We Own the Night, 2007 / Dirigido por James Gray
Com Joaquin Phoenix, Mark Wahlberg, Eva Mendes e Robert Duvall
(4/5)
Durante a década de 80, a cidade de Nova York, conhecida pela sua beleza urbana, a neve que cai no fim do ano, as – até então – suntuosas torres gêmeas do World Trade Center, a Estátua da Liberdade, etc, etc, etc, não era lá um lugar muito agradável para se viver não. A cidade era terrivelmente suja, o tráfico de drogas e o crime ganhavam as ruas e a polícia pouca coisa podia fazer, apesar de carregarem nos distintivos a irônica frase “Nós somos os donos da noite”.
Partindo desse princípio, o diretor James Gray (Amantes, Caminho sem Volta) constrói uma história muito simples, entretanto poderosa. Bobby (Joaquin Phoenix) é o dono de uma popular night club num Brooklyn dominado pela máfia russa. Ele conhece todos e todos o conhecem. Ele tem uma namorada, Amada (Eva Mendes) e um fiel escudeiro, Jumbo (Danny Hoch). O que nenhum dos frequentadores, nenhum dos criminosos, nem mesmo Jumbo, sabem é que ele é filho do chefe de polícia Burt Grusinsky (Robert Duvall) e irmão do sargento Joe Grusinsky – “carinhosamente” chamado de Mickey Mouse pelos gangsteres. Para não ser descoberto, Bobby utiliza o sobrenome da sua mãe, Green. Ele já está submerso nesse universo marginal quando uma guerra explode nas ruas. Seu irmão é baleado e as coisas fogem de controle quando ele descobre que seu pai é o próximo na lista dos mafiosos.
Os Donos da Noite está lotado de cenas maravilhosas. O que dizer do plano em que Bobby se joga de uma janela. A câmera filma do seu ponto de vista, a rua lá embaixo e nos deparamos, de repente, no meio da queda livre, com uma cerca. É óbvio que Bobby, no mínimo, vai quebrar alguns ossos. Por que Bobby fez aquilo? Para compensar o tiro no rosto que Joe levou? Para dizer que fez algo certo, tentando pegar bandidos? Bobby, minutos antes, estava numa negociação de drogas com uma escuta engenhosamente implantada num isqueiro. James Gray filma tudo isso com excelência única. Ele é verdadeiramente um artesão. Sua direção é sutil, mas direta e objetiva. Não precisa de muletas, filma como deve ser filmado. “Faz o que deve ser feito.”
O filme também conta com boas atuações do elenco, encabeçado por Joaquin Phoenix (em seu antepenúltimo filme antes do deprimente I'm Still Here, lançado em 2010). Phoenix tem praticamente dois papéis distintos. Na primeira metade do filme sua personagem é um garoto inconsequente, com um futuro brilhante dentro do mundo dos verdadeiros donos da noite. Na segunda metade, nós testemunhamos uma metamorfose. Bobby se transforma num homem frio, violento, psicologicamente estressado (ele mesmo confessa isso para Jumbo). Wahlberg e Duvall dão suporte para o protagonista em atuações boas, principalmente a do experiente Robert Duvall, que tem falas fantásticas, como “Quando se mija nas calças, só se fica aquecido por um tempo.” Eva Mendes, ao contrário dos outros, no único papel feminino de destaque do filme (e talvez o único que tenha falas), tem um papel totalmente apagado, mas não compromete o filme.
Para completar, o filme tem uma boa fotografia de Joaquin Baca-Asay, que opta por uma interessante paleta de cores dourada, emoldurada por uma escuridão que reflete a áura das personagens (os mais atentos poderão notar uma leve semelhança com a paleta de cores que Gordon Willis utilizou em O Poderoso Chefão). Os Donos da Noite também tem uma ótima trilha sonora não-original, que abre com a clássica “Heart of Glass”, icônica música dos anos 80, cantada por Blondie. A trilha sonora original, composta por Wojciech Kilar (de Drácula de Bram Stoker) é muito boa também.
Apesar de situações que ficam mal-explicadas (não posso revelá-las, infelizmente, por que situam-se justamente no final do filme, e eu sigo uma rígida política de não revelar spoilers em hipótese alguma, mesmo com aviso prévio), James Gray faz um excelente trabalho. Keep going, Mr. Gray. Someday you'll own the night. (And the day.)
Por Victor Bruno
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