Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (crítica II)

Para Victor Bruno, a última parte da saga de Harry Potter não é nada demais, nem nada de menos. Apenas o suficiente

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2

A saga de Harry, Hermione e Ron chega ao fim e Douglas Braga não gosta nada da sua conclusão

Especial David Fincher: A Rede Social

Na última parte do Especial, relembre o que Victor Bruno escreveu sobre A Rede Social, mais recente filme de David Fincher

Especial David Fincher: O Curioso Caso de Benjamin Button

Victor Bruno faz uma análise de O Curioso Caso de Benjamin Button, no penúltimo filme comentado neste especial

Especial David Fincher: Zodíaco

O nosso especial sobre David Fincher continua com Douglas Braga falando sobre Zodíaco, mais um thriller investigativo do norte-americano

quinta-feira, 31 de março de 2011

Onde Vivem os Monstros

Where the Wild Things Are, 2009 / Dirigido por Spike Com Max Records, Pepita Emmerichs, Catherine Keener, Paul Dano, Catherine O'Hara, James Gandolfini, Forest Withaker, Lawren Ambrose e Mark Ruffalo.


(5/5)

"Havia alguns edifícios muito altos que podiam andar. O mais alto deles é mordido por um vampiro que perde os dentes após o ataque e chora. Outros vampiros perguntam o motivo do choro e ele explica que perdeu seus dentes, e não eram de leite. Então os vampiros o deixam porque não poderia ser mais um vampiro".

Complexo demais para crianças – às vezes até mesmo para adultos –, Where The Wild Things Are mostra o poder da imaginação como nunca visto antes, sendo que, antes, a experiência foi “Alice no País das Maravilhas”, que encantou o público ao mesmo tempo em que perturbou algumas crianças com seu ritmo frenético e desolador.

Where The Wild Things Are tem a mesma fórmula, mas cativa milhões de vezes mais que “Alice no País das Maravilhas”. Sem pressa, o filme mostra a vida de Max, um menino de nove anos, infeliz e solitário, mas com uma imaginação fértil, algo que está ficando cada vez mais raro com o mundo tecnológico de hoje (lembrando que diretores de filmes como Gamer, Trasformers 2 e G. I. Joe já tiveram infância). Naturalmente os conflitos do pequeno Max são postos na tela: falta de atenção por parte dos próximos, que, aparentando compreender o filho, não fazem nenhum esforço para ajudá-lo. A falta de atenção, a exclusão, geram o isolamento, que faz com que Max tenha uma imaginação mais fértil que o normal – ou até mesmo normal –, fazendo com que ele crie histórias e mundos incríveis.

Talvez o momento em que Max conta a história do vampiro e do prédio para sua mãe ocupada seja a parte mais humana e tocante do filme – o filme por inteiro é humano, algo raramente visto em filmes hoje em dia. Essa história, apesar de triste e desoladora ao extremo, não toca a sua mãe como deveria vindo de uma CRIANÇA. Isso não abala ao certo Max, pois está acostumado com essa reação vinda de seus próximos e não tem consciência de que a história que contara é muito além do que uma criança “normal” costuma a contar.

Depois de tentar chamar a atenção de sua mãe que trouxe um aparente novo namorado para casa e estava em meio a um encontro, Max foge para uma floresta sem querer olhar para trás e encontra, na margem de um rio, um barquinho de vela, onde sobe a bordo e parte pelo rio até o mar. As expressões de Max são o ponto máximo do personagem. Max transmite hesitações em quase todos os momentos em que tem de tomar uma decisão, mostrando insegurança e a pouca experiência que tem de se relacionar, principalmente quando a decisão envolve não só ele, mas outras pessoas.

Depois do mar, Max encontra uma ilha onde deixa o barco e caminha pela floresta, em fim encontrando os “Monstros”. Os monstros são na verdade todas as personalidades de Max, todos os seus sentimentos, principalmente Alexander (dublado por Paul Dano, de Little Miss Sunshine), que é o sentimento mais próximo de Max. Alexander é pequeno e procura atenção a todo o momento e é ignorado pelos demais.

Os ‘monstros’ são: Carol, o mais complexo de todos os personagens, com momentos de extrema alegria e outros de alegria misturada com raiva, como um ataque depressivo, como quando Max os encontra pela primeira vez, onde Carol está destruindo as casas de todos os monstros aparentemente alegre e Max não entende ao certo se o que está acontecendo é certo ou errado; Douglas é o melhor amigo de Carol, com certeza o melhor amigo de todos. Por vezes o mais inteligente e maduro, mas que não demonstra liderança, pois é sábio e sabe que uma liderança muito certa no meio daqueles seres tão diferentes seria algo impossível; Ira é o mais velho e o que toma conta de todos, como um pai, sendo que a mãe é Judith, uma fêmea com uma personalidade estranha, que varia, assim como Carol, mas que quer toda a atenção para si e não pensa em conseqüências; Alexander, pode-se dizer, é Max, o ignorado, frágil, o mais baixinho e o que necessita de mais atenção; O Touro é aparentemente um peso morto, apenas um membro mudo da família de monstros que não interfere em nada, mas sempre está presente, é amigo e faz tudo o que o mandam fazer; por fim, KW é a mocinha, que tem uma relação complicada com Carol e há pouco tinha deixado o grupo, cansada das variações repentinas de emoções de Carol (o diretor foi inteligente em manter esse relacionamento escondido, sem dar muitas pistas, sem deixar claro ao expectador o que realmente está acontecendo, fazendo-nos sentir tudo como se fôssemos um estranho – ou seja, como se fôssemos o Max).

Max então, aparece para os monstros que ameaçam devorá-lo, mas não o fazem, pois Max diz que tem grandes poderes e que é temido por povos longínquos como o povo dos Vikings. Sendo assim, os monstros tornam Max um rei. A partir desse ponto, o filme é extremamente cativante, mostrando a relação entre os monstros de extremo companheirismo, uma sensação de família raramente transmitida no cinema, talvez nunca mostrada como nesse filme. Amizade, aconchego, aproximidade. Mas tudo isso numa espécie de aquário de vidro fino, onde o menor erro pode ocasionar uma guerra entre essa família, principalmente vinda de Carol. Jonze passa as mais puras sensações e fantasias de uma criança de forma única e reflexiva.

Quanto ao visual, é mágico! Spike Jonze filma todo o filme com a câmera na mão, dando uma sensação de realidade impressionante, como se participássemos dele, desde as brincadeiras até as intrigas. Nós vivemos o filme! E Spike Jonze (diretor de Being John Malkovich e Adaptation) cria o mundo de Max com extrema precisão e realismo que é difícil não se emocionar, junto à bela trilha sonora, paisagens e claro, os monstros.

Por Pedro Ruback

quarta-feira, 30 de março de 2011

Screenshot quiz #1

Bem vindos ao Screenshot Quiz, o primeiro jogo do Ornitorrinco Cinéfilo! O jogo é extremamente simples, mas bem interessante. A cada semana postarei um screenshot de algum filme – ou um detalhe de uma cena, ou um objeto relacionado a algum filme – e você, leitor, deverá tentar acertar de qual filme veio essa imagem, postando sua resposta nos comentários, aqui em baixo. Como no Universo nada se cria, tudo se transforma, essa ideia surgiu depois que vi um jogo parecido no excelente blog Museu do Cinema.

Aí em cima está o primeiro screenshot! Está fácil!

