quarta-feira, 20 de julho de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (crítica II)

Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2, 2011 / Dirigido por David Yates
Com Daniel Radcliff, Emma Watson, Rupert Grint, Ralph Fiennes, Alan Rickman, Matthew Lewis, Tom Felton, Maggie Smith, Michael Gambon, Evanna Lynch, Bonnie Wright, John Hurt, Ciarán Hinds e Helena Bonham Carter

4/5

Você se lembra onde estava quando ouviu falar em Harry Potter pela primeira vez? Eu me lembro. Eu me lembro também da minha aversão completa em relação à série. Ao meu ponto de vista (infantil, até então), Potter tratava-se de um bruxinho estúpido, acompanhado de sua amiga arrogante e prepotente – o estereótipo mais ridículo da mocinha inteligente que manda nos outros – e de seu amigo ruivo com cara de panaca.

Até assistir o terceiro capítulo da série, O Prisioneiro de Askaban, dirigido por Alfonso Cuarón, minha visão permanecia intacta. Depois, percebi que sim, até poderia ser interessante. Claro que à medida que aprofundei meus conhecimentos sobre Cinema, o nome de Alfonso Cuarón fazia toda a diferença no filme. Ao contrário dos primeiros filmes, aqueles dirigidos por Chris Columbus, Harry Potter era algo mais sério do que eu poderia imaginar – mesmo em meus sonhos mais selvagens. Ainda mantinha certa aura inocente, boba, mas estava claro que os filmes seriam diferentes daqui para frente.

Então, agora que chegamos ao último capítulo dessa saga que se arrastou durante uma década, eu posso ter certeza absoluta ao afirmar que esse bruxo, mago, ou sabe-se lá o que, marcará a história do Cinema. Harry Potter entrará no mesmo Olimpo em que estão agora Luke Skywalker e Frodo, Dumbledore vai para onde está agora Gandalf e Yoda, e Voldemort (ainda que seja quase um figurante) irá para a galeria de vilões imortais do Cinema, ao lado de Darth Vader.

É realmente impressionante – e até admirável – a coragem de David Yates para com seu filme. Adotando uma narrativa bastante ágil, o diretor não perde um só segundo sequer explicando o que está acontecendo. Tanto ele como seu roteirista Steve Kloves (que assinou os roteiros de todos os capítulos da saga, salvo A Ordem da Fênix) têm plena consciência que esta última parte da série é resultado de uma década de preparação, logo, explicar pacientemente para quem não está acostumado com o universo criado por J.K. Rowlling seria não apenas desonroso para quem acompanha a série, mas quebraria o tom de urgência que este último capítulo pede.

E essa urgência é perfeitamente captada pelas lentes de Yates. Sem se entregar em nenhum momento ao melodrama barato (apesar de se entregar a comédia de riso fácil, conforme discutirei a seguir), David Yates consegue passar a toda a violenta ação que cerca o universo negro e perigoso de Harry Potter de forma humana e inteligente. Em momento algum Yates se nega a mostrar os resultados – e os efeitos – da violência praticada por Harry e seus companheiros. Observe as cenas envolvendo o dragão ucraniano, na sequência do assalto ao cofre de Belatriz (Helena Bonham Carter). Veja  os ferimentos e mutilações que se espalham pelo corpo do dragão – resultado de anos e anos de maus-tratos. Também podemos usar como exemplo (spoiler, não leia se não viu o filme, salte para o próximo parágrafo) a perturbadora morte de Severus Snape (Alan Rickman), onde o sangue jorra na parede de vidro. Obviamente Yates mostra isso de forma discreta, é claro, mas ainda assim é muito corajoso.

