de Woodrell e tirando o que achavam mais interessante. A diretora não consegue aplicar tensão, apenas melancolia. Uma coletânea de erros, crivada em alguns momentos por momentos brilhantes e atuações consistentes, é o que forma este filme, aliado a falta de ritmo. Aliás, Inverno da Alma até tem ritmo, mas ficou escondido entre as árvores dos bosques de Orzak. A grosso modo, este é um longo e deprimente close-up numa pedra de gelo.

Por Victor Bruno

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

We're back, nós voltamos à contra gosto

Você gostando ou não, nós voltamos. Após uma estratégica parada para a reformulação do layout do blog – mesmo achando que estraguei com tudo –, o Ornitorrinco Cinéfilo volta a ativa. Voltamos por dois motivos: A). Já dá para trabalhar assim, mesmo cru, e B) Vimos uma queda vertiginosa de acessos durante os três dias sem nenhum artigo novo escrito. De meros 145 acesso diários, o número caiu para 85.

Claro, nós não podemos parar no tempo. Eu, Victor Bruno, seu editor, estava programando essa reformulação apenas para o aniversário de um ano de casa. Entretanto, já estava tomando uma ojeriza pelo antro. Convenhamos, olhar para a mesma coisa durante um ano torna tudo extremamente tedioso e rotineiro, não acha? Bom, há quem diga que sim, há quem diga que não. Não sou um homem de agradar – como já dizia meu professor de Aritimética – 99.9% das pessoas. Meu objetivo é de levar tudo a perfeição e conseguir agradar 100% dos leitores. Talvez eu não consiga (e eu tenho certeza de que não consigo) agradar a todos os leitores. Nos pedidos de textos, no conteúdo do blog (há quem ache deveras acadêmico, há quem ache desleixado demais) ou – principalmente e criticamente – agora, no novo layout.

Gosto das coisas bastante simples. Se um dia você vir a minha casa, vai perceber que é tudo extremamente minimalista. Emprego este estilo simplório de vida por conta da minha obsessão pelos detalhes. Quanto mais detalhes, mais preocupado fico. Logo, quanto menos detalhes, mais relaxado fico. Por conta disso, o blog está assim: preto e branco. Preto e branco, creio eu, agrada a todos. Até por que – sejamos sinceros – o importante neste blog são os textos, e não nos adornos cintilantes que você gostaria de ver aqui.

Mas até mesmo – eu descobri – o minimalismo é anti-minimalista. Para ser minimalista, tem que ser minimalista mesmo. Tem que ser minimalista para mim e empolgante para você. E, em todo mundo, não há minimalismo mais minimalista do que o bom e velho preto e branco. Não conseguiria alcançar meu objetivo sem a grande ajuda do meu amigo Chrysthian Chrisley, o homem que me mostrou o que eu queria ver, aqui como layout, depois de penar com as minhas frescuras. Sem ele não conseguiria fazer essa reforma.

A verdade é que isso tudo está meio cru, ainda. A sessão críticas vai ter que ser totalmente reestruturada filme por filme, e foram mais de 50 textos ano passado. Muito mais, eu creio. O “Opinativos” é uma nova divisão para textos como o que publiquei após o Globo de Ouro. O “Coberturas!” (com exclamação, não se esqueça) é o arquivo de coberturas para premiações e festivais como o Oscar e – com sorte – o Festival de Cannes.

Quero agradecer também a equipe do Blogger, por ceder espaço para milhares de blogueiros idiotas, como este que vos fala, postarem suas bobagens que não interessam a ninguém. Quero agradecer a Mark Zuckerberg e a toda equipe do Facebook por desenvolver o botão “Curtir”. Sem eles não teria retorno. Agradecimentos igualmente especiais para o Google Analytics. Agora, fica o recado. Ainda estamos em obras. Mas já dá para fazermos alguma coisa.

Então? Gostou da casa nova?

Por Victor Bruno

P.S.: Não se esqueça de seguir o blog, visualizando o box “Seguidores”, e de curtir, também, igualmente abaixo, no box “Curtir”.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

AVISO!

Blog em reforma. Sem atualizações por tempo indefinido.

Deliciem-se com o que já foi escrito.

