Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (crítica II)

Para Victor Bruno, a última parte da saga de Harry Potter não é nada demais, nem nada de menos. Apenas o suficiente

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2

A saga de Harry, Hermione e Ron chega ao fim e Douglas Braga não gosta nada da sua conclusão

Especial David Fincher: A Rede Social

Na última parte do Especial, relembre o que Victor Bruno escreveu sobre A Rede Social, mais recente filme de David Fincher

Especial David Fincher: O Curioso Caso de Benjamin Button

Victor Bruno faz uma análise de O Curioso Caso de Benjamin Button, no penúltimo filme comentado neste especial

Especial David Fincher: Zodíaco

O nosso especial sobre David Fincher continua com Douglas Braga falando sobre Zodíaco, mais um thriller investigativo do norte-americano

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Editorial

Em 31/12/10

Caro leitor,

Agora que 2010 está acabando, podemos finalmente fazer um panorama de todas as coisas. 2010 foi um ano importante, sem a menor sombra de dúvidas. Para começar, foi o ano em que o Ornitorrinco Cinéfilo nasceu. Se nada mais tivesse acontecido, o ano já teria sido excelente só por causa disso. (Nós nos superestimamos, temos este direito, não?)

Do ponto de vista cinematográfico, 2010 foi também um ano bom. Não memorável, mas assim como todos os anos, tem sua cota de prós e contras. Neste ano tivemos filmes de Scorsese, Nolan (não que isso seja grande coisa), Aronofsky, Coens... tivemos toda uma galeria de grandes e médios cineastas, cada um com suas qualidades, que marcaram presença.

Em 2010 vivemos algo novo cinema. Em 2010, vimos crianças dizerem "We can kick ass." O que quero dizer é que o filme Kick Ass apresentou algo inédito no cinema. Crianças falando palavrão como porras-loucas, matando adoidado. Quantas vezes antes deste ano nós vimos algo ao menos parecido? Você se lembra? Talvez tenha acontecido uma ou duas vezes, mas não no mesmo grau de intensidade deste. Não estou dizendo que o filme é bom. Estou dizendo que é inédito.

Durante este ano, o Ornitorrinco Cinéfilo recebeu quase 18.000 visitas, publicou 74 críticas, foram postados 228 artigos (229, contando com este), foram postados 274 comentários (contando com os comentários postados pelos membros da redação). O artigo mais visualizado do ano foi o texto sobre o vídeo da Pixar, It Gets Better (leia-o aqui). Recebeu 1285 visitas.

Nós queremos que amanhã e depois esta lista continue crescendo, crescendo. Nós queremos ser os melhores. Nós poderiamos fazer isso sozinhos, claro. Mas fariamos para quem? Vocês, os leitores, são o combustível para que o Ornitorrinco Cinéfilo continue aqui, servindo a você. Atingir a sua preferência é o nosso objetivo.

Que em 2011 você continue aqui com a gente.

Feliz ano novo e bons filmes,

Victor Bruno

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Brancaleone nas Cruzadas






Brancaleone alle Crociate, 1970/ Dirigido por Mario Monicelli
Com Vittorio Gassman, Stefania Sandrelli, Adolfo Celi e Paolo Villaggio

(4/5)

A Idade Média já foi retrada de diversas maneiras no cinema. Desde obras-primas marcantes, como O Sétimo Selo, de Ingamar Bergman, passando pelas divertidas comédias do grupo inglês Monty Python, e até em produções de nível no mínimo "duvidoso", como os recenetes Cruzada e Robin Hood, curiosamente ambos de Ridley Scott. Mas talvez as versões mais interessantes tenham sido  do diretor Mario Monicelli, falecido recentemente: O Incrível Exército de Brancaleone, lançado em 1966, e que alcançou um notável sucesso comercial; e Brancaleone nas Cruzadas, de 1970, que acompanha as aventuras do herói Brancaleone da Nórcia, imediatamente após os acontecimentos do filme anterior.

 O roteiro pode parecer estapafúrdio, mas é repleto de simbolismos e mesmo de tons sobrenaturais, penetrando na mentalidade do mundo medieval, além de um tom satírico delicioso. Na trama, Brancaleone, após quase todos os membros da peregrinação a Jerusalém da qual fazia parte terem sido mortos, parte junto com os quatro últimos sobreviventes (dentre eles, um coxo e um cego!) em direção a Terra Santa, para libertá-la do domínio dos mouros. No caminho, o "cavaleiro" ainda encontra uma bruxa, um leproso, um anão, um masoquista, um bebê, um alemão e ainda conversa com a morte!




 O humor do filme funciona perfeitamente. Há diálogos simplesmente hilários ( não há como não rir na seqüência da "luta" com o alemão, por exemplo). E o ator Vitorio Gassman, uma das maiores estrelas que o cinema italiano já viu, ainda investe em um certo tipo de humor físico que combina com o tom absurdo adotado pelo diretor (e também roteirista) Mario Monicelli. Dá-lhe brigas com o cavalo, batalhas contra vários oponentes, e mesmo cenas românticas (!) dignas de se chorar de rir. E os roteiristas (o próprio Monicelli, Agneore Incrocci e Furio Scarpelli) ainda tomaram um risco adicional no último ato, em Jerusalém: todos os diálogos são rimados, lembrado as cantigas cavaleirescas e as trovas medievais, tornando as situações mais engraçadas do que já seriam "naturalmente".

"Brancaleone nas Cruzadas" ainda pode ser deliciado pelas imagens belíssimas proporcionadas por Monicelli. O diretor mostra um garnde domínio técnico, demonstrado na intrigante seqüência da árvore com corpos pendurados, cena cuja força é ampliada pelos diálogos entre os mortos e a bruxa (mais uma vez, o sorenatural presente), com os primeiros contando os motivos de sua morte (por adultério, por ser judeu, ou  simplesmente por comer salame). Temas medievais são abordados em cenas memoráveis, como o encontro dos dois papas, além da linda (tanto visualmente, como em seu aspecto simbólico) luta entre Brancaleone e a morte. A fotografia é mais um trunfo, além da trilha sonora com o já clássico grito de guerra, "Branca, Branca, Branca, Leone, Leone, Leone!".



 O único pecado do filme é sua duração excessiva. Os 119 minutos acabam parecendo excessivos, e poderiam ter sido encurtados em cerca de 15 minutos. As cenas com o leproso, por exemplo acabam parecendo desinteressantes e mesmo desnecessárias perto de outros momentos hilários, e talvez pudessem ter sido eliminadas, sem fazer muita falta.

 Ainda assim, "Brancalone nas Cruzadas" consegue ser superior ao anterior, e mais conhecido "O Incrível Exército de Brancaleone". É uma comédia satírica interessantíssima, tendo como pano de fundo o período medieval, com cenas dignas de se assistir várias vezes. Sem dúvidas, é uma pérola do humor e do cinema italiano, de uma forma em geral.  

