Yojimbo, 1961/ Dirigido por Akira Kurosawa
Com Toshirô Mifune, Daisuke Katô, Tatsuyia Nakadai e Takashi Shimura
(4/5)
Akira Kurosawa é, possivilmente, o cineasta oriental mais conhecido de 10 em cada 10 cinéfilos. Mesmo quem nunca assistiu a uma única obra do diretor, tem alguma dimensão da relevância de Kurosawa no cinema mundial. Poucos diretores tiveram uma carreira tão longeva, ou foram capazes de realizar tantas obras-primas e filmes acima da média. No caso de Kurosawa, boa parte deles são ambientados no passado do Japão, mas sempre indo muito além do que simples histórias de samurais (alguns casos são adaptações de obras de Shakespeare, como "Trono Manchado de Sangue" e "Ran"). Por esses motivos, não é de se estranhar que "Yojimbo" seja mais um grande filme do diretor japonês.
O filme se passa em um momento crucial na história do Japão. Como o breve prólogo explica, o ano é 1860, o xogunato do clã Tokugawa, que dominava o Japão desde 1603 , foi extinto e o imperador foi restituído. Nesse contexto, está um samurai sem mestre para servir (Toshirô Mifune, ator preferido e recorrente na filmografia de Kurosawa), que chega a uma cidade dividida entre duas gangues. Percebendo que poderia tirar vantagem da situação, o samurai (que pede para ser chamado Sanjuro Kuwebatake, embora não seja seu nome real) começa a negociar com os dois lados, buscando a melhor oportunidade para prestar seus serviços.
A partir desta premissa, Kurosawa (que também escreveu o roteiro, junto com Ryuzo Kikushima, e que depois serviria de base para "Por um Punhado de Dólares", de Sergio Leone) consegue construir diversos momentos antológicos. Durante todo o filme, ficamos de certa forma confusos quanto às reais intenções do samurai. À primeira vista, ele parece querer simplesmente emprego e dinheiro, mas também está em busca de algo mais simples, diversão e aventura, já que não há mais ninguém por quem ele lutar. Assim, percebendo a inabilidade dos membros de ambas as gangues, ele de certa forma manipula os dois lados, participando de alguns confrontos. Mas, ao mesmo tempo, ele percebe uma possibilidade de livrar aquela pequena cidade de todos os arruaceiros e do banho de sangue, que virou cotidiano para os moradores (a ponto da figura do coveiro ter se tornado de fundamental importância para os habitantes).
Em determinada cena, podemos perceber toda a habilidade de Kurosawa como diretor. Após conseguir armar uma batalha entre as duas gangues, o samurai sobe ao alto de uma escada, sainda da batalha, para deixar que todos simplesmente matem uns aos outros. A câmera se posiciona extamente aonde está o samurai, e é simplesmente um deleite acompanhar o medo e a covardia das duas gangues, enquanto Sanjuro se diverte com toda a situação. As cenas de ação, embora poucas e rápidas, são extremamennte realistas, e outro trunfo do diretor; em determinado momento, o samurai acaba com três oponentes em menos de 10 segundos, e a câmera se movimenta de tão rápida que não conseguimos acompanhar os golpes.
A composição do personagem Sanjuro é complexa, e exigia um ator competente. O trabalho acabou ficando com Toshirô Mifune, figura fácil nos filmes de Kurosawa, e que tem em "Yojimbo" um de seus melhores desempenhos. O samurai, mesmo desempregado e errante, ainda nutria diversos valores de sua profissão. Na cidade, tem como objetivo maior acabar com toda aquela rivalidade, e em determinado momento "paga o preço" por esse desejo. Ele ouve de diferentes personagens, em contextos completamente diferentes, que é um homem bom, ainda que sabidamente um asassino.
O único porém em relação ao filme é sua duração um tanto quanto excessiva. Há uma subtrama desnecessária perto do fim envolvendo a esposa de um habitante da cidade, que só serve para ressaltar os valores que Sanjuro ainda possuía, e uma boa cena de ação, mas sem maior relevância para a trama. De certa forma, parece que há uma tentativa de vilanizar o personagem Unosuke (Tatsuya Nakudia), filho do líder de uma das gangue e que porta uma arma de fogo, mas nada que atrapalha o resultado final.
"Yojumbo" é, portanto, mais um dentre tantos excelentes filmes que foram realizados por Akira Kurosawa, um dos maiores nomes do cinema japonês, oriental e mundial. Simplesmente imperdível.
Por Douglas Braga
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