Da Equipe

Yojimbo - O Guarda-Costas




Yojimbo, 1961/ Dirigido por Akira Kurosawa
Com Toshirô Mifune, Daisuke Katô, Tatsuyia Nakadai e Takashi Shimura

(4/5)

 Akira Kurosawa é, possivilmente, o cineasta oriental mais conhecido de 10 em cada 10 cinéfilos. Mesmo quem nunca assistiu a uma única obra do diretor, tem alguma dimensão da relevância de Kurosawa no cinema mundial. Poucos diretores tiveram uma carreira tão longeva, ou foram capazes de realizar tantas obras-primas e filmes acima da média. No caso de Kurosawa, boa parte deles são ambientados no passado do Japão, mas sempre indo muito além do que simples histórias de samurais (alguns casos são adaptações de obras de Shakespeare, como "Trono Manchado de Sangue" e "Ran"). Por esses motivos, não é de se estranhar que "Yojimbo" seja mais um grande filme do diretor japonês.

 O filme se passa em um momento crucial na história do Japão. Como o breve prólogo explica, o ano é 1860, o xogunato do clã Tokugawa, que dominava o Japão desde 1603 , foi extinto e o imperador foi restituído. Nesse contexto, está um samurai sem mestre para servir (Toshirô Mifune, ator preferido e recorrente na filmografia de Kurosawa), que chega a uma cidade dividida entre duas gangues. Percebendo que poderia tirar vantagem da situação, o samurai (que pede para ser chamado Sanjuro Kuwebatake, embora não seja seu nome real) começa a negociar com os dois lados, buscando a melhor oportunidade para prestar seus serviços.



A partir desta premissa, Kurosawa (que também escreveu o roteiro, junto com Ryuzo Kikushima, e que depois serviria de base para "Por um Punhado de Dólares", de Sergio Leone) consegue construir diversos momentos antológicos. Durante todo o filme, ficamos de certa forma confusos quanto às reais intenções do samurai. À primeira vista, ele parece querer simplesmente emprego e dinheiro, mas também está em busca de algo mais simples, diversão e aventura, já que não há mais ninguém por quem ele lutar. Assim, percebendo a inabilidade dos membros de ambas as gangues, ele de certa forma manipula os dois lados, participando de alguns confrontos. Mas, ao mesmo tempo, ele percebe uma possibilidade de livrar aquela pequena cidade de todos os arruaceiros e do banho de sangue, que virou cotidiano para os moradores (a ponto da figura do coveiro ter se tornado de fundamental importância para os habitantes).

Em determinada cena, podemos perceber toda a habilidade de Kurosawa como diretor. Após conseguir armar uma batalha entre as duas gangues, o samurai sobe ao alto de uma escada, sainda da batalha, para deixar que todos simplesmente matem uns aos outros. A câmera se posiciona extamente aonde está o samurai, e é simplesmente um deleite acompanhar o medo e a covardia das duas gangues, enquanto Sanjuro se diverte com toda a situação. As cenas de ação, embora poucas e rápidas, são extremamennte realistas, e outro trunfo do diretor; em determinado momento, o samurai acaba com três oponentes em menos de 10 segundos, e a câmera se movimenta de tão rápida que não conseguimos acompanhar os golpes.  




A composição do personagem Sanjuro é complexa, e exigia um ator competente. O trabalho acabou ficando com Toshirô Mifune, figura fácil nos filmes de Kurosawa, e que tem em "Yojimbo" um de seus melhores desempenhos. O samurai, mesmo desempregado e errante, ainda nutria diversos valores de sua profissão. Na cidade, tem como objetivo maior acabar com toda aquela rivalidade, e em determinado momento "paga o preço" por esse desejo. Ele ouve de diferentes personagens, em contextos completamente diferentes, que é um homem bom, ainda que sabidamente um asassino.

 O único porém em relação ao filme é sua duração um tanto quanto excessiva. Há uma subtrama desnecessária perto do fim envolvendo a esposa de um habitante da cidade, que só serve para ressaltar os valores que Sanjuro ainda possuía, e uma boa cena de ação, mas sem maior relevância para a trama. De certa forma, parece que há uma tentativa de vilanizar o personagem Unosuke (Tatsuya Nakudia), filho do líder de uma das gangue e que porta uma arma de fogo, mas nada que atrapalha o resultado final.