Por Victor Bruno

terça-feira, 29 de março de 2011

Novo pôster para A Árvore da Vida

Ao que parece, Terrence Malick (Além da Linha Vermelha, Dias de Paraíso) descobriu a importância do marketing na divulgação de um filme. Dito isso, eis o novo pôster para o seu velho-novo filme: A Árvore da Vida (The Tree of Life). “Velho-novo filme”? Sim, o neologismo pode ser perfeitamente aplicado, já que está sendo preparado desde o ano de 2007.

A Árvore da Vida também chega com mais novidades no que diz respeito a sua divulgação. O filme também ganhou um site (que pode ser acessado clicando aqui) e um Tumblr (aqui). O filme estreia em 27 de maio, nos Estados Unidos, e em 1o de julho aqui no Brasil.

Clique aqui para ver o pôster.

Da Redação

sábado, 26 de março de 2011

Newman/Taylor

Não é que eu não tenha ligado para a morte de Elizabeth Taylor. Apenas admiro-a demais para publicar coisas como “vá em paz”, ou homenagens, ou linhas do tempo sobre sua carreira. Simplesmente acho mais interessante achar curiosidades ou depoimentos de quem conviveu com ela, para então repassar para você, leitor. (Até por que você pode encontrar linhas do tempo melhores e mais bem elaboradas do que qualquer uma que eu me propusesse a fazer em sites como o Cineplayers, Cinema em Cena e/ou no The New York Times.)

Mas este post não procura explicar nenhuma suposta “falta de interesse” minha na morte de Liz Taylor. Eu venho postar um vídeo que encontrei na Internet. Um tributo de Paul Newman (Um Golpe de Mestre, Gata em Teto de Zinco Quente) à Elizabeth Taylor, que foi exibido no TCM há alguns anos atrás.




Por Victor Bruno

quinta-feira, 24 de março de 2011

Galeria - Wim Wenders





Por Victor Bruno

terça-feira, 22 de março de 2011

Minha vida com Stanley Kubrick

Nunca me esquecerei. Acho que para todos os cinéfilos, este deve ser um momento histórico, quiçá sagrado – o seu primeiro Kubrick. Assistir pela primeira vez um filme de Stanley Kubrick deve ser como perder a virgindade. OK, eu estou exagerando. Assistir a um Kubrick é mais emocionante. Mas isso não importa agora. Gostando ou não, o primeiro Kubrick é algo inesquecível, aterrador. Martin Scorsese diz que assistir a um filme de Stanley Kubrick é como subir numa montanha, olhar a paisagem. Inevitavelmente você exclamará “Nossa, que vista!”. Scorsese, para variar, está corretíssimo.

Eu não exclamei “Nossa, que vista!” quando assisti meu primeiro Kubrick. Devia ter uns sete, oito anos quando isso aconteceu. Era uma noite de sábado, no início da década passada. 2002, 2003... eu sei lá. Só sei que o filme que estava passando era Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, 1987). Se eu fosse quem sou hoje (um cinéfilo patológico) naquela época, teria dito que aquilo era anormal. “Stanley Kubrick na TV aberta?!”. Provavelmente não teria assistido, já que o filme – naturalmente – passaria dublado. E passou. Mas é como eu disse há alguns dias atrás, no Twitter: Kubrick é Kubrick até debaixo d'água, assim como Linda de Um Pistoleiro Chamado Papaco é mulher até debaixo d'água.

O filme estava dentro do “Festival Stanley Kubrick”, no Cine Belas-Artes (a sessão de Cinema, não o finado cinema Cine Belas-Artes). Na semana seguinte passariam O Iluminado (The Shining, 1982). A chamada daquele maldito filme já me apavorava. Sério, pouco menos de 30 segundos, basicamente o narrador dizendo “Um dos filmes de terror mais aclamados de todos os tempos. Do diretor Stanley Kubrick: O Iluminado”.

De todo modo, eu estava fascinado. Se estou bem lembrado, naquela noite assisti até a cena em que Jocker explica por que diabos ele usa um capacete em que se lê “Born to kill” e um botton pacifista. E já naquela época eu havia percebido algo que críticos e espectadores julgavam como certo e como universal: A primeira parte de Nascido Para Matar é infinitamente melhor que a segunda.

Melhor pode até não ser, mas é claramente mais divertida. A primeira é uma tortura psicológica quase interminável. “É como ir para o ringue e enfrentar os punhos de Mike Tyson”, como bem disse o crítico Sérgio Vaz, em um esclarecedor texto sobre o filme publicado em 1988, e que pode ser lido no seu – excelente – site 50 Anos de Filmes (o texto pode ser lido aqui). E você pode me chamar de masoquista, mas se os socos de Tyson forem tão agradáveis quanto assistir a Full Metal Jacket numa inesperada noite de sábado, quero ser esmurrado agora. (E quem sabe ser um Evander Holyfield Júnior e ter um pedaço da minha orelha cortada e mastigada.)

E foi certo. Final de semana seguinte estava eu na locadora (sim, locadora!), locando este filme. Algumas horas mais tarde eu estava o revendo. Podia não estar entendendo nada, nada dos temas que Kubrick queria tratar. “Dualidade humana”? Pro inferno com “dualidade humana”, senhor! Massacre das mentes dos jovens na guerra? Que se dane isso também! Eu estou vendo o que eles chamam de “obra-prima”.

Eu não sabia quem era Stanley Kubrick. Só consegui compreender o que – e quem – era ele alguns anos mais tarde, quando assisti a 2001 – Uma Odisseia no Espaço. E, como metade dos adolescentes, não gostei. Eu esperava o quê? Sei lá. Um Star Wars da vida. Um filme que tem “Odisseia no Espaço” no título, e começa na Pré-História? Só então vi que este Stanley Kubrick era o mesmo Stanley Kubrick que havia feito Laranja Mecânica, filme que eu havia visto algumas semanas antes, e amado, amado, amado.

Mas é assim. Stanley Kubrick faz parte da minha gênese cinéfila, bem como Carol Reed, Paul Thomas Anderson, Quentin Tarantino e Terrence Malick, também. Mas Kubrick é algo mais nostálgico. Por isso fiz questão de assistir de assistir De Olhos Bem Fechados no SBT, dublado, no último sábado. Você sabe – sábados sempre são sábados.

Por Victor Bruno

segunda-feira, 21 de março de 2011

Rango

Rango, 2011 / Dirigido por Gore Verbinski
Com Johnny Depp, Isla Fischer, Abigail Breslin, Alfred Molina, Ned Beatty, Stephen Root, Bill Nighy e Harry Dean Stanton

(4/5)

O mundo da animação atual parece ser dividido em dois segmentos: os filmes Pixar e os não Pixar. Dentro do filão “não Pixar” existem dois subgrupos: os DreamWorks e o resto. Pois é dentro do “resto” em que nós encontramos pérolas como Rango. Pérolas raríssimas, diga-se de passagem. Contam-se nos dedos quantas vezes nós podemos ver filmes como este serem lançados anualmente. Filmes da qualidade técnica e com a sensibilidade de Rango. De um jeito bem simples, podemos dizer que esta obra de Gore Verbinski (de O Sol de Cada Manhã e da série Piratas do Caribe) é quando a sensibilidade e o primor técnico de O Fantástico Sr. Raposo (The Fantastic Mr. Fox, 2009) se encontram com o humor amalucado de Deu a Louca na Chapeuzinho (Hoodwinkled!, 2005). E esses filmes são excelentes.

