O Declínio do Império Americano
Le Déclin de l'émpire Américain,1986
Dirigido por Denys Arcand
Roteiro de Denys Arcand
Com Rémy Girard, Dominique Michel, Dorothée Berryman, Pierre Curzi, Yves Lacoste, Louise Portal, Geneviève Rioux, Mario Arcand e Daniel Brière
Em 2003, foi lançado nos cinemas um filme arrebatador, intitulado "As Invasões Bárabaras", que ganhou diversos prêmios ao redor do mundo (incluindo um Oscar). Tal filme ficou marcado pelas teses de seu diretor canadense, Denys Arcand, acerca do mundo contemporâneo em que vivemos, através de diálogos ágeis e inteligentes. Porém, tais idéias de Arcand foram "plantadas" no filme que antecedeu "As Invasões..", e que foi lançado em 1986: "O Declínio do Império Americano".
À primeira vista, a trama do filme pode parecer absolutamente fútil. Enquanto um grupo de quatro homens, sendo três deles professores universitários de História (Rémy, Pierre e Claude, além de Alain), preparam o almoço numa casa de campo, um outro grupo de quatro mulheres (Dominique, Louise, Diane e Diane) fazem ginástica enquanto se preparam para se dirigir ao encontro deles. Nesse meio termo, tanto os homens quanto as mulheres conversam entre si sobre os mais diversos temas, mas principalmente sexo.
Por trás deste argumento aparentemente banal, Arcand (que é formado em História pela Universidade de Montréal) consegue expressar suas teses acerca da sociedade atual atrávés de seus personagens. Desde o início, fica clara qual a principal idéia que o diretor e roteirista procura desenvolver ao longo do filme: quanto maior a busca ou o desejo de felicidade indivual, maiores são indícios acerca da queda de uma nação ou civilização. Nesse sentido, o desejo constante de felicidade , no sentido do aumento das satisfações diárias de cada ser humano, esteria relacionado a um declínio do império americano, principalmente no que tange aos seus princípios e ideais. É notório pereceber como Arcand faz um trabalho típico de historiador, ao apresentar bases empíricas que procurem confirmar sua tese: logo no início a personagem Dominique (Dominique Michel), professora de História, cita exemplos para confirmar essas teses, como a época do imperador romano Diocleciano e do filósofo iluminista Rousseau.
Assim, na visão do diretor, a maior , ou uma das maiores formas de satisfação imediata dos nossos desejos, é o sexo. E todos os personagens passam cerca de 70 % do filme conversando sobre suas aventuras sexuais, com quem transaram, como traíram suas esposas, de que forma obtêm prazer sexual (uma personagem, por exemplo, pratica sadomasoquismo) ou relações homossexuais que eventualmente tenham tido. Arcand aproveita para lançar uma idéia que irá desenvolver posteriormente em "As Invasões Bárbaras": ele faz uma críticas as gerações que cresceram nas décadas de 1960 e 1970 e suas utopias, iinclusive na defesa de uma liberdade sexual, mas que, na verdade, não consguiram efetivamente "mudar o mundo". Muito pelo contrário, seriam mais um símbolo de como vivemos em uma época de declínio civilizacional.
Entre citações a historiadores famosos (como Fernand Braudel e Toynbee), críticas diretas ao marxismo, e diversas reflexões historiográficas (é notável a primeira cena, em que o personagem Rémy, dando uma aula, afirma que "a História não é uma ciência moral; os direitos, a compaixão, as injustiças são noções estranhas à História), o diretor consegue realizar um filme extremamente divertido. Os diversos diálogos são recheados de um delicioso humor negro, que nos gera uma empatia quase instantânea pelos personagens. É, no mínimo, inusitado ver na tela uma personagem falando livremente de uma orgia na qual participou com o marido; outro discutino sobre como usou uma pílula para ereção com sua esposa; e ainda uma cena extremamente divertida, em que o personagem é masturbado em uma casa de massagem, enquanto discute temas da História com sua massagista ( ela uma estudante de História)!
Todo o elenco parece ter entendido perfeitamente quais as principais idéias do diretor, e incorporaram de forma precisa seus personagens. O maior destaque fica com Rémy Girard, intérprete do personagem Rémy (aqui há de se notar que Arcand utilizou os nomes de seus atores em vários personagens). Apesar de podermos repudiar certas ações de Rémy, que fala de forma espontânea sobre as diversas vezes em que traiu sua esposa, conseguimos de certa forma gostar do personagem, tamanha sua irreverência. Não é a toa que o diretor o escolheu para protagonizar a continuação "As Invasões Bárbaras".
Assim, Denys Arcand consegue realizar, em "O Declínio do Império Americano", um filme que une reflexões sobre vários temas, através de diálogos extremente inteligente e atuações precisas, além de um alto nível de dviersão. Quem ama um tipo de cinema que una pensamento e diversão, não irá se desapontar com o filme.
Por Douglas Braga
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