 Por Douglas Braga

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

The Ukulele Orchestra of Great Britain - The Good, The Bad, The Ugly

O Ukulele Orchestra of Great Britain é um grupo britânico que, como o próprio nome diz, utiliza apenas um único instrumento, o ukulele, um tradicional instrumento musical havaiano.

No vídeo abaixo, os Ukes, como são também são conhecidos, fazem uma excelente releitura do clássico tema de Três Homens em Conflito (The Good, the Bad and the Ugly, Sergio Leone), composto pelo gênio Ennio Morricone. (Se por acaso você souber falar inglês, saque a piada feita ainda no início da música.)

O vídeo também pode ser encontrado no primeiro DVD do grupo, chamado Anarchy in the Ukulele.



Como a descrição do vídeo no YouTube informa, este mesmo vídeo foi postado anteriormente no site, atingindo mais de 2 milhões de visualizações, mas foi "acidentalmente excluído" no início de 2010.

Por Victor Bruno

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Fantástico Sr. Raposo

The Fantastic Mr. Fox, 2009 / Dirigido por Wes Anderson
Com George Clooney, Meryl Streep, Jason Schwatzerman, Eric Anderson, Wallace Wolodarski, Bill Murray, Michael Gambon, Williem Dafoe, Hugo Guiness e Robin Hurlstone


(4/5)

O cineasta Wes Anderson tem uma carreira interessante. Desde seu primeiro sucesso comercial, Três é Demais (Rushmore, 1998), Anderson vem batendo num tema constante em sua carreira: relações familiares. Se naquele filme de 98, o aluno da Academia Rushmore Max Fischer tinha vergonha de ser filho de um barbeiro, mentindo a todos que era filho de um neurocirurgião, para escapar da tachação de fracassado -- rendendo assim uma das melhores gags do filme, lá pelo seu final --, o cineasta de cabelos loiros, quase um sósia do Win Butler, vocalista do Arcade Fire, parece ter visto ali um tema que lhe interessasse. Repetiu o enredo de "família problemática" no não-tão-bom Os Excêntricos Tenenbaums. Arrancou outro sucesso de público e da crítica num filme que, antes de mais nada, rouba um gancho de Rushmore.

Mas roubar ganchos e repetir temas não é, como pode parecer, um problema. Um cineasta pode se repetir, e repetir, temas e estilo tantas vezes quanto achar melhor. O problema real surge quando ele não sabe mais tratar este tema de forma interessante. Surge aquela problemática do "mais do mesmo". Aquele ar de "já vimos este filme antes". Nos últimos anos este vinha sendo o problema de Wes Anderson. Já em seu quarto filme, A Vida Aquática com Steve Zissou, Anderson já sabia que estava começando a cansar crítica e público com seus temas repetidos, e seu cinema geométrico. Aliás, neste mesmo filme, Steve Zissou é o alter-ego de Wes Anderson. Um homem que tem um certo prestígio, mas passa a ser renegado por todos. Steve Zissou, tal como Wes Anderson, é um cineasta. Ambos gostam de falas poéticas, quase como recitadas. Ambos gostam de enquadramentos precisos. Ambos acham que cinema, ao seu modo, "é uma aventura".

Mas não se engane. Steve Zissou também tem como tema relações familiares. E as repetições continuam no filme seguinte de Anderson, Viagem a Darjeeling. Troque um submarino por um trem e, voilá, temos o novo filme de Wes Anderson. Aliás, o filme seu filme mais açoitado pela crítica. Já era tempo de Anderson parar e refletir. Anderson precisava de algo novo, mas que se encaixasse no seu "velho eu".

Então surge este O Fantástico Sr. Raposo, baseado num livro de Roald Dahl (chamado Raposas e Fazendeiros). O filme conta a história de Raposo, (voz de George Clooney) um ex-ladrão de galinhas que agora, por força das circunstâncias, e da sua mulher, Felicity (voz de Meryl Streep), é um colunista de jornal. Raposo não tem certeza da sua natureza, se a vida que segue é a que ele realmente quer. Isso fica claro e notório quando, num certo café da manhã, ao ver uma pilha de panquecas, abandona sua postura sempre refinada e culta, agindo de forma selvagem, animalesca, devorando em milésimos as panquecas.

Para a situação de Raposo ficar levemente complicada, ele resolve assaltar os três mais cruéis e sanguinolentos fazendeiros do mundo, Bunco, Boque e Bino. Por que ele faz isso? Para revistar sua natureza animalesca? Por que raposas são, naturalmente, animães ladrões. É disso que o novo filme de Wes Anderson trata, a natureza do ser. O que você é. O que você não é. O que você quer e poderia ser.
Mas isso pode por tudo a perder, ser o que você é. Quando os três fazendeiros descobrem que foram furtados, não medem esforços para matar o Sr. Raposo. A luta contra o animalzinho elegante torna-se desgastante e destruidora. A colina onde Raposo e sua família moravam é destruída e isso põe em risco a vida de todos os animais da fauna local. Inclusive, claro, a da sua própria família. Raposo e seus amigos (?) têm que lidar com a situação. Paralelo a isso acompanhamos a história do filho do casal Raposo, Ash (voz de Jason Schwatzerman), que é... diferente. Ele sente inveja do seu primo Kristofferson (voz de Eric Anderson, irmão do diretor), que é o melhor em qualquer coisa que faça. Sem contar que ele está namorando sua amada, Agnes (voz de Juman Malouf), o que o deixa ainda mais furioso.

Mas isso tudo logo tem que acabar. Com a caçada dos três fazendeiros todos têm que enfrentar seus problemas e fraquezas por um bem maior.

A trama é inegavelmene infantil, principalmente nesta última parte de "enfrentar os problemas e fraquezas", blá, blá, blá. Se não fosse isso, seria tema de um livro de auto-ajuda. Entretanto temos que levar em consideração que Sr. Raposo tem origem num livro infantil, e tem (teoricamente, ao menos) como publico alvo as crianças.

Mas o truque de Anderson é simples. Como aplicar isso ao seu estilo? Fácil, fácil. Roald Dahl tem em seu histórico de livros infantis histórias bizarras, humor grotesco (quase sempre) e vilões (às vezes até heróis) com habitos quase cruéis. Ele é o autor de A Fantástica Fábrica de Chocolate, e sejamos francos -- Willi Wonka não é um exemplo de serenidade e sanidade mental. Combine esta bizarrice com os filmes de Wes Anderson e temos a lasanha pré-cozida.

Naturalmente um dos pontos fortes do filme é o roteiro, escrito à quatro mãos: Noah Baubach e o próprio diretor Anderson. As falas, assim como as de todos os outros filmes do diretor são certeiras, rapidas e bem encenadas. Na verdade, tão bem encenadas que beira o teatrismo. Mas isso é um cacoete cinematográfico do próprio diretor. E é exatamente este cacoete que serve de base para a construção da excelente personagem principal, o Sr. Raposo. Seu pensamento lógico, matemático. Sua arrogância que põe todos em risco e sua inteligência monumental cabem com perfeição no estilo único de Anderson para construção de roteiros (uau!). Sua inteligência é tão grande e bizarra que ele faz questão para mostrar a todos que sabe o nome científico dos animais de cor. Aliás, uma das melhores gags deste filme encontra-se nesta cena:

Raposo - Texugo! Meles meles! Qual sua especialidade!

