terça-feira, 13 de abril de 2010

A Última Tentação de Cristo


A Última Tentação de Cristo
(The Last Temptation of Christ, 1988)
Dirigido por Martin Scorsese
Roteiro de Paul Schrader (Baseado no livro A Última Tentação de Cristo de Nikos Kazantzakis)
Com Willem Dafoe, Harvey Keitel, Barbara Hershey, David Bowie

Cristo, que filme bom. Desculpem a ironia do início, mas, nossa. Na minha lista esse é o melhor filme de Martin Scorsese (Os Bons Companheiros, Depois de Horas). Aqui tudo é planejado milimetricamente. A fotografia combinando com o deserto, sensacional.

Aqui, Scorsese (re)conta a história de Jesus (Dafoe), um marceneiro atormentado por vozes estranhas que Ele julga ser o próprio Deus. A especialidade de Jesus é, olhe só você, fazer cruzes, procurando expulsar a voz que, também Lhe provoca dores de cabeça atrozes. Enquanto isso Judas (Keitel), um rebelde terrorista, sabe que Jesus pode ser a tábua de salvação de todo o povo judeu (que dessa vez luta contra a dominação romana).

Mesmo relutante, Jesus concorda com Judas e segue para o deserto, onde passará 40 dias em jejum. No mesmo deserto Ele é tentado por Satã (com voz de Leo Marks) três vezes, e recusa (assim como na Bíblia). Daqui para frente todo mundo sabe a história, até que... Jesus escapa da crucificação! Como pode! Que heresia! Vamos jogar coquetel molotov na porta do cinema para honrar o nome de Cristo!


Foi com esse comportamento estúpido dos fanáticos que o filme foi recebido (inclusive sendo banido de alguns países, como o Chile). Mas o filme não é nenhuma heresia, ou uma "obra do demônio para destruir nossos lares", mas sim um interessante retrato psicológico, principalmente quando o homem (afinal, Cristo era humano, correto) tem de escolher entre uma coisa e outra. É a mesma coisa quando a sua mulher vai escolher a roupa para sair de casa, só que aqui Jesus tem que escolher entre viver e seguir uma vida normal e morrer e se tornar salvador da humanidade. Como dizia Kazantzakis, a maior tentação que um homem pode viver querer ser comum.

Willem Dafoe está EXCEPCIONAL como Jesus. Indeciso e explosivo. Ele sempre está mudando de idéia, mas em algum lugar ele tem uma idéia fixa. Que outra nota posso dar, senão 10?

Keitel não está assim tão ruim como disseram. Sua participação é apenas morna. Ele consegue não estragar o filme. Barbara Hershey, junto com os apóstolos, também faz uma boa participação. Juliette Caton, que interpreta o anjo que visita Jesus nos últimos 30 minutos de filme, faz uma boa participação (além disso ela é tão bonitinha...). Isso sem contar na participação de David Bowie, muito bom como Pilatos.


A direção de Scorsese aqui está impecável. Os planos são bem dirigidos, não cai em clichês. Infelizmente podemos perceber que ele tentou escapar do seu estilo tradicional, com a câmera rápida. Felizmente, em algum momento da projeção, ele se toca que não pode escapar da sua natureza e se entrega. O último take, quando a câmera "voa" em direção à Jesus, mostra bem isso.

Agora isso merece um parágrafo. A fotografia de Michael Ballhaus (ele vai ganhar uma cadeira especial nos próximos dias) está excelente. Logo por que, ao contrário de certos diretores de fotografia, ele não inventa filtros nem jogos de cores. Ele é honesto e fotografa a vida como ela é, rápida e de tom pastel. Seu estilo cai como uma luva num filme que se passa no deserto.

Thelma Schoonmaker, mais uma vez, faz um trabalho muito bom na edição. Não deixa o rítimo cair, ela combina muito bem com a excelente trilha sonora de Peter Gabriel (ex-Gênesis), tanto que o disco Passion - Music For the Film 'The Last Temptation of Christ' foi um sucesso de vendas.

Enfim, antes de chamar esse filmaço de "obra do demônio" e "heresia", os fanáticos deveriam ver o que há por trás da porta verde e observar o estudo primoroso sobre o homem que este filme é. Eu mesmo considero este o melhor filme sobre Cristo, juntamente com, olhem só, Jesus Cristo Superstar e suas metralhadoras e hippies.

E aqui vai o recado de Nikos Kazantzakis aos padres quando o livro foi listado no Index Liborum Prohibitorium: "Vocês me amaldiçoaram, pais sagrados, eu dou a vocês uma benção: possam as suas consciências ser tão claras quanto a minha e possam vocês ser tão morais e religiosos quanto eu."

Está consumado.

Nota: 5 estrelas em 5.

Por Victor Bruno

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