quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Tango


Tango
Tango, no me dejes nunca, 1998
Dirigido por Carlos Saura
Roteiro de Carlos Saura
Com Miguel Ángel Solá, Cecilia Narova, Mía Maestro, Juan Carlos Copes, Carlos Rivarola e Sandra Ballesteros

O prestigiado cineata Carlos Saura resolveu fazer um filme que abordasse o tema do tango. Para tanto, ele escolheu uma trama, escrita por ele próprio, onde é narrada a história de um diretor que para seu próximo filme escolhe abordar o tema do tango. Nesse momento já é perfeitamente visível onde Saura pretende nos levar com sua obra. Porém, mais do que um filme sobre o tango ou sobre o filme dentro de um filme, a parceria entre Carlos Saura e o diretor de fotografia Victor Storaro torna de Tango um manifesto sobre a arte como um todo, em seus mais diversos aspectos.

A começar pelo cinema. Cinema esse que, tal como devido, tem o lugar de destaque na obra. Desde a primeira cena, em que o personagem Mario Suárez, visível alter-ego de Carlos Saura narra os acontecimentos ao mesmo tempo em que eles se sucedem sobre ele próprio, esse papel do cinema fica claro. Por toda a extensão da obra temos diálogos e monólogos de Suárez onde sentimos que sob aquela pele, na realidade se encontra o próprio Saura, em toda sua magnitude.

Desse ponto vamos para a dança, também foco do filme, tal como nota-se pelo título. Porém, ao invés da dança como uma mera representação corporal tal qual estamos habituados, temos aqui uma dança exercendo um verdadeiro papel como arte, na forma de expressão dos personagens através dela e na crítica social inserida na mesma. Vale ressaltar que todos os números musicais do filme se tratam nada mais do que ensaios para o filme dentro do filme.


Daí partimos para a música. Música essa que tem um foco, não de servir como suporte para a dança, mas sim de se expressar em conjunto com a mesma, em uma harmonia perfeita na qual uma vem complementando a outra. Uma demonstração de exímio artístico que se torna um deleite para qualquer espectador.

Outra arte de destaque é a arquitetura representada pela cenografia de estúdio e complementada pelo jogo de luz e sombra de Storaro, onde há um predomínio de cores quentes e fortes formando um contraste com tons mais frios, dando um tom todo especial e à parte ao filme.

A literatura vem representada através do drama presente na obra. Drama esse cujo foco principal é o triângulo amoroso entre o diretor e seu investidor e sua amada/protegida. Um triângulo amoroso até que comum, mas que ainda rende belos e profundos momentos.


O teatro surge tanto por ser a alma do cinema, centralizando todas as atuações, quanto pelo tom realmente teatral que a obra tem, ao se passar quase que inteiramente dentro de um estúdio de filmagem, durante ensaios para um filme.

Até mesmo as artes plásticas tem seu espaço na obra por meio das gravuras de Goya que servem de inspiração para o penúltimo ato musical do filme, onde é feita uma representação direta do terror infligido pela ditadura militar ao povo argentino.

Por se tratar de um filme com uma metalinguagem bem reforçada, Tango acaba por se tornar uma obra extremamente ousada. Um filme no qual seus simbolismos são explícitos, com os seus personagens discutindo as mensagens que o filme busca passar. Uma obra de arte no melhor sentido da palavra e uma das melhores abordagens sobre o real papel da arte no ser humano já feitos, Tango é uma obra essencial e uma excelente demonstração de como Carlos Saura é um dos grandes nomes do cinema mundial.

Por Jorge Balseiros *

Jorge Balseiros é um free-lancer para o Ornitorrinco Cinéfilo

1 comentários:

Quando bati o olho percebi que era fotografia do Storaro. O cara é um mestre.

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