Texugo - Especialista em demolição!

Raposo - (Confuso) O que?! Desde quando?

Texugo - Explosões, chamas... coisas que queimam!

Raposo - OK, Linda, anote isso.

O filme ainda abre espaço para outros cacoetes filmicos do diretor Anderson, como, por exemplo, a utilização de músicas da Invasão Britânica e rock dos anos 60-70. Temos a presença de, por exemplo, Beach Boys, Rolling Stones (melhor sequencia do filme acontece ao som de Street Fighting Man). Ainda falando de música, a trilha sonora composta por Alexandre Desplat é sensacional. E olha que esta é a primeira vez que Desplat trabalha com Anderson. Antes as músicas dos filmes do diretor texano eram compostas apenas por Mark Mothersbaugh, fundador do lendário grupo new wave, Devo.

De todas as formas, o fantástico Sr. Raposo não está imune a erros. Ele é arrogante, como dito. Prepotente e, conforme aponta sua própria esposa "não dá ouvidos a ninguém". A convivência com ele é tão difícil que, em dado momento do filme, Felicity chega para ele -- numa cena extremamente tocante, mas clichê em sua composição -- e diz "Não deveria ter me casado com você". A busca do eu perdido de Raposo coloca todos em cheque. A busca do ser, na vida, é difícil. Raposo poderia ser um personagem de Franz Kafka, em busca de algo que não está mais disponível.
Assim como nas outras famílias compostas por Wes Anderson, os Raposos são neuróticos. Se o pai tem seus problemas existenciais, Felicity tem um passado nebuloso (que rende outra gag genial), o filho Ash quer ser o que não pode ser, e nem sabe quem é (há a sugestão que ele possa ser homossexual, ou andrógeno). O sobrinho de Raposo é excelente em tudo o que faz, mas ainda sente o pai com quem perdeu o contato. Esmiuçando um pouco mais, O Fantástico Sr. Raposo é um reboot de Excêntricos Tenenbaums. As semelhanças começam no próprio Raposo e seu pensamento metódico. Estendem-se até mesmo às roupas da personagem. Conforme aponta o crítico Rodrigo Carreiro, até os robes (roupões) dele são parecidos com os de Royal Tenenbaum.

Mas algumas coisas no filme são extremamente mal explicadas, ou inúteis. Qual a real importância de ficar colocando inserts sobre a vida de Ash e seus problemas com as garotas e sua inveja para com Kristofferson? Nós já sabemos que Ash é um inútil despreparado com pretenções de, um dia, ser tão bom quanto seu pai nos esportes. Se isso tinha a intenção de ser uma sub-trama na história (e, na verdade, é construída como tal), a tentativa fracassou. (Outra hipótese que tenho é que Andeson e Baumbach colocaram isso no roteiro simplesmete para encher linguiça, já que o filme é bem curtinho, 84 minutos.)

Outra coisa extremamente desnecessária é a inclusão da personagem Rato (voz de Williem Dafoe). Ela aparece só duas vezes na trama, não faz absolutamente nada. Não inclui simplesmente porcaria nenhuma na história (salvo a menção sobre o passado nebuloso de Felicity). De verdade, a única importância de Rato na trama é para ser escada de piada e, mais tarde, incluir um momento dramático.

O Fantástico Sr. Raposo é fantástico, sim. Ao contrário do que a maioria da crítica pensou, o filme não é apenas para crianças. Há um preconceito para com animações. As pessoas têm um pensamento que funciona no automático: "É uma animação, logo, é para crianças." Isto é errado. Toy Story 3, da Pixar, mostra isso bem. Stop-motions, computações gráficas, são apenas um meio de contar histórias. Histórias podem ser contadas de qualquer forma. Anderson faz um excelente trabalho ao mostrar uma busca existencial com humor (por mais bizarro que seja) e drama. Isso é coisa para gente grande. Mas não necessáriamente para adultos. O Fantástico Sr. Raposo é um filme para todos. Merece ser assistido.

Anderson parece, finalmente, ter se re-encontrado. Vamos ver o que ele nos reserva à seguir.

Por Victor Bruno

domingo, 26 de dezembro de 2010

Amor, Sublime Amor

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Galeria - Melhores pôsteres de 2010*
















*Segundo o blog Popcorn for Dinner


Update -- Incluíndo uma sugestão do redator Pedro Lemgruber:

Da Redação

domingo, 19 de dezembro de 2010

Banda à Parte

Bande à Part, 1964 / Dirigido por Jean-Luc Godard
Com Anna Karina, Sami Frey e Claude Brasseur


(4/5)

Sabe a produtora de Quentin Tarantino, Bande Apart? Releia o título do filme, já dá para descobrir de onde o nome surgiu. Tarantino, cinéfilo como poucos, enquanto devorava os filmes do catálogo da Video Archives, assistiu Banda à Parte, gostou do que viu e, anos mais tarde, homenageou Godard e sua obra. E ele tem motivos para isso. O filme é tudo o que Tarantino quis ser na primeira fase da sua carreira, mas nunca conseguiu. Até por que não dá para colocar Godard e o americano no mesmo patamar, mesmo que os dois bebam da mesma fonte. Godard é um (ou costumava ser) ntelectual, qualquer filme seu prova isso, enquanto o outro nem almeja o estatus. Mas isso é efêmero na nossa discursão.

A trama do filme é baseada num livro da escritora Dolores Hitchens, chamado Fools' Gold ("Ouro de Tolo"). Arthur e Franz (Claude Brasseur e Sami Frey, respectivamente) conhecem Odile (Anna Karina) num curso de inglês. Os dois rapazes são verdadeiros enfant terribles, que não estão nem aí para nada, gostam mais é de curtir a vida adoidado. Acham trabalhar um destino terrível -- isto é citado durante o filme. Em suma, estão procurando pura adrenalina. No contra-ponto, a moçoila é delicada, meiga, que não sabe na confusão que está entrando. "Mas que raio de confusão é esta que esse cara está falando?", o nobre leitor pergunta. A confusão é que Franz e Arthur resolvem roubar uma grande quantia de dinheiro que está em posse de um tal de Sr. Stolz. Provavelmente eles não fariam isso, caso não soubessem que esta quantia é furtada (saque a ironia) do governo. "Ele furtou do governo! Merece pagar por isso", exclama um dos dois. Aqui está sendo posta em prática a famosa sentença "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão." Ao mesmo tempo em que isso acontece, os dois homens amam a mesma mulher, e ela tem de se dividir em duas para que tudo dê certo.
É interessante notar a simetria da dupla principal. Enquanto Arthur é um homem sedutor, quase um Alfie da vida, sem muitos problemas existenciais, Franz é um Kafka (Franz = Franz Kafka?), por sua vez. Cheio de problemas existenciais, pensa que tudo está desmoronando ao seu redor, que as pessoas lhe evitam e que dorme em sua cama sozinho à noite enquanto seu amigo dorme com a mulher que ama por ser sociável. E estes pensamentos tristes são ilustrados numa sequência extremamente triste e melancólica, dirigida soberbamente pelo mestre Godard.

