sexta-feira, 17 de junho de 2011

Meia Noite em Paris

Midnight in Paris, 2011/ Dirigido por Woody Allen
Com: Owen Wilson, Rachel McAdams, Marion Cotillard, Kathy Bates, Michel Sheen, Adrien Brody e Carla Bruni


(5/5)

O que Woody Allen faz em Meia Noite em Paris é mais ou menos o mesmo que ele fez no início de sua carreira com Manhattan (Manhattan, 1979), mudando apenas a cidade-título. Um romântico incorrigível no que diz respeito a Nova York e Paris, o cineasta decidiu fazer (finalmente) uma homenagem a esta última, com uma obra que também serve como um tipo de viagem por tudo que sempre o inspirou durante sua vida, desde seus ídolos literários, passando pelos músicos pelo qual sempre nutriu enorme admiração até os cineastas que influenciaram sua visão sobre o cinema. Portanto, é de se esperar que podemos encontrar em Meia Noite em Paris o mesmo clima romântico e urbano que fez de Manhattan um filme idolatrado e, mais que isso, entender um pouco mais sobre a dificuldade de todo o ser humano em aceitar as dificuldades que enfrenta no presente sem se deixar afetar por lembranças de um passado bom.

O alter-ego do cineasta desta vez é interpretado por Owen Wilson, em sua primeira interpretação decente desde que decidiu seguir a carreira de ator (antes tarde do que nunca!). Deve-se frisar que a escolha foi perfeita, por mais que a lógica indicasse o contrário, já que o ator entendeu plenamente o que era exigido pelo papel, se mostrando assim um tipo Woody Allen mais jovem exatamente de acordo com a imagem do cineasta quando mais novo. Seu personagem é Gil, um roteirista bem requisitado em Hollywood que deseja se tornar um escritor de verdade e deixar para trás a futilidade de sua vida, acreditando que os dias atuais não são mais tão ricos e verdadeiros quanto deveriam ser no passado. A chance surge numa viagem à Paris junto com sua noiva Inez (Rachel McAdams) e seus sogros, onde Gil se apaixona perdidamente pelo brilho da cidade e encontra enfim um lugar que lhe serve de inspiração. Deslumbrado, ele tira as noites para caminhar pela cidade e acaba descobrindo que sempre à meia noite abre-se uma oportunidade para viajar no tempo e voltar para a Paris dos anos 20, onde conhecerá todos seus ídolos literários, além da belíssima estudante de moda Adriana (Marion Cotillard). Trata-se de uma oportunidade dele fugir do presente e mergulhar de cabeça na época em que acredita ter sido a mais maravilhosa para ser vivida.

Há anos que um filme não mostrava Paris de forma tão bela, tão cuidadosa, até mesmo idílica como acontece nesse novo trabalho de Allen. Cada posicionamento de câmera, cada detalhe ganha vida numa explosão de arte, fazendo da cidade parecer uma pintura de Monet com sua caprichada fotografia (inclusive o cartaz do filme remete ao estilo do famoso pintor). Depois de fazer da cidade um lugar de sonhos, Allen então a coloca numa posição de personagem, não apenas de cenário. Agora mágica, ela interage com o personagem principal ao permitir que ele viaje no tempo e conheça tudo o de mais lindo e artístico que já existiu e ainda existe por lá. Claro, que ela só faz isso para Gil, pois enxerga nele uma alma de artista e uma vontade louca de conhecê-la a fundo. Sendo assim, podemos dizer que Gil e Paris são nossos protagonistas, mesmo estando entre os personagens personalidades como Pablo Picasso, Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrude Stein e Luis Buñuel.

Por trás de tudo há uma mensagem bem interessante sobre a forma como o ser humano encara a própria vida. Gil não está satisfeito com seu atual estado, vendo no mundo a sua volta um imenso vazio e acreditando que apenas no passado que se encontra alguma razão para continuar. No entanto, Adriana, uma personagem que já vive no passado tão idealizado por Gil, também não se sente satisfeita lá e acredita que só seria realmente feliz se vivesse durante a famosa Belle Époque. No fim, chegamos a uma triste conclusão de que, não importa em que época estejamos vivendo, sempre existirão problemas, mas não podemos deixar que eles nos façam enxergar a vida de forma negativa. O tempo ganha então uma importância primordial e auxilia nossa personagem-título a brilhar como um lugar inesquecível e atemporal, que estará sempre lá a emitir uma inexplicável magia sedutora para os que forem realmente capazes de sentir.

Considerando todo o amor de Allen por Paris, até que demorou para Meia Noite em Paris finalmente acontecer. Mas, por outro lado, isso talvez tenha sido bom. Agora que está numa fase menos complicada, menos cobrada e mais reflexiva, Allen não se viu na obrigação de fazer deste filme algo muito denso ou definitivo, como se preocupou em fazer com Manhattan. Ele se viu apenas na obrigação de declarar seu amor à ela, assim como fizera anos atrás, ainda que timidamente, no igualmente belo Todos Dizem Eu Te Amo (Everyone Says I Love You, 1996). Fica então uma mensagem de eternidade, magia, encanto, lirismo em volta de Paris, a cidade mais romântica do mundo e que, aos olhos do eterno apaixonado Woody Allen, será sempre um lugar para se guardar na memória e no coração.

Por Heitor Romero
(17/06/2011)

1 comentários:

Belo texto. Estou ansioso para assistir ao filme. Ao contrário de muitos, não acho que Allen perdeu a mão.

http://cinelupinha.blogspot.com/

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