segunda-feira, 4 de outubro de 2010

E ela falou: "Digamos que este não é um filme clichê"

Nesta sexta feira tive uma pequena experiência. Eu diria que foi no mínimo estranha. Duas garotas -- minha prima e uma amiga nossa -- estavam aqui. Papo vai, papo vem, minha prima acabou se lembrando de uma passagem de Os Infiltrados (Martin Scorsese, 2006). Era a cena em que Costello (Jack Nicholson) "interroga" o Costingan (Leonardo DiCaprio), utilizando "métodos não convencionais". Como bom fã de Scorsese, disse que era um dos meus prediletos dele (foi o calor do momento), e que tinha o DVD em casa.

Fomos assistir o filme.

Não poderia ser uma experiência mais estranha. Elas são fãs da "Saga" Crepúsculo.

O horror. O horror.

Mas o que eu poderia fazer? O filme tem um grande atrativo para essas duas meninas em questão: o fator Leonardo DiCaprio. De quebra tem Matt Damon.

Fomos assistir no quarto. Liguei a TV, o home theater. Assistimos a abertura...

Honestamente eu estava tenso. Duas fãs de Crepúsculo do meu lado, assistindo um Scorsese. Mesmo que não seja o melhor do Scorça, é um grande salto, como diria Neil Armstrong. Não só para elas, mas como para humanidade. Uma nova experiência para duas fãs de um cinema... OK, Twilight não é cinema. (Sinto muito, crepusculetes.)

Eu devo dizer que subestimei a inteligência, intelecto e capacidade de interpretação das meninas. Aliás, subestimei tudo o que poderia ser subestimado nelas. Mas o que eu posso fazer, não tem o Robert Pattinson e o Taylor Lobão passando no aspect ratio de 2:35.1 do filme. Salvo algumas partes que tive que explicar calmamente o que não ficou compreensível para elas (embora estivesse extremamente claro, claro como o dia, para mim), e outras que eu precisei acorda-las. Fora isso, tudo bem.

Esse tudo bem, aparentemente tão banal agora, me pegou de surpresa. A primeira experiência delas com um Scorsese não poderia ser assim tão boa. Tem que ter algo errado nisso!

E teve. A cena do elevador.

Eu fui me lembrar disso tarde demais.

Quando a porta do elevador que DiCaprio estava com a personagem do Damon se abriu e a sua cabeça explodiu foi um ponto de virada na minha experiência. A princípio eu escutei um suspiro de surpresa, da nossa amiga. Depois a voz da minha prima "tocou o som do silêncio", como diria a música.

"Filme ruim!"

Depois disso não importava mais para as duas. O DiCaprio morreu! Meu Deus, como poderia lidarem com isso? Felizmente elas se acalmaram no final, quando o Matt Damon morre (e todo mundo morre, também).

Mas a noite das duas estava arruinada. O herói estava morto. Elas não estão acostumadas a esse tipo de filme, onde o "mal triunfa" (o que não é o caso deste. É só uma questão de interpretação). Mas não importava. Eu escutei uns cinco minutos de explicação da minha prima, blá, blá, blá... Até que o crítico de cinema xiita que existe em mim explodiu, e disse:

"Você está querendo matar o filme inteiro por causa de UMA CENA, por que o p**** do DiCaprio morreu! Não é um filme do tipo que o bonzinho vive no final!"

E é verdade. Mas, isso importava para ela? Ela faz parte da filosofia que diz que a realidade já é suficientemente ruim, então por que assistir um filme que é um espelho da realidade? (Eis uma explicação para a onda "Crepúsculo e afins".)

Eis que a nossa amiga (não vou citar o nome de nenhuma das duas) falou algo sensacional. Talvez a melhor explicação para este tipo de filme que Scorsese faz. E ela falou: "Digamos que não é um filme clichê."

Silêncio. Senti uma onda de alegria por dois motivos: 1) Ao contrário do que eu pensava, crepusculetes têm senso de observação. 2) Ela não dormiu durante o filme.

E assim a minha noite terminou feliz. Ela havia filosofado o filme e -- aparentemente -- não ficou tão afetada com a morte do DiCaprio.

Então o carro do seu irmão chegou. Nós nos despedimos. Ela entrou no carro e saiu enquanto eu ostentava um riso de orelha à orelha.

Por Victor Bruno

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