Embriagado de Amor(
Punch-
Drunk Love, 2002)
Dirigido por Paul Thomas
AndersonEscrito por Paul Thomas
AndersonCom Adam
Sandler,
Emily Watson,
Philip Seymour Hoffman,
Luis Guzmán, Mary
Lynn RajskubImagine, eu faço um filme sobre o mundo do cinema
pornô dos anos 70 e 80. O filme faz um sucesso estrondoso e levanta muita
polêmica. Em seguida eu faço um filme de três horas e oito minutos sobre nove vidas, que vivem de modo completamente diferente, mas com muito em comum, que se cruzam de modo inesperado. O filme e tachado como o novo
Short Cuts - Cenas da Vida (1990) e eu sou chamado de o novo Robert
Altman. O que você espera de mim na minha próxima produção. Quem sabe você nem espera nada de mim, pois eu não tenho mais para onde ir ou mesmo inovar.
Então
surge a manchete que eu vou fazer um novo filme, mas sem história e elenco definidos. Alguns dias depois eu divulgo o elenco, e, estampado no jornal está escrito "Adam
Sandler no papel principal." O mínimo que você faz é dar um salto da cadeira e cuspir o café.
Esta é a saga de Paul Thomas
Anderson (
Boogie Nights - Prazer Sem Limites,
Magnólia) rumo a
Embriagado de Amor. Um filme com um conteúdo surpreendente para a sua carreira, mas nem por isso ruim. De fato,
sinópses surpreendentes é o que não falta em sua curta e primorosa carreira.
A obra conta a história de
Barry Egan (
Sandler), um jovem introvertido e paranóico. Ele é dono de uma micro-empresa de produtos para banheiro, como
desentupidores de pia (e são esses
desentupidores que trazem uma das cenas mais engraçadas do filme). Após ser testemunha de um acidente de carro e achar um
harmônio na porta da empresa onde trabalha, uma garota pede para guardar o carro naquele lugar, enquanto a oficina não abre.
Barry, relutante, aceita. Mais tarde suas sete irmãs ligam para
Barry avisando-lhe sobre um aniversário que ele não pode faltar de maneira algum, pois haverá uma garota que será apresentada a ele.
Barry, de novo relutante, aceita o convite. A garota
coincidentemente (ou não) é a mesma garota do carro. Ela é a misteriosa Lena Leonard (Williams).
De noite,
Barry está em casa, após a festa e liga para um tele-sexo (numa cena maravilhosa de oito minutos num único
take). A coisa parece inocente, mas estranhamente a "empresa" pede o número do cartão de crédito e o endereço da casa dele, coisa que ninguém pede.
Barry, desconfiado, dá o número. No dia seguinte ele acorda com o telefonema da garota que
Barry estava falando no tele-sexo da noite anterior. Ela pede uma certa quantia para ele.
Barry nega. Daí pra frente a coisa
degringola de vez. O tele-sexo suspeito revela-se uma
gangue lidererada por
Dean "
Matress Man"
Trumbell (
Seymour Hoffman),
Barry se apaixona por Lena. Uma sinopse nada
covencional para um filme de P.T.
Anderson, certo?
Mas o filme não é (mais) uma comédia romântica estrelada por Adam
Sandler (
Tratamento de Choque,
Como Se Fosse a Primeira Vez). O filme é um poderoso retrato da mente e do comportamento
humano. É quase um estudo psicológico da mente de uma pessoa com problemas mentais (afinal
Barry sofre de paranóia e uma grande
sensibilidade emocional, resultado da exploração das suas sete irmãs). O filme tem três cores básicas:
azul, vermelho e branco. Segundo alguns (inclusive eu) as cores são
simbólicas (e simbolismos não faltam na
filmografia de Thomas
Anderson). O azul representa, junto com o branco, problemas, e, aonde
Barry está, lá vemos ele: nas roupas de
Barry, em seu escritório... Já o vermelho, significa amor e paz. O vestido vermelho que Lena usa o filme inteiro deixa bem claro isso. Ou então a cor do letreiro que diz "saída", no apartamento de Lena (que por sua vez
simboliza que ela é a saída dos problemas de
Barry).
Sandler consegue a façanha de não matar o filme. Mas ao mesmo tempo em que ele não mata ele não acrescenta. Sua eterna cara de bobalhão serve muito bem na personagem. Watson faz uma
atuação competente quando aparece.
Seymour Hoffman mais uma vez está perfeito como o covarde que se passa por machão
Dean.
Luis Guzmán, presença tradicional nos filmes de
Anderson, está bom também.
Anderson cria um filme muito profundo, muito simbólico. Sua
direção tradicional, movimentada, acrescenta um toque de mestre na fotografia do sempre excelente Robert
Elswit.
A edição de
Leslie Jones (
Além da Linha Vermelha,
Starsky & Hutch) está correta,
condizente com o que o filme pede, aliada ao belo trabalho visual do artista
Jeremy Blake (que se matou em 2007). Aliás esse trabalho visual, além de esteticamente belo, demonstra bem as alucinações de
Barry.
Finalizando, este filme é o mais pessoal de
Anderson e demonstra todo o seu poderio de
diretor e roteirista, fazendo um excelente trabalho aqui. Só mesmo Paul Thomas
Anderson para fazer Adam
Sandler funcionar, e olha que
Anderson é fã declarado de
Sandler e seus "filmes".
Nota: 5 estrelas em 5
Por Victor Bruno