Waking Life, 2001
Dirigido por Richard Linklater
Escrito por Richard Linklater
Com Milley Wiggins, Ethan Hawke, Julie Delpy
Dirigido por Richard Linklater
Escrito por Richard Linklater
Com Milley Wiggins, Ethan Hawke, Julie Delpy
Assistir Waking Life lembrou-me uma experiência que tive quando era mais novo. O sonho de todo garoto é ganhar um video-game, e nele jogar até que a ponta dos dedos só interessem aos historiadores, por que elas não estão mais lá. Um dia eu -- até que enfim -- ganhei o video-game. O que eu queria era a nova febre, um PlayStation 2. Eu me lembro perfeitamente: Estava no quintal de casa, onde um dia fora um campo de futebol. Minha mãe me chamou. Eu fui para a sala de estar, decorada com adereços natalinos. Estava embrulhado num papel de presente. Abri, e lá estava o PlayStation! Imediatamente, sem ao menos dizer "Obrigado", instalei o aparelho na TV, quando fui jogar, do nada apareceu o CD para inserir no console. Ué? Meus pais não compraram nenhum jogo, e se compraram, aonde eles estavam? Dentro do embrulho é que não é. Depois reparei que a luzinha que sai de dentro do botão resert era azul. Impossível. A luzinha do botão de resertar ou é verde ou vermelha, mas nunca azul.
E então eu acordei. Foi apenas um sonho. E uma das experiências mais frustrantes da minha vida. E olha que nem foi real.
Ou será que não? É isso que Linklater quer descobrir em sua pequena obra-prima Waking Life. O que é sonho? O que é realidade? Será que sonho e realidade são duas coisas em uma só? Como diriam em Além da Linha Vermelha (Terrence Malick, 1998), "Duas faces do mesmo rosto?" É impossível saber, mas mesmo assim ele nos convida a embarcar numa viagem com uma atmosfera "übermente" inteligente pelos sonhos de um garoto cujo nome nunca descobriremos -- assim como os nomes de todos as personagens da obra. Dentro dos sonhos, que são um território sem leis, completamente nonsense, nós vemos as personagens discutindo religião, filosofia, leis, a ordem, o caos, a morte e a vida. O filme não apresenta nenhuma trama, é só isso.
Linklater é extremamente ousado ao adotar esta estratégia para o seu filme. Filme que, aliás, me lembrou muito o supracitado Além da Linha Vermelha. Em ambos os filmes as personagens filosofam sobre a vida e a morte. A diferença é que Terrence Malick conseguiu encontrar uma história (no caso, a Batalha de Guadalcanal) para a sua obra. Linklater não. Se observado mal, o isso é uma infração gravíssima do diretor, 12 pontos na carteira. Mas, com um pouco mais de reflexão, você encontra uma justificativa: quando, homem, um sonho tem história? Você nunca percebeu que às vezes você está em uma determinada situação e, do nada, está em outra? Linklater percebeu isso, e inseriu com maestria em sua obra.
Entretanto isso mata totalmente o rítimo do filme, transformando-o em um filme para leão, maçante. Mas, isso não é problema, já que o filme está ali para reflexão, não para entretenimento. (O que explica perfeitamente o arrecadamento do filme: US$ 2.892.011,00.) Outro fator que leva o filme a ser ainda mais árduo é a utilização do Rotoscope, fazendo do filme uma animação gráfica. Pseudo-animação, aliás. Entretanto, apesar de tornar o filme árduo, como dito, é um grande acerto de Linklater. Nunca vi os sonhos serem tão bem representados em um filme (nem mesmo em A Origem). Pode até dar dor de cabeça, mas é um visual incrível. Onírico. Inconsistente. Dos sonhos.
Waking Life é um mosaico impressionante do nosso subconsciente. Nossas principais idéias vêm à tona quando estamos dormindo. Os nossos anseios e dúvidas só tem espaço na nossa vida quando estamos relaxados. É o supremo pensamento. Nós não gostamos de nos ouvir. Imagine quando você está nesta turbulência de pensamentos e não consegue sair, o que é o caso da personagem sem nome (Milley Wiggins). Ele vê as coisas mais sem sentido do mundo: um cara tocando fogo em si mesmo, filósofos, filmes sem sentido, etc. Milley interpreta com perfeição. Um rosto com a expressão de "Mas o que é isso?" Milley é o público que não aguenta aquela carga de informações voando em nossa direção.
Apesar de tudo o filme contém falhas, principalmente no que diz respeito às atuações e no Rotoscope. Observe a cena em que dois caras estão falando num filme que a personagem principal assiste: repare bem como Caveh (o cara da direita) gesticula exageradamente. Isso se deve ao fato dos efeitos inseridos durante suas gesticulações. Quando os efeitos param, ele continua com os exageros. Isso torna-se chato e desgastante, num filme que é desgastante por si só. Quanto ao Rotoscope, existem momentos em que as imagens são impossíveis de se compreender. Mas faz parte da experiência que é Waking Life.
