sábado, 2 de outubro de 2010

Um Corpo que Cai

Um Corpo que Cai

Vertigo, 1958
Dirigido por Alfred Hitchcock
Roteiro de Alec Coppel & Samuel Taylor (baseado no livro D'Entre les Morts, de Pierre Boilau e Thomas Narcejac)
Com James Stewart, Kim Novak, Barbara Bel Geddes, Tom Helmore

À priori, o que se espera quando nos sentamos para ver um filme de Alfred Hitchcock? A gente vai esperando ver algo assustador, tenso, mergulhado em sobras, e com altas doses do bom e velho voyeur (até por que nós somos todos voyeurs, querendo ou não). Nós sempre teremos grandes esperanças de assistir o puro cinema quando aparece no letreiro "Alfred Hitchcock's..." Ao meu ver, Hitch é o único que pode colocar seu nome acima dos créditos, por que, em qualquer momento que ligamos a televisão, poderemos reconhecer que aquilo que está aparecendo é um filme do criador de Psicose (1960).

Você pode até achar que Psicose é o melhor filme do mestre inglês do suspense. Tudo bem. Você não está enganado. Não vou nem perder meu tempo escrevendo que Psycho é um dos melhores filmes já, blá, blá, blá...

Consequentemente salvei o seu tempo.

O que me faz ter uma piração com este filme de Alfred Hitchcock é como a obsessão de um homem e as decisões erradas podem transformar tudo numa catástrofe completa. Se essa chave para um dos enredos mais sensacionais que eu, como cinéfilo, já pude ver. O detetive Scottie Ferguson (Stewart) descobre que tem acrofobia (medo de altura) no pior momento possível. Ele e um policial estão perseguindo um bandido pelos telhados de São Francisco, numa cena antológica. Scottie perde o equilíbrio e fica por um fio, pendurado na calha de uma das casas. Seu parceiro vai ajudá-lo e cai. Scottie fica traumatizado e se aposenta, até que um ex-colega lhe pede para espionar sua esposa. Não que ela esteja traindo-o, mas por que suspeita que ela esteja sendo possuída por um espírito de uma antiga habitante da cidade, que se matou exatamente quando tinha a mesma idade da sua atual esposa.


Se a sinopse do filme fosse só essa, meu Deus, o filme seria um delírio para a mente. Alfred Hitchcock mexendo com o sobrenatural é uma oportunidade única. Entretanto, o filme não para aí. Hitchie quebra seu filme em duas partes distintas. Aliás, assim como Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, Stanley Kubrick, 1987), Vertigo é um filme de dois atos, ao contrário das produções mais comuns, que se dividem em três. Mas talvez isso se deva ao fato deste não ser um filme comum.

Aqui temos de tudo um pouco. Obsessão, amor, suspense, surpresas, voyeur, etc. E ainda pitadas da filosofia de Carl Gustav Jung sobre os sonhos, a sequencia do pesadelo de Scottie é um primor. Hitchie fala de tudo isso com maestria, auxiliado por um ótimo roteiro de Alec Coppel e Samuel Taylor.

Falando em pesadelo, o filme, inicialmente tratado à pancadas pela crítica, foi tachado de "Um pesadelo em Technicolor." Não há melhor definição para esta obra do que esta. O filme é cheio de cores e tons. Na segunda metade do filme tende mais para o verde. Durante a sequência do pesadelo -- a minha favorita -- tende para o vermelho (repare nos inserts coloridos). As roupas que Madeleine (Novak) usa, principalmente o conjunto cinza, também tem seu significado. Nada neste pesadelo não tem a sua devida justificativa.


Mas tudo isso não seria útil sem a excelente atuação da dupla principal. James Stewart (em sua última colaboração com Hitchcock) faz um ótimo Scottie Ferguson. Um homem obcessivo e amargurado, frustrado, e com um enorme peso nas costas. Kim Novak merecia um parágrafo à parte. Seus transes, quando está sendo "possuída" pelo espírito são sensacionais. Barbara Bel Geddes está boa, mas num papel totalmente desnecessário.

Hitchcock faz aqui sua obra-prima. Apesar de ser difícil escolher uma entre tantos filmes exemplares. Mas já que temos que fazer isso, escolheremos esse, certo?

Antes que eu me esqueça: O filme já valeria a pena só pela sequência do título, feita pelo gênio Saul Bass.

Por Victor Bruno

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