Eichmann
Eichmann, 2007
Dirigido por Robert Young
Roteiro de Snoo Wilson
Com Thomas Kretschmann, Troy Garity, Franka Potente, Stephen Fry
Durante a história, determinados indivíduos foram decisivos no curso dos acontecimentos humanos. Muitos são conhecidos por todos, como Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler. Outros se escondem nas sombras da história, e em geral só são lembrados por estudiosos determinados assuntos. Um destes homens é Adolf Eichmann. Para quem não ligou o nome à pessoa, Eichmann foi um dos principais idealizadores e realizadores da Solução Final durante a Segunda Guerra Mundial, momento a partir do qual, no ano de 1942, foi acelerada a política de extermínio nos campos de concentração.
O filme de Robert Young aborda um determinado momento na vida deste homem, quando ele é capturado na Argentina, aonde vivia escondido com sua família como apátrida (um homem sem nacionalidade), e levado para ser julgado em Israel. Durante o filme, acompanhamos todo o processo do interrogatório deste homem. Por um lado, seus argumentos absurdos, na tentativa desesperada de se defender de um crime indefensável; por outro, o despsero por parte das autoridades israelenses, e principalmente do interrogador Avner Less, em conseguir uma confissão o mais rápido possível, que o pudesse condenar a morte, como de fato foi.
A estrutura em si do filme é absolutamente burocrática. Temos três eixos de ação: o interrogatório de Eichmann; os flashbacks muito breves de acontecimentos anteriores da vida do oficial nazista, que não acrescentam praticamente nada à trama; e os conflitos pessoais do interrogador Avner com sua família (sua esposa, por exemplo, descobre que sofre de paralisia) e as autoridades de Israel. O diretor Robert Young não propõe nehuma inovação, e insiste bastante nos zooms nos rostos e nas expressões dos atores.
Entretanto, se a direção é apenas regular, o roteiro de Snoo Wilson é interessante. Baseado em relatórios oficiais do interrogatório e do julgamento de Eichmann (que também foram utilizados em uma das maiores obras-primas do pensamento político da humanidade, "Eichmann em Jerusalém - um relato sobre a Banalidade do Mal", de Hannah Arendt), ficamos de certa forma espantados com a hipocrisia deste homem em sua defesa. É de fato notável que, mesmo diante de provas contundentes (assinaturas em documentos oficiais, por exemplo), de seu envolvimento no Holocausto, Eichamnn continua utilizando um argumento que foi muito comum também nos julgamentos de Nuremberg: afirma que apenas cumpriu ordens superiores, de Hitler. É claro que este merece a alcunha de um dos maiores monstros que já exisitram, mas o interrogador Avner mostra claramente que, por diversas vezes, Eichmann agiu com completa autonomia em relação ao ditador e também em relação ao seu chefe direto, Heinrich Himmler, chefe das SS. Assim, o filme nos possibilita perceber até onde vai o cinismo e a hipocrisia do ser humano.
A atuação do competente Thomas Kretschmann (talvez mais conhecido por aqui pelo seu papel em "O Pianista") nos permite delinear algumas facetas deste personagem. É claro que há um total esforço do filme em mostrar a crueldade deste homem, ao mesmo tempo em que ele aparece como alguém capaz de manter um relacionamento com uma judia! Kretshmann, talvez um dos melhores atores alemães em atividade, investe nas expressões carracundas, com poucos sorrisos, apresentando Eichamnn como um indivíduo calmo durante o seu interrogatório, apesar de tudo (como de fato, ele permaneceu também durante todo seu julgamento). Do restante do elenco, temos o desconhecido Troy Garity, que é totalmente ofuscado por Kretshmann em todas as suas cenas juntos; e os conhecidos Stephen Fry ( de "V de Vingança") e Franka Potente (de "Corra Lola, Corra"), como o Mininstro Tomer e Vera Less, sem muito espaço para se destacarem, mas apresentando atuações convincentes.
Assim, o filme "Eichmann" não deixa de ser uma biografia quase convencional, abordando um determinado momento na vida deste personagem histórico. Entretanto, apresenta reflexões interessantes sobre a natureza do ser humano e os limites (ou melhor, a falta destes) de suas ações. Merece ser conferido.
Nota: 3 estrelas em 5
Por Douglas Braga
0 comentários:
Postar um comentário