sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sobre a importância do diretor, e sua autoridade

Outro dia eu estava conversando com o corredator do blog, Pedro Ruback, quando surgiu a famosa incógnita, talvez a que mais tenha exaltado nervos na história do Cinema: “O diretor é o autor do filme”? Afinal, milhões de teorias e livros já foram escritos acerca deste tema. Aquele pessoal da Cahiers du Cinéma, principalmente François Truffaut, criou a famosa Teoria do Auteur, que afirma categoricamente – “O diretor é o autor do filme”. Logo, se um filme for bom, a culpa é do diretor. Se for mal, idem. Eu concordo. Afinal, nada vai para o filme sem o crivo do diretor. Não um diretor, mas o diretor. Quem você acha que é o autor de Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941)? Não é Bernard Herrmann e sua ótima trilha sonora. Também não é Gregg Toland e sua excelente fotografia. O autor de Cidadão Kane é Orson Welles, o diretor. Mas certamente Herrmann e Toland contribuíram bastante para o enriquecimento da estética audiovisual do filme. Welles não era fotógrafo. Muito menos músico. Os detratores da Teoria do Auteur (como a megera Pauline Kael) dizem que o filme é um conjunto de ideias de todas as pessoas que estão envolvidas na obra, desde o sujeito que varre o estúdio para a preparação do set, até o próprio diretor. Ora, não tenho dúvidas quanto a isso. Entretanto estas “ideias” só vão para o filme, sendo captadas em película, se o Sr. Diretor aceitar. Não adianta ficar emburrado, resmungar, chamar o cara de filho-da-mãe arrogante. O diretor é o dono do filme.

Não é arrogância, é uma simples questão de lógica. Veja, Martin Scorsese, em filmes como Os Bons Companheiros (The GoodFellas, 1990), prefere não utilizar trilha sonora composta para o filme. No filme supracitado, ele se utiliza de músicas que tocavam nas rádios na época em que a história acontece. E isto é brilhante! Sinceramente, pense – o que é mais interessante, criar uma cena que contenha o ritmo e som de uma música da época, ou chamar um cara (no caso de Scorsese, Howard Shore) para vir e criar tudo? Me soa muito mais interessante e – sim – autoral. Ali é o crivo (e a autoindulgência de Scorsese) sendo posto em prática. A mesma coisa acontece em Barry Lyndon (Barry Lyndon, 1974), de Stanley Kubrick, onde não há música composta para o filme, o filme foi composto para a música.

Agora, surge aí – o letreiro “Um Filme de...” pode, ou não ser utilizado? É arrogância ou não? A resposta mais óbvia é “Sim, claro, pode ser utilizado”. E esta é a resposta certa. Elementar, meu caro Watson. Se um filme segue o crivo do diretor, se a palavra final é a sua, se tudo gira em função da sua visão única e incomparável, qual o problema? O filme é um conjunto de ideias? Sim. Um filme tem um autor? Sim, e este autor é o diretor. Fim de papo. Arrogância seria se todos dessem uma de M. Night Shyamalan e pusessem, por exemplo, “M. Night Shyamalan's Am I a Dead Man Walking?”. Ou como Michael Cimino fez em O Portal do Paraíso (Heaven's Gate, 1980) e por “Michael Cimino's Heaven's Gate”, e ir além, e se abrir a boca para dizer “Esses caras, diretores de fotografia, como Vilmos Zsisgmond, que se acham mais importante que os diretores. Superiores. Quem se lembra quem fotografou Dr. Fantástico ou Barry Lyndon?” Eu me lembro, Michael. Tanto que por vezes a fotografia de Barry Lyndon é mais citada que o próprio Kubrick. Mas isso não vai servir para me contradizer, já que a ideia de fotografar o filme com luzes naturais, germinou e nasceu na mente do diretor Stanley, sendo soberbamente executada por John Alcott. O filme vive em função do diretor, não o oposto. E ponto final.

Match Point, de Woody Allen.

Por Victor Bruno

2 comentários:

Essa teoria de que os filmes são obras autorais de um diretor é válida. Mas só em 95% das vezes. Existem alguns membros da equipe de determinadas obras que conseguem, inconscientemente, corromper o diretor. Poderia dar 2 exemplos que me vêm na cabeça agora (apesar de serem 2 filmes ruins):


- Um Cão Andaluz (Dalí é MUITO mais presente que Buñuel)


- Garota Rosa-Schoking (talvez esse seja melhor exemplo que o anterior. Quem diria que não foi o john Hughes quem dirigiu esse filme? Mas não foi...)

Pensei que você ia dar o exemplo mais utilizado: Charlie Kaufman. Quem é o autor de Quero Ser John Malkovich, ou de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças? Eu digo que é Jonze e Gondry, sem a menor sombra de dúvidas. Não foi Kaufman quem filmou, quem decidiu "Cena X vai, mas cena Y não vai". Não é à toa que Sinédoque, Nova York tenha momentos de extrema irregularidade (apesar de constar na minha lista de melhores da década). É um filme que, notóriamente, sobrevive do roteiro. Mas o autor é o Kaufman, diretor. O diretor cataliza tudo, é o homem que ministra tudo.

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