"Yojumbo" é, portanto, mais um dentre tantos excelentes filmes que foram realizados por Akira Kurosawa, um dos maiores nomes do cinema japonês, oriental e mundial. Simplesmente imperdível.

 Por Douglas Braga


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Bravura Indômita

True Grit, 2010 / Dirigido por Joel & Ethan Coen
Com Hailee Steinfeld, Jeff Bridges, Matt Damon e Josh Brolin


(3/5)

Os Coen são claramente fascinados por dois tipos de gênero: o noir e o western. Se o primeiro gênero rendeu frutos maduros como Gosto de Sangue (Blood Simple., 1984) Ajuste Final (Miller's Crossing, 1990) e O Homem que Não Estava Lá (The Man Who Wasn't There, 2002), o segundo foi motivo de piada para a dupla mais tresloucada de Hollywood. Filmes como E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (O, Brother, Where Art Thou?, 2000) e Arizona Nunca Mais (Raising Arizona, 1987) fazem piadas jocosas sobre os trejeitos dos habitantes do Meio-Oeste norte americano. Sotaque carregado, fala mansa e arrastada... esses esteriótipos sempre estão marcando presença. Repare nos trejeitos do vendedor da lojinha em que a personagem de John Goodman – Gale Snoats – vai comprar balões. Ele tem a fala mansa e, aparentemente, não perde a calma com a situação que se abateu sobre a sua cabeça. Os mesmos trejeitos estão presentes no dono da rádio onde Everett e sua gangue se apresentam, cantando a célebre “I Am a Man of Constant Sorrow”.

Entretanto, eu estaria mentindo se dissesse que o trabalho da dupla nunca rendeu trabalhos sérios no gênero do western. Na verdade, não é o western propriamente dito. Seria algo como um neo-western (até por que o supracitado Gosto de Sangue é um neo-noir). O exemplo mais citado (e, sinceramente, não me recordo de qualquer outro) é o superestimadíssimo Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country for Old Men, 2007). Um filme situado no Meio-Oeste, extremamente violento e assustadoramente sério. A aventura dos irmãos Coen pelo gênero deu certo e eles, quatro anos depois, agora em 2011, resolvem repetir a dose.

Novamente baseado em um livro, Bravura Indômita não é o remake do filme homônimo da década de 60 estrelado por John Wayne e dirigido por Hary Hathaway. Muita gente estranhou a falta do letreiro “Baseado no roteiro de 1969 escrito por Marguerite Roberts”, mas, conforme os próprios irmãos eles não assistiram o original. Verdade ou não, isso não importa. Um filme tem que sobreviver sozinho, independente de ser baseado em livro, revista em quadrinho, ou o que quer que seja. E isso Bravura Indômita dos Coen faz muito bem.

Quando seu pai é covardemente assassinado pelo bandido descontrolado Tom Chaney (Josh Brolin), a jovem Mattie Ross (Hailee Steinfeld) sai em busca de vingança. Após acertar as contas que seu pai devia, ela encontra um homem com “bravura indômita”. Este homem é o U.S. Marshal bêbado e fanfarrão Rooster Gogburn (Jeff Bridges). Por um punhado de dólares, ele aceita a proposta de Mattie, que acredita que com a força de um bom advogado pode ajeitar todos os seus problemas. Mas – claro – no Oeste selvagem, isto logo prova-se uma mentira. Para complicar um pouco mais a situação, surge LaBouef (Matt Damon), um Texas Ranger que quer prender Chaney a qualquer custo. Não por honra, não por glória, mas pela gorda recompensa.

Nenhum dos heróis que estão na caçada de Chaney são heróis, ou ao menos corretos. Exceto Mattie, no auge da sua inocência, com meros 14 anos, todos aqui são brutos desalmados. LaBoeuf e Cogburn serviram ao exército confederado (brancos escravistas do Sul dos EUA, durante a Guerra Civil Norte-Americana). Ambos são homens violentos, cheios de preconceitos. Entretanto, em momento algum o filme mostra-os como os monstros que aparentam ser. O roteiro dos Coen é sensível as personagens. Nós sabemos que Cogburn é um bêbado degenerado e decadente, logo na primeira vez que o vemos em cena, notamos isso. Ele mora num fundo de uma loja de um chinês, no meio do armazém, entretanto, jamais a dupla o ridiculariza. Pelo contrário, podemos até sentir dó da sua pessoa.