Mas é preferível estar do lado de Raposo de Wes Anderson (A Vida Marinha com Steve Zissou, Viagem à Darjeeling) do que do lado de Chapeuzinho de Cory Edward. Raposo, além de ter uma plasticidade incrível (como é habitual na filmografia do seu diretor), realiza um estudo de personagem brilhante, ainda que meio acanhado. Lá o Sr. Raposo do título queria escapar da sua própria natureza. Queria ser uma raposa anti raposa, enquanto Deu a Louca na Chapeuzinho divertia seu público simplesmente fazendo uma subversão do gênero dos contos-de-fada. Não que isso não tenha seus devidos méritos. É interessantíssimo, além de arrancar grandes gargalhadas com seus momentos de comicidade. Só que o filme de Wes Anderson é mais corajoso e elegante. Afinal de contas, quem é o cineasta que faz análises psicológicas de seus personagens num filme cuja mídia é dominada pelas crianças, que estão se lixando para análises psicológicas. Mas é engraçado, por que a Pixar faz isso, e... bem, Toy Story 3.

Aqui nós temos algo similar. Com roteiro de John Logan (o mesmo roteirista de O Aviador e do próximo filme de Martin Scorsese, Hugo Cabret), baseando-se numa estória criada por Verbinski, James Ward Byrkit e pelo próprio Logan, o filme segue um camaleão (Johnny Depp) que, após um acidente de carro, perde a proteção da sua caixinha de areia e dos seus dois melhores “amigos” (um peixe mecânico e uma bonequa Barbie sem cabeça e sem roupas) e vai parar na seca e poeirenta cidade de... Poeira. Chegando lá, o camaleão – e o público – conhece uma situação extremamente caótica e miserável. Não há água em Poeira. Os cidadãos estão na mais absoluta seca. O último reduto de água que resta em Poeira é guardado à sete chaves pelo banqueiro da cidade: um enorme galão de água onde existe a marcação de dias que faltam para a água acabar.

Desde cedo o camaleão é avisado que não vai durar muito, seja pelo grupo de corujas mariachis que tocam a trilha sonora do filme (o tema, composto pela banda Los Lobos, é genial!), seja por Priscilla (voz de Abigail Breslin). Não importa, os prognósticos são os piores possíveis. Mas logo a situação muda. Depois de mentir, mentir e mentir mais ainda numa briga no clássico saloon da cidade (qual cidade do Velho Oeste não tem um saloon?), o camaleão, que agora adota o nome-fantasia de Rango, rapidamente transforma-se no herói da cidade, após matar acidentalmente a águia que ameaçava a todos, mocinhos e malvados, na cidade de Poeira. Mas os problemas estão longe de acabar. Portanto, o sinistro Prefeito (Ned Beatty), promove Rango ao cargo de xerife. Tudo bem, certo? Errado. A água da cidade some e o banqueiro é encontrado morto. Rango agora tem que fazer de tudo para sustentar a personagem que criou (afinal, ele nunca foi um pistoleiro na vida, muito menos sabe quem é) e manter a esperança de uma comunidade que já não tem mais em quem, ou o que, acreditar.

Aliás, o tema da crença em Rango é uma constante. O roteirista Logan modela a fé de diferentes formas dentro do seu filme. Se a aterrorizada comunidade de Poeira tem na fé e na esperança suas últimas chances de sobrevivência, já que a água parece algo tão distante e inalcançável, o Prefeito utiliza-se da fé para enganar sua comunidade. Numa cena particularmente brilhante do filme, ele diz: “Bem, Sr. Rango, as pessoas têm que acreditar em alguma coisa. Acreditar... acreditar. Acreditar em algo”. E Rango, por sua vez, acredita realmente que é um justiceiro que veio para salvar a pele da gente miserável de Poeira. Afinal, Rango é apenas um camaleão em séria crise de identidade. Uma crise tão séria que, quando indagado por Priscilla sobre quem ele é, Rango gagueja, gagueja... mas não consegue responder.

Mas talvez o que seja mais interessante dentro da obra de Verbinski (diretor extremamente versátil, por quem tenho uma profunda admiração desde que vi o tocante O Sol de Cada Manhã, com Nicholas Cage) sejam as referências cinematográficas inseridas neste filme. Elas começam desde... o próprio Rango. Veja como a camisa de Rango é idêntica a camisa que Raoul Duke (também interpretado por Johnny Depp) em Medo e Delírio (Fear and Loathing in Las Vegas, 1998). Também reparem nos dois caras que dirigem o conversível que atropelam Rango. São os próprios Duke e Gonzo, de Medo e Delírio.

Felizmente o filme não se atém apenas nestas referências ao Cinema. Rango homenageia principalmente ao Western e ao Western spaghetti, gênero que revelou lendas do cinema como Clint Eastwood, Terence Hill, Sergio Leone, Franco Nero e tantos outros. Observe, por exemplo, a cena do duelo entre Jake Cascavel (Bill Nighy) e Rango. Os cortes nos olhos dos atores, assim como Leone fazia, para acentuar a tensão. Além de ser uma referência inteligentíssima, Verbinski realmente acentua a tensão realizando este jogo visual. Repare também como o Prefeito, apesar de estar em sua cadeira de rodas, ainda exala poder por todos os seus poros, tal qual Morton em Era Uma Vez no Oeste (Once Upon a Time in the West, 1968). E, claro, não podemos nos esquecer do Espírito do Oeste, personagem que Rango encontra num sonho, que não é nada mais do que uma versão digital de Clint Eastwood no seu traje de Homem Sem Nome, ou o próprio Jake Cascavel, que guarda enormes semelhanças com Lee Van Cleef em Três Homens em Conflito (Il bono, il bruto, il cattivo, 1966).

Apesar de contar com um visual simplesmente sensacional, desenvolvido pelo master Roger Deakins, que ano passado também desenvolveu o soberbo visual de Como Treinar Seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2010), que flerta principalmente com uma paleta de cores pastéis, bem amareladas, para enfatizar a falta de água escandalosa daquela cidade; e de ter uma trilha sonora soberba, composta com Hans Zimmer (me flagrei fazendo batidas ritmadas durante a sequência da “metáfora”), Rango apresenta buracos enormes de desenvolvimento. Qual a função da raposa que chama Feijão (Isla Fischer) de “vaca”? Ou mesmo, por que insistir em colocar um affair amoroso entre Feijão e Rango? Algumas falhas de execução que estragam o resultado final.

Mas, de todo modo, Rango prova-se um filme inteligentíssimo, extremamente esperto. Rango é, para nós, assim como a água é para poeira: uma bênção. Uma pepita de ouro nesses dias de pobreza.

Por Victor Bruno

domingo, 13 de março de 2011

o prazer

Le plaisir, 1952 / Dirigido por Max Ophüls
Com Daniel Gélin, Jean Galland e Madeleine Renaud

(5/5)

Filmes como este me lembram por que gosto de Cinema. Nada pode ser comparado ao sentimento, a sensação de êxtase de ver um grande plano, de sentir a força da equipe carregando a câmera em cima do dolly, a elegância de um enquadramento. E estamos falando de um filme de Max Ophüls (A Ronda, Carta de uma Mulher Desconhecida), mais elegância impossível. Sinceramente, não consigo imaginar um diretor diferente para O Prazer, pois este filme esbanja elegância e requinte desde seus créditos iniciais.

