sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ordens de Malick

Cineasta escreve carta à mão para o San Diego Reader dando instruções sobre como seu A Árvore da Vida deve ser apresentado

Se os projecionistas são montadores finais dos filmes eu não sei dizer, mas com toda certeza posso afirmar que ultimamente eles vêm matando a Sétima Arte.

É um fato que os projecionistas, outrora os guardiões das bobinas e rolos de celulóide, nossos guias para o mundo mágico do Cinema, andam – parafraseando Roger Ebert –matando a luz. Num interessantíssimo artigo escrito na semana passada, o crítico americano metralha os espertinhos que, por exemplo, baixam a intensidade da luz, numa estúpida tentativa para poupar dinheiro, protelando o máximo possível a troca da luz do projetor. Se formos para os projetores digitais a situação fica ainda pior: Os projecionistas deixam de trocar as lentes para a projeção de filmes em 3D, pelo simples fato de que isso levaria muito tempo. Os resultados são catastróficos: A imagem torna-se mais escura (existem até mesmo casos de filmes que simplesmente ficaram pretos quando projetados dessa forma).

Com toda a razão, o cineasta Terrence Malick (Terra de Ninguém, O Novo Mundo) está preocupado. Passar quase uma década polindo um filme para ser mutilado dessa maneira tão triste, deprimente e gananciosa é demais. Portanto, o San Diego Reader recebeu (mas quem diria!) uma carta escrita à mão pelo recluso mestre do Cinema, dando instruções sobre como o seu novo filme, A Árvore da Vida, deve ser projetado quando chegar às telas norte-americanas neste fim de semana.

Segundo o jornal, após dar suas “saudações fraternas”, ele aponta o óbvio: “O projecionismo nos cinemas é uma arte que está se tornando rapidamente esquecida.” Em seguida, o cineasta texano parte para o que é mais importante: Suas instruções. Elas são quatro:

  1. O filme deve ser apresentado no formato de proporção 1.85:1
  2. O fader do cinema deve está ajustado em DTS e Dolby em 7.5 ou em 7.7, apesar do recomendado ser 7. (Fader é o equipamento que controla os efeitos de fade in e fade out.)
  3. Como o filme não tem créditos de abertura, o controlador de luz do cinema deve manter as luzes apagadas muito antes do primeiro quadro do rolo um ser mostrado.
  4. A luz do projetor deve estar com a intensidade correta: 5400 Kelvin, e o nível foot-Lambert em 14. (Foot-Lambert é uma medida de intensidade de luz comum nos Estados Unidos.

E quem diria que a profissão que foi mostrada de forma tão poética, malickiana (não, não pude perder a oportunidade), em Cinema Paradiso pudesse precisar de um puxão de orelha como esse?

A Árvore da Vida, com Brad Pitt, Jessica Chastain e Sean Penn estréia no próximo dia 24 no Brasil.

Por Victor Bruno

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