O interessante do filme é como o triângulo amoroso formado pelas personagens principais influi diretamente nas ações tomadas por eles e, consequentemente no furto que está sendo planejado. Mesmo com os dois principais sendo melhores amigos, um se rói de ciúme e inveja quando o outro está mais próximo de Odile. Tome por exemplo a sequência fantástica dentro do café. Observe como Franz empurra Arthur para trás para que possa se sentar próximo a Odile. O truque não funciona e ele é resignado a sentar distante de seu amor. Entretanto, quanto Arthur sai, Franz imediatamente toma o lugar do seu amigo.

(Bom, amigos, amigos. Amores à parte.)

Godard com sua falta de elegância habitual, capta sua ex-amada Anna Kar(en)ina com leveza de espírito incomparável. Há um longo close em seu rosto, sensacional, utilizando-se de um cliché largamente usado (o soft focus), em que o cineasta praticamente diz ao público "Olhem como ela é linda!" E nós somos obrigados a admitir. Não se surpreenda quando você vir Anna Karina apenas com uma saia e a roupa de baixo.

Falando em "falar ao público", Godard mais uma vez emprega truques para se aproximar da platéia e ser compreendido. A primeira coisa que Godard quer dizer para quem assiste seu filme é que: Isto é cinema, não é realidade, aprenda isso! Para o cineasta, realidade e irrealismo se misturam em celulóide. Um exemplo (spoiler à frente), a morte do tio de Arthur, repare quantos tiros são necessários para o cara começar a se debater.
A segunda coisa que o cineasta quer dizer é: irrealidade pode deixar tudo mais real. Observe na cena em que Arthur e Franz brincam de duelar como se fossem dois cowboys. Quando um deles "atira" no outro, Godard não exita em colocar um som de tiro, para deixar a coisa toda mais "real".

E quando alguém corta todo o áudio da cena para que o público entenda o que as personagens querem dizer? Já não é mais Godard falando aqui, mas sim Arthur, Franz e Odile. A notória cena do um minuto de silêncio talvez tenha sido o máximo que um cineasta conseguiu se aproximar o seu filme, do público. 3D o caramba, nós temos Godard. E continuam as cenas fantásticas, a cena em que o trio dança o madison enquanto o narrador (o próprio Godard) ilustra seus sentimentos interrompendo o áudio externo (Godard diz, "Parem as máquinas, pessoal, escutem o que ele/eu tem/tenho para dizer") é um excelente exemplo da manipulação que um cineasta pode fazer da misce-en-scene à favor do seu filme. Como já dito, mas em outras palavras, agora, realidade é relativa.

Apesar de todos esses prós, e são muitos, Banda à Parte tem seus tropeços, igualmente. O filme é confuso, não segue uma estrutura clara (mesmo na bagunça estrutural que a Nouvelle Vague impõe), e mesmo com a sua edição rápida (mais uma imposição do estilo que é imposto pela Vague, forçando Godard a desistir dela anos mais tarde), Banda à Parte tem sérios problemas de ritmo (paradoxal, não?).

Falando em paradoxo, temos o tal do Sami Frey, fazendo Franz, a encarnação de Franz Kafka. Ora, se o cara tem problemas existenciais, e sofre de uma série depressão, é extremamente pegajoso e infeliz... digamos apenas que Sami disfarça isso na sua personagem muito bem. Para falar a verdade, Sami é mais elegante e charmoso do que seu parceiro Arthur, que tem na própria descrição feita pelo narrador, estas características. Esquisito, não? Bom, Sami é o elo mais fraco do trio de protagonistas. Não que sua interpretação seja ruim, mas este detalhe me incomodou bastante durante o filme. Claude Brasseur está ótimo com seu Arthur, enquanto Anna Karina arrasa, com seu jeito de ninfeta. Ótimo.

Jean-Luc disse certa vez que Banda à Parte é o "encontro de Alice no País das Maravilhas com Franz Kafka". Nem tanto, nem tanto. Kafka não precisa de uma história lisérgica como Alice. Kafka não precisa de ninguém na verdade. E não vai ser Godard quem vai mudar isso, principalmente com um filme irregular como esse. Mas apesar da sua irregularidade, imperdível. É Godard para quem não gosta de Godard.

Aliás, JanLuc Cinéma Godard, como ele assina aqui. E, nossa, que ridícula essa invenção. Tudo bem, ele é um contestador, e o que podemos fazer nós contra isso? Nada. Ele é um homem à parte.

Por Victor Bruno

sábado, 18 de dezembro de 2010

Serenity

Serenity, 2005 / Dirigido por Joss Whedon
Com Nathan Fillion, Summer Glau, Adam Baldwin, Sean Maher, Morena Baccarin, Gina Torres, Alan Tudyk, Jewel Staite e Chiwetel Ejiofor


(3/5)

Em 2007, a revista SFX Magazine decidiu fazer uma eleição. A eleição decidiria qual era o melhor filme de ficção científica da história. Os favoritos eram óbvios -- Star Wars, 2001: Uma Odisséia no Espaço, talvez até -- quem sabe -- Matrix? Mas um filme de 2005, fracassado na bilheteria, surpreendeu todo mundo. Este filme chama-se Serenity.

A obra do diretor Joss Whedon (criador da série Buffy - A Caça-Vampiros) tem suas qualidades. Muitas até. Mas será que pode ser chamada de "melhor filme de sci-fi de todos os tempos"? Definitivamente não. E nos meus critérios, isso não deveria nem ser discutido. 2001 é a obra máxima de qualquer gênero na história da humanidade, e sua superioridade é inquestionavel. (Ou ao menos deveria ser, maldita liberdade de expressão.)

Mas eu não estou aqui querendo discutir esta decisão infame. Eu estou aqui para analisar a obra. Serenity é um spin-off da série (que não vi) Firefly, também do diretor/roteirista Joss Whedon. O filme conta a história dos cinco tripulantes da nave Serenity: o capitão Mal (Nathan Fillion), Zoë (Gina Torres), Wash (Alan Tudyk), Jayne (Adam Baldwin), Kaylee (Jewel Staite). O universo está em guerra, com três grupos definidos: os rebeldes, grupo do qual Mal e seus comandados fazem parte, a Aliança, que tem como objetivo "impor a paz" no universo, mesmo que com métodos duvidosos, e os Reavers, grupo independente e canibalista. Sabe-se lá por que eles apresentam este comportamento.
Certo dia uma garota chamada River (Summer Glau) é raptada do centro de pesquisas da Aliança, onde estava sendo preparada para adotar um comportamento condicionado. O raptor é seu irmão, Simon, que na verdade é médico. Juntos os dois são hospedados por Mal e sua equipe. A partir daí todos têm que fugir de um estranho assassino da Aliança, enquanto River apresenta um estranho comportamento.

