"Quando a lenda se torna fato, publica-se a lenda." Esta frase é proferida por um jornalista no lendário Lawrence da Arábia, do lendário David Lean. Não tenho dúvidas disso, por razões mais que óbvias.
O cinema está cheio de artefatos lendários. Frases lendárias ("Are you talkin' with me?"), filmes lendários (2001: Uma Odisséia no Espaço) e diretores lendários (Francis Ford Coppola). De todos esses três "artefatos" citados anteriormente, nenhum deles me preocupa mais do que o último. Porque? Por que diretores fazem filmes e carregam seus nomes neles. Um filme feito por um diretor lendário não é somente um filme; é "um filme de".
Os diretores mortos não me preocupam. Por melhor que o médium seja, eles não voltarão à vida e farão novos filmes (em alguns casos, felizmente). O que me preocupa sãos os diretores vivos. Seres humanos erram, e, no caso de um diretor que é uma lenda viva (e.g. Martin Scorsese), isso pode ferrar com tudo. Ele pode sofrer o que Michael Cimino sofreu com Heaven's Gate.
Com dois filmes (Thunderbolt and Lightfoot e The Deer Hunter), Cimino estava no alto do pedestal dos críticos. De repente ele tem um ataque de euforia e estroinice que lhe empurraram para fazer Heaven's Gate. O que, na mente de Cimino, seria um sucesso arrebatador, virou um dos maiores fracassos de bilheteria da história do cinema, levando a lendária United Artists à falência.
Este é um dos problemas do fato de ser uma lenda viva. Uma lenda viva sofre pressão. Sofre agonia. As pessoas lá fora gritando pelo seu nome, querendo saber quando será o seu próximo filme, se será sempre genial. Guarda-se uma importância enorme em cima de um nome, às vezes se esquecendo que há um homem por tás do nome. Spinoza nunca admitiria algo do gênero (vide o Tratado para o "Melhoramento do Intelecto").
O problema fica ainda mais grave quando o diretor-lenda se especializa em apenas um gênero (ou quando as pessoas acham que ele faz apenas um tipo de filme). Para exemplificar: A maioria dos fãs de Scorsese acham que ele faz só filme de gângster, ou deveria fazer só filme de gângster. Quer dizer que Scorsese não pode se aventurar por outros estilos? Aparentemente não, ou Ilha do Medo não receberia 64% de aprovação no Rotten Tomatoes, ou O Rei da Comédia não seria um retumbante fracasso de bilheteria.
Isso deve causar uma inércia criativa tão grande no diretor que eu me recuso a imaginar. Sim! O homem quer fazer um épico, mas o público quer uma ficção científica por que ele "só faz" ficções científicas. O estúdio, logicamente, vai optar por fazê-lo ir no rumo do público. Eventualmente o filme fracassa pela falta de vontade do diretor e seu nome vai para a fogueira. Hitchcock sabia que sua filmografia estava fincada em cima do suspense e do thriller, e usou isso bem, mas tudo me leva a crer que ele era um tanto infeliz, por causa da seguinte afirmativa:
Raros são os lendários como Kubrick que se aventuraram por vários gêneros sem repreensão do público. (Ou não.) Mas nem todos nós somos como Stanley Kubrick, não é? Até lá, choremos, então.
Por Victor Bruno
O cinema está cheio de artefatos lendários. Frases lendárias ("Are you talkin' with me?"), filmes lendários (2001: Uma Odisséia no Espaço) e diretores lendários (Francis Ford Coppola). De todos esses três "artefatos" citados anteriormente, nenhum deles me preocupa mais do que o último. Porque? Por que diretores fazem filmes e carregam seus nomes neles. Um filme feito por um diretor lendário não é somente um filme; é "um filme de".
Os diretores mortos não me preocupam. Por melhor que o médium seja, eles não voltarão à vida e farão novos filmes (em alguns casos, felizmente). O que me preocupa sãos os diretores vivos. Seres humanos erram, e, no caso de um diretor que é uma lenda viva (e.g. Martin Scorsese), isso pode ferrar com tudo. Ele pode sofrer o que Michael Cimino sofreu com Heaven's Gate.
Com dois filmes (Thunderbolt and Lightfoot e The Deer Hunter), Cimino estava no alto do pedestal dos críticos. De repente ele tem um ataque de euforia e estroinice que lhe empurraram para fazer Heaven's Gate. O que, na mente de Cimino, seria um sucesso arrebatador, virou um dos maiores fracassos de bilheteria da história do cinema, levando a lendária United Artists à falência.
Este é um dos problemas do fato de ser uma lenda viva. Uma lenda viva sofre pressão. Sofre agonia. As pessoas lá fora gritando pelo seu nome, querendo saber quando será o seu próximo filme, se será sempre genial. Guarda-se uma importância enorme em cima de um nome, às vezes se esquecendo que há um homem por tás do nome. Spinoza nunca admitiria algo do gênero (vide o Tratado para o "Melhoramento do Intelecto").
O problema fica ainda mais grave quando o diretor-lenda se especializa em apenas um gênero (ou quando as pessoas acham que ele faz apenas um tipo de filme). Para exemplificar: A maioria dos fãs de Scorsese acham que ele faz só filme de gângster, ou deveria fazer só filme de gângster. Quer dizer que Scorsese não pode se aventurar por outros estilos? Aparentemente não, ou Ilha do Medo não receberia 64% de aprovação no Rotten Tomatoes, ou O Rei da Comédia não seria um retumbante fracasso de bilheteria.
Isso deve causar uma inércia criativa tão grande no diretor que eu me recuso a imaginar. Sim! O homem quer fazer um épico, mas o público quer uma ficção científica por que ele "só faz" ficções científicas. O estúdio, logicamente, vai optar por fazê-lo ir no rumo do público. Eventualmente o filme fracassa pela falta de vontade do diretor e seu nome vai para a fogueira. Hitchcock sabia que sua filmografia estava fincada em cima do suspense e do thriller, e usou isso bem, mas tudo me leva a crer que ele era um tanto infeliz, por causa da seguinte afirmativa:
"As pessoas sempre esperam de mim um suspense. Se eu dirigisse Cinderela elas rapidamente olhariam para o sofá à procura de um corpo."
Raros são os lendários como Kubrick que se aventuraram por vários gêneros sem repreensão do público. (Ou não.) Mas nem todos nós somos como Stanley Kubrick, não é? Até lá, choremos, então.
Por Victor Bruno
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