To Live and Die in L.A., 1985 / Dirigido por William Friedkin
(3/5)
Não por acaso a década de 1980 é chamada de “década perdida” para o cinema norte-americano. Se a década de '60 foi conhecida como a era dos grandes épicos, e a década de '70 foi uma era de filmes mais intimistas e autorais, os anos '80 foram um período de filmes berrantes e dançantes, com protagonistas usando roupas de lycra e poliéster, dançando, fotografia com cores enjoativas e direção exagerada.
Foi nesse período, também, que William Friedkin se encontrou na fase mais delicada da sua carreira. Filhote da Nova Hollywood – movimento que consagrou nomes como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Michael Cimino, John Cassavetes, et alli – Friedkin estava num ponto decisivo. Apesar de ser o diretor de filmes consagrados como O Exorcista (The Exorcist, 1973) e Operação França (The French Connection, 1971), ele não mais conseguia viver destas... “glórias do passado”, digamos assim. Precisava de um sucesso comercial. Inteligente, viu que nos filmes policiais – extremamente populares durante os anos '80 – poderia residir seu retorno triunfal. Só faltava a inspiração – e ele deveria fazer da maneira correta. Foi então que um agente do Serviço Secreto, chamado Gerald Pietevich, lhe entregou o manuscrito de um livro que estava escrevendo. O livro viria dar as bases de Viver e Morrer em Los Angeles.
O filme carrega todos os clichês que um policial pode ter. Na verdade, eu não diria clichê, mas sim elementos. Seriam clichês se, por acaso, fossem mal trabalhados, mas não são. Também não é uma obra-prima, longe disso. Viver e Morrer em Los Angeles é – no mais – um filme correto. Conta a história do policial Richard Chance (William Petersen – sua personagem jamais tem o primeiro nome revelado no filme, mas os créditos iniciais – e o santo IMDb – revelam essa informação). Ele e seu parceiro Jim Hart (Michael Greene) estão na caçada a um falsificador de notas maníaco assassino – Rick Masters (Williem Dafoe). Mas Hart é morto e adivinhe por quem – Rick Masters. A partir daí, Chance fará qualquer coisa, dentro da lei ou não, para pegar Masters. Entretanto seu novo parceiro, John Vukovich (John Pankow), não está lá muito certo de que o que Chance está fazendo, e isso acaba se tornando um obstáculo para o nosso destemido (anti-) herói.
Viver e Morrer... não foi a primeira incursão de Friedkin ao mundo do crime, e com certeza não foi a última. Apenas cinco anos antes ele havia filmado o poderoso e polêmico Parceiros da Noite (Cruising, 1980), filme carregado de polêmica, com altas doses de homossexualidade. Fracassou miseravelmente na bilheteria e foi – de quebra – um duro golpe na carreira de Al Pacino, que só foi se recuperar o seu status no mainstream dez anos depois, em O Poderoso Chefão – Parte III (The Godfather – Part III, 1990). Então, o já experiente Friedkin resolveu copiar quase tudo que havia feito em Operação França para se recuperar com o público. Câmera na mão, policiais que estão se lixando para códigos de conduta, etc. E ele acerta. Sim. A direção de Viver e Morrer em Los Angeles é excelente. O diretor adota um estilo minucioso para filmar cada detalhe da ação. Tudo aqui é extremamente autêntico. Um exemplo claro desta obsessão que William Friedkin adota pela excelência é a – clássica, para falar a verdade – sequência em que Rick Masters está fazendo – literalmente – dinheiro. Repare a minuciosidade de cada frame deste momento do filme. É uma sequência calma, lenta, mas de muita precisão técnica. De certo modo, é também uma sequência tensa, já que o que estamos vendo é completamente ilegal. Quando a música de Wong Chang surge, essa minuciosidade se perde, mas aí nós já passamos do ponto-sem-retorno.
Friedkin, não é novidade, é um bom diretor de sequências de ação, também. E neste filme essas sequências são muito bem trabalhadas, que adotam recursos técnicos interessantes para cativar o público. Vejamos, por exemplo, o momento em que Chance e Vukovich estão perseguindo à pé dois criminosos. A edição intercala momentos em que acompanhamos tudo em plano-geral e depois temos o ponto de vista do policial, filmado com a câmera na mão. É interessante, e até inteligente, por que isso confere um senso de realidade.
Outro momento que podemos destacar e comentar em Viver e Morrer em Los Angeles é a famosa e clássica sequência da perseguição de carros pelas ruas da cidade. É uma sequência que, a primeira vista, é bem divertida, mas mostra-se defeituosa. Exageradamente longa, tomando mais de dez minutos de filme. Nestes dez minutos toda a adrenalina que esse tipo de cena injeta se perde com cinco minutos. Culpa da edição displicente de Scott Smith.
Esta sequência carrega dois erros que permeiam o filme inteiro. O primeiro é o supracitado erro da edição. O segundo é a trilha-sonora pegajosa e nauseante composta por Wong Chung (que, na realidade, é uma dupla inglesa, formada por Nick Feldman e Jack Hues, muito popular durante os anos '80, que, não por acaso, se acabou em 1990, retornando apenas sete anos depois). A trilha envelheceu mal – assim como todo o filme. Exageradamente oitentista, abusando da cacofonia eletrônica, e tocada sem dó nem piedade durante todo o filme. Inclusive nos momentos em que o silêncio é o melhor, ou quando os sons orgânicos e diegéticos seriam mais adequados, lá está o tema composto por Wong Chung marcando presença.
Mas, Viver e Morrer em Los Angeles é como eu falei ali atrás – envelheceu mal. A trilha sonora que mais se parece com hits do Bananarama, vocais gemidos, edição lenta (fora as sequências de ação, que são bem dirigidas e editadas), etc. Não podemos nos esquecer também do roteiro escrito pelo próprio diretor e pelo próprio autor do livro que deu origem ao filme. Friedkin e Pietevich não elaboraram algo orgânico e bom. Personagens unidimensionais, como o próprio Richard Chance povoam a trama. Eles incluem uma relação mal explicada entre Chance e uma informante, nunca explicam por que Masters tem o costume de gravar suas transas com sua namorada, Bianca (Debra Feuer). Talvez seja só um modo de acentuar o comportamento maníaco que o vilão adota durante todo o filme. Vai saber, né?
Entre os acertos de Viver e Morrer em Los Angeles, além da boa – e ousada – direção de Friedkin, o elenco também se comporta de uma boa maneira. O interessante é que estavam todos aqui em início de carreira. Williem Dafoe, ótimo, como Rick Masters, viria interpretar, dois anos mais tarde, Jesus Cristo em A Última Tentação de Cristo (The Last Temptation of Christ, 1988), um marco na carreira de Scorsese, e ganharia a vida no mainstream de Hollywood. William Petersen conquistaria a fama mais tarde, quando passou a encabeçar o elenco da popular série criminalística CSI. O que significa que este filme deve ser visto não apenas pela qualidade da direção de Friedkin, mas pelo seu caráter histórico. Grandes atores antes da fama.
Bom, acho que vou ter que retirar algo que eu disse anteriormente. Retirar não, mas dar explicações. As falhas do roteiro, aquelas que apontei ainda há pouco, não devem ser levadas à sério. Este é um filme de ação, para se divertir. Não deve muitas explicações. Como diria aquela música, isto é entertenimento.
Por Victor Bruno
1 comentários:
Oxi, mas durante a perseguição de carros não toca trilha-sonora
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