Mas o interessante, a ideia do filme é bastante simples. Ophüls e seus roteirista Jacques Natanson reúnem três contos do escritor francês Guy de Maupassant. Ophüls os filma de forma independente, criando três segmentos distintos, podendo serem assistidos de forma solta, sem comprometer o entendimento do que está sendo mostrado. No primeiro segmento, Ophüls conta a história de um homem de idade avançada (Jean Galland), que frequenta um local chamado “O Palácio da Dança” utilizando uma máscara. A justificativa – agora que está velho e perdeu seu charme e juventude, deve utilizar este disfarce para galantear mulheres mais novas.

O segundo segmento, e mais longo, conta a história de um bordel que deve fechar por um dia – ou melhor, uma noite. Esta história tem duas linhas narrativas: na primeira nós conhecemos os efeitos desastrosos que o fechamento temporário do bordel causa na pequena vila onde fica localizada, na costa Norte da França. Na segunda – e melhor – linha narrativa do segmento, conhecemos como foi o passeio das mujeres.

O último segmento, é o de história mais simples, entretanto, com a maior carga dramática. Um pintor, Jean (Daniel Gelin), apaixona-se instantaneamente por uma modelo, Joséphine (Simone Simon). Eles vivem uma vida de sonhos, trocam juras de amor eterno e todos esses clichês. Mas logo o amor acaba e eles vivem juntos apenas para manter as aparências. A convivência torna-se insustentável, e Jean foge da vida conjugal. Mas Joséphine descobre que ainda o ama, e tudo pode terminar em consequências trágicas.

E estas três histórias são contadas com o mesmo primor técnico e narrativo por Ophüls. Quem conhece, sabe: Ophüls era um artesão, um iconoclasta. Até por que, imagem é maior que som, no Cinema. Veja você, por exemplo, como os dez primeiros minutos do primeiro segmento, que ocorre dentro do Palácio da Dança, são a melhor parte da primeira historieta. Por que? Por que é ali, naquele ambiente furioso e agitado, onde o diretor alemão, mais seu fiel fotógrafo Christian Mantras, pode exibir toda sua grife. A câmera correndo no dolly de forma agitada. Repare no giro de 360o que ela faz.

Agora, obviamente que o filme não sobrevive apenas desta imagem. Curiosamente, apesar de toda elegância que eu apontei, dentro do estilo de seu realizador, O Prazer é um filme sobre gente como a gente (perdoem o trocadilho infame que fiz com o filme de Robert Redford), existe pouca suntuosidade, fora o trabalho de câmera realizado por Mantras e Philippe Agostini (o primeiro é o fotógrafo dos dois primeiros segmentos, Agostini fotografou o último). Aliás, antes de fechar este tópico: é de Agostini que vem a sequência mais impressionante do filme, a tentativa de suicídio de uma das personagens do filme, quando este se atira de uma janela. A cena começa normal, observando o diálogo. Então ele sobe as escadas. No momento em que a personagem sobe as escadas, no mesmo take, a câmera assume o ponto de vista dele. Vemos apenas a mão do suicida abrindo a janela. Ainda no ponto de vista da personagem, vemos sua queda, partindo a claraboia de uma espécie de estufa. Este plano seria repetido alguns anos mais tarde, só que desta vez por Christian Mantras em Lola Montés (Lola Montés, 1955), primeiro e único filme a cores de Ophüls, com a linda Martine Carol no papel principal. E certamente este plano subjetivo suicida influenciou Kubrick na cena em que Alex se joga da casa do Sr. Alexander em Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1972), afinal, Kubrick era fã confesso de Ophüls.

Eu estaria mentindo se dissesse que, assim como Lola Montés, Le plaisir é só imagem. Não. Ophüls utiliza sua grife visual para investigar a vida da gente miserável e destroçada que ele decide filmar. Antes disso, o filme tem um roteiro poderoso, e simpático às pessoas que o filme mostra. Tente não se emocionar com o fluxo de consciência de uma das meretrizes do segundo segmento. Um momento, que justifica e esclarece os acontecimentos que se seguem. É extremamente minimalista, um monólogo com a câmera nos trilhos, se aproximando da personagem. E não há nada mais saboroso do que o minimalismo. Alie este roteiro sensacional com uma montagem ágil de Léonide Azar e a um design de produção excelente de Jean d'Eaubonne. Veja como, mesmo com Ophüls evitando que nós, o público, entremos no bordel do segundo segmento (para ele, nós somos bisbilhoteiros entrando na vida secreta dos homens que andam naquele lugar), podemos ver tudo que acontece naquele local. O ambiente é perfeitamente desenhado por d'Eaubonne e belíssimamente decorado pelo diretor de arte Robert Christides.

Mas, devo confessar. Max Ophüls é mestre. Ele ressucitou, na voz de Jean Servais, Guy de Maupassant. E qualquer um que tenha esse poder merece meu respeito. Ainda mais tendo a maestria de Ophüls.

Por Victor Bruno

A Origem

Inception, 2010 / Dirigido por Christopher Nolan
Com Leonardo di Caprio, Joseph Gordon-Levitt, Ken Wantanabe, Ellen Page, Marion Cotillard, Cillian Murphy, Tom Hardy e Tom Berenger.
(1/5)

Chistopher Nolan nesse seu filme mais parece um pré-adolescente viciado em vídeo games e filmes de ação, imaturo, inocente e cheio de criatividade. Não é de se estranhar que Inception seja assim, vendo que seus outros filmes seguem este mesmo patamar (com exceção de Memento que foi uma idéia brilhante e madura). Batman Begins foi um exemplo de explosão de testosterona e The Dark Knight seguiu isso com a mesma bravura se tornando ainda mais um ícone e reflexo da mentalidade atual das pessoas. Nolan sabe e faz com maestria cinema comercial. Sabe agradar as mais diversas massas de público, desde aqueles que não querem nada com o cinema apenas diversão àqueles que vêem o cinema como forma de expressão (e os críticos, claro).

O que Nolan faz em Inception é fazer o expectador de idiota. Fala de sonhos sem conhecê-los e sem se preocupar com isso, o oposto do que David Lynch faz em seus filmes. Nolan junta um amontoado de tralha, faz um compensado e nos dá de graça. Nós comemos como um biscoito wafer, não sabemos do que é feito mas é gostoso. Pode ser da pior merda de massa já existente, mas as duas ou três camadas de chocolate cobrem o gosto ruim. A massa é o filme e o chocolate a maldita idéia “original” que move a indústria cinematográfica atualmente.

Inception narra a história de um espião chamado Dom Cobb, um especialista em invadir mentes enquanto as pessoas estão dormindo, ou seja, mais vulneráveis e extrair delas informações valiosas a mando de alguém. Dessa vez, ele deve implantar sentimentos na pessoa em que ele se infiltrará. Nisso, ele precisa de uma equipe de pessoas capazes o suficiente para ajudá-lo na que pode ser (e é) a mais complexa e difícil missão de sua vida. Para piorar, ele tem como inimigo uma lembrança de um passado que ele cultiva e que o atrapalha sempre em suas missões e parece que cada vez mais essa lembrança está afetando seu desempenho.
Bom, a fórmula é simples, até mesmo o conteúdo fica simples, pois a fórmula contribui para que estrague a experiência de ver algo único e fazer o expectador pensar. Os protagonistas começam em uma missão para dar fôlego à trama, cheio de ação (mais vulgarmente falando: tiro, porrada, bomba e luxo). A fórmula então caminha para seu segundo ato e, talvez o pior deles: a explicação de tudo nos mínimos detalhes para que o conteúdo do filme chegue ao expectador mais enrolado. Em seguida vamos para a ação principal. Nolan manipula essa fórmula comercial não menos que magnificamente, o público vai à loucura, os cinemas lotam e as pessoas se questionam de todas as formas as possíveis interpretações do filme. Vale notar que tudo é jogado na nossa cara, a única coisa que não é explicada é de onde Nolan tirou essa ingenuidade toda.