O que é mais interessante, o filme põe Cogburn exatamente como o oposto simétrico de LaBoeuf. Enquanto Cogburn é isso que descrevi, LaBoeuf é um suntuoso arrogante e orgulhoso texano. Repare nas vestes que ele usa. Jaqueta de couro, calças justas, luvas tão maleáveis que parecem ser de borracha. Apesar de ter servido a confederação, os Coen não fazem nenhum tipo de menção preonceituosa, ou, o que seria pior, apologia. Os dois utilizam esse fato para piadas rasgadas de acidez. Por exemplo, no início da caçada a Tom Chaney, os dois começam a brigar. Segue o que é proferido:

Cogburn – Para qual exército o senhor serviu?

LaBoeuf – Estive em Shreveport com Kirby Smith, e depois com –

Cogburn – Para qual lado lutou?

LaBoeuf – Servi no exército da Virgínia do Norte, Cogburn. E não tenho a menor vergonha de dizer isto.

Cogburn – Se tivesse servido com o Capitão Quantrill –

LaBoeuf – Quantrill! Capitão Quantrill?!

Cogburn – Não toque neste fato, LaBoeuf...

LaBoeuf – Capitão do quê, Cogburn?”

O capitão Quantrill (que não era capitão de nada, na verdade) foi uma figura infame durante a Guerra Civil. Criado em uma família da União (anti-escravistas), ele se alistou no exército do Missouri (estado que fez parte da União). Entretanto, tendo desgostado da disciplina daquele exército, foi fundar, já no fim da guerra, uma guerrilha de arruaceiros que servia – aparentemente – em prol dos Confederados. Seu feito mais famoso foi um massacre que fez no em Lawrence, Kansas. Lawrence era uma conhecida cidade anti-escravista. Quantrill chegou lá e arrasou com seus 400 homens, uma cidade totalmente desarmada.

Esse tipo de piada ácida e – por sinal – inteligentíssima permeia o primeiro e a primeira metade do segundo ato da projeção. Sinal que os Coen não perderam o jeito. Seu estilo caracterizado pelos diálogos rápidos e acidez altamente corrosiva estão presentes aqui. O diálogo de Mattie com o Coronel Stonehill é simplesmente fantástico e demonstra algo importante e fundamental durante o filme: a persistência e o caráter de Mattie.

Bravura Indômita apresenta algo mais interessante – uma mudança de abordagem quase imperceptível durante o segundo ato. Se durante a primeira metade do filme tivemos esse roteiro mais teatral, os cineastas optam por um filme menos teatral e mais cinematográfico, presando pelas imagens. Os long takes tornam-se mais constantes e o silêncio é mais predominante. E aqui entra em cena a melhor coisa do filme: a brilhante fotografia de Roger Deakins. Banhada principalmente no já tradicional dourado (vide a primeira cena, quando somos apresentados ao cadáver do pai de Mattie) e seus enquadramentos precisos, Deakins faz um trabalho de mestre, tendo merecido sua indicação ao Oscar de Fotografia.

Entretanto, o trabalho dos Coen, por mais elogios que nós possamos conferir, está perfurado de inconsistências. Em nenhum momento o filme parece estar preocupado com o principal: a caçada a Tom. Os Coen aparentemente se preocupam, em seu filme, em mostrar as fanfarrices e os desentendimentos de Cogburn e LaBoeuf, do que em mostrar a protagonista do filme, Mattie. E o pior, LaBoeuf prova-se uma personagem totalmente desprezível para a trama. Repare como ele entra e sai do filme sem ter feito absolutamente nada de produtivo para a caçada, salvo levar um tiro e morder a própria língua.

Apesar das atuações sensacionais, com destaque para a bela Hailee Steinfeld, Bravura Indômita prova-se um filme incompleto e vazio dos irmãos Coen. Estou tentando até agora descobrir o que este filme tem de tão especial.

E parece que este será o meu Tom Chaney. É realmente uma pena que aqui eu não tenho Hailee Steinfeld.

Por Victor Bruno

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