Com Andie MacDowell, Peter Gallagher, James Spader e Laura San Giocomo
(4/5)
Por mais que pareça enredo de um filme erótico, o filme demonstra ser anos luz mais que isso. Seguindo, John, vendo uma oportunidade de realizar o desejo de Cynthia em fazerem sexo em sua casa, dá a idéia de sua mulher e seu amigo ir procurar um apartamento juntos. Nisso, Ann e Grahan, involuntariamente, acabam se conhecendo melhor, as intimides um do outro. Grahan revela ser impotente e Ann revela ser frustrada. Essa intimidade aumenta a aproximação dos dois, mesmo que não sexualmente, mas como amigos. Ann compreende e escuta Grahan e Grahan faz o mesmo tomando logo a confiança de Ann.
Aos poucos somos levados a descobrir o que Grahan faz e é, mesmo que muitas coisas não sejam reveladas. Grahan é uma espécie de ouvinte para as mulheres, estas que vêm até ele e ele proporciona um momento de “desabafo” ou conversa íntima, onde ele pergunta sobre a intimidade sexual de cada uma gravando tudo com uma câmera. Grahan ganha confiança das mulheres dizendo que estes vídeos nunca seriam reproduzidos por outra pessoa que não seja ele, ou seja, Grahan sente prazer nesses vídeos, vendo que sua impotência só ocorre na presença de outro indivíduo.
Cynthia, interessada em conhecer o amigo do marido da irmã, ouve o que a irmã, após descobrir sobre Grahan, tem a dizer sobre ele e sua surpresa ao descobrir o que ele faz. Cynthia, do jeito que é, ignora os alertas dado pela irmã de que ele pode ser perigoso, vai até a casa dele e grava um vídeo de conversa. Daí para frente tudo é conduzido, mesmo que possa soar previsível, de forma envolvente, fazendo toda a previsibilidade ser nada comparado à trama simples e dramática.
Longe de ser mais um dramalhão americano feito para ganhar Oscar, Soderbergh conduz o filme sem nenhum tipo de moralismo ou vontade de querer abrir os olhos das pessoas sobre o conteúdo do filme e sobre as pessoas à volta. Soderbergh quer mais é mostrar uma situação envolvendo quatro pessoas completamente diferentes, mas com algo incomum, que é o sexo. A ligação entre essas pessoas é somente essa e, se não fosse isso nada aconteceria. É possível perceber também a preocupação em desenvolver sua história de forma direta e não banal, a preocupação em não banalizar o que Soderbergh quer tratar como tema. Não vemos sexo explícito ou então insinuação do acontecimento. Não vemos nudez como de clichê e que é uma ferramenta usada aos montes em diversos filmes de conteúdo “maduro”. “Sex, Lies and Videotape” mostra que para um filme ser maduro não é necessário ter sexo, nudez, ou qualquer tipo de insinuação.
Com esse filme, em sua estréia no cinema em longas metragens, Soderbergh conseguiu tirar uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original, que concorreu com grades filmes como “A Sociedade dos Poetas Mortos” e “Faça a Coisa Certa”. Não só isso, ele recebeu três prêmios em Cannes: a Palma de Ouro, o Prêmio FIPRESCI e o prêmio de Melhor Ator para James Spader, que realmente estava grandioso, assim como todos, até mesmo surpreendendo com a atuação firme de Laura San Giocomo.
Antes que possa ser um mais um filme sobre relacionamentos lançados aos montes, “Sex, Lies and Videotape” é um filme que merece ser visto, mais por conseguir fugir dos padrões moralistas e pelo excelente final, bastante climático e poderoso.
2 comentários:
Assisti o filme esses dias e sinceramente fiquei sem palavras com o que eu vi. Diferene e infinitamente melhor do que eu imaginava. Soderbergh mergulha na vida dessas pessoas de um jeito maravilhoso. Excelente texto e blog.
[]s
cinegrafia.blogspot.com
Obrigado, Alan!
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