sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O Fim da Escuridão

O Fim da Escuridão

Edge of Darkness, 2010
Dirigido por Martin Campbell
Roteiro de William Monahan e Andrew Bovell (baseado na série escrita por Troy Kennedy Martin)
Com Mel Gibson, Ray Winstone, Bojana Novakovic, Danny Houston, David Aaron Baker

Poucas vezes na minha vida pude ver um exemplar cinematográfico como este O Fim da Escuridão. É um exemplo perfeito, mas perfeito, de como uma pessoa pode pegar todo um potencial de um projeto e jogar pela lata de lixo como se fosse qualquer coisa. Faltou pouco, mas muito pouco, para este filme entrar na minha lista de horas perdidas (e olha que eu já vi muito filme que poderia entrar para este "grupo de seletos").

Fui asssistir este retorno de Mel Gibson (Mad Max, O Patriota) ao posto de ator com grandes esperanças. 1) É o retorno de Mel. 2) Escrito pelo ganhador do Oscar William Monahan, de Os Infiltrados (Martin Scorsese, 2006). Sem contar no sempre eficiente Ray Winstone. Apesar de tudo isso, com uma hora de filme eu já olhava para o meu relógio me perguntando "Por que, meu Deus, por que?". Bem, eu não posso me culpar. Fui uma vítima das circunstâncias. Na vida minha de cinéfilo e de crítico (e na de todos os cinéfilos e críticos) assistir a filmes ruins são ossos do ofício. E eles sempre estarão lá.

Mas estou divagando. A trama deste filme é incrívelmente clichê, mas, paradoxalmente interessante. (O clichê só vira clichê quando mal utilizado.) A obra tinha tudo para ser um thriller inteligente, interessante, mas... bom, virou o que é.


Thomas Craven (Gibson) é um policial que está recebendo sua filha Emma (Bojana Novakovic) formada no MIT de visita, após muito tempo. Ela está trabalhando para uma grande empresa que mexe com energia nuclear e está sempre pronta para "abastecer o presidente quando ele precisar". Ao chegar em casa Emma passa mal, vomita e tem de ir ao médico. Quando pai e filha estão na varanda, um sujeito grita "Craven!" e dispara com uma escopeta. O tiro atinge Emma, que voa (literalmente), e morre. A partir de então Craven vai lutar para descobrir o que aconteceu com sua filha, quem, supostamente, tentou lhe matar. Quanto mais Craven avança em sua investigação, mais ele descobre que tudo aquilo foi uma sucessão de erros e um enrolado sistema de maracutaias.

Como dito anteriormente, o filme é um clichê de primeira. Não há absolutamente nada aqui que já não tenha sido explorado anteirormente por qualquer outro filme de ação, suspense, etc. "Um homem tem que enfrentar um pesado sistema de fraudes dentro do Governo." "Homem perde sua família e vai em busca de vingança." Todas essas bobajadas já foram vistas e re-vistas à exaustão por Hollywood, o que apresenta uma dificuldade ainda maior para Hollywood fazer algo interessante e convincente. Ou, ao menos, que não seja entretenimento descerebrado para as massas. O povo merece mais que pão e circo.

Mas o interessante é que nem mesmo entretenimento descerebrado o filme consegue ser. Culpa do roteiro mal escrito por Monahan e Bovell. Monahan acabara de sair do Oscar de Melhor Roteiro por um filme com uma temática parecida, mas que explora muito melhor as personagens do que a história em si. Estou falando de Os Infiltrados. Se Monahan tivesse feito aqui o que fez com o filme dirigido por Scorsese... ah, meu jovem, o resultado seria bem diferente...


Bom, já que Monahan não o fez, Martin Campbell (A Máscara do Zorro, Cassino Royale), o diretor, poderia ao menos ter a decência de melhorar o que tinha em mãos, fazendo um filme mais ágil e interessante. Entretanto...

...Entretanto o filme é lento, chato, desenvolvimento arrastado... arrastadíssimo, aliás. Nada está em harmonia em O Fim da Escuridão. E quando eu digo nada, é nada mesmo. Mesmo quando havia uma salvação para a direção pedestre de Campbell, isso não foi feito. A edição de Stuart Baird é uma das coisas mais horrorosas que já vi. A impressão que dá é que tudo foi editado no Movie Maker, e que não passou de uma simples colagem das imagens na ordem em que elas foram filmadas.

Eu poderia me estender muito mais aqui... ainda há muito o que ser criticado. Exempli gratia: As mortes extremamente exageradas deste filme. Olha só o pulo que Emma dá quando recebe o tiro fatal. Ou no final do filme, quando a personagem de Winstone atiram alguém: a vítima dá um giro de 360º em cima do sofá!

Felizmente tudo tem seu lado oposto. Neste caso são as atuações, principalmente a de Ray Winstone, fazendo um misterioso Jedburg. Um sujeito misterioso, que sempre está nos lugares, chegando como uma raposa silenciosa. Um rapaz quase onisciente. Tudo bem, às vezes dá a impressão que ele esta imitando o Marlon Brando em O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola, 1972), mas já que é para imitar, imitemos do melhor.

Mel Gibson está longe, muito longe, de estar ao seu nível. OK, ele nunca foi grande ator. Teve boas personagens, e, em sua grande maioria, eram homens parecidos com este Craven. Mas nem de muito longe este rapagão que ele interpreta vai nos lembrar de um Mad Max (numa má comparação). Lamentável retorno para Gibson.

O fato é que O Fim da Escuridão nasceu para nos dar uma única lição: Tudo é proibido em Massachusetts.

Nota: 2 estrelas em 5.

Por Victor Bruno

4 comentários:

Particularmente, adorei este O Fim da Escuridão. Vi no cinema (uhu!!!), e achei bastante interessante. É inegável que é um filme clichê, mas debaixo de todas as obviedades, o filme guarda idéias interessantes. E Mel Gibson está excelente! Desde já, um dos melhores de ação deste ano.

Na verdade, Rafael, existe um determinado ponto no filme em que achei-o inteligente. Mas esta impressão logo passou.

Sei lá, eu gostei da condução do filme, o modo como as coisas foram se interligando e tudo... Me gradou bem mais do que muitos filmes policiais que vem sendo lançados atualmente.

Filme muito bom que serve como uma excelente crítica social... deixa a ação em sí para segundo plano, e prioriza os sentimentos de um homem capaz de tudo pela sua filha... A cena final foi demais...
'' no fundo... vc sabe que merece isto''.

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