No todo, o filme apresenta uma narrativa que deixaria Franz Kafka feliz. E se deixaria Kafka feliz, quem somos nós para criticar? Sinceramente, eu não sei. Só sei que da próxima vez que estiver dormindo, tente desligar um interruptor.
Nota: 4 estrelas em 5
Por Victor Bruno
E então eu acordei. Foi apenas um sonho. E uma das experiências mais frustrantes da minha vida. E olha que nem foi real.
Ou será que não? É isso que Linklater quer descobrir em sua pequena obra-prima Waking Life. O que é sonho? O que é realidade? Será que sonho e realidade são duas coisas em uma só? Como diriam em Além da Linha Vermelha (Terrence Malick, 1998), "Duas faces do mesmo rosto?" É impossível saber, mas mesmo assim ele nos convida a embarcar numa viagem com uma atmosfera "übermente" inteligente pelos sonhos de um garoto cujo nome nunca descobriremos -- assim como os nomes de todos as personagens da obra. Dentro dos sonhos, que são um território sem leis, completamente nonsense, nós vemos as personagens discutindo religião, filosofia, leis, a ordem, o caos, a morte e a vida. O filme não apresenta nenhuma trama, é só isso.
Linklater é extremamente ousado ao adotar esta estratégia para o seu filme. Filme que, aliás, me lembrou muito o supracitado Além da Linha Vermelha. Em ambos os filmes as personagens filosofam sobre a vida e a morte. A diferença é que Terrence Malick conseguiu encontrar uma história (no caso, a Batalha de Guadalcanal) para a sua obra. Linklater não. Se observado mal, o isso é uma infração gravíssima do diretor, 12 pontos na carteira. Mas, com um pouco mais de reflexão, você encontra uma justificativa: quando, homem, um sonho tem história? Você nunca percebeu que às vezes você está em uma determinada situação e, do nada, está em outra? Linklater percebeu isso, e inseriu com maestria em sua obra.
Entretanto isso mata totalmente o rítimo do filme, transformando-o em um filme para leão, maçante. Mas, isso não é problema, já que o filme está ali para reflexão, não para entretenimento. (O que explica perfeitamente o arrecadamento do filme: US$ 2.892.011,00.) Outro fator que leva o filme a ser ainda mais árduo é a utilização do Rotoscope, fazendo do filme uma animação gráfica. Pseudo-animação, aliás. Entretanto, apesar de tornar o filme árduo, como dito, é um grande acerto de Linklater. Nunca vi os sonhos serem tão bem representados em um filme (nem mesmo em A Origem). Pode até dar dor de cabeça, mas é um visual incrível. Onírico. Inconsistente. Dos sonhos.
Waking Life é um mosaico impressionante do nosso subconsciente. Nossas principais idéias vêm à tona quando estamos dormindo. Os nossos anseios e dúvidas só tem espaço na nossa vida quando estamos relaxados. É o supremo pensamento. Nós não gostamos de nos ouvir. Imagine quando você está nesta turbulência de pensamentos e não consegue sair, o que é o caso da personagem sem nome (Milley Wiggins). Ele vê as coisas mais sem sentido do mundo: um cara tocando fogo em si mesmo, filósofos, filmes sem sentido, etc. Milley interpreta com perfeição. Um rosto com a expressão de "Mas o que é isso?" Milley é o público que não aguenta aquela carga de informações voando em nossa direção.
Apesar de tudo o filme contém falhas, principalmente no que diz respeito às atuações e no Rotoscope. Observe a cena em que dois caras estão falando num filme que a personagem principal assiste: repare bem como Caveh (o cara da direita) gesticula exageradamente. Isso se deve ao fato dos efeitos inseridos durante suas gesticulações. Quando os efeitos param, ele continua com os exageros. Isso torna-se chato e desgastante, num filme que é desgastante por si só. Quanto ao Rotoscope, existem momentos em que as imagens são impossíveis de se compreender. Mas faz parte da experiência que é Waking Life.
No todo, o filme apresenta uma narrativa que deixaria Franz Kafka feliz. E se deixaria Kafka feliz, quem somos nós para criticar? Sinceramente, eu não sei. Só sei que da próxima vez que estiver dormindo, tente desligar um interruptor.
Nota: 4 estrelas em 5
Por Victor Bruno
1 comentários:
assisti uma vez, e gostei tanto que assisti denovo. e tenho ele até hoje aqui no meu computador. é um filme de iluminação plena, absolutamente sensacional, e apresenta, sem dúvida, perspectivas geniais para o entendimento da sociedade pós-moderna.
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