Into the Wild, 2007
Dirigido por Sean Penn
Roteiro de Sean Penn (baseado no livro "Into the Wild" de John Krakauer)
Com Emile Hirsch, Catherkine Keener, William Hurt, Marcia Gay Harden, Vince Vaungh, Brian Dierker, Jena Malone, Hal Holbrook, Kristen Stewart
Christopher McCandless foi acima de tudo um filósofo. Impulsionado por uma sede de liberdade insaciável ele fez a viagem da sua vida. Uma viagem de auto-conhecimento e desespero pelos Estados Unidos. Quando termina-se de ver uma das obras-primas da primeira década do século XXI, este Na Natureza Selvagem, você se pergunta "O que foi isso?!" Pelo menos foi o que aconteceu comigo. O roteirista e diretor Sean Penn nos presenteou com um filme de 2h20 coisas quase raras de se encontrar no cinema atual: belas imagens, que nos são apresentadas sem pressa alguma, e um filme filosófico que ousa descascar seu protagonista. Estes dois fatores são quase uma receita para o desastre que nenhum produtor nem ousa sonhar nos seus piores pesadelos: fracasso de bilheteria. Não foi o caso aqui.
Ao meu ver, apenas dois diretores conseguiram filmar cenas da natureza com perfeito brilhantismo: o inglês David Lean e o americano Terrence Malick. Sean Penn (que trabalhou com Terrence no monumental Além da Linha Vermelha) bebe da mesma fonte deste último e pincela com profunda melancolia um filme quase perfeito. Na última década pouquíssimos filmes puderam nos brindar com belas imagens. Alguns deles são O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, O Novo Mundo e olhe lá. Só que mais raro ainda é nos trazer imagens belíssimas com algum conteúdo. Dos dois, apenas O Novo Mundo consegue isso (O Assassinato... é uma obra-prima por outros méritos). E O Novo Mundo é do supracitado Terrence Malick.
Mas por que estou iniciando esta crítica já enchendo o filme de elogios sem ao mesmo lhe dizer qual a trama desta obra? Por que o filme é bom, ora bolas! Mas, vamos aos fatos: Into the Wild nos trás a história verídica do jovem Christopher McCandless. Ele se forma na Universidade Emory e, quase imediatamente, doa tudo o que tem -- 24 mil dólares -- para a caridade e parte numa viagem de auto-conhecimento pelos EUA em um Datsun ferrado.
Deste jeito o filme parece bobo. Quantos mil filmes já não foram feitos com pessoas atrás de auto-conhecimento? Neste ano mesmo houve o lançamento de um filme de auto-conhecimento -- este sim bobo: Comer, Rezar, Amar. A diferença deste filme para qualquer outro sobre este assunto é que Christopher não vai atrás de uma filosofia, mas sim a sua filosofia idiosincrática o impulsiona nesta jornada. Ele quer se livrar de todo o materialismo -- estúpido, ao seu ver -- do mundo moderno. Ele quer seguir as sugestões e as filosofias de autores como Tolstói, Thoureau e London. Todos os três pregavam uma filosofia de vida em que a natureza deve ser o centro do mundo.
Agora sua visão do filme deve ser outra. "Poxa, deve ser um filme chato pra caramba... filosofia... essas coisas... pra quê nós vamos precisar disso na vida?", certo? Errado. O filme não é chato em nenhum segundo. Sean Penn mostra-se um diretor talentosíssimo neste filme. Penn consegue carregar nas costas um filme que se tornaria uma experiência massacrante nas mãos de outro diretor. Ele com sua direção mágica e um roteiro maravilhoso desvenda magistralmente as camadas psicológicas de McCandless. Seus pensamentos, suas virtudes, seus defeitos... Os voice-overs que se alternam entre Chris e sua irmã Carine são carregados de emoções e filosofia. O filme já valeria só por eles. Aliás, as narrações compartilhadas entre várias personagens foram mais um fator que me recordaram os filmes de Terrence Malick.