Serenity tem seus momentos. A começar pelo seu título extremamente irônico. "Serenidade" é algo que não é visto em nenhum momento do filme. Aliás, "Serenity "também é o nome da tempestuosa nave comandada por Mal Reynolds, que por sua vez é um homem egocêntrico, frio e indiferente a todos que os cercam (seguindo esta linha de pensamento, o seu apelido Mal, que vem de Malcolm, pode ser um trocadilho). E mais interessante acerca do nome "Serenity" é ela vem de uma batalha muito sangrenta -- que é citada durante todo o filme. Ou seja, em Serenity, serenidade zero.

Mas é um filme de um cineasta talentoso. De fato, esta é a primeira incursão de Joss Whedon pelo mundo do cinema. Especializado em TV, nascido e criado no mundo da proporção 4x3, Whedon tem nítida dificuldade para tocar seu filme no mundo do 2:35.1. Mas isso não é barreira para ele. O diretor investe em ângulos ousados, planos sequências, batalhas explosivas e lutas feitas em um take só. Mas ainda assim tem grande dificuldade para lidar com a megalomania do seu projeto. Tem um início extremamente didatico -- a impressão que dá é que Whedon tem preguiça para desenvolver as personagens para o público que não assistiu Firefly, como eu -- ainda que surpreendente.

Acima de tudo, Whedon tem dificuldades para lidar com o roteiro que concebeu. Serenity originalmente se chamaria The Kitchen Sink ("A Pia da Cozinha"). Tinha 190 páginas, ou seja, filme para mais de três horas. Seria algo megalonâmico (essa palavra existe?), de proporções nababescas... algo faraônico. A Universal foi lá e cortou o sonho de Whedon pela metade. Esse corte, levando um filme de três horas para 1h50 minutos, deixa tudo muito fragmentado, principalmente durante o primeiro ato da película, mais didática. E com certeza o desenvolvimento das personagens fica mais enfraquecido. É mais fácil crescer do que cortar. Serenity sofre com isso. Por exemplo: o relacionamento de Mal com Inara (a brasileira Morena Baccarin, da série V) por mais que tenha seu passado comentado, não tem suas engrenagens funcionando 100%. Não nos comovemos pela situação dos dois. Se esse relacionamento, da personagem principal, não é bem desenvolvido, imagine um outro affair amoroso mostrado na trama, entre Kaylee (apagadíssima) e Simon.
Os efeitos especiais são preguiçosos durante boa parte do filme. As naves espaciais, logo no primeiro take do filme são ridiculamente mal construídas. Sabe? É óbvio que o que estamos vendo é CGI, um ar falso... parecendo que tudo aquilo foi feito às pressas. No decorrer do filme melhora (até por que muitas das lutas são corpo-a-corpo, sem toda aquela pirotecnia de Avatar, ou Star Wars), mas volta a ficar ruim no final. (OK, tenho que levar em consideração que Whedon teve um orçamento bem apertado para os padrões hollywoodianos -- 40 milhões.)

Whedon é um mal diretor de atores, além de desenvolver diálogos altamente clichês, e situações também. Ele é um cara que não exita em dar alívio cômico numa sequência de ação.

"Nós viemos pegar o cofre!" "Só com autorização." Jayne solta uma rajada de balas com a metralhadora. "OK, podem entrar!"

É engraçado? Sim, mas não condiz com a postura que o filme quer adotar. (Ou ao menos deveria.) Outra coisa que Whedon não exita em fazer é dar aos diálogos inúmeras frases de efeito. São incontáveis. Filosofia de botequim existe aos montes no filme.

E os atores entram na canastrice de Whedon. E até estão bem. Se Adam Baldwin faz um caricaturado durão -- Jaynes -- e Nathan Fillion faz um comandante Mal linha-dura, a única interpretação relativamente realística (coisa que eu sempre prezo nos filmes) é a Summer Glau. É óbvio que o tom do filme cabe realismo em seu bojo, ninguém está discutindo isso. Mas nas interpretações sim. Ali cabe, e Glau faz isso com brilhantismo. Sua River, uma pessoa psicologicamente quebrada, por ter servido como cobaia para experimentos científicos, em busca de um universo melhor (Joseph Mengele rondando por aí?) está excelente. Ela é daquelas típicas crianças (adolescentes, na verdade) depressivas. Glau está ótima em Serenity.

O filme tem vários aspectos interessantes, fotografia boa, colorida (a utilização do multi-color é algo particularmente difícil para os cineastas, eu penso), a edição é certeira, principalmente nos dois últimos atos. Mas o mais interessante de tudo é a influência do Western aqui. Observe as roupas de Mal e tente não se lembrar dos grandes cowboys dos filmes e dos quadrinhos. Tom Mix, Tex Willer. Ele é um verdadeiro desbravador. Até os equipamentos têm denominações faroeísticas (adoro neologismos). E.g. Mula. Outras referências à períodos históricos podem ser encontradas em Serenity, como a supracitada referência ao nazismo. Também não deixe de notar as referências a cultura e língua chinesa e russa feitas durante o filme.

Alguém uma vez disse que "Serenity é tudo o que Star Wars sempre quis ser." Talvez, talvez não. É uma comparação esquisita, por que Star Wars é, no máximo, um preview de Avatar. E serenity é mais inteligente, esperto, ousado (mas isso é relativo). O fato é que a pia da cozinha está suja. Limpe-a quando puder, Whedon.

E o leitor que não entendeu o que eu quis dizer no último parágrafo, releia tudo.

Por Victor Bruno

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Apelo ao simples, É liberado o pôster do Oscar 2011

A A.M.P.A.S. (Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em português) liberou hoje (dia 17) o pôster oficial do Oscar 2011 (foto).

O interessante mesmo deste pôster é a simplicidade com que ele foi feito. Não é pomposo, não é glorioso, não tem cores reluzentes ou cromadas. De fato, não reflete nem um pouco o luxo que é o Oscar. É basicamente formado por duas cores: preto e amarelo-dourado. Eu como amante do simples, gostei muito.

Mas por que esta opção pelo simples, que destoa tanto do Oscar? Muito simples. A Academia, para divulgar a sua maior premiação (e também causa o seu maior fornecedor de dinheiro), conta com a internet ao seu favor, e -- dentro disso -- um termozinho muito comum para os mais chegados ao mundo virtual: "viralização". O pôster é híbrido e pode facilmente virar um wallpaper, avatar do Facebook e plano de fundo do Twitter.

E ainda dizem que a internet não vende...

