O Rei da Comédia
The King of Comedy, 1982
Dirigido por Martin Scorsese
Escrito por Paul D. Zimmerman
Com Robert De Niro, Jerry Lewis, Sandra Bernhard, Diahnne Abbott, Shelley Hack
Eu sempre odiei a idéia que as pessoas têm que Scorsese só deve fazer filmes sobre gângsteres, violência e pessoas emocionalmente destroçadas. É um erro crasso. Uma coisa é você saber tratar melhor certo assunto. Outra é criticar completamente só por que o cineasta pisou em um campo completamende diferente do que ele está habituado. É óbvio que veremos uma queda na qualidade do trabalho, mas antes isso do que nada.
Começado a ser produzido imediatamente após o sucesso de Touro Indomável, e tendo como pano de fundo a tentativa de assassinato do presidente Ronald Regan por parte de John Hinckley, Jr., tendo motivo a sua obsessão pela personagem de Jodie Foster no filme Taxi Driver (que, como o Universo sabe, é do Scorsese) o filme tem enfoque em Rupert Pupkin (De Niro) (um trocadilho com a palavra "pumpkin", que significa abóbora). Ele é um homem com um sonho: se transformar num astro, custe o que custar. Seu maior ídolo é um comediante chamado Jerry Langford (Lewis), que apresenta um programa popular de televisão. Certo dia Pupkin salva seu ídolo do ataque histérico de uma fã insana chamada Masha (Bernhard). Eles entram no carro e Pupkin conta que quer fazer uma aparição especial no programa de Langford. Este replica, dizendo para ligar para a sua secretária. Quando seu pedido é negado, começa uma cruzada para que o sonho de Pupkin seja realizado, e tudo parece degringolar para os resultados mais catastróficos possíveis.
É muito interessante observar a crítica que o filme faz sobre os astros e os fãs. O culto às estrelas que existe no nosso meio. Se hoje nós já veneramos atores, astros da música (mesmo que nem sempre seja "música"), imagine numa época em que Tina Turner e sua música dançante, ABBA, Bee Gees estavam rumando ao estrelato. Em que a histeria pelos astros e estrelas estava no alto. Em que se matava para estar perto das estrelas. O cenario que Scorsese traça em seu filme não poderia ser mais brilhante. Este é um dom que Scorsese carrega e que ele não pode se separar.
Agora, mais interessante que isso são os aspectos psicológicos que a trama de O Rei da Comédia trás para nós. Jerry Lewis interpreta com se Jerry Langford um homem que em cima do palco do seu programa é o humor em pessoa, mas quando as luzes se apagam e ele abandona o palco, ah... ele se transforma num sujeito retraído, extremamente indiferente aos outros. Sem a menor preocupação com o sofrimento alheio. A complexidade das personagens que o roteiro do crítico de cinema Paul D. Zimmerman trás é divina! Pupkin também é um sujeito meio amalucado. Aliás, meio é eufemismo. O homem é insano. Tem 34 anos e ainda mora com a mãe. Construiu no seu quarto uma espécie de estúdio de talk show, com fotos dos seus ídolos, Liza Minnelli e o próprio Langfeld. Sem contar nos constantes delírios que ele tem, sonhando que a personagem de Lewis vem ao seu encontro pedindo para apresentar seu show durante seis semanas, ou dizendo que ele é um gênio. Em seus devaneios Rupert é capaz de reclamar com um desenhista por que sua cabeça foi desenhada menor que a de Langfeld. No mais, Rupert é uma variação de Travis Bickle em Taxi Driver.
Como se não bastasse, Scorsese princela o filme com momentos de pura genialidade. O que não dizer da triste, claustrofóbica e vergonhosa cena em que Rupert faz um monólogo para uma parede com a foto de uma platéia? Puro genialismo. Infelizmente algumas pontas dos filmes ficam soltas demais. Aliás, da metade do segundo ato até o final algumas coisas ficam estranhas. Isso é um pequeno tropeço do filme, obviamente, por que o final, maravilhoso, compensa tudo. O que é o final deste filme! Foi uma alucinação do Pupkin? Foi verdade? Não dá para saber.
