domingo, 28 de novembro de 2010

Garota Eslovena

Slovenka, 2009 / Dirigido por Damjan Kozole
Com Nina Ivanisin, Marusa Kink, Uros Furst, Peter Musevski, Dejan Spasic e Aljosa Kovacic

Poucas coisas me deixam tão indiganado como acabar um filme, você achar que é ótimo e, mesmo assim, você fica com um gosto amargo de decepção na boca. É realmente irritante, ou desesperador. É uma verdade que, infelizmente, sempre está rondando a cabeça de quem assiste um filme.

É, honestamente, um filme interessante. E talvez até real, muito comum de se encontrar, nas grandes cidades: Garota Eslovena conta a história de Alexandra (Nina Ivanisin, de beleza depressiva e pálida). Ela está vivendo um momento muito difícil em sua vida, devendo ao banco, hipotecando o apartamento onde vive... para solucionar seus problemas ela passa a se prostituir. Tudo certo até aqui. Entretanto, certa noite, um dos clientes de Alexandra -- ou Sacha, como queira -- tem um ataque cardíaco. Seria mais um ataque cardíaco, caso o homem não fosse um ministro alemão que estava a viagem para uma conferência em Ljubljana, capital da Eslovênia e atual lar de Sacha. A polícia passa a procurar a garota que estava no quarto com o ministro quando ele morreu, uma tal chamada "Garota Eslovena" (que na verdade é a própria Sacha). Isso serve de pano de fundo para acompanharmos o desenvolvimento emocional e psicológico de Alexandra e as tentativas de esconder do pai a vida "promíscua" que leva.

A direção de Damjan Kozole é bastante fria. Em momento algum do filme o diretor põe Alexandra como coitadinha. Kozole não quer construir um dramalhão com seu filme. Tudo o que ele quer e responder uma única pergunta: quem é ela? Por que ela está fazendo isso? Estas são questões que vão permear toda a narrativa do filme. Narrativa esta que corre bem lentamente, fazendo os 90 minutos de filme parecerem uma eternidade. Não que isso seja uma falha, afinal é exatamente o que o filme pede.


Para ressaltar a frieza narrativa do diretor temos dois aspectos importantíssimos: o design de produção e a fotografia. Ambos casam perfeitamente. A fotografia tem um tom azulado (Ridley Scott mode on?) bastante interessante, e documental -- e é exatamente o que o filme pede, afinal estamos inspecionando a vida de uma garota, como num documentário. Enquanto isso o design de produção aposta em cores frias. O branco, preto e azul escuro (e bota escuro nisso) são as cores predominantes. Talvez a única excessão nesta paleta de cores seja exatamente na primeira cena, no hotel, quando o ministro tem o ataque cardíaco. A música composta pela banda de música Silence também é excelente.

O filme tem ótimas atuações. A que mais chama a atenção seja a da protagonista, Nina Ivanisin, e sua Alexandra. Sua atuação, ao olhos dos mais desavisados, pode parecer amadora, sem vontade. Mas se você prestar atenção, aquela aparente falta de vontade, as falas em voz baixa -- há uma cena em que uma atendente de telefone diz que não conseguiu escutar Alexandra --, tudo isso faz parte de uma excelente caracterização.

O resto do elenco está todo muito bom, exceto Primoz Pirnat, que interpreta Zdravko, um amigo do pai de Alexandra, Edo. Sem dúvidas Primoz é o elo mais fraco do elenco (a cena em que ele "grita" o nome de Alexandra no meio de uma rua é de amargar).


Damjan faz um ótimo trabalho neste filme. Mas há uma estranha indecisão no ar. O roteiro do próprio diretor Kozole, com mais dois colaboradores, é extremamente perdido. Existem momentos no filme em que você fica se perguntando "Mas o que isso significa?!", isto tudo por que Kozole não sabe como guiar a história. Em alguns momentos acompanhamos Alexandra em suas jornadas noturnas, em outros o filme aparentemente desiste desta abordagem, e ela acaba sendo perseguida por dois homens. Em seguida estes dois homens desaparecem da história e nunca mais dão as caras. O mesmo acontece com a personagem Verna, interpretada pela belíssima Marusa Kink, que some e depois reaparece para sumir de novo..., mas nada se compara ao momento em que o filme decide dar atenção a descartável personagem de Primuz Pirnat (que, como já dito, atua muito mal).

É um bom filme. Garota Eslovena pode ser considerado várias coisas, estudo da alienação social, da vida difícil, de famílias desestruturadas... enfim, é um filme muito interessante e que merece atenção. Seu final é talvez um dos mais interessantes que já vi, e também dos mais desesperadores. Entretanto destoa do resto da trama.

Isso só faz me dizer uma coisa: não é tão bom assim.

Nota: 3 estrelas em 5

Napisal Victor Bruno

1 comentários:

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