Posteres alternativos:



Por Victor Bruno

It's freaking fantastic! 17 minutos inéditos de 2001: Uma Odisséia no Espaço

É uma notícia que compensa a morte de Blake Edwards. Estavam Douglas Trumbull e David Larson pesquisando imagens para a o documentário 2001: Beyond the Infinite - The Making of a Masterpiece, quando, numa mina de sal no estado do Kansas, descobriram rolos de filmes, dentro de um cofre. O conteúdo dos rolos: nada mais, nada menos que 17 minutos inéditos de 2001: Uma Odisséia no Espaço.

Estes tais 17 minutos inéditos estavam no filme exibido durante a pré-estréia de 2001, em Nova York. O filme fracassou e Kubrick decidiu, na mesma noite, cortar parte do filme. O filme sem os 17 minutos foi lançado, e é, até agora, a única versão disponível no mercado.

O anúncio do achado, segundo o site Omelete, foi feito por Douglas Trubull durante uma exibição de 2001 no formato de 70mm (infinitamente melhor do que o formato tradicional, em 30mm), em Toronto, Canadá. Ainda não se sabe se o filme com os 17 minutos inclusos será lançado comercialmente.

A parte ruim é que o documentário foi cancelado pela Warner Bros. (Tudo o que é bom dura pouco.)

Assistam um pouco do documentário que ficamos órfãos. Deveria ser fantástico, cara.



Por Victor Bruno

Um videoclip de Spike Jonze para o Arcade Fire

Melhor visualizado se visto em fullscreen.











Música: The Suburbs - Arcade Fire

Por Victor Bruno

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Scorsese, De Niro, Pesci, et alli

Scorsese à esquerda, De Niro à direita.

Está confirmado. Martin Scorsese se juntará novamente com Robert De Niro para mais um filme -- e, sendo realista, mais uma obra-prima (sim, isto para mim é realismo). O filme em questão é a cinebiografia de Frank "The Irishman" Sheenran, assassino da máfia e principal suspeito da morte do ativista americano Jimmy Hoffa.

Mas esta não é a melhor parte. De acordo com o próprio Robert De Niro, em entrevista à MTV norte-americana, também estão confirmados no elenco os atores Al Pacino, Joe Pesci. É a primeira vez que Scorsese trabalha com Pacino (ator que também estava cotado para o filme Sinatra, que seria dirigido por Scorsese). Para a cereja do bolo, Harvey Keitel, segundo o site Showbiz 411, também está confirmado para o projeto.

O filme tem título provisório: I Heard You Paint Houses. Seriam estas as palavras que Jimmy Hoffa proferiu à "The Irishman" quando o conheceu. "Paint houses" é um código para "matar pessoas".

Fonte: Cinema em Cena.

Por Victor Bruno

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Trailer - The Tree of Life

Finalmente chega à internet o trailer do novo filme de Terrence Malick, The Tree of Life.

E sendo bem franco, é simplesmente sensacional. São lindas as imagens que o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki nos trás para ver. A mistura de nostalgia com futurismo... são simplesmente espetaculares. Sem dúvida alguma uma das coisas mais belas que já vi em toda a minha vida. Não é à toa que é um dos filmes mais aguardados do ano que vem.



De brinde o teaser poster do filme:


Por Victor Bruno

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sai a lista dos indicados para o Globo de Ouro

Saiu hoje (dia 14) a lista dos indicados para o Globo de Ouro. Lista esta que está relativamente esquisita. O Discurso do Rei (The King's Speech, Tom Hopper) abocanhou sete indicações (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro, Melhor Ator - Drama, Melhor Atriz - Drama, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Trilha Sonora) e com isso surpreendeu todo mundo. Outros favoritos ao prêmio, como A Rede Social e A Origem, disputarão apenas seis prêmios.

Agora, ainda mais surpreedente (e bizarro) é que Johnny Depp vai concorrer a Melhor Ator - Comédia pelo filme Alice. E Michael Cera, que fez um trabalho infinitamente melhor em Scott Pilgrim Contra o Mundo, não está indicado. (E olha que eu nem gosto de Scott Pilgrim.)

Segue a lista:

Melhor filme - drama
"Cisne Negro"
"O Vencedor"
"A Origem"
"O Discurso do Rei"
"A Rede Social"

Melhor filme - comédia
"Alice no País das Maravilhas"
"Burlesque"
"Minhas Mães e Meu Pai"
"RED - Aposentados e Perigosos"
"O Turista"

Melhor animação
"Meu Malvado Favorito"
"Como Treinar Seu Dragão"
"Enrolados"
"Toy Story 3"
"O Mágico"

Melhor diretor
Darren Aronofsky, por "Cisne Negro"
David Fincher, "A Rede Social"
Tom Hooper, por "O Discurso do Rei"
Christopher Nolan, "A Origem"
David O. Russel, "O Vencedor"

Melhor roteiro
"127 Horas"
"Minhas Mães e Meu Pai"
"A Origem"
"O Discurso do Rei"
"A Rede Social"

Melhor ator - drama
Jesse Eisenberg, "A Rede Social"
Colin Firth, "O Discurso do Rei"
James Franco, "127 Horas"
Ryan Gosling, "Blue Valentine"
Mark Wahlberg, "O Vencedor"

Melhor ator - comédia ou musical
Johnny Depp, "Alice no País das Maravilhas"
Johnny Depp, "O Turista"
Paul Gimatti, "Minha Versão para o Amor"
Jake Gyllenhaal, "Amor e Outras Drogas"
Kevin Spacey, "Casino Jack"

Melhor atriz - drama
Halle Berry, "Frankie & Alice"
Nicole Kidman, "Rabbit Hole"
Jennifer Lawrence, "Inverno da Alma"
Natalie Portman, "Cisne Negro"
Michelle Williams, "Blue Valentine"

Melhor atriz - comédia ou musical
Annette Bening, "Minhas Mães e Meu Pai"
Anne Hathaway, "Amor e Outras Drogas
Angelina Jolie, "O Turista"
Julianne Moore, "Minhas Mães e Meu Pai"
Emma Stone, "A Mentira"

Melhor ator coadjuvante
Christan Bale, "O Vencedor"
Michael Douglas, "Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme"
Andrew Garfield, "A Rede Social"
Jeremy Renner, "Atração Perigosa"
Geoffrey Rush, "O Discurso do Rei"

Melhor atriz coadjuvante
Amy Adams, "O Vencedor"
Helena Bohan Carter, "O Discurso do Rei"
Mila Kunis", "Cisne Negro"
Melissa Leo, "O Vencedor"
Jacki Weaver, "Animal Kingdown"

Melhor filme estrangeiro
"Biutiful", México
"O Concerto", França
"The Edge", Rússia
"I Am Love", Itália
"In a Better World", Dinamarca

Melhor canção original
"Burlesque", por "Bound To you"
"Burlesque", por "You Haven't Seen the Last of Me"
"Country Strong", por "Coming Home"
"Enrolados", por "I See the Light"
"As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada", por "There's a Place for Us"

