quinta-feira, 15 de abril de 2010

Embriagado de Amor


Embriagado de Amor
(Punch-Drunk Love, 2002)
Dirigido por Paul Thomas Anderson
Escrito por Paul Thomas Anderson
Com Adam Sandler, Emily Watson, Philip Seymour Hoffman, Luis Guzmán, Mary Lynn Rajskub

Imagine, eu faço um filme sobre o mundo do cinema pornô dos anos 70 e 80. O filme faz um sucesso estrondoso e levanta muita polêmica. Em seguida eu faço um filme de três horas e oito minutos sobre nove vidas, que vivem de modo completamente diferente, mas com muito em comum, que se cruzam de modo inesperado. O filme e tachado como o novo Short Cuts - Cenas da Vida (1990) e eu sou chamado de o novo Robert Altman. O que você espera de mim na minha próxima produção. Quem sabe você nem espera nada de mim, pois eu não tenho mais para onde ir ou mesmo inovar.

Então surge a manchete que eu vou fazer um novo filme, mas sem história e elenco definidos. Alguns dias depois eu divulgo o elenco, e, estampado no jornal está escrito "Adam Sandler no papel principal." O mínimo que você faz é dar um salto da cadeira e cuspir o café.

Esta é a saga de Paul Thomas Anderson (Boogie Nights - Prazer Sem Limites, Magnólia) rumo a Embriagado de Amor. Um filme com um conteúdo surpreendente para a sua carreira, mas nem por isso ruim. De fato, sinópses surpreendentes é o que não falta em sua curta e primorosa carreira.

A obra conta a história de Barry Egan (Sandler), um jovem introvertido e paranóico. Ele é dono de uma micro-empresa de produtos para banheiro, como desentupidores de pia (e são esses desentupidores que trazem uma das cenas mais engraçadas do filme). Após ser testemunha de um acidente de carro e achar um harmônio na porta da empresa onde trabalha, uma garota pede para guardar o carro naquele lugar, enquanto a oficina não abre. Barry, relutante, aceita. Mais tarde suas sete irmãs ligam para Barry avisando-lhe sobre um aniversário que ele não pode faltar de maneira algum, pois haverá uma garota que será apresentada a ele. Barry, de novo relutante, aceita o convite. A garota coincidentemente (ou não) é a mesma garota do carro. Ela é a misteriosa Lena Leonard (Williams).


De noite, Barry está em casa, após a festa e liga para um tele-sexo (numa cena maravilhosa de oito minutos num único take). A coisa parece inocente, mas estranhamente a "empresa" pede o número do cartão de crédito e o endereço da casa dele, coisa que ninguém pede. Barry, desconfiado, dá o número. No dia seguinte ele acorda com o telefonema da garota que Barry estava falando no tele-sexo da noite anterior. Ela pede uma certa quantia para ele. Barry nega. Daí pra frente a coisa degringola de vez. O tele-sexo suspeito revela-se uma gangue lidererada por Dean "Matress Man" Trumbell (Seymour Hoffman), Barry se apaixona por Lena. Uma sinopse nada covencional para um filme de P.T. Anderson, certo?

Mas o filme não é (mais) uma comédia romântica estrelada por Adam Sandler (Tratamento de Choque, Como Se Fosse a Primeira Vez). O filme é um poderoso retrato da mente e do comportamento humano. É quase um estudo psicológico da mente de uma pessoa com problemas mentais (afinal Barry sofre de paranóia e uma grande sensibilidade emocional, resultado da exploração das suas sete irmãs). O filme tem três cores básicas: azul, vermelho e branco. Segundo alguns (inclusive eu) as cores são simbólicas (e simbolismos não faltam na filmografia de Thomas Anderson). O azul representa, junto com o branco, problemas, e, aonde Barry está, lá vemos ele: nas roupas de Barry, em seu escritório... Já o vermelho, significa amor e paz. O vestido vermelho que Lena usa o filme inteiro deixa bem claro isso. Ou então a cor do letreiro que diz "saída", no apartamento de Lena (que por sua vez simboliza que ela é a saída dos problemas de Barry).


Sandler consegue a façanha de não matar o filme. Mas ao mesmo tempo em que ele não mata ele não acrescenta. Sua eterna cara de bobalhão serve muito bem na personagem. Watson faz uma atuação competente quando aparece. Seymour Hoffman mais uma vez está perfeito como o covarde que se passa por machão Dean. Luis Guzmán, presença tradicional nos filmes de Anderson, está bom também.

Anderson cria um filme muito profundo, muito simbólico. Sua direção tradicional, movimentada, acrescenta um toque de mestre na fotografia do sempre excelente Robert Elswit.

A edição de Leslie Jones (Além da Linha Vermelha, Starsky & Hutch) está correta, condizente com o que o filme pede, aliada ao belo trabalho visual do artista Jeremy Blake (que se matou em 2007). Aliás esse trabalho visual, além de esteticamente belo, demonstra bem as alucinações de Barry.

Finalizando, este filme é o mais pessoal de Anderson e demonstra todo o seu poderio de diretor e roteirista, fazendo um excelente trabalho aqui. Só mesmo Paul Thomas Anderson para fazer Adam Sandler funcionar, e olha que Anderson é fã declarado de Sandler e seus "filmes".

Nota: 5 estrelas em 5

Por Victor Bruno

2 comentários:

Ótimo filme, pra mim o segundo melhor de PTA, só perde pra Magnólia... concordo com a sua visão da simbologia das cores e tal...
O Adam, não está mal no filme, geralmente eu gosto dele, apesar dele fazer vários filmes ruins, mas é um bom ator, fez uma excelente atuação em Reine Sobre Mim.

'Reine Sobre Mim' é o máximo. Ele deveria apostar em filmes mais sérios, como o Carrey.

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