Bom, se você for um expectador que queira uma trama convincente e no mínimo discutível, é melhor ficar com Mulholland Dr. (Cidade dos Sonhos, aqui no Brasil). Inception é, definitivamente, o filme mais besta sobre sonhos. Aqui as pessoas têm pleno controle de si nos sonhos e nada faz realmente sentido como num sonho real onde nossas experiências de vida são transformadas em espécies de quebra-cabeças que, quando acordamos e lembramos, temos aquele desejo de interpretar e entender o que era aquilo que sonhamos. Fora também que tudo é limpo, tipo, tudo é claro e extremamente simplório. É aquilo que vemos e pronto, só isso. Mais uma vez, definitivamente, Inception é um filme que não deve ser levado a sério como eu levei, mas eu levo muito a sério filmes que se julgam sério, então eu não conto.

Outra coisa legal é que parece que todos nós somos capazes de fazer isso em casa. Ta, aí eu estaria fugindo do filme. Bom, Inception é um filme simples que tenta se complicar lançando uma trama mirabolante, cheio de edição puramente para embolar o expectador menos atencioso. Os quatro Oscar foram merecidos vendo o baixo nível dessa premiação vergonhosa. Nolan sabe bem trabalhar com som e imagem, é tudo muito padrão, ou seja, é tudo o que a massa gosta. Nolan também parece atraído ultimamente pelos filmes luxuosos, todos esbanjam dinheiro à torta e à direita, nada é “pé no chão”, é um outro mundo o que mais uma vez leva o público a delírio. É porrada na rua, é porrada no carro, é porrada no apartamento e é porrada na neve. É tiro em todos esses citados e muito mais. Tem cidades completamente destruídas, perseguição de carro na chuva (nada supera aquela em We Own the Night), uma cidade que vira calzone e fica clara como se nada tivesse acontecido. Tem pra todo gosto, é só agüentar suas duas horas e vinte. E o mais “legal”, tem um ritmo frenético e toda a cena de ação se torna banal e sem significado.

Nolan, pelo amor do cinema, faça filmes que tenham sentido antes que apareça mais gente querendo fazer como você. E deixe de colocar seu país como o personagem principal. Aqui é o Cobb, interpretado por Leonardo di Caprio (quem viu o final do filme vai entender o que eu estou falando) e em The Dark Knight foi o Batman.

Por Pedro Ruback

sábado, 12 de março de 2011

Panis et circensis

É provável. É provável que eu esteja certo. Bem, eu estive acompanhando – assim como a massacrante maioria de vocês, leitores, a saga “winning” de Charlie Sheen. Claro. Apesar de não gostar de ouvir/ler fofocas sobre a vidra privada dos famosos, a vida privada de Sheen tem muito pouco de privada. E é bem sórdida, e todos nós gostamos de escutar sobre a sordidez dos outros. Além do mais, eu acho que você concorda comigo, a vida privada do filho de Martin Sheen tem muito pouco de privado.

E de toda forma, é impossível escapar das notícias sobre Sheen. “Sheen isso, Sheen aquilo.” O ex-astro de Two and a Half Men faz questão de aparecer o máximo. E o que nós podemos fazer sobre isso? Nada. Nada além de assistir o circo pegar fogo. E amamos assistir circos pegarem fogo. Sheen sabe disso. É uma espécie de complexo narcisista. Sheen – e suas “deusas” –, na anti-privacidade do seu lar, deve praticamente – nestes últimos dias de ira – vivendo uma rotina onanista. Uma obsessão por aparecer na TV. Agora ele pede 100 milhões de dólares por sua demissão da mais popular série norte-americana. Mas ele fez isso, claro simplesmente para chamar atenção. Não importa se seus advogados disseram se é para “fazer o Sr. [Chuck] Lorre pagar por seus interesses egoístas”. Sheen é o último homem no mundo para criticar alguém por seus atos.

O pior é que as pessoas parecem estar colaborando para a saga “winning” continuar com fôlego total. Na madrugada da última sexta, a polícia invadiu a casa de Sheen na busca de armas de fogo, já que Sheen está proibido de possuir este tipo de objeto em virtude de uma ordem judicial pedida por sua ex-mulher, Brooke Mueller. Pareceu bobo. Pareceu que o que aconteceu na delegacia foi:

    - Pessoal, esse Charlie Sheen... ele é meio doido.

    - Sim. Pode crer.

    - Puxa a ficha dele, Jerry.

    - Aqui diz que ele tem uma ordem judicial que o proíbe de ter armas de fogo.

    - Sério? Vamos bater na casa dele.

E o que encontraram? Um rifle de 1800. No Twitter, mais de 2 milhões de seguidores. Santo Deus, e Brooke Mueller apareceu dizendo que exige que Sheen faça um teste psicológico para poder ter o direito de ver seus filhos novamente.

Agora Sheen aparece fazendo piada de si mesmo num vídeo circulando na Internet. Aplicativos já foram desenvolvidos para bloquear textos com conteúdos sheenescos. Hitchcockiano, felliniano, sádico (de De Sade). Agora é sheenesco. Então tudo que for escrito sobre bebidas e prostitutas será sheenesco? Legal. Isso me faz repensar, talvez Sheen esteja vencendo (winning, não esqueça-se), seu nome virou sinônimo de cafajestice. Eu preferia que fosse algo como gibsoniesco, em referência a Mel Gibson. Mel acabou de ser condenado a três anos de condicional, por violência doméstica. Mas deveriam ter lhe prendido por preconceito e charlatanismo, nos tempos que fez a tragédia chamada A Paixão de Cristo (The Passion of Christ, 2004). Filme mais vergonhoso impossível.

Eu fico com Alec Baldwin. “Tire um cochilo e peça desculpa. Você não pode vencer. Sinto muito, mais não podem.” Sábias palavras, Baldwin.

Mas não. Sheen, de cabelos bagunçados e com orelhas abismais prefere vender ingressos para seu show onde promete falar a verdade. Mas o que é a verdade? A verdade é que Sheen...

Sheen gosta de ver o circo pegar fogo. Mas e se –

Por Victor Bruno

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Vampiro da Noite




Horror of Dracula, 1958/ Dirigido por Terence Fisher
Com Christopher Lee, Peter Cushing, Michael Gough, Melissa Striblin, Carol Marsh e John Van Eyssen.

3/5

"Dracula", de Bram Stoker, é uma das obras que mais foram adaptadas no cinema. Diversos grandes atores já deram vida ao personagem, como Bela Lugosi, Frank Langella e Gary Oldman, mas talvez nenhum (a não ser, possivelmente, Bela) tenha ficado tão marcado pelo personagem quanto Christopher Lee. Mesmo nunca tendo pretendido ficar lembrado quase que exclusivamente por sua atuação como  o vampiro nos filmes da Hammer Productions, Lee é até hoje conhecido e reverenciado por ter interpretado Drácula em diversas produções. E é, sem dúvidas, um prazer enorme assistir à primeira vez em que o ator deu vida ao lendário personagem, em "O Vampiro da Noite", de 1958.

