quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Minhas Mães e Meu Pai

The Kids Are All Right/ Dirigido por Lisa Cholodenko
Com Annette Bening, Julianne Moore, Mark Ruffalo, Mia Wasikowska e Josh Hutcherson


(3/5)

A questão da união entre homossexuais e da adoção ou criação de filhos por estes é, sem dúvidas, atual e tem levado a diversas discussões no mundo ocidental. Assim sendo, como abordar este tema um tanto quanto delicado no cinema, sem cair na pieguice ou no melodrama? A diretora e roteirista Lisa Cholodenko optou em "Minhas Mães e Meu Pai" por uma abordagem cômica, com contornos dramáticos. O resultado é um filme interessante, bem interpretado e que leva o espectador a questionar detemrinados estigmas, mesmo com alguns pequenos problemas de execução.

No filme, Nic (Annette Bening) e Jules (Julianne Moore) são um casal de lésbicas com dois filhos, cada um gestado por uma de suas mães: Joni (Mia Wasikowska) e Laser (Josh Hutcherson). Nic é médica, e também é uma mulher pragmática e controladora, ao passo que Jules está sempre com um novo projeto profissional e se sente um pouco "sufocada" pela sua parceira. Apesar de algumas discussões, a vida segue bem, até que Joni entre em contato com seu pai biológico, Paul (Mark Ruffalo), que havia doado esperma há muitos anos. A partir de então, uma série de novos acontecimentos mexem com o cotidiano de toda a família.
Como já foi dito acima, Cholodenko (que escreveu o roteiro junto com Stuart Bloming) decidiu fazer uma comédia, ao invés do que poderia ter sido um bom drama. Mas, de forma até surpreendente, o humor funciona, e está quase completamente focado na personagem Jules. Desde situações "íntimas" entre o casal (com direito a vídeo pornô gay e tudo), até diálogos ágeis e inteligentes com seus filhos e passando por algumas situações constrangedoras com Paul, Jules é responsável pelas passagens mais engraçadas do filme. Ao memso tesmo, a maior parte da carga dramática fica com Nic, principalmente na segunda metade do filme, em que a relação entre as duas atinge um nível crítico.

Entretanto, apesar do bom roteiro, alguns problemas prejudicam o que poderia ser até mesmo um novo clássico. O filme já foi acusado de ser muito "conservador" em sua estrutura e, de certa forma, é verdade. A montagem é absolutamente linear, sem inovação alguma. Por outro lado, fica também a impressão de que, se o casal protagonista fosse hetero, daria no mesmo, pois Nic acaba parecendo o "homem" da casa, e diversas dificuldades que as duas enfrentam já foram abordadas em diversas comédias românticas fúteis.
O que contribui para elevar (e muito) o nível do filme é a qualidade das interpretações. A talentosíssima Annette Bening tem aqui mais uma excelente interpretação que tem lhe rendido vários prêmios (o mais recente foi o Globo de Ouro de melhor atriz em Filme- Comédia ou Musical). Mas, curiosamente, a igualmente competente Julianne Moore (responsável por uma das melhores atuações da última década, em "As Horas") é que se sobressai em diversos momentos, não somente pelo humor já citado, mas pelo carisma que a atriz consegue transmitir. As duas atrizes brilham nos momentos mais dramáticos, e não será supresa as duas serem indicadas (merecidamente) ao Oscar de melhor atriz. Por outro lado, também é gratificante ver Mark Ruffalo no melhor personagem e na melhor interpretação de sua carreira, transmitindo muita sensibilidade no papel de pai biológico. E Mia Wasikowska (a Alice do horrendo "Alice no País das Maravilhas", de Tim Burton) e Josh Hutcherson também não comprometem como os filhos que cresceram em uma família nada convencional, e que se vêem em sérias dúvidas, comuns a adolescência de forma geral.

"Minhas Mães e Meu Pai" é, portanto, um bom filme, que faz uma abordagem leve, mas muito séria, de uma questão extremamente contemporânea. Fica só uma sensação de pena pela diretora Lisa Cholodenko não ter se arriscado mais, e ter ficado no lugar comum em termos estruturais. Mesmo assim, conseguiu realizar um filme competente e muito bem interpretado, e merece toda a repercussão que vem tendo de crítica e público.

Por Douglas Braga

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