sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Elizabeth - A Era de Ouro

Elizabeth- A Era de Ouro

Elizabeth - The Golden Age, 2007
Dirigido por Shekhar Kapur
Roteiro de William Nicholson e Michael Hirst
Com Cate Blanchett, Geoffrey Rush, Jordi Mollà, Clive Owen, Samantha Morton







A vida de personagens históricos é constantemente abordada no cinema, em filmes de cunho biográfico, mas que, de forma geral, não têm qualquer tipo de compromisso com os fatos. Algumas vezes, temos bons resultados, como "O Homem que não Vendeu sua Alma" e, em outros, resultados absolutamente medíocres, caso deste "Elizabeth- A Era de Ouro", de Shekhar Kapur.

A trama deste filme aborda a fase intermediária do governo de Elizabeth I (a primeira foi abordada no bom filme "Elizabeth, de 1998, do mesmo diretor e com a mesma Cate Blanchett). Estamos aqui no ano de 1585, período marcado por conflitos religiosos de todos os lados. E ao mesmo tempo em que a Inglaterra da rainha protestante Elizabeth se vê em ameaça pelo Império Espanhol do rei católico Felipe II, a mesma rainha se encontra envolvida em um pretenso caso amoroso com Walter Raleigh, um conquistador e navegador inglês.



Por essa sinopse, percemos que Kapur poderia ter feito um filme, no mínimo, razoável. Mas não é o caso. O roteiro é extremamente capenga e tendencioso; temos aqui a grande estadista Elizabeth, defensora do seu povo, eda liberdade religiosa,e é, de certa forma, divinizada! Do outro lado, temos Felipe II, um rei extremamente devoto ao catolicismo, que o leva a tomar decisões absurdas; de andar torto e expressões insanas, o rei é absolutamente ridicularizado.  Assim, o reino de Elizabeth aparece sempre em meio à claridade; em determinadas cenas, parece mesmo que a rainha emana uma espécie de luz própria. Por outro lado, o reino da Espanha aparece sempre na penumbra; Felipe e seus conselheiros são carracundos, e andam sempre em vestes negras. Até mesmo a filha de Felipe apresenta uma expressão sorumbática e enigmática absolutamente irritante. Mary Stuart, prima de Elizabeth, que trama contra a rainha inglesa, também aparece como uma fanática sem escrúpulos, armando contra a soberana monarca!



Não me ficou claro qual era o objetivo central dos roteiristas e do diretor, mas parece que se coloca uma espécie de superioridade do protestantismo sobre o catolicismo. E aí entram incoerências absurdas; em determinado momento, Elizabeth exclama que os navios espanhóis estão vindo e trazendo consigo a Inquisição, para acabar com a liberdade de pensamento na Inglaterra. Oras, o próprio filme mostra que os ingleses também estavam imersos em guerras religiosas, e católicos são espancados e executados! Não tomo partido aqui de nenhuma religião, mas mostrar a relação entre ambas de forma tão unilateral é constrangedor.

A tudo isso se soma a direção incompetente de Kapur,que elaborou cenas risíveis. Poderiam ser listadas dezenas, mas duas chamam a atenção: a cena da batalha entre os navios, absolutamente sem graça, com Clive Owen despontando como grande herói, é de dar nos nervos; e, quando toda a situação se resolve, vemos um Felipe desesperado, com todas as velas de seu palácio se apagando, e símbolos católicos caindo ao mar (sinos, terços), ao passo que a Rainha Virgem Elizabeth aparece "girando" (isso mesmo, um jogo de câmeras ridículo!), com as mãos abertas e toda iluminada, quase como uma santa.



Se passarmos para as questões "amorosas", que dominam 2/3 do filme a situação só piora. Como já foi dito, aturar o Clive Owen como grande galã e mais canastrão do que nunca, é difícil; e o roteiro se perde em longas seqüências completamente desnecessárias (vide a cena da dança), que resultam em algo já esperado por todos. Além disso, a tão elogiada parte técnica do filme é irregular. A fotografia, por exemplo, contribui para cenas belíssimas visualmente (todas na corte inglesa), e outras de uma artificialidade extrema (todas as da seqüência da guerra).

A única que se sai incólume é Cate Blanchett. Nem de longe a atriz tem aqui uma de suas melhores atuações, mas ela consegue o máximo de uma personagem sem muita profundida, e se destaca em meio ao "show de horrores" que é o filme. De Owen, tudo já foi falado; Jordi Mollà constrói uma caricatura do rei Felipe; e atores talentosos como Geoffrey Rush e Samantha Morton ficam completamente apagados, em papéis secundários que não lhes dão muito espaço.

Assim, "Elizabeth- a Era de Ouro" é um filme completamente inferior ao que lhe precedeu, abosultamente medíocre em termos de roteiro e direção, e que nem o talento de Cate Blanchett salva do fiasco. Mas, o que mais assusta é saber que Shekhar Kapur prepara mais um filme sobre a rainha, abordando seus últimos momentos no governo. Se for do mesmo nível deste, teremos mais um fracasso pelo caminho.


Nota: 1 em 5 estrelas

 Por Douglas Braga






0 comentários:

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More