O filme de Terence Fisher, diretor conhecido por seu estilo gótico e que trabalhou em inúmeros filmes da Hammer, traz uma interessante adptação da obra original de Stoker, embora praticamente todos os acontecimentos sejam diferentes do livro. No filme, Jonathan Harker (John Van Eyssen) é contratado pelo recluso Conde Drácula (Christopher Lee) como biliotecário em sua mansão no interior da Alemanha, mas planeja em segredo eliminar o vampiro. Entretanto, nada sai como planejado, e o Dr. Van Helsing (Peter Cushing) precisa proteger Lucy Holmwood (Carol Marsh), noiva de seu amigo Johnathan. Além disso, o próprio irmão de Lucy, Arthur (Michael Gough) e sua esposa Mina (Melissa Stribling) passam a correr perigo.

Possivelmente todas as modificações no conteúdo do livro se deveram ao baixo orçamento de que dispunha a Hammer, o que acabou sendo um ponto positivo para o filme. Com pouco mais de 80 minutos, tudo acontece muito rápido, a partir de uma montagem surpreendentemente dinâmica para a época. Soma-se a isso um trabalho primoroso de figurinos e direção de arte (com lindos detalhes, como os vitrais na mansão de Drácula, e o círculo no chão com os 12 signos do Zodíaco), além da  boa maquiagem  O trabalho de fotografia também é interessantíssimo, conferindo ao filme um ar gótico que funciona maravilhosamente.




Entretanto, Drácula  pouco aparece, o que pode provocar uma certa decepção. O ator Christopher Lee tem forte presença em cena, sempre altivo e envolto em uma capa negra que amplifica a idéia de terror, compensando um pouco o fato de que Lee tem poucas falas. Também fica parecendo um tanto raso por parte do roteiro escrito por Jimmy Sangster querer justificar todas as ações de Drácula  a partir da metade do filme como uma simples vingança, algo que em  momento algum parece crível. É claro que roteiros nunca foram o forte das produções da Hammer, mas fica a sensação de que os motivos reais das ações do vampiro poderiam ter sido melhor trabalhadas.

Se, por um lado, Lee dá vida pela primeira vez ao Conde Drácula, Peter Cushing também tem sua primeira atuação como o Dr. Van Helsing, papel que lhe deixou mais famoso. Cushing era um ator competente, como expressões faciais únicas, e demonstrandos sempre muita segurança. Em "O Vampiro da Noite", Lee e Cushing dividem a cena por poucos minutos, mas que se revelam as mais intensas em termos  de ação de todo o filme. Aqui ainda há de se notar também a participação do ator Michael Gough, mais famoso por seu papel como mordomo Alfred nos filmes de Batman de Tim Burton e Joel Schumacher. Pena que seu personagem Arthur não tenha muitas funções na trama, além de auxiliar o Dr. Van Helsing.

Assim, "O Vampiro da Noite" é um filme obrigatório para todos os que gostam de filmes de vampiros ou produções antigas de terror. Mesmo que atualmente praticamente ninguém se sinta aterrorizado, é um filme pioneiro e que marcou época, além de ser uma versão interessantíssima do livro de Bram Stoker.

Por Douglas Braga

quarta-feira, 9 de março de 2011

A Maldição de Frankenstein


The Curse of Frankenstein, 1957/ Dirigido por Terence Fisher
Com Christopher Lee, Peter Cushing, Robert Urquhart, Hazel Court e Melvyn Douglas.

3/5

Christopher Lee é, sem dúvidas, um dos maiores ícones da história do cinema. Gerações mais recentes devem se lembrar das atuações do ator nas séries "O Senhor dos Anéis", como o mago Saruman, e "Star Wars", interpretando Conde Dookan (Count Dooku, no original). Mas o ator, recordista de participações de filmes (mais de 200, quase sempre como vilão), marcou forte presença entre as décadas de 1950 e 1970 nos filmes de terror da  Hammer Film Productions. Praticamente todos eram filmes de baixo orçamento, com poucos cenários, e estrelados pela dupla Lee/Peter Cushing. E embora a parceria mais famosa de ambos tenha sido interpretando, respectivamente, o Conde Drácula e o Professor Van Helsing em inúmeras produções da Hammer, foi em "A Maldição de Frankenstein" que os dois começaram a trabalhar juntos.

O filme é uma adaptação da obra de Mary Shelley. Mas, mais do que uma adaptação, é quase uma releitura, já que praticamente todos os principais acontecimentos do livro foram alterados. No filme de Terrence Fisher, o barão Victor Frankenstein (Peter Cushing), herdeiro da fortuna da família Frankenstein desde jovem, é iniciado nos estudos da ciência por um tutor pago pelo próprio barão, Paul Krempe (Robert Urquhart). Após anos de pesquisa, Victor consegue construir uma criatura (Christopher Lee) a partir de restos mortais, mesmo indo contra a opinião de Paul. Entretanto, quando a criatura ganha vida, ela não é nada do que Victor sonhou que ela seria, e coloca toda a redondeza, incluindo sua esposa Elizabeth (Haze Court) em perigo.



O diretor Terrence Fisher realizou dezenas de filmes para a produtora Hammer, e aqui já podemos perceber como era habilidoso em criar seqüências de terror. Mesmo estas não sendo muitas há momentos memoráveis, como a cena no telhado, perto do fim. Fisher dá vários closes no rosto desfigurado de Christopher Lee, aumentando a sensação de desconforto com o espectador com a criatura, além do uso correto da trilha sonora.

Mas, mais do que um simples filme de terror, "A Maldição de Frankenstein" também se revela uma interesante análise acerca dos limites do ego do super humano, e de sua ambição. Victor Frankenstein,  interpretado com fúria por Peter Cushing, deseja a todo custo construir uma criatura perfeita, utilizando um corpo vigoroso, mãos de artista e  um cérebro e cientista, que contenha o conhecimento de toda uma vida. Seu objetivo não é o bem comum, como defende o amigo Paul, mas satisfazer seu ego e obter prestígio perante a sociedade científica. Para isso, não hesita em superar todos os obstáculos. Assim, durante todo o filme, fica a impressão de que o grande vilão não é a criatura, e sim o seu criador (embora o final ambígüo possa colocar isso em xeque, e proporcionar outras interpretações).



O ator Christopher Lee, ainda em início de carreira, aparece pouco, mas já demonstra um enorme talento. A criatura não tem uma única fala, e Lee utiliza pura e simplesmente de seu corpo para dar vida ao monstro. É um trabalho extremamente complexo, mas realizado com ótima desenvoltura por um dos maiores atores de todos os tempos. A maquiagem parece precária para os parâmetros atuais, mas consegue passar a idéia do absurdo que fez Frankenstein dando vida a uma aberração. Por outro lado, a maquiagem peca em um ponto crucial: o personagem Frankenstein era bem mais novo que seu tutor Paul, mas o ator Peter Cushing era quase 10 anos mais velho que Richard Uquhart, e no filme eles parecem no máximo ter a mesma idade! Além disso, quase  se passa na mansão de Frankenstein, e a trama praticamente se resume ao laboratório e à sala de estar, o que é uma certa frustração para quem espera terror.

