quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O Turista

The Tourist, 2010 / Dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck.
Com Angelina Jolie, Johnny Depp, Paul Bettany, Steven Berkoff e Timothy Dalton.


(1/5)

Algumas coisas merecem a revolta que sentimos. Fazemos-nos certas perguntas que somente o autor consegue responder. Florian Henckel dirigiu o filme Das Leben der Anderen (A Vida dos Outros) em 2006 e ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, que, em muitas edições desta premiação, chega a ser mais importante que o principal prêmio. Agora, Henckel saiu da Alemanha e foi para os Estados Unidos, mais especificamente, Hollywood e lá se rebaixou à The Tourist.

Não que ganhar dinheiro seja um problema, mas o problema é o nível a qual um diretor se rebaixa para ganhar dinheiro. Hollywood está cheio destas pessoas que vêm de um país estrangeiro, geralmente europeu, depois de fazer um grande filme e se rendem ao molde do cinema comercial pouco inteligente americano. Não que todos sejam assim, atualmente temos um bom número de filmes inteligentes (numa proporção triplicada em filme idiotas e ruins), mas é difícil aceitar e acreditar em situações assim que se repetem demasiadamente. É como um ímã que lhe atrai quando você é grande e lhe molda logo depois.
Seguindo os padrões, vemos apenas mais um filme em circuito comercial (o cinema está cheio disso, mas vazio em conteúdo) sobre espionagem, máfia e intrigas envolvendo muito dinheiro, a alta sociedade, muito dinheiro, lugares belos, muito dinheiro e atores de grande fama. É impressionante como o foco da maioria desses filmes é centrado em uma intriga impossível envolvendo dinheiro e mirabolantes situações com personagens excepcionalmente inteligentes e capazes de qualquer coisa para fazer qualquer coisa contando com tudo em mãos de forma fácil (se não for fácil não vemos o trabalho). Tudo sempre muito corrido e pouco explorado, é raro vermos uma trama de espionagem ser executada de forma “realista”, convincente.

O enredo de The Tourist é simples: uma mulher, Elise Morde (Angelina Jolie) está envolvida com um homem que roubou de um mafioso uma enorme quantia em dinheiro e agora está fugindo deles enquanto se comunica secretamente com o ladrão. Enquanto isso, uma operação feita pela Interpol está investigando e procurando desmascarar e capturar o ladrão, mas é difícil, pois há a possibilidade de esse sujeito ter mudado de fisionomia com diversas cirurgias. É um jogo de rato, gato e cachorro. Os ratos são o ladrão, a mulher e um intruso turista. Os gatos são a máfia e os cachorros a polícia. O tal turista do título é um homem qualquer chamado Frank Taylor (Johnny Depp) que conhece Elise numa viagem de trem. Ele é professor de matemática e perdeu sua esposa num acidente de carro. Frank e Elise passam a andar juntos levantando suspeitas, tanto dos mafiosos quanto da polícia.

É isso. O roteiro se desenvolve de forma sistemática. Temos ação, perseguições, tiros, conversas particulares com requintes de maldade e discursos óbvios. As ações tomadas pelos personagens são as mesmas de sempre. Elise é uma mulher misteriosa, sem aparente conflito, que vive apenas e faz tudo de forma independente. Frank é um perdido, típico papel de Depp, onde se vê no meio de uma trama de onde não consegue sair. A polícia sempre segue a pista errada e se dá mal na maior parte das vezes, mas sempre está no encalço do procurado. A máfia é a maldade pura, executando de forma fria tudo o que faz e, na maioria das vezes, em público, sem se importar com nada.

O diretor gasta rolos de filme dando prioridade à paisagem italiana de Veneza que já sabemos ser bonita, mas que parece ser mostrada só para que as pessoas digam: “que lugar lindo!” ou “eu quero ir lá um dia!”. É encher o filme com cenas bonitas que não levam a lugar algum nem cobrem as falhas do filme e os clichês aos montes. O americano aqui é tratado como “sou um cidadão americano, por isso tenho meus direitos e vocês não podem me machucar”. Ou o diretor está sacaneando na cara dos americanos essa mania irritante que eles têm de ressaltar isso em seus filmes ou o diretor realmente se rendeu a essa palhaçada de que americano é melhor.

O final do filme é daqueles que pode dar um ar de “caramba, que legal!”, mas não funciona sempre. O que me pergunto é: seria possível isso realmente e culminar num final daqueles? O diretor brinca com a gente e nos faz de bobo durante noventa minutos e tudo soa artificial e parece que o final foi feito apenas para o filme não se tornar tão previsível.

O que nos resta é torcer para que o diretor volte a fazer grandes filmes ou então torcer para que novos, futuros e talentosos diretores do exterior não se rendam à mediocridade do cinema Hollywoodiano da atualidade. É revoltante. É mais revoltante ainda saber que cinema assim dá muito dinheiro.
Por Pedro Ruback

2 comentários:

eu não sei porque você se dar ao trabalho de asisstir essas coisas victor, e me parece ainda mais absurdo o fato de você aidna se dispor a escrever sobre isso!

Mas eu não assisti a O Turista. Foi o Pedro Ruback quem escreveu o texto. (Mas sim, eu queria ter visto e ter esculhambado o filme numa crítica dessa.)

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