Melhor trilha sonora
"O Discurso do Rei"
"Alice no País das Maravilhas"
"127 Horas"
"A Rede Social"
"A Origem"

Por Victor Bruno

Jukebox - Trainspotting

"Lust for Life"
Performed by Iggy Pop
Words and Music by Iggy Pop / David Bowie
Published by EMI Music Publishing Ltd/EMI Virgin Music Ltd/Tintoretto Music
Administered by RZO Music
Courtesy of Virgin Records America Inc


"Carmen - Habañera"
Composed by Georges Bizet
Courtesy of Laserlight/KPM


"Deep Blue Day"
Performed by Brian Eno
Written by Brian Eno / Daniel Lanois / Roger Eno
Published by Opal Music/Upala Music Inc/BMI
Courtesy of Virgin Records Ltd


"Trainspotting"
Performed by Primal Scream
Words and Music by Bobby Gillespie / Andrew Innes / Robert Young / Martin Duffy
Published by EMI Music Publishing Ltd/Complete Music Ltd
Courtesy of Creation Records Ltd


"Temptation"
Performed by Heaven 17
Words and Music by Ian Craig Marsh / Martyn Ware / Glen Gregory
Published by EMI Music Publishing Ltd/Sound Diagrams Ltd/Warner Chappell Music Ltd
Courtesy of Virgin Records Ltd


"Atomic"
Performed by Sleeper
Written by Deborah Harry / Jimmy Destri
Published by Chrysalis Music Inc/Monster Island Music (ASCAP)
Courtesy of Indolent Records/BMG Records (UK) Ltd


"Temptation"
Performed by New Order
Written by Stephen Morris / Peter Hook / Bernard Sumner / Gillian Gilbert
Published by Be Music/Warner Chappell Music Ltd
Courtesy of London Records Ltd (UK)


"Nightclubbing"
Performed by Iggy Pop
Words and Music by Iggy Pop / David Bowie
Published by EMI Music Publishing Ltd/EMI Virgin Music Ltd/Tintoretto Music
Administered by RZO Music
Courtesy of Virgin Records America Inc


"Sing"
Performed by Blur
Lyrics by Damon Albarn
Music by Damon Albarn / Graham Coxon / Alex James / Dave Rowntree
Published by MCA Music Ltd
Licensed by EMI Records Ltd
By Courtesy of Parlophone and EMI Special Markets UK


"Perfect Day"
Performed by Lou Reed
Words and Music by Lou Reed
Published by Screen Gems - EMI Music Ltd
Courtesy of BMG UK Ltd on behalf of BMG Music


"Dark and Long"
(Dark Train Mix)
Performed by Underworld
Written by Rick Smith / Karl Hyde / Darren Emerson
Published by Sherlock Holmes Music Ltd
Courtesy of Junior Boy's Own, London


"Think About the Way (Bom Digi Digi Bom...)"
Performed by Ice MC
Written by Roberto Zanetti
Published by Extravaganza Publishing/Artemis B.V.
By kind permission of Warner Chappell Music Ltd
Courtesy of Robyx Srl/Warner Music UK Ltd


"Mile End"
Performed by Pulp
Written by Nick Banks / Jarvis Cocker / Candida Doyle / Steve Mackey / Russell Senior / Mark Webber
Published by Island Music Ltd
Courtesy of Island Records Ltd


"For What You Dream Of"
(Full on Renaissance Mix)
Written by John Digweed / Nick Muir / Carol Leeming
Performed by Bedrock featuring KYO
Published by Seven PM Music/Sony Music Publishing/Peermusic (UK) Ltd
Courtesy of Stress Recordings


"2:1"
Performed by Elastica
Written by Donna Matthews
Published by EMI Music Publishing Ltd
Courtesy of DGC Records and Deceptive Records Ltd


"Hertzlich Tut Mich Verlangan"
Performed by Gabor Lehotka
Composed by Johann Sebastian Bach
Courtesy of Laserlight KPM


"Two Little Boys"
Performed by Ewen Bremner
Words and Music by Edward Madden / Theodore Morse
Published by Herman Darewski Music Publishing Co/EMI Music Publishing Ltd/Redwood Music Ltd (Carlin)


"A Final Hit"
Performed by Leftfield
Written by Neil Barnes / Paul Daley
Published by Hard (UK) Hands Publishing Ltd/Chrysalis Music Ltd
Courtesy of Hard Hands/Columbia Records
By Arrangement with Sony Music Entertainment (UK) Ltd


"Statuesque"
Performed by Sleeper
Song and Words by Louise Wener
Music by Louise Wener / Jon Stewart / Andy Maclure / Diid Osman
Published by Sony Music Publishing
Courtesy of Indolent Records/BMG Records Ltd


"Born Slippy"
(NUXX)
Performed by Underworld
Written by Rick Smith / Karl Hyde
Published by Sherlock Holmes Music Ltd
Courtesy of Junior Boy's Own, London


"Closet Romantic"
Performed by Damon Albarn / Gauld / Sidwell / Henry / Smith and The Duke Strings Quartet
Written by Damon Albarn
Published by MCA Music Ltd
Licensed by EMI Records
By Courtesy of Parlophone and EMI Special Markets UK


"Temptation"
(uncredited)
Performed by Kelly Macdonald

Bom, eu nunca diria que Carmen combinasse com drogas, mas...



Por Victor Bruno

domingo, 12 de dezembro de 2010

Podcast Ornitorrinco Cinéfilo - Woody Allen

Existem duas na carreira de Woody Allen: a primeira vai dos anos 70 aos anos 80, quando seus filmes tinham ótima recepção por parte da crítica. A segunda vai do final dos anos 90 e vem até os dias de hoje. É notóriamente caracterizada por uma má recepção da crítica que diz que, salvo Match Point, seus filmes já não são grande. Alguns chegam ao ponto de afirmar que Woody Allen é um ex-cineasta em atividade.

Para fazer uma investigação na carreira do cineasta, Victor Bruno (@brunovbruno), Pedro Lemgruber (@pedrolemgruber), Douglas Braga e Jorge Balseiros, do Mundo dos Cinéfilos, contam com a presença do crítico de cinema Thiago Macêdo Correia, do site Filmes Povo.

CITADO NO PODCAST

Livro: Conversas com Woody Allen

Tempo: 61min

Clique aqui para escutar.

Assine o feed do podcast aqui.