Além disso, o filme conta com uma bela fotografia. Iniciado com cores leves ao início, e mergulhando num jogo de luz e sombras belíssimo ao final (a iluminação do "encontro" de Masha é sensacional), o filme consegue retratar bem a aura desmanchada daquelas personagens, que fazem ri, mas que por dentro são tristes e destroçados.
Nota: 4 estrelas em 5.
Por Victor Bruno
Começado a ser produzido imediatamente após o sucesso de Touro Indomável, e tendo como pano de fundo a tentativa de assassinato do presidente Ronald Regan por parte de John Hinckley, Jr., tendo motivo a sua obsessão pela personagem de Jodie Foster no filme Taxi Driver (que, como o Universo sabe, é do Scorsese) o filme tem enfoque em Rupert Pupkin (De Niro) (um trocadilho com a palavra "pumpkin", que significa abóbora). Ele é um homem com um sonho: se transformar num astro, custe o que custar. Seu maior ídolo é um comediante chamado Jerry Langford (Lewis), que apresenta um programa popular de televisão. Certo dia Pupkin salva seu ídolo do ataque histérico de uma fã insana chamada Masha (Bernhard). Eles entram no carro e Pupkin conta que quer fazer uma aparição especial no programa de Langford. Este replica, dizendo para ligar para a sua secretária. Quando seu pedido é negado, começa uma cruzada para que o sonho de Pupkin seja realizado, e tudo parece degringolar para os resultados mais catastróficos possíveis.
É muito interessante observar a crítica que o filme faz sobre os astros e os fãs. O culto às estrelas que existe no nosso meio. Se hoje nós já veneramos atores, astros da música (mesmo que nem sempre seja "música"), imagine numa época em que Tina Turner e sua música dançante, ABBA, Bee Gees estavam rumando ao estrelato. Em que a histeria pelos astros e estrelas estava no alto. Em que se matava para estar perto das estrelas. O cenario que Scorsese traça em seu filme não poderia ser mais brilhante. Este é um dom que Scorsese carrega e que ele não pode se separar.
Agora, mais interessante que isso são os aspectos psicológicos que a trama de O Rei da Comédia trás para nós. Jerry Lewis interpreta com se Jerry Langford um homem que em cima do palco do seu programa é o humor em pessoa, mas quando as luzes se apagam e ele abandona o palco, ah... ele se transforma num sujeito retraído, extremamente indiferente aos outros. Sem a menor preocupação com o sofrimento alheio. A complexidade das personagens que o roteiro do crítico de cinema Paul D. Zimmerman trás é divina! Pupkin também é um sujeito meio amalucado. Aliás, meio é eufemismo. O homem é insano. Tem 34 anos e ainda mora com a mãe. Construiu no seu quarto uma espécie de estúdio de talk show, com fotos dos seus ídolos, Liza Minnelli e o próprio Langfeld. Sem contar nos constantes delírios que ele tem, sonhando que a personagem de Lewis vem ao seu encontro pedindo para apresentar seu show durante seis semanas, ou dizendo que ele é um gênio. Em seus devaneios Rupert é capaz de reclamar com um desenhista por que sua cabeça foi desenhada menor que a de Langfeld. No mais, Rupert é uma variação de Travis Bickle em Taxi Driver.
Como se não bastasse, Scorsese princela o filme com momentos de pura genialidade. O que não dizer da triste, claustrofóbica e vergonhosa cena em que Rupert faz um monólogo para uma parede com a foto de uma platéia? Puro genialismo. Infelizmente algumas pontas dos filmes ficam soltas demais. Aliás, da metade do segundo ato até o final algumas coisas ficam estranhas. Isso é um pequeno tropeço do filme, obviamente, por que o final, maravilhoso, compensa tudo. O que é o final deste filme! Foi uma alucinação do Pupkin? Foi verdade? Não dá para saber.
Além disso, o filme conta com uma bela fotografia. Iniciado com cores leves ao início, e mergulhando num jogo de luz e sombras belíssimo ao final (a iluminação do "encontro" de Masha é sensacional), o filme consegue retratar bem a aura desmanchada daquelas personagens, que fazem ri, mas que por dentro são tristes e destroçados.
Nota: 4 estrelas em 5.
Por Victor Bruno
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