Kaze no tani no Naushika, 1984/ Dirigido por Hayao Miyazaki
Com as vozes de Sumi Shimamoto, Gorô Naya, Ichirô Nagai e Mashito Tsujimura.
(4/5)
Quase todo cinéfilo considera Hayao Miyzaki um gênio em se tratando de animações. E não é por menos. O diretor japonês e seu estúdio (o Estúdio Ghibli) vêm produzindo, ao longo dos últimos 30 anos, algumas das melhores animações da história deste gênero, outrora dominado pela Disney, e atualmente com a Pixar realizando uma série de longa-metragens crítica e comercialmente bem sucedidos no mundo ocidental. Entretanto, pelas "bandas de cá", o trabalho de Miyazaki só passou a ser mais conhecido após A Viagem de Chihiro, de 2001, que faturou diversas premiações ao redor do mundo (incluindo um Oscar de melhor animação), e que possivelmente é o melhor trabalho de sua longa carreira. Mas é fundamental lançar um olhar sobre seus filmes anteriores a Chihiro e, dentre eles, encontramos uma pérola, "Nausicaä do Vale do Vento", um de seus primeiros trabalhos em longa-metragem, no já longíqüo ano de 1984.
A trama traz diversos elementos característicos da obra de Miyazaki, como o discurso ecológico, a relação entre homem e natureza, e uma protagonista jovem. Em Nausicaä, encontramos o mundo praticamente destruído e tomado por poluição e toxinas. Em uma das pequenas comunidades que ainda se mantêm, vive a princesa Nausicaä, que busca formas de se relacionar de forma harmoniosa com a natureza a sua volta, tomada por insetos colossais que amedrontam os seres humanos sobreviventes. Contudo, o maior adversário de Nausicaä será o próprio ser humano, quando outra princesa de uma comunidade rival decide acordar um antigo momnstro, que pode levar tudo o que ainda resta ao caos.
Uma das marcas fundamentais dos filmes de Miyazaki é a perfeição visual. Embora este aqui não seja tão belo em termos visuais quanto outros filmes posteriores do diretor (talvez o mais bonito esteticamente falando seja Princesa Mononoke, de 1997), os traços, quase todos desenhados à mão pelo próprio diretor, são perfeitos e impressionam. A cena final, particularmente, proporciona um deleite visual, e possui uma densidade emocional que não encontramos em 2/3 dos longa-metragens produzidos por aí. Além disso, a capacidade criativa do diretor é impressionante, e encontramos no filme toda uma gama de seres incríveis, que muitas vezes remontam a antigas tradições japonesas (para quem já assistiu ao desenho "Pokémon", o personagem Toto é incrivelemnte semelhante ao pokémon Volpix, prestem atenção).
Por outro lado, o filme proporciona boas doses de diversão tanto para crianças (talvez não as muito pequenas, visto o teor de violência relativamente alto) e adultos, graças a um roteiro bem amarrado, escrito pelo próprio Miyazaki, e baseado em uma mangá também de sua autoria. Todos os acontecimentos são bem encadeados, há um ótimo desenvolvimento de personagens, e em nenhum momento o filme se torna confuso, o que seria terrível em se tratando de uma animação. Ao mesmo tempo, esta deve ser a obra do diretor japonês com mais ação, e da metade para o final temos constantemente perseguições, tiros, e reviravoltas, tudo muito bem cadenciado pela mão segura na direção de Miyazaki. A cena da invasão do Vale dos Vento pelos insetos gigantes (chamados de Ohms) é uma aula até para diretores de filmes em live-action, em termos de enquadramentos, perfeição visual e de proporcionar diversão, sempre com inteligência.
E é claro que devemos ressaltar o teor ecológico do filme, aliás presente em todas as obras do diretor japonês. Isto é notável, principalmente se levarmos em conta que seus filmes são amplamente assistidos por crianças e jovens no Japão (um dos países mais poluidores do planeta) e do Oriente, e vem recebendo cada vez mais atenção no Ocidente. E, como em toda sua obra, o culpado por toda desarmonia com a natureza é o próprio homem e sua ganância. E ainda assim Miyazaki nunca trata seus personagens de forma unilateral e superficial; muito pelo contrário, todas ações têm algumas explicação, e mesmo os vilões não são personagens meramente maus e cruéis (como nos acostumamos a ver por aqui com os filmes da Disney), e escondem reais motivações que vãos endo reveladas ao longo do filme.
Assim, escrever sobre e, ainda mais, assistir a Nausicaä do Vale do Vento é um enorme prazer, visto que é hora de revisitarmos e tornarmos ainda mais conhecida a obra de um gênio da animação mundial, que realiza filmes de altíssima qualidade, e que, esperemos, nunca se aposente. O mundo do cinema sentiria muita falta de seu incrível trabalho.
Por Douglas Braga
18/06/2011
* A arte dessa página é de autoria do blog I Hate You Are. Clique aqui para acessá-lo.
Por Douglas Braga
18/06/2011
* A arte dessa página é de autoria do blog I Hate You Are. Clique aqui para acessá-lo.
0 comentários:
Postar um comentário