domingo, 17 de outubro de 2010

Hamlet

Hamlet

Hamlet, 1996
Dirigido por Kenneth Branagh
Adaptado para as telas por Kenneth Branagh (baseado na peça de William Shakespeare)
Com Kenneth Branagh, Derek Jacobi, Julie Christie, Nicholas Farrell, Kate Winslet

É interessante. Desde que existe o cinema existem adaptações de livros e peças (sendo o mais comum as adaptações do primeiro ítem citado). Aliás, o cinema como entretenimento nasceu nas adaptações feitas pelo mágico-cineasta George Mélies. Desde então vão-se aí milhares de obras transpostas para o cinema pelos mais variados cineastas. Mas com certeza nenhuma peça ou filme foi tão mal adaptada para o cinema como a obra-prima de William Shakespeare, Hamlet.

A obra já foi passada para o cinema por seis vezes pelos seguintes diretores: Lawrence Olivier, Grigori Kositsev, Tony Richardson, Franco Zefirelli, Kenneth Branagh e Michael Almereyda. Nenhum dos diretores acima, salvo Brannagh e Olivier (dois especialistas em Shakespeare), tratou a peça do modo como ela deva ser tratada: preservando os monólogos existencialistas que suas personagens travam consigo mesmas e dirigindo com a delicadeza que deve ser tomada. Zeffirelli, grande cineasta italiano, que já tinha dirigido um filme baseado em peça de Shakespeare (Romeu e Julieta, 1968), fez em 1990 uma adaptação horrorosa, estrelada por Mel Gibson e Glenn Close. Como já dito, Branagh e Olivier são os únicos que realmente fizeram um serviço bonito para a mais bela obra de Shakespeare.


Mas... estou divagando. Vamos à história. Hamlet (Branagh) é o jovem príncipe da Dinamarca. Seu pai morreu há quatro meses de uma forma misteriosa. Seu tio, Claudius (Derek Jacobi), casou-se sua mãe (o que caracteriza-se como incesto) e agora é o rei do país. Os problemas aumentam quando o espírito do pai de Hamlet passa a fazer aparições noturnas, assustando os guardas. Quando o jovem príncipe vai averiguar o que está acontecendo, ele descobre que seu pai foi, na realidade, assassinado pelo irmão. De quebra, o espírito ainda pede que Hamlet mate o seu assassino. (OK, vai dizer que ninguém sabe qual é a trama da peça?)

É muito difícil comentar o filme já que... já que Branagh basicamente copia e cola o texto de Shakespeare. Texto, aliás aberto a diversas interpretações. Shakespeare critica os ricos e poderosos, os casamentos arranjados. Se nós formos aqui comentar o roteiro do filme, estarei comentando a peça. O que, obviamente, não é nosso objetivo aqui. (Até por que é doloroso falar mal de Shakespeare.)

O filme apresenta uma direção grandiosa por parte de Kenneth Branagh. Mas ele não é de todo perfeito. Aliás, durante os 30, 40 primeiros minutos Branagh peca insessantemente na direção. A impressão que passa durante este tempo é que ele, sinceramente, não sabia o que fazer (!). Mas num filme que dura quase quatro horas isto não é um pecadilho. Branagh dirige com uma elegância soberba. As imagens são de uma elegância única e o diretor mostra grande respeito e adimiração para a obra do maior dramaturgo que jamais existiu. A fotografia em 70mm é grandiosa. Branagh força os atores à voltar para as origens teatrais, fazendo-os recitar (sim, eles recitam, literalmente) o texto em um único take.


O próprio diretor encabeça um elenco de luxo, seguido por Kate Winslet, Derek Jacobi, Julie Christie. As interpretações são magníficas. Num texto difícil e cheio de monólogos existencialistas, nenhum dos atores fazem as palavras soarem falsas. Culpa da abordagem essencialmente teatral do diretor (ponto para Branagh). Julie Christie carrega durante o filme inteiro um olhar pesaroso, carregado de culpa. Winslet faz uma Ofélia excelente (as cenas em que ela está fora de si são as melhores dela no filme). Derek Jacobi está melhor do que nunca, construindo um Claudius que... bom, mais canalha impossível. E finalmente chegamos a Branagh... ah... o que é Branagh neste filme! O melhor Hamlet no cinema desde Lawrence Olivier, e olha que ser comparado a Sir Lawrence não é pouca coisa.

William Shakespeare's Hamlet, como nos informa o título completo da obra, tem outros fatores que nos leva a adimirar esta maravilha de quatro horas. A direção de arte é soberba. Só o salão do trono, onde boa parte do filme acontece, é de encher os olhos. Observe o cuidado com que o set foi construído. O piso xadrez, as portas espelhadas... lindo. Lindo. A fotografia de Alex Thomson, como já dito, também é maravilhosa. Volto a repetir, Branagh não poderia ter feito escolha melhor quando decidiu gravar em 70mm (às vezes emulando o mestre David Lean). Infelizmente o filme não é perfeito (como é difícil se alcançar a perfeição!). O único defeito realmente considerável é a trilha sonora de Patrick Doyle que, por vezes, aparece quando deveríamos ouvir o som do silêncio. Outro problema do filme também é a personagem Fortimbrás, que não faz diferença alguma na trama. Poderia ser perfeitamente cortada, mas, como já dito, Branagh faz um CTRL+C, CTRL+V da peça.

Para amantes de Shakespeare ou não, é um filme obrigatório para quem quer conhecer o bom cinema. Nada pode se comparar a escutar "Ser ou não ser. Eis a questão" em Super Panavision 70.

Nota: 5 estrelas em 5.

Por Victor Bruno

1 comentários:

eu assisti o do olivier a uns anos atrás.. poha 5 estrelas? e eu sou fãzaço do hmalet.. então vou ter que baixar tb.

o othelo que eu assisti achei legal tb.. mas não lembro quem dirigiu...

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More