Da Redação

O Escafandro e a Borboleta

Le Escaphandre et le Papillon, 2007 / Dirigido por Julian Schnabel
Com Mathieu Almaric, Anne Consigny, Emmanuelle Seigner, Marie-Josée Croze, Max von Sydow


(3/5)

Normalmente eu tenho a impressão que filmes sobre superação ou que mostram pessoas com alguma limitação física, cujo no filme elas têm que aprender a lidar com a situação que foram postas, bastante nojentos. E além de nojentos são extremamente desonestos para com quem assiste. São nojentos por que colocam estes indivíduos numa posição de "olha que coitadinho, mas que coisa aconteceu com ele". São desonestos por que, a partir de uma situação irreversível na vida dessas pessoas, tais filmes tentam comprar o apego do espectador num chantagem emocional barata. Então é admirável quando surge um filme que não trata nem o protagonista, nem o espectador, desta maneira. É o caso deste interessante O Escafandro e a Borboleta.

Em 1995, o editor da respeitada revista de moda Elle, Jean-Domenique Bauby, (Mathieu Almaric) sofre um derrame. Ao acordar, 20 dias depois, descobre que a sequela deixada pelo derrame foi terrível: ele se tornou prisioneiro do próprio corpo; sofre de uma condição raríssima chamada Síndrome do Encarceramento. Todos os membros do seu corpo estão paralisados, salvo os olhos. No caso de Bauby, apenas o olho esquerdo. O direito foi costurado para evitar uma úlcera na córnea. A partir desta terrível verdade, o filme se foca no desenvolvimento e na aceitação do protagonista da sua nova condição. Além disso a personagem reflete longamente sobre as ações que tomou em vida.

É realmente uma sinopse muito interessante. Aliás, um tema bem interessante. A partir deste ponto nós temos podemos ter um deselvolvimento espetacular da personagem, desde que honesto. O Escafandro e a Borboleta poderia ter sido um filme extremamente reflexivo, utilizando-se desta nova condição da protagonista para se reavaliar. De certa forma o filme faz isso, entretanto o diretor (e pintor) Julian Schnabel -- que só havia dirigido dois outros filmes, até então --, prefere mostrar a nova vida do personagem. O que não é de todo mal. O problema é que ele também quer mostrar como a personagem chegou até ali. Então existe aí um paradigma: ou o filme vai para o passado, ou fica no presente. Julian não sabe o que fazer, fica perdido no meio do caminho. Mal para o filme.
Para dar um exemplo: nós só conhecemos como (e quando, e onde) Jean-Domenique sofreu o AVC que o deixou nesta condição, no final do filme. Se o diretor tivesse montado uma ordem cronológica um tanto mais acertada, mostrando o fato um pouco mais ao início, certamente teria sido muito melhor, já que o público não teria a necessidade de ficar montando um quebra-cabeça na mente para o filme fazer sentido. Até por que esse nem é o tipo de filme que propõe este jogo mental (para começar, não é um filme do David Lynch).

Isso atrapalha bastante o filme, mas felizmente O Escafandro e a Borboleta tem seus prós, conforme discutiremos mais tarde. Foquemos agora em um aspecto bastante importante para o filme: o desenvolvimento.

A película tem um ritmo bastante lento e arrastado, mas que, estranhamente, muda nos seus últimos dez minutos. O terceiro ato do filme, é rápido e rasteiro, afetando quase todo o filme. Veja, o filme tem uma hora e 40 minutos, sendo que são extremamente longas e não apresenta um só momento de drama real. Talvez eu possa até estar sendo insensível, mas, dane-se. Não comprei a idéia do filme, justamente pela já citada confusa direção de Julian Schnabel. Momento "x": estamos vendo Jean-Domenique querendo escrever um livro e falando com a sua editora. Momento "y", Domenique está falando com sua amante. Termina que o público fica no meio do caminho.

Mas o interessante mesmo é que a maioria das pessoas gostaram do filme. Muitas delas, com certeza, não se ligaram nessa parte mais crítica da coisa toda. Talvez exista uma justificativa boa: o ser humano gosta de ver os outros sofrerem. Por que você acha que a violência vende tanto filme? Ora, todo mundo gosta de ver o outro num momento difícil, e gosta ainda mais quando esta violência é vista em tempo real. O cinema foi inventado para isso. Quentin Tarantino diz que "Thomas Edison inventou a câmera cinematográfica para mostrar duas coisas: gente se beijando e gente se matando". (Tudo bem, mas não foi Thomas Edison quem inventou a câmera cinematográfica. Ele apenas aperfeiçoou o projeto dos Lumière.) E ainda mais quando há uma história de superação no meio. É o caso de O Escafandro e a Borboleta.

E o filme merece alguns elogios, por que tem seus prós. O maior dele, sem dúvidas, é a ótima fotografia de Janusz Kaminski, fotógrafo oficial de Steven Spielberg desde o maniqueísta A Lista de Schindler. Kaminski faz um excelente trabalho, no desenvolvimento de imagens poéticas, usando e abusando de ângulos tortos, imagens desfocadas e cores bastante vivas. O fotógrafo utiliza-se tanto desse estilo lisérgico, que em alguns momentos a fotografia caminha perigosamente pelas imagens esquizofrênicas dos filmes de Kar Wai Wong.
Além da fotografia, temos belíssimas atuações. Mathieu Almaric está excelente como Bauby, apesar de vermos seu rosto poucas vezes durante o filme (acertada decisão do diretor) e trabalhar muito mais com a sua voz (irônico pensar que uma personagem que não fala tenha mais falas do que qualquer outra no filme), Almaric atua muito bem. E nas raras ocasiões em que é mostrado saudável podemos notar grande versatilidade -- ele interpreta a mesma pessoa, mas são quase que duas personagens distintas. (Outra coisa que podemos notar é que ele parece com o David Duchovony.) Outro ponto que merece destaque é na cena do AVC, perto do final do filme (acredite, não é spoiler). A transformação de um ser humano normal, para o Bauby que conhecemos durante o filme é realizada diante dos nossos olhos, simplesmente impressionante. Ponto para Almaric.

Existe uma outra ótima atuação no filme: Max von Sydow, é óbvio. Com não mais que duas cenas neste filme, ele quase toma o posto de Matheu Almaric como melhor atuação. Mas estamos falando aqui de um gênio, Sydow. Isso é claro e notório: ele não precisa de muito tempo para mostrar que está acima da média. Qualquer um que já trabalhou com Bergman não precisa de muitas outras credenciais. Ainda nos prós, o filme tem uma grande galeria de belas mulheres, mas isso é irrelevante, claro. O importante é que além de belas, sabem atuar. Emmanuele Seigner e Anne Consigny lideram os papéis femininos, e com grande competência, aliás.

É um filme interessante, claro. Tem boa fotografia, boas atuações, direção esquisita. Mas requer paciência. Durante os primeiros 40 minutos nós vemos apenas pelo ponto de vista de Bauby. Não que isso incomode, mas pode criar uma crise de labirintite se você não estiver preparado. Como se já não bastasse, você precisará de paciência dupla se não for muito fã de maniqueísmo. Mas num filme como esse, essa prática é quase obrigatória. O Escafandro e a Borboleta não é uma excessão. De todo modo, é um filme bacana e que tem seus méritos, mesmo que às custas de muito, muito melodrama.

Por Victor Bruno

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