quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Um Sonho de Liberdade

Um Sonho de Liberdade
The Shawshank Redemption, 1994
Dirigido por Frank Darabont

Roteiro de Frank Darabont (baseado no conto "Rita Hayworth and Shawshank Redemption", de Stephen King)
Com Tim Robbins, Morgan Freeman, William Sadler, Gil Bellows, Mark Rolston, Bob Gunton, Clancy Brown, David Proval

Eu estou com um problema com este filme. Na verdade... não é bem um problema. O caso é que às vezes as qualidades dos filmes não estão no que vemos durante a projeção. Às vezes as qualidades dos filmes estão escondidas em suas idéias, ou na forma em que elas estão estruturadas. Este Um Sonho de Liberdade é um deles.

Em 1994 nós tivemos dois exemplos de filmes que poderiam -- se feitos da forma errada -- ser absolutamente piegas. Um verdadeiro dramalhão. Os dois filmes eram Forrest Gump, de Robert Zemackis e este filme. Dos dois, à primeira vista, a história de Forrest Gump pode ser considerada mais dramática. Uma enrolação de 2h30. Não é. A história de Gump é uma crítica ácida aos EUA e sua cultura. Gump no filme que leva seu nome é o homem errado na hora certa. Num jogo de câmbio entre Forrest Gump e The Shawshank Redemption, Forrest é Andrew Dufresne.

O íntegro Sr. Dufresne é preso por duplo-homicídio. Ele "apagou" a esposa e o amante dela. Depois de um julgamento onde passa a maior parte do tempo extremamente frio -- como gelo --, sendo capaz de dar calafrios no juiz, ele é condenado à prisão perpétua e é jogado na cadeia de Shawshank. Lá seu jeito aparentemente esnobe (William Makepeace Thackeray certamente chamaria-o de um "esnobe no clube") afasta-o dos prisoneiros (e atrai as Bichas). Ele é excluído por todos, menos um: o veterano "Red" Redding. Red e Andrew, juntos, aprendem o valor da esperança e da amizade...

...e blablablá. Esse tipo de história é um campo minado para o roteirista que quer fazer algo sério e tocante. Quantos milhões de filmes já não têm esta mesma sinopse? Histórias de pessoas que aprendem lições de vida e esperança já foram feitas ad nauseam no cinema. É exaustivo. E mais exaustivo -- e triste -- é o fato dos roteiristas não saberem tratar este tema com respeito. Às vezes a intenção pode até ser boa, mas o resultado final é um lixo. Felizmente, na maior parte do tempo, Frank Darabont foge deste campo minado e faz um bom trabalho neste filme.


Tanto na direção como na escrita, Darabont faz um trabalho bem eficiente. É lógico que volta e meia o roteiro cai em clichês, clichês graves. Alguns até gravíssimos. Observe quando, por exemplo, Andrew chega à Shawshank e um dos prisioneiros levam uma surra. A atuação é má, o modo como a cena é tratada é horrível. Parece que o diretor procurou uma forma de chocar o espectador, mas achou a pior forma possível. No mais, Frank faz um bom trabalho. Pelo menos é competente e honesto. (Na maioria das vezes.)

Tim Robbins e Morgan Freeman encabeçam o elenco. Ambos fazem ótimas atuações, cada um com o seu trunfo. Robbins atua melhor com o corpo e Freeman, que é um ator mais completo, sabe se por em cena, tanto nos trejeitos como na voz. Voz esta que é escutada exaustivamente na voice-over bonitinha que permeia o filme. São atuações honestas. Só não dá para entender as caretas que Robbins faz nas cenas finais, mas tudo bem. Não estava esperando nehuma atuação digna de Oscar.

O filme conta ainda com uma fotografia fenomenal do master Roger Deakins. Os enquadramentos e o jogo de luz e sombra dignos de Vittorio Storaro são incríveis. Mais que merecida a sua indicação ao Oscar. Perdeu no Oscar para a fotografia de Lendas da Paixão, embora eu ache que quem deveria ter levado era a sensacional fotografia de Owen Roizman para Wyatt Earp. Além disso a música de Thomas Newman é igualmente boa.


Não que o filme seja ruim, é um bom filme. Bom. É o tipo de filme que você pode chamar a família inteira para assistir e se entreter, ou com a sua namorada em um sábado frio no fim do ano. Um Sonho de Liberdade é um filme despretensioso que cumpre muito bem sua tarefa nas suas 2h30, mas não vai nada além disso. Claro que se você quiser extrair um pouco de filosofia dali, como o crítico americano Roger Ebert fez, você pode considerar o filme como uma análise de que a liberdade pode ser encontrada em qualquer lugar, mesmo entre os muros de um presídio. Entretanto a beleza do filme não reside aí.

As coisas ainda podem me surpreender. Esta é a beleza da vida, as surpresas. Eu quase caí da cadeira quando vi que um filme desses rendeu 9.4/10 no IMDb. Foi quando me lembrei que lá as notas são concedidas pelo povo. Foi quando percebi que este filme é comum e é isso que as pessoas gostam. Ponto para Darabont.

Mas por que eu ainda acho que isto é um filme piegas, dramático... um verdadeiro exemplar do bom cinema água com açúcar? E por que eu acho que À Espera de um Milagre é um replay deste filme? São perguntas consideráveis, não?

Nota: 3 estrelas em 5

Por Victor Bruno

1 comentários:

Está no meu Top. Chorei. Filme lindo e esperançoso.

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