Outro fator que deixa o filme ainda melhor, e mais rápido, é a edição excelente de Jay Cassidy, que foi indicado ao Oscar em 2007, mas perdeu para um filme igualmente belo e bem editado: Sangue Negro do mestre Paul Thomas Anderson. Além disso, como já dito, a fotografia de Eric Gautier é perfeita. Primeiramente ela é bem documental -- principalmente nas cenas no Ônibus Mágico. Depois ela se torna contemplativa... contemplativa... contemplativa... e desesperadora.
Emile Hirsch está no papel da sua vida. Eu nem precisaria comentar o quão bom ele está aqui. Hirsch está absurdamente autêntico como Christopher McCandless (ou Alexander Supertramp, depende da cena). Suas falas, quase sempre poéticas, não se tornam mortas ou teatrais, mas sinceras em sua proposta. Na cena em que cita Thoreau sente-se a força da sua atuação. "Mais que amor, dinheiro, fama, justiça; dê-me a verdade." É bom frisar que Hirsch teve o acompanhamento da família McCandless na composição da sua personagem. Outra coisa interessante de se observar é como a aparência de Hirsch muda ao decorrer do filme. Nas cenas da praia e do reencontro com Jan, ele parece mais jovem. Depois, nas cenas em que está faminto e sofrendo -- e ele sofre pra caramba --, Hirsch lembra as feições de... Cristo (!).
Para acompanhar Hirsch/McCandless em sua jornada, o filme tem coadjuvantes com nomes de peso e interpretações igualmente fantásticas. Marcia Gay Harden faz uma ótima Billie McCandless, a mãe de Chris. Uma mulher oprimida pelo marido arrogante e violento. Este monstro é interpretado eficientemente por William Hurt. No seio familiar ainda temos a irmã de Chris, Carine, que não aparece muito na trama, mas tem uma participação de peso na narração. Carine é, sem dúvida "a única pessoa que poderia compreender Chris." Vince Vaungh nem de longe lembra o péssimo comediante que é, Keener está excelente como Jan, a personificação hippie da mãe do protagonista, que também tem um filho que fugiu de casa.
O bom de ser cinéfilo é que você pode ser surpreendido com os filmes. Eles podem influenciar seu modo de vida (e este foi um deles para mim). Ou simplesmente por atuações e atores. Este aqui me reservou uma grata surpresa: Kristen Stewart. Como assim?! A menina mordedora de lábios de Crepúsculo pode me agradar? Ela pode ter uma boa atuação?! Claro, filho! Seu jeito apagado e tristonho cai como uma luva na jovem cantora Tracy T. Aliás, Kristen está tão doce e adorável aqui que eu fiz questão de pesquisar sobre a real Tracy T. na Internet e achei uma foto dela no set de gravações. (Post acima.)
No cinema recente poucos filmes tem a ousadia de pesquisar a psicologia das suas personagens. Neste filme podemos ver como a maldade e a má criação que os pais podem dar ao filho influenciam-no nas decisões a serem tomadas em seu futuro. É este o caso aqui. Chris quer a liberdade que não teve, e a vida que lhe foi negada pelos pais -- ou melhor, o pai -- na sua infância. Sua jornada beira a crueldade, por negar, agora ele, notícias. Uma jornada trágica, mas que muda. Quando, na cena do rafting, um turista diz "Ponha o capacete!" e Chris não dá ouvidos, a justificativa é única e simples: Ele quer sentir o vento nos cabelos, droga!
Nota: 5 estrelas em 5.
Por Victor Bruno
P.S.: No filme, Christopher sente saudades da linda e adorável Tracy T. interpretada por Kristen Stewart. Somos dois. Mas eu sinto falta mesmo é da boa atuação (que aparentemente nunca mais voltará) de Kristen neste filme. Ela faz basicamente a mesma coisa aqui e em Crepúsculo, com uma única diferença: ela deixou de se oferecer para mochileiros-filósofos e foi tentar a sorte com vampiros e lobisomens.