Por outro lado, ele constrói um filme descontrolado. Por vezes, a tal narrativa ligeira que insiste em adotar causa sérios danos ao filme. Como muitos apontaram (críticos e fãs, inclusive), Harry Potter 7.2 exibe certa frieza. Essa frieza, que visa objetivar a racionalidade da trama, chega a ser, por vezes, incomodativa para quem assiste, uma vez que quando Kloves e Yates investem no riso (riso fácil, bobo e pueril, infelizmente), a estratégia vai por água a baixo. E o pior: Muitos desses “alívios cômicos” surgem nas horas mais infelizes – e apenas infantilizam seus personagens e reforçam os estereótipos que eu condenei toda a minha vida. Por exemplo: Qual a necessidade de Ron (Rupert Grint, que tem um talento impressionante para interpretar babacas) gritar “Corre! Corre! Está pegando fogo! Eles tocaram fogo em tudo!” durante o incêndio repentino na Sala Precisa? Bom, nada contra os seus gritos histéricos, mas a forma como Yates constrói a cena (Ron desaparece num corredor, a câmera sustenta o plano, e segundos depois ele ressurge correndo do fogo) prejudica a seriedade que o filme quer passar. O ideal é que o humor empregado durante o filme fosse mais discreto e, talvez, um pouco mais negro, como, por exemplo, o bizarro riso de Voldemort (o sempre fantástico Ralph Fiennes) ao final da Batalha de Hogwarts, ou quando Neville Longbottom (Matthew Lewis) se vê sozinho em frente ao exército de Voldemort, quando a barreira mágica que protegia Hogwarts é destruída.

Falando em Valdemort, é impressionante como Ralph Fiennes é desperdiçado durante o filme. A figura sombria, quase alienígena, que sempre ameaçou Potter e Hogwarts, é relegada de forma frustrante ao papel de coadjuvante. É absolutamente desapontador o que Seve Kloves fez com uma personagem tão promissora como Voldemort – principalmente quando quem o encarna é Fiennes (assistindo Potter eu percebi que ele tem um imenso talento para interpretar personagens desfigurados, vide O Paciente Inglês). Sendo este HP 7.2 o confronto final entre Potter e Voldemort, eu esperava um filme mais focado nos dois. Todavia, Kloves insiste em passagens desnecessárias – como o beijo (decepcionante) de Gina (Bonnie Wright) e Harry. (Aliás, esse beijo empalidece perto do beijo de Ronnie e Hermione.)

Sendo tecnicamente competentíssimo (ainda que as criaturas mágicas sejam impressionantemente fakes, tão falsas quanto àquelas criaturas marinhas vistas em A Vida Marinha com Steve Zissou, de Wes Anderson), HP 7.2 tem uma fotografia regular, o que me decepcionou bastante. Principalmente quando se está trabalhando com alguém do calibre de Eduardo Serra. Optando sempre pelo close – para ressaltar o sofrimento das suas personagens – Serra enquadra estranhamente mal. Seus planos abertos parecem aborrecidos e malfeitos (ainda que os enquadramentos utilizados na Hogwarts do início do filme sejam impactantes e emulam os desfiles da Juventude Hitleriana). Serra limita-se a truques visuais práticos (e talvez até preguiçosos). Por exemplo, enquanto Harry aparece banhado por cores quentes, Voldemort aparece sempre em cores frias – algo que é reforçado pelo vestuário desenhado por Jany Temime. De todas as formas, existem imagens impressionantes neste filme (a supracitada cena da barreira protetora é belíssima).

Pra todos os efeitos, Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte II (não posso deixar de registrar que essa divisão é puramente comercial) é um filme que agradará a todos – especialmente aos fãs da série. Apesar de ignorar muitas personagens (Helena Bonham Carter é esnobada, tendo apenas duas ou três falas em duas horas e quarenta de filme) e de algumas atuações medianas (Emma Watson não é boa atriz, sempre tende para o overacting e Rupert Grint ainda não aprendeu a se portar em um close), Harry Potter ganhou um ótimo final.

E claro, a impactante cena final é marcante. É desonesta, pois tenta tapar todos os buracos que o filme não soube cobrir. Mas quem liga para isso? Terminar com um close daqueles aventureiros não poderia ser mais desolador.

Por Victor Bruno
20/07/11

5 comentários:

Bom texto, soube deixar claro suas impressões sobre o filme. Mas eu repito: assim como a Parte I, é um filme feito pra fãs, e unicamente para eles. Por isso, não é surpresa que alguém que nunca achou a saga grande coisa apredeje este aqui também.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Mas eu repito: assim como a Parte I, é um filme feito pra fãs, e unicamente para eles.

Não justifica nada. Aliás, pensando assim, o filme tem um certo apartheid contra os simples espectadores. Fans only.

o porra,harry potter o ultimo e o melhor harry potter de todos,e tem sim muito mais!

o texto é interessante, mas como uma FÃ, fiquei desapontada com a parte " se arrastando", os filmes não suprem as necessidades dos livros, mas não chegam a ser um fracasso.

é um filme bacana
hoje em dia isso já é muito

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