Ainda assim, "A Maldição de Frankenstein"  é uma ótima opção para quem quer se aventurar em filmes de terror antigos, e mais especificamente nos da Hammer Productions. Além de ser sempre um prazer ver um ícone como Christopher Lee atuando, mesmo que por poucos minutos.

Por Douglas Braga



domingo, 6 de março de 2011

Alexandria

Ágora / Dirigido por Alejandro Amenábar
Com Rachel Weisz, Max Minghella, Oscar Isaac, Michael Lonsdale, Sami Samir e Ashraf Barhom


(4/5)

Sem nenhum medo de errar, Alexandria de Alejandro Amenábar pode ser, tranquilamente, chamado de “o Spartacus do cinema espanhol”. O filme é poderoso. Um legítimo representante de um gênero ainda ativo no cinema moderno: o “espada-e-sandália”. Filmes como este supracitado Spartacus (1962), de Stanley Kubrick, ou O Colosso de Rhodes (1961), de Sergio Leone, que apresentam homens de toga discutindo o futuro do império, e soldados de... hum... espada e sandália.

Mas as similaridades param por aí. Este filme, o mínimo que tem, são batalhas contra bárbaros, como nos espada-e-sandálias comuns. Na verdade, não se está discutindo o futuro do império de ninguém, neste filme. A trama gira em torno de uma mulher, Hypatia de Alexandria (Rachel Weisz). Hypátia foi uma das maires filósofas, astrônomas e matemáticas da Antiguidade. Na época em que o filme toma lugar, Alexandria ainda era o maior centro cultural do Mundo Antigo, ao lado de Roma, e abrigava a famosa e suntuosa Biblioteca de Alexandria. Como o próprio filme nos informa, a Biblioteca, além de ser local de conhecimento, abrigava também cultos religiosos “pagãos”.

Fora do local, dentro da cidade, três religiões eram predominantes: os “pagãos”, os recém-libertos cristãos e os judeus. Com Roma tendo adotado o Cristianismo como religião oficial, os “pagãos” egípcios sentem-se ameaçados. A religião fundada por Jesus apenas alguns séculos antes torna-se mais arrogante e ofensiva aos olhos dos pobres politeístas. Brigas ocorrem em praça pública (sendo que uma delas, quando Ammonius (Ashraf Barhom) joga um “pagão” no fogo de ágora, a praça da cidade, vai engatilhar o conflito que predomina na primeira parte do filme), a situação torna-se insuportável. No meio do fogo cruzado encontramos Hypatia, ensinando Astronomia e Matemática aos seus escravos. Hipátia é obcecada por círculos, que, apara ela, é a forma mais pura da Natureza. Ateísta, é mal vista tanto por pagãos como por cristãos. Para piorar tudo, Orestes (Oscar Isaac) e Davus (Max Minghella), apaixonam-se por ela. Orestes é um patrício, com grandes chances de subir na vida política, enquanto Davus é um escravo que encanta-se pela religião cristã.

É interessante observar os aspectos quais o diretor Amenábar realizou esta produção. Após completar Mas Adentro (Mar adentro, 2004), retirou-se para Malta afim de realizar estudos sobre a Via Láctea. Enquanto isso, passou a pesquisar sobre a vida de grandes nomes da Astronomia, como Johannes Kepler, Galilei, etc. Mas, conforme disse em entrevista, ele se encantou por Hypatia. Ainda segundo o diretor, Alexandria é um filme sobre Astronomia, “para nos lembrarmos do que diziam-nos na escola”. Mas é, de certa forma, interessante Amenábar dizer isso, por que muito do enfoque do filme, principalmente na sua primeira parte (o filme é dividido em dois, conforme abordarei à seguir), é dado à parte política da trama. Na verdade, sendo mais preciso, político-religiosa. Afinal, o conflito do filme é engatilhado, como disse anteriormente, por divergências religiosas que existem na cidade romana (no período em que o filme se passa, Alexandria está tomada pelos romanos). Ora, se Amenábar diz que o filme é sobre Astronomia, o mínimo que eu posso esperar do cineasta é que o conflito surja de uma divergência científica. E até existe isso, afinal de contas, a personagem de Rachel Weisz (que, na época do lançamento do filme, ainda era a Senhora Aronofsky) é completamente desperdiçada na trama pesquisando se a Terra gira ao redor do Sol, ou é o contrário que ocorre. Chega a ser ridículo, numa das cenas, quando a Biblioteca está sendo sitiada por cristãos, Weisz ficar perguntando aos seus discípulos, o que eles pensam sobre as teorias, e do nada surgir um senhor comentando sobre Aristarco de Samos. Como pode-se ver, Amenábar e seu velho parceiro de guerra Mateo Gil, os roteiristas do filme, misturam ciência, religião e política de forma equivocada.

Mas a situação só piora quando nós vemos que toda a ladainha científica que o filme pregou até a sua segunda parte só serve para justificar uma coisa: o envolvimento amoroso entre Orestes e Weisz – e, até certo ponto, o de Davus. Na verdade, a importância de Davus na trama chega a ser tão efêmero que, quando ele vira um “soldado de Cristo” (o nome correto é parabolani) era preferível que ele tivesse morrido. Tudo bem, de certo modo, Davus (numa interpretação contida e eficiente de Minghella) é um sujeito sofrido, dividido entre o amor e a religião. Soa profundo para você? Pois não deveria. É fraco. Talvez até pretensioso e arrogante por parte de Amenábar. Davus é um sujeito unidimensional disfarçado de multidimensional. Quem é multidimensional aqui é Hypatia, interpretada soberbamente por Rachel Weisz. Weisz sim, dá vida à personagem. Coisa que nem Minghella e nem Isaac conseguem fazer. E é realmente uma pena que a dupla de roteiristas Amenábar e Gil tenham jogado fora uma personagem de tamanho peso para a trama.

Por outro lado, a parte política do enredo é desenvolvida de forma eficiente e bem trabalhada. Amenábar e Gil nos transportam para um mundo cheio de preconceito religioso e fundamentalismo desacerbado. É ridículo, e o diretor-roteirista faz questão de nos mostrar isso, como os religiosos se comportam, e o pior: em público. Utilizam-se de piadas infantis, como por exemplo, pouco antes da revolta “pagã”, quando Ammonius joga uma fruta numa estátua de um deus e diz “Ele reclamou? Não! Parece que ele também perdeu a voz!”. O que fica ainda mais interessante quando levamos aos dias de hoje, quando Sergio von Heldes da vida chutam santas e o mundo católico se irrita. Mas, claro, Amenábar e Gil não estão criticando o cristianismo ou o catolicismo. Críticas ao comportamento intolerante “pagão” também são feitas. Afinal, qual o real propósito deles se rebelarem contra os cristãos? Nenhuma. E todas estas cenas são eficientemente filmadas por Amenábar.

Entretanto esta beleza compromete o caráter histórico da obra. Amenábar adota um estilo excessivamente elegante para o seu filme. A elegância que o diretor adota beira o absurdo. Veja o design de produção de Guy Hendrix Dyas. É tudo muito limpo, muito alvo. É pedir demais que o público realmente acredite que a Alexandria de 365 d.C. era limpa e alva da maneira que o filme mostra. De todo jeito, a fotografia de de Xavi Giménez engole este efeito. Tudo isso comprova que a direção de Amenábar, apesar de muito bonita, é masturbatória. Qual a real função de inserir imagens da Terra flutuando no espaço? Parece que Amenábar quer dizer “Não é lindo? Fui eu que fiz!”.