Dirigido por Sean Penn
Roteiro de Sean Penn (baseado no livro "Into the Wild" de John Krakauer)
Com Emile Hirsch, Catherkine Keener, William Hurt, Marcia Gay Harden, Vince Vaungh, Brian Dierker, Jena Malone, Hal Holbrook, Kristen Stewart
Christopher McCandless foi acima de tudo um filósofo. Impulsionado por uma sede de liberdade insaciável ele fez a viagem da sua vida. Uma viagem de auto-conhecimento e desespero pelos Estados Unidos. Quando termina-se de ver uma das obras-primas da primeira década do século XXI, este Na Natureza Selvagem, você se pergunta "O que foi isso?!" Pelo menos foi o que aconteceu comigo. O roteirista e diretor Sean Penn nos presenteou com um filme de 2h20 coisas quase raras de se encontrar no cinema atual: belas imagens, que nos são apresentadas sem pressa alguma, e um filme filosófico que ousa descascar seu protagonista. Estes dois fatores são quase uma receita para o desastre que nenhum produtor nem ousa sonhar nos seus piores pesadelos: fracasso de bilheteria. Não foi o caso aqui.
Ao meu ver, apenas dois diretores conseguiram filmar cenas da natureza com perfeito brilhantismo: o inglês David Lean e o americano Terrence Malick. Sean Penn (que trabalhou com Terrence no monumental Além da Linha Vermelha) bebe da mesma fonte deste último e pincela com profunda melancolia um filme quase perfeito. Na última década pouquíssimos filmes puderam nos brindar com belas imagens. Alguns deles são O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, O Novo Mundo e olhe lá. Só que mais raro ainda é nos trazer imagens belíssimas com algum conteúdo. Dos dois, apenas O Novo Mundo consegue isso (O Assassinato... é uma obra-prima por outros méritos). E O Novo Mundo é do supracitado Terrence Malick.
Mas por que estou iniciando esta crítica já enchendo o filme de elogios sem ao mesmo lhe dizer qual a trama desta obra? Por que o filme é bom, ora bolas! Mas, vamos aos fatos: Into the Wild nos trás a história verídica do jovem Christopher McCandless. Ele se forma na Universidade Emory e, quase imediatamente, doa tudo o que tem -- 24 mil dólares -- para a caridade e parte numa viagem de auto-conhecimento pelos EUA em um Datsun ferrado.
Deste jeito o filme parece bobo. Quantos mil filmes já não foram feitos com pessoas atrás de auto-conhecimento? Neste ano mesmo houve o lançamento de um filme de auto-conhecimento -- este sim bobo: Comer, Rezar, Amar. A diferença deste filme para qualquer outro sobre este assunto é que Christopher não vai atrás de uma filosofia, mas sim a sua filosofia idiosincrática o impulsiona nesta jornada. Ele quer se livrar de todo o materialismo -- estúpido, ao seu ver -- do mundo moderno. Ele quer seguir as sugestões e as filosofias de autores como Tolstói, Thoureau e London. Todos os três pregavam uma filosofia de vida em que a natureza deve ser o centro do mundo.
Agora sua visão do filme deve ser outra. "Poxa, deve ser um filme chato pra caramba... filosofia... essas coisas... pra quê nós vamos precisar disso na vida?", certo? Errado. O filme não é chato em nenhum segundo. Sean Penn mostra-se um diretor talentosíssimo neste filme. Penn consegue carregar nas costas um filme que se tornaria uma experiência massacrante nas mãos de outro diretor. Ele com sua direção mágica e um roteiro maravilhoso desvenda magistralmente as camadas psicológicas de McCandless. Seus pensamentos, suas virtudes, seus defeitos... Os voice-overs que se alternam entre Chris e sua irmã Carine são carregados de emoções e filosofia. O filme já valeria só por eles. Aliás, as narrações compartilhadas entre várias personagens foram mais um fator que me recordaram os filmes de Terrence Malick.
