quarta-feira, 7 de abril de 2010

Ilha do Medo

Ilha do Medo

(Shutter Island, 2010)
Dirigido por Martin Scorsese
Roteiro de Laeta Kalogridis (baseado no livro Paciente 67, de Denis Lehane)
Com Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Michele Williams, Ben Kingsley, Max von Sydow

Como diz o pôster brasileiro do filme, a loucura é contagiosa. E com certeza os executivos da Paramount do Brasil se infectaram com essa loucura para tachar o filme de uma maneira tão ordinária. O título orginal do filme Ilha do Medo é Shutter Island. Não sei por que, mas alguém de dentro das paredes do estúdio teve a ridícula idéia de trocar o nome do filme aqui de Paciente 67 para esse título ridículo. Dá a impressão é que esse brilhante suspense psicológico de Martin Scorsese (Touro Indomável, Os Infiltrados) não passa de um filme bobo sobre um serial killer que "aterroriza" uma ilha durante uma festa de adolescentes universitários bêbados fazendo sexo sem culpa. Mas não é nada disso.


Em 1954, Edward "Teddy" Daniels (DiCaprio) e seu parceiro Chuck Aule (Ruffalo) estão investigando o desaparecimento de uma perigosa paciente do Hospital Psiquiátrico Ashecliffe Para Criminosos Insanos, na remota Shutter Island, em Boston. Ao chegar lá, o clima é de mistério, pois aparentemente ninguém parece querer colaborar com os investigadores, nem mesmo os pacientes. Aos poucos Teddy vai sendo consumido pela dúvida e pela loucura (que realmente parece ser contagiosa).

É nesse clima de suspense em que Martin Scorsese cria sua mais recente obra prima. Com certeza. Não entendo por que o filme tem recebido tantas críticas negativas. Por que as pessoas sempre querem que Scorsese faça filmes sobre gângster? Já temos tantos!

Vamos agora para os atores. DiCaprio mostra grande desenvoltura e amadurecimento neste trabalho. Infelizmente ele não consegue tirar aquela cara enjoada dele. São tantas caras e bocas que ele faz que é de se perder a conta. Ele espreme os olhos só para se abaixar. Mark Ruffalo também está muito bem como o parceiro de Teddy, Chuck Aule. Pena que ele só tenha mais espaço no fim da projeção.

O eterno Gandhi, Ben Kingsley, dá uma aula de interpretação como o sombrio Dr. Cawley (este nome te lembra alguma coisa?). Ele não força a cara para parecer incomodado e interpreta seus diálogos com perfeição. Não me surpreenderia em vê-lo indicado para o Oscar de Coadjuvante. Max von Sydow e Michelle Williams estão competentes também como o Dr. Naehring e a esposa morta de Teddy, Dolores.


Foi muita coragem de Scorsese ter deixado a cargo de Laeta Kalogridis um roteiro de um filme tão complexo. Para quem não sabe, Kalogridis escreveu o (in)esquecível Os Desbravadores e foi co-roteirista do multi-reeditado Alexandre, de Oliver Stone. Acho que a pessoa certa para ter escrito o filme (que é uma bizarrice psicológica) chama-se Charlie Kaufman. Não que Kalogridis erre. Seu roteiro é bem amarrado, mas ela ainda tem muito o que aprender.

A fotografia de Robert Richardson (JFK - A Pergunta que Não Quer Calar, Platoon, ambos de Oliver Stone) não apresenta muitas novidades, apenas mescla o seu estilo habitual de cores e luzes com a câmera sempre movimentada de Scorsese. Está competente, como sempre.

Agora a edição... o que é isso?! Thelma Schoonmaker (que edita todos os filmes de Scorsese desde Touro Indomável) mostra por que é a melhor editora viva do cinema norte-americano. Mas infelizmente ela não está à prova de erros. As cenas dos flashbacks e dos pesadelos de Teddy com certeza deveriam ser encurtadas (menos o sensacional flashback final). Faz parecer que o diretor tinha um tempo pré estabelecido pelo estúdio e resolveram adicionar metragem no filme justamente nessas cenas.

O final com certeza você já deve ter visto em filmes anteriores, mas aqui ele com certeza é perfeitamente justificado. Não é motivo você matar o filme inteiro só por que reutiliza um recurso. Os filmes dos Irmãos Coen pegam histórias batidas e sempre saem surpreendentes e foi exatamente isso o que Scorsese fez nessa sua obra-prima. Isso já aconteceu a ele outras vezes, ter sua obra criticada e, mais tarde, voltarem atrás. Espero que os críticos façam isso, pois é imperdoável não admitir que esse filme é um dos melhores e mais engenhosos filmes da carreira deste grande cineasta.

Nota: 4 estrelas em 5.

3 comentários:

.. é um filme surpreendente, imperfeito, lindo e interessante que você precisa definitivamente ver pelo menos duas vezes. Ilha do Medo é um dos filmes mais visualmente ricos de Scorsese a fotografia é simplesmente maravilhosa. Os atores DiCaprio, Kingsley e Ruffalo estão apenas corretos em seus personagens.

Só não gostei muito do final apressado que destoa do restante do filme. Já o desfecho para subida do créditos é muito bom no ponto de vista da sua duabilidade.

nota. 8

Filme muito bom, na minha opinião, melhor d que muita coisa que o diretor vem fazendo ultimamente. Também não entendi muito as críticas negativas, ainda que concorde que não é 'perfeito'---mas filmes perfeitos são raros. Não vejo o Charlie Kauffman metido num filme como esse, não tem nada a ver com o estilo dele, na minha opinião. Nas mãos dos irmãos Coen, aí sim, poderia render bem.

Um dos melhores de 2010. òtima interpretação do dicaprio.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More