quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sinédoque, Nova York


Sinédoque, Nova York
(Synecdoche, New York, 2009)
Dirigido por Charlie Kaufman
Escrito por Charlie Kaufman
Com: Philip Seymour Hoffman, Catherine Kneer, Jennifer Jason Leigh, Tom Nooan, Hope Davis

Charlie Kaufman melhor do que nunca! Com certeza este é um filme inesquecível, de todas as formas. Tanto para quem não gostou (uma boa parcela das "testemunhas" que assistiram a esta obra) como para quem eventualmente adorou. Claro são dois opostos, pois este é um filme "ame ou odeie-o". Ele nasceu para ser assim.

Sinédoque, Nova York é a primeira incursão de Charlie Kaufman (Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, Adaptação) pelo mundo da direção. Até então ele era -- apenas -- o mais famoso roteirista de Hollywood. Aqui ele nos conta a história do hipocondríaco e egoísta Caden Cotard (Seymour Hoffman), um diretor de teatro que sabe que seu casamento com Adele (Kneer), uma pintora em miniatúras (o que se torna uma ironia, visto a grandiosidade das obras de seu marido), está chegando ao fim, mas não faz nada para tentar recupera-lo. E sabe disso perfeitamente quando sua esposa deixa de ir a estréia da sua nova peça (uma adaptação da peça A Morte do Caxeiro Viajante) para ficar fumando maconha com a amiga Maria (Jason Leigh).

Daí para frente o filme degringola para o bizarro. A esposa, aproveitando uma viagem para a exposição das suas obras na Alemanha, foge levando Olive (Saddie Goldstein), a filha do casal. Ao mesmo tempo Caden recebe um prêmio de US$ 500.000 da Fundação MacArthur para uma obra que abale as estruturas do teatro moderno, o que pode ser uma redenção para o turbilhão emocional em que sua vida se encontra. Ele tem o roteiro perfeito: uma obra que conte sua vida. Não uma auto-biografia, mas uma obra que encene todos os minutos da sua vida. O que parece ser uma redenção, como já dito, só faz ele entrar ainda mais no fundo do poço.

É com esse roteiro sem nexo que Charlie Kaufman entrega-nos uma obra profunda, complexa e de conteúdo altamente filosófico. Charlie que falar de tudo: vida, amores, tragédias, morte, sexo... e essa obcessão de Kaufman acaba por atrapalhar um pouco o filme, e não o deixa desenvolver por si só. Mas vai ver é esse o objetivo de Kaufman, e se for esse, ele atinge com perfeição. Ainda quanto ao roteiro, os diálogos são um deleite para os ouvidos de qualquer apreciador do cinema. O monólogo (aliás, o filme está cheio deles) do padre durante um dos muitos funeráis que o filme fornece, é uma das cenas mais emocionantes e profundas do cinema atual. Apenas Kaufman poderia ter escrito algo tão profundo.

O nome do personagem aliás é uma homenagem ao médico Jules Cotard, que descobriu a síndrome que leva seu nome, um distúrbio neurótico em que a pessoa tem a impressão em que todos a sua volta estão morrendo, mas em Caden é o contrário, ele sempre acha que está morrendo. E é esse dificílimo personagem que Philip Seymour Hoffman tem que carregar nas costas, e ele faz isso com maestria. Repare nas expressões melancólicas dele ao longo do filme, principalmente na parte final.

Catherine Keneer e Jennifer Jason Leigh também fazem seus papéis com segurança, dando suporte para Hoffman se soltar. A pequena Saddie Goldstein também faz seu papel muito bem, sendo a soma exata das neuróses dos seus pais. Tom Nooan faz o personagem mais engraçado do filme (tristemente engraçado).

Enfim, se roteiro e elenco fazem bonito aqui, a única reclamação que podemos ter é no rítimo do filme. Não que para mim isso seja difícil de engolir, mas com certeza uma boa porcentagem do fracasso de bilheteria que esse filme foi (custou US$ 13.000.000,00 e recuperou apenas US$ 7.000.000,00) deve-se ao seu rítimo. Irônicamente se o mesmo Kaufman faz bonito no roteiro, peca na direção. E a edição, que deveria cobrir essa "falha", não cobre.

Por fim, basta dizer que não se fazem mais filmes como Sinédoque, Nova York. Com certeza a culpa também é do público e de Hollywood, que se acomodaram em fazer filmes ruins para fazer dinheiro, desvirtuando completamente o cinema. É realmente uma pena.

Nota: 5 estrelas em 5. (Observação, dei nota máxima por causa do roteiro, que é perfeito.) Por Victor Bruno

3 comentários:

O grande responsável por conduzir as emoções e as ideias do público é Philip Seymour Hoffman, um dos melhores intérpretes de sua geração – e que ainda não errou no cinema. É de Hoffman a tarefa de tentar dar vida a Caden Cotard, humanizá-lo. E novamente o oscarizado ator não decepciona. Hoffman se entrega ao personagem até o fundo de sua alma, buscando em seu próprio ser a emoção genuína para emprestar ao personagem. Sim, Philip Seymour Hoffman é um artista

chorei. tem algumas semelhanças com "adptação" sim..

e aquela síndrome de limpeza dele no final?

realmente um ótimo filme

Um filme genial,Philip Seymour Hoffman é um dos melhores atores da geração.

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