terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A Rede Social

The Social Network, 2010 / Dirigido por David Fincher

Com Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, Josh Pence, Rooney Mara

Mark Zuckerberg é um sujeito mal? Um vilão? Bom, Balzac dizia que por trás de toda grande fortuna, há um grande crime. Eu desconfio que o escritor francês, autor de "O Pai Goriot" esteja errado. Talvez a afirmativa correta seja que por trás de toda grande fortuna, existem grandes intrigas. Talvez tenha sido isso o que Balzac tenha tentado dizer. Generalizando a palavra "crime" para toda confusão que existe por trás da construção de uma grande fortuna. Vai saber.

Esta tal "fortuna" pode ser 500 milhões de amigos. Como diz a tagline do filme, ninguém faz 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos. Isto está correto. É exatamente isso o que o fantástico A Rede Social tenta nos desvendar, e, ao meu ver, não poderia ter sido de maneira melhor. O filme é um diamante. Aqui tudo funciona como a precisão de um relojoeiro.

Baseado no livro de Ben Mezrich, e com roteiro de Aaron Sorkin, criador da série The West Wing (quem melhor para escrever um filme como este?), A Rede Social conta a história da criação do Facebook. Só isso dá para entender o filme.

Não. Não dá. O filme é muito maior que isso. O filme é uma tour de force pela mente mais genial do nosso tempo: Mark Zuckerberg. Zuckerberg é um homem frio, egoísta, arrogante, genial, tolo, infantil. Isso nota-se desde o primeiro frame do filme (mas ainda não responde a questão que abre o texto). Após ser chutado pela sua namorada Erica (Rooney Mara), Mark vai descarregar toda sua fúria em seu blog -- Zuckonit.com. Horas depois tem uma idéia que -- em sua mente -- parece fantástica: criar um site cujo objetivo é responder uma simples questão: "Qual destas garotas é a mais gostosa?" O site é um sucesso, tem mais acessos na madrugada que foi criado do que a internet inteira "no intervalo do Superbow".


Obviamente as garotas de Harvard ficam ofendidas -- entre elas, Erica -- e Zuckerberg pega seis meses de suspensão. Contudo, o talento de Zuckerberg como programador chama a atenção de dois homens, os gêmeos Winklevoss (Armie Hammer e Josh Pence). Os dois têm a idéia, junto com um outro homem, Dyvia Narendra (Max Minghella, filho do diretor Anthony Minghella), de formar uma rede social chamada The Harvard Connection, onde todos os alunos possam se contatar na internet, trocar fotos e experiências. Zuckerberg topa, mas rouba a idéia, e vai fundar, junto com seu amigo Eduardo Saverin (Andrew Garfield), o TheFacebook, que, mais tarde, viraria o Facebook.

O mais interessante de tudo é que isso toda essa sinopse serve apenas como pano de fundo para a real intenção do filme: explorar Zuckerberg. O filme quer saber como um sujeito tão genial, o próximo Bill Gates, pode tomar atitudes tão idiotas como, só para dar uma pitada de sal para você, esnobar seu melhor, e único, amigo -- Saverin. Só por isso o filme já seria genial. Mas, infelizmente, não é só disso que um ou qualquer filme sobrevive.

A construção da personagem de Jesse Eisenberg soberba. Podemos dizer, sem exitar, que Mark Zuckerberg é o Charles Foster Kane do nosso tempo. É importante frisar que todo o filme, roteiro, direção gravitam ao redor da personagem, e como suas ações respingam aos que estão em volta, e como respingam, principalmente, em Eduardo Saverin. Para isso, precisa-se de um diretor de pulso forte e que saiba estudar as personagens de forma inteligente. Quem melhor que David Fincher?

O diretor utiliza-se do bom roteiro de Sorkind a melhor forma possível. Seus cacoetes fílmicos (iluminação escura, bom trabalho de câmera, etc) são todos utilizados aqui, e de forma perfeita. Para dar um exemplo do quão bom é o trabalho de Fincher: ele é o único diretor que consegue nos deixar apreensivos com uma sequência que se passa, basicamente, em frente a um computador. Isso não é tarefa fácil.


Fincher também se emprega de outros artifícios para deixar a história mais cativante. Observe como o diretor trata o mundo dos Winklevoss. Os dois são ricos, vêm de família rica. Fincher os despreza, utiliza-se do tilt-shift para mostrar seu mundo como uma mera maquete. Talvez nem seja Fincher, talvez sejam os olhos de Zuckerberg, já que o filme gira ao seu redor.

Agora vamos à cereja no topo do bolo: as atuações. De longe, elas são as melhores do ano. Esqueça Leonardo Di Caprio em Ilha do Medo e A Origem, esqueça Michael Cera em Scott Pilgrim Contra o Mundo. Esqueça qualquer coisa que você tenha visto este ano. O elenco todo está simplesmente perfeito. No melhor sentido da expressão. Jesse Eisenberg arrasa como Zuckerberg. O jovem ator que alguns poucos anos atrás havia estrelado A Lula e a Baleia e neste mesmo ano estrelou Zumbilândia está maravilhoso. E não é mérito só de Eisenberg, o roteiro de Sorkin leva-o a esse a essa qualidade. E se leva um, leva todos, já que Andrew Garfield, que nunca havia atuado bem na vida, e Justin Timberlake, para uma surpresa que me estarreceu, estão ótimos com seus Saverin e Sean Parker (um canalha), respectivamente.

Por que eu disse que o roteiro de Aaron Sorkin os levam a atuações boas? Simples; os diálogos nos são apresentados à velocidade da luz, filho. O pensamento rápido impera neste filme. As tiradas cômicas (que não são poucas, diga-se de passagem, fazendo o filme levar perfeitamente o rótulo de "dramédia") têm um timing perfeito, e necessitam dos atores para funcionarem. Ponto para Fincher e Sorkin.

A Rede Social têm um time de personagens incrível. A galeria de David Fincher foi toda montada com um propósito só: nos mostrar como Zuckerberg os derrubou com seu egoísmo, e sua tolice. Fincher, assim como nós, como eu e você, como todos, se surpreende e se pergunta, como um gênio pode ter desprezado seu único amigo, em virtude de um canalha, um déspota, como Sean Parker. O que acontece no filme não é caricaturado, é real, e é mostrado cru. Winklevoss, Saverin, até mesmo o apagado Dustin Moskovitz dançou na ciranda de Zuckerberg. Não é à toa que o final de A Rede Social seja extremamente deprimente. Agora Jesse Eisenberg duela com Michael Cera o título de rei dos nerds. Eu vou precisar discutir isso? Creio que não.

O mais interessante para mim foi que eu me vi em Zuckerberg. Isso é bom ou mal? Já que Zuckerberg não é um vilão ou um mocinho, nem um dos dois. Mark Zuckerberg é um só: Mark Zuckerberg.

Nota: 5 estrelas em 5.

Por Victor Bruno

1 comentários:

genial. esse fincher é realmente um cara muito interessante viu!

tb me vi no zuckerberg.. engraçado que todo mundo que asisstiu o filme odiou o cara ( teve até um coelga meu que deletou o facebook depois de assistir o filme)

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