terça-feira, 21 de junho de 2011

Sobre prejuízos e descontos

Nada além de amargurante é o estado da Disney e suas ações duvidosas
 
Você confiaria num filme que tem isto como personagem?

63%.

63%.

Você tem noção do que é a Pixar Animation Studios ter, apenas, 63 por cento de aprovação no Rotten Tomatoes? Você tem? Não, você não tem. Eu não tenho. Ninguém pode ter, mas essa é a realidade. Carros 2 (Cars 2, 2011) é, desde que foi lançado seu primeiro teaser – não precisava nem ser trailer, bastava ser um simples teaser – um erro. Um desastre. Um desastre anunciado há muito, muito tempo, amigo. Filho, nós estamos falando de um filme comercial da Pixar. Da Pixar! Eu, sinceramente, espero que você esteja surpreso, por que você deve estar. É uma obrigação.

Há muito, muito tempo, a Pixar vem soltando lufadas de originalidade, emoção e boas histórias no Cinema atual. Seus filmes inteligentes, cheio de alma e cor, são um prato cheio para a mente e para os olhos. Eu cresci assistindo Vida de Inseto (A Bug’s Life, 1998), que considero uma obra-prima – superior a muitos filmes que certa produtora de animações japonesa faz. Então, é muito triste quando vejo um filme da Pixar conseguir apenas 63% de aprovação no Rotten Tomatoes, o maior e mais confiável agregador de críticas na Internet. 63%, caramba. Chega a ser menor que o rating de A Rocha (The Rock, 1996), o filme mais bem cotado de Michael Bay.

Mas antes que comecemos a chorar e a nos lamuriarmos, vamos analisar as coisas cautelosamente. Como diria o filósofo: “Calma, calma, não priemos cânico”. Não coloquemos a carroça na frente dos burros.

Em primeiro lugar, vamos nos lembrar de onde vem a Pixar: Ela vem da Disney. Da Disney. Leu bem? Da Disney. E o que é, ó meu Deus, a Disney? Uma p... de uma produtora de filmes. A Disney, primo, é um marco. Uma referência. A Disney é a Disney. Onde quer que você vá, sempre vão saber o que é a Disneylândia, o que é a Branca de Neve. Eu mesmo conheço um cara cujo nome é Valdisnei por que a mãe viu o nome Walt Disney e não sabia como pronunciar. Mas eu estaria mentindo se dissesse que a Pixar não é a Pixar, mas ela não tem a mesma força e impacto e peso que o nome Disney, tem? Nunca vão fazer a Pixarlândia e nunca haverá bebês chamados John-lasseternei por que a mãe viu numa revista e não saberá como pronunciar “John Lasseter”, haverá?

Não. Não haverá.

E é exatamente aí onde mora o perigo. A Disney é distribuidora da Pixar, correto? Sim, correto. Logo, a Pixar necessita da Disney. Pensamento válido e – acima de tudo – correto.

Mas antes de ser a distribuidora da Pixar, a Disney é uma empresa como qualquer outra. Vive a base de dinheiro e necessita de lucros. Lucros, lucros, lucros; dinheiro, dinheiro, dinheiro; money, money, money. A Disney faz parte do capitalismo e o dinheiro é o seu alimento. Não há nada de errado com isso. O problema, senhor, é quando a sua sede por dinheiro começa a afetar os seus produtos.

Como publiquei há algumas semanas, a Walt Disney Studios fez um corte de 500 funcionários do ramo de distribuição. A Disney tem 2.500 funcionários ao redor do mundo. Quando uma empresa como a Disney (não se esqueça da ênfase no nome Disney) faz um corte desses, é por que algo vai mal. E vai. Não é de hoje que a Disney anda no vermelho, bem claudicante. Há anos a empresa sofre com algumas catástrofes: Bilheteria fraca, vendas baixas, parques que não são mais a mesma coisa de outrora. Ora, o Los Angeles Times afirmou, em uma simples frase, algo que todos nós que acompanhamos a situação financeira do estúdio sabemos há anos: A Disney não caminha mais com as próprias pernas. E não caminha mesmo! Eles escreveram que o que realmente dá lucro para a empresa é a Pixar. Por que a bilheteria da Disney é fraca. Óbvio que é.

Caso contrário, não estariam cortando 500 funcionários do seu plantel, estariam?

A Disney está se comportando como a GM durante a crise de 2008.

E agora cheguei aonde eu queria chegar: Carros 2.

Não havia, e nem há, a menor necessidade de Carros 2. Não há e ponto final. Se o primeiro filme é uma tragédia, um filme catastrófico, esse não parece ser diferente, se não for pior. Para todos os efeitos, o tal do Carros (Cars, 2006) não é nada além de um filmeco comercial que saiu errado. Não tem cara nem corpo de Pixar. Não parece ter sido feito pelo estúdio de Monstros S.A. e da franquia Toy Story. Por que simplesmente o filme é ruim! É bobo! Tem cores, tem personagens interessantes, mas... mas não se encaixa na proposta de vida da Pixar (ou o que nós cremos que seja a proposta da Pixar). Na falta de termo melhor, é um filme forasteiro. Sinceramente, Carros deveria ter sido uma obra para a Pixar ter esquecido nos seus arquivos.

Só que há um detalhe que faz toda a diferença: Carros foi uma das maiores bilheterias do ano de 2006 e uma das maiores bilheterias da Disney-Pixar. Aliás, eu esqueci desse detalhe: É Disney-Pixar.

OK, então vamos lá. Carros é um filme que as crianças amaram, mas que os críticos foram indiferentes (73% de aprovação). Hmmm... é. Carros é uma pequena mancha marrom na fazenda de linho branco que é o histórico da Pixar. Ressuscitar aquela porcaria só faz bem a uma única instituição: A Disney, ora!

Eu quero acreditar que Carros 2 é uma jogada de marketing da Disney. Eu quero. Eu quero, droga. Eu não me importo se estou idealizando a Pixar. Pixar que é Pixar, para mim, é alma e coração, e não celulóide para as massas. Não é uma Warner Bros. da vida. O fato de Carros 2 estar aí pela Disney-Pixar, e não somente a Pixar, é uma prova que essa empresa recorreu a mais baixa forma de sobrevivência, trapaceou. Trapaceou com a sua verdadeira massa cinzenta, a Pixar. Os gamers chamariam isso de “apelação”. A Disney “apelou” para a Pixar. Prova que a Pixar não queria fazer Carros 2? John Lassater dirigiu esse filme por um iPad.

Recapitulando: 63% de aprovação quando eu comecei a escrever.

Vamos ver agora.

Oh, que surpresa.

59%.

Obrigado, Disney.

Update: Agora, na manhã dessa quarta, 22 de junho, Carros 2 está com 55%.

Por Victor Bruno
21/06/2011

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