É público e notório – estamos vivendo um grande momento no mundo. A saída de Hosni Mubarak, a queda de seu regime autocrático, é algo que poucas vezes nós podemos ver em vida. É um momento de júbilo para os jovens egípcios que – heroicamente – foram para as praças do Cairo clamar pela saída de um tirano. Um tirano que, ironicamente, chegou ao poder com um golpe e uma revolta.
Há trinta anos, quando Mubarak subiu ao poder, seu antecessor, Anwar Al Sadat, foi morto por um grupo extremista muçulmano. Hoje, seu poder foi morto por um grupo de milhares de jovens enfurecidos, vítimas de uma opressão aterradora. O que será no futuro? Ninguém sabe ao certo. Pode ser que o Egito vire uma democracia de facto. Ou não. Pode ser um novo Irã da vida. É a mesma dúvida que há na Tunísia, mas por hora, status quo. Ora, Tunísia e Egito acabaram de mostrar algo incrível, que – assim como o grande momento que estamos vivendo no mundo – é público e notório.
Tunísia e Egito devem muito a Mark Zuckerberg, Erica Albright e Tim Benners-Lee. Tim Benners-Lee inventou a Internet, enquanto Mubarak subia ao poder e sapateava no túmulo de Al Sadat. Erica Albright, pouco mais de vinte anos depois, estava chutando a bunda de Mark Zuckerberg e o mandava capinar. No som e na fúria, o tolo que conta a história das nossas vidas, criou o Facebook. E foi com esse mesmo Facebook azulzinho que os jovens egípcios deram uma de Albright – mandaram Mubarak ir capinar.
“Capinaremos, então”, disse Mubarak hoje, 11 de fevereiro de 2011. Alguns mais afobados poderão tirar que aqui estou dizendo “Zuckerberg + Pé na Bunda = Liberdade”. Depende. A verdade é que A Rede Social (The Social Network, 2010) alavancou Zuckerberg. Eu aposto meu computador que mais da metade dos jovens que utilizaram o Facebook viram A Rede Social, e – assim como eu – criaram uma conta no Facebook. O Facebook está se saindo como a prensa de Gutenberg. Como o próprio Zuckerberg disse, “De tempos em tempos, as formas da mídia mudam”. E o jovem de chinelos Adidas está completamente certo. Dou toda a razão do mundo para Mark. Por que não? Foi com a prensa de Gutenberg, Lutero derrubou a hegemonia da Igreja Católica na Alemanha e fundou uma das maiores vertentes do cristianismo. “Obrigado, Gutenberg.” Quer uma prova? Assista Lutero (Lutero, 2003), ou leia um livro de História.
Séculos mais tarde, foi a vez do jornal. Os intrépidos Bob Woodward e Carl Bernstein investigaram os podres do governo Nixon, toda maracutaia do Watergate. Resultado? Richard Nixon caiu. A mídia mudou, mas o princípio é o mesmo, a palavra escrita à tinta. Não à lápis. Não estou mentindo, rapaziada. Assistam Todos os Homens do Presidente (All the President's Men, 1976), de Alan J. Pakula.
Agora, quarenta, cinquenta anos depois, estamos aqui. O Facebook mete bronca. Os jovens, no calor da fúria, escreveram na língua árabe o que William Wallace disse em inglês: “Liberdade!” E lá estava Fincher documentando em celulóide o processo de criação desta poderosa arma. E o princípio continuou o mesmo: a palavra escrita. A palavra escrita numa tinta digital.
E o cinema, mais uma vez, foi a testemunha que levará a história às gerações futuras. Agora os meninos egípcios sejam bem-educados e digam “Obrigado, Zuckerberg.”
Por Victor Bruno
2 comentários:
É interessante que se comente esse aspecto das mídias de comunicação e do papel intrínseco o qual exerceram durante o processo histórico. Só vale a ressalva de que as revoluções, assim como a que se realiza no Médio Oriente no momento, não são dependentes dos mesmos meios comunicativos para existirem. Apesar de toda a contribuição da Internet e das Redes Sociais (no caso se destacando o Facebook), o processo revolucionário se daria da mesma maneira.
Bom texto.
Obrigado, Yuri. Mas acredito que se não houvesse toda essa mobilização ocorrida na Internet, seja no Tweeter, ou -- principalmente -- no Facebook, a revolução se daria de modo muito mais fraco. Afinal, sabemos que os egípcios tiveram força de outros países, que colaboraram na Internet.
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