Outro fator que deixa o filme ainda melhor, e mais rápido, é a edição excelente de Jay Cassidy, que foi indicado ao Oscar em 2007, mas perdeu para um filme igualmente belo e bem editado: Sangue Negro do mestre Paul Thomas Anderson. Além disso, como já dito, a fotografia de Eric Gautier é perfeita. Primeiramente ela é bem documental -- principalmente nas cenas no Ônibus Mágico. Depois ela se torna contemplativa... contemplativa... contemplativa... e desesperadora.
Emile Hirsch está no papel da sua vida. Eu nem precisaria comentar o quão bom ele está aqui. Hirsch está absurdamente autêntico como Christopher McCandless (ou Alexander Supertramp, depende da cena). Suas falas, quase sempre poéticas, não se tornam mortas ou teatrais, mas sinceras em sua proposta. Na cena em que cita Thoreau sente-se a força da sua atuação. "Mais que amor, dinheiro, fama, justiça; dê-me a verdade." É bom frisar que Hirsch teve o acompanhamento da família McCandless na composição da sua personagem. Outra coisa interessante de se observar é como a aparência de Hirsch muda ao decorrer do filme. Nas cenas da praia e do reencontro com Jan, ele parece mais jovem. Depois, nas cenas em que está faminto e sofrendo -- e ele sofre pra caramba --, Hirsch lembra as feições de... Cristo (!).
Para acompanhar Hirsch/McCandless em sua jornada, o filme tem coadjuvantes com nomes de peso e interpretações igualmente fantásticas. Marcia Gay Harden faz uma ótima Billie McCandless, a mãe de Chris. Uma mulher oprimida pelo marido arrogante e violento. Este monstro é interpretado eficientemente por William Hurt. No seio familiar ainda temos a irmã de Chris, Carine, que não aparece muito na trama, mas tem uma participação de peso na narração. Carine é, sem dúvida "a única pessoa que poderia compreender Chris." Vince Vaungh nem de longe lembra o péssimo comediante que é, Keener está excelente como Jan, a personificação hippie da mãe do protagonista, que também tem um filho que fugiu de casa.
O bom de ser cinéfilo é que você pode ser surpreendido com os filmes. Eles podem influenciar seu modo de vida (e este foi um deles para mim). Ou simplesmente por atuações e atores. Este aqui me reservou uma grata surpresa: Kristen Stewart. Como assim?! A menina mordedora de lábios de Crepúsculo pode me agradar? Ela pode ter uma boa atuação?! Claro, filho! Seu jeito apagado e tristonho cai como uma luva na jovem cantora Tracy T. Aliás, Kristen está tão doce e adorável aqui que eu fiz questão de pesquisar sobre a real Tracy T. na Internet e achei uma foto dela no set de gravações. (Post acima.)
No cinema recente poucos filmes tem a ousadia de pesquisar a psicologia das suas personagens. Neste filme podemos ver como a maldade e a má criação que os pais podem dar ao filho influenciam-no nas decisões a serem tomadas em seu futuro. É este o caso aqui. Chris quer a liberdade que não teve, e a vida que lhe foi negada pelos pais -- ou melhor, o pai -- na sua infância. Sua jornada beira a crueldade, por negar, agora ele, notícias. Uma jornada trágica, mas que muda. Quando, na cena do rafting, um turista diz "Ponha o capacete!" e Chris não dá ouvidos, a justificativa é única e simples: Ele quer sentir o vento nos cabelos, droga!
Nota: 5 estrelas em 5.
Por Victor Bruno
P.S.: No filme, Christopher sente saudades da linda e adorável Tracy T. interpretada por Kristen Stewart. Somos dois. Mas eu sinto falta mesmo é da boa atuação (que aparentemente nunca mais voltará) de Kristen neste filme. Ela faz basicamente a mesma coisa aqui e em Crepúsculo, com uma única diferença: ela deixou de se oferecer para mochileiros-filósofos e foi tentar a sorte com vampiros e lobisomens.
1 comentários:
baixando!!
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