Apesar destes erros e acertos, Alexandria é um excelente filme. Mostra como o Homem não evoluiu no que diz respeito a machismo, religião. Alejandro Amenábar constriuiu um belo equívoco. Vê-lo derrapar é mais bonito do que ver os outros derraparem.

Por Victor Bruno

sexta-feira, 4 de março de 2011

Na Época do Ragtime

Ragtime / Dirigido por Milos Forman
Com Howard E. Rollins, Jr., Brad Dourif, Elizabeth McGovern, James Olson, Mary Steenburger, Debbie Allen, Mandy Patikin, James Cagney e Kenneth McMillian

(3/5)

Sou suspeito para falar de “Ragtime”. Também sou suspeito para falar de Milos Forman. Mas quando digo que sou suspeito para falar de “Ragtime”, não estou referindo-me ao filme, mas sim ao livro escrito pelo prolífico americano E.L. Doctorow. Afinal de contas, “Ragtime” é o meu livro favorito, e guardo-o carinhosamente na minha prateleira.

Milos Forman havia acabado de sair de um clássico dos musicais, e – como dizem para mim – um filme de importância sociopolítica incomensurável: Hair (Hair, 1979). Foi quando Dino De Laurentiis, o famoso produtor italiano, convidou-o para dirigir a adaptação do best-seller de Doctorow. Na verdade, Forman estava substituindo Robert Altman, que havia dirigido o fraco Popeye, em 1980, apenas um ano antes do lançamento deste filme. Deus sabe o que Altman foi fazer para desistir de Na Época do Ragtime, por que este é o filme perfeito para ele: múltiplas histórias, crítica aos costumes retrógrados de uma sociedade (por assim dizer) moralista. Enfim, cada um sabe o que faz. Mas, sendo sincero, Forman não era a melhor opção para dirigir este filme. O diretor tcheco simplesmente não soube como dividir os 155 minutos de filme para as seis linhas narrativas principais do filme.

Em linhas gerais, o objetivo de Na Época de Ragtime é montar um painel que mostre como funcionavam os costumes e as mentes da América no início do século XX. Em New Rochelle vive uma típica família de classe média-alta norte-americana – gramado mais-que-verde no jardim, uma hortinha no quintal, cerca, uma empregada, etc. Papai (James Olson) é o homem que tem o sagrado dever de manter a família funcionando. Na casa ainda vivem Mamãe (Mary Steenburger), Irmão Mais Novo (Brad Dourif), sem contar com o filho e o vovô e a empregada, Brigit. Não demora muito para percebermos que as coisas não são assim tão agradáveis nesta residência de New Rochelle: o Irmão Mais Novo é obviamente lunático, Mamãe tem seus direito de pensar revogado por Papai (são incontáveis as vezes que ela diz “Eu acho que...” e Papai a corta com a frase “Eu acho que minha esposa quis dizer...”).

As coisas só pioram quando surge um bebê na horta do fundo do quintal. Não demora muito para Sarah (Debbie Allen), a mãe da criança. Ela é negra e rapidamente já é tachada de “criatura abominável”. Nas palavras do policial que a leva para a casa da família: “Não podemos compartilhar os mesmos pensamentos que essa gente [negros]. Não são cristãos como nós.” Não obstante, surge a figura mais importante da trama: Coalhouse Walker Jr. (Howard E. Rollins Jr.). Elegante, bem-educado, pianista especializado em ragtime (“Primeiro eu toco o que pedirem. Depois, ragtime”).

Ao mesmo tempo conhecemos a história de Evelyn Nesbit (Elizabeth McGovern, linda). Carismática, enigmática, interesseira. Ela está casada com “Henry K. Thaw, de Princeton!”. Mas Henry K. Thaw está muito aborrecido, pois Sanford White construiu uma estátua, com claros traços similares ao da garota. É um nu que está pendurado no alto do Madison Square Garden. Resultado: K. Thaw mata White com um tiro na cabeça e agora responde a processo. Pouco tempo depois Nesbit conhece Irmão Mais Novo e Tateh. Ela se apaixona pelo Irmão Mais Novo e aparentemente cria afeição por Tateh.

Por gostar tanto do livro (parafraseando Forman, Doctorow escreve como um anjo), acabo ficando com mais dificuldades do que imaginava. Entretanto, vou separar as duas coisas. Caso contrário, acabaria ficando tal qual uma fã de “Harry Potter”, aborrecida por que parte X do livro não foi para o filme. Não, o problema não é este. O problema é que o roteiro do filme não consegue criar uma trama uniforme para o longa. Apesar do roteirista Michael Weller (e do roteirista Bo Goldman, de Um Estranho no Ninho, que teve participação não creditada) cortar grande parte das narrativas paralelas (por exemplo, no livro, acompanhamos a depressão do mágico Harry Houdini após a morte da mãe, e a trajetória de Tateh depois de deixar Nova York e ir tentar vida nova na Filadélfia), jamais conseguimos nos sentir totalmente envolvidos por aquela trama, que parecia tão promissora. Como Irmão Mais Novo conseguiu se envolver amorosamente com Evelyn Nesbit? Ninguém sabe. O roteiro de Weller salta de um segmento para outro de forma tão louca que a narrativa torna-se incompreensível. A personagem de Tateh é totalmente esquecida pelo roteiro, assim como Nesbit. Weller prefere dar mais atenção à personagem de Coalhouse Walker Jr., que – não por acaso – transforma-se na figura mais interessante do filme. Entretanto, se no livro, Walker era uma vítima das circunstâncias, Weller transforma-o numa figura arrogante e prepotente, que age com requintes de loucura e insanidade. Não à toa, a melhor cena do filme, quando Walker conhece Brooker T. Washington, foi copiada letra por letra do livro.

Mas se o roteiro é falho, não podemos falar o mesmo da direção de Forman. O homem filma como um lorde. Com uma elegância impressionante. Um exemplo? Repare na tensão que o diretor estabelece na cena do assassinato de Stanford White. Numa série de cortes ágeis e secos (mostrando, assim, um dos maiores trunfos do filme: a montagem precisa de Anne V. Coates), Forman mostra o estado de nervos de Henry K. Thaw, a ignorância de White sobre o que está para lhe acontecer e – ironicamente – o objeto que criou toda aquela situação: o nu de Evelyn Nesbit.

Além da ótima direção de Forman, o designer de produção de John Greysmark e a excelente trilha sonora de Randy Newman (sim, o mesmo Randy Newman da Pixar) marcam presença no filme. Inclusive a música One More Hour, que toca durante os créditos finais do filme, composta por Newman, foi indicada ao Oscar do ano de 1981.

No fim das contas Na Época do Ragtime prova-se um filme médio, que caiu no limbo do esquecimento, dentro da carreira de seu diretor. Forman, diretor de poucos filmes, escorregou feio com esta obra. Fazer o que? Nada. De toda forma, Na Época do Ragtime, com suas boas atuações (destaque para Elizabeth McGovern, que apenas alguns anos mais tarde estrelaria a obra-prima de Sergio Leone, Era Uma Vez na América, interpretando um papel similar), serviu de preparação para Forman produzir seu filme mais poderoso: Amadeus.

Por Victor Bruno

quarta-feira, 2 de março de 2011

Galeria - Pôsteres para filmes jamais realizados





Por Victor Bruno

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