sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Double Feature - Exploda Minha Cidade + O Quarto

Exploda Minha Cidade (Saute Ma Ville, 1968) - Primeiro trabalho de Chantal Akerman, feito quando ela tinha 18 anos e era apenas uma estudante de cinema belga, já apresenta claramente o estilo de cinema que caracterizaria sua filmografia. Em apenas 12 minutos, ela se define como cineasta ao apresentar um drama doméstico claustrofóbico com uma protagonista extremamente ambígua, algo que seria largamente utilizado em seus demais filmes.

O filme segue os passos de uma jovem chegando em seu apartamento, em algo à primeira vista, perfeitamente habitual. Logo, ela se tranca na cozinha, ambiente em que quase toda a obra transcorrerá. Aos poucos, realizando suas tarefas habituais, como lavar o chão e fazer comida, vemos a protagonista (interpretada pela própria Chantal) perder lentamente a sanidade mental, indicando, pela ótica da diretora, que a vida reclusa à atividade doméstica acaba por levar a mulher a atitudes irracionais.

Outro ponto alto do filme é a sua trilha sonora composta por sons produzidos utilizando o próprio corpo humano como instrumento, como em sons produzidos com a boca e na tilha sonora cantarolada. Essa trilha sonora ressaltada pela montagem dinâmica usada no primeiro minuto do filme em que a personagem de Chantal sobe até o seu apartamento. Uma cena simplesmente genial.

Exploda Minha Cidade é um filme claramente experimental, porém Chantal já demonstra uma segurança incrível na direção e já inicia o desenvolvimento dos seus ideais feministas que viriam a ser melhor explorados nas suas obras subsequentes.



O Quarto (La Chambre, 1972) - Um dos filmes mais simples possíveis, O Quarto se consiste em um passeio de 10 minutos pelo quarto de Chantal Akerman a partir de uma câmera fixada no centro do mesmo. A obra é nada mais do que um giro de 900 graus da câmera que após o qual começa a fazer giros menores de 120 graus diante da cama em que Chantal repousa.

Em 10 minutos de quarto, temos uma visão íntima da artista, em que ao apresentar seu quarto deixa a impressão de que estamos mais íntimos da mesma. O curta é basicamente Chantal abrindo seu universo para que nós, espectadores, possamos adentrá-lo.

Porém, nessa obra Chantal começa a adotar alguns estilos que viriam a ser duramente criticados e que a transformariam em uma cineasta de pouco sucesso comercial. Em O Quarto, Chantal começa a demonstrar a lentidão e a repetição narrativa que viriam a pontuar sua filmografia, muito embora esses dois elementos funcionem como uma forma de aproximar seus filmes da vida real, lenta e repetitiva.


Por Jorge Balseiros*

* Jorge Balseiros é um free-lancer para o Ornitorrinco Cinéfilo.

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