quarta-feira, 9 de março de 2011

A Maldição de Frankenstein


The Curse of Frankenstein, 1957/ Dirigido por Terence Fisher
Com Christopher Lee, Peter Cushing, Robert Urquhart, Hazel Court e Melvyn Douglas.

3/5

Christopher Lee é, sem dúvidas, um dos maiores ícones da história do cinema. Gerações mais recentes devem se lembrar das atuações do ator nas séries "O Senhor dos Anéis", como o mago Saruman, e "Star Wars", interpretando Conde Dookan (Count Dooku, no original). Mas o ator, recordista de participações de filmes (mais de 200, quase sempre como vilão), marcou forte presença entre as décadas de 1950 e 1970 nos filmes de terror da  Hammer Film Productions. Praticamente todos eram filmes de baixo orçamento, com poucos cenários, e estrelados pela dupla Lee/Peter Cushing. E embora a parceria mais famosa de ambos tenha sido interpretando, respectivamente, o Conde Drácula e o Professor Van Helsing em inúmeras produções da Hammer, foi em "A Maldição de Frankenstein" que os dois começaram a trabalhar juntos.

O filme é uma adaptação da obra de Mary Shelley. Mas, mais do que uma adaptação, é quase uma releitura, já que praticamente todos os principais acontecimentos do livro foram alterados. No filme de Terrence Fisher, o barão Victor Frankenstein (Peter Cushing), herdeiro da fortuna da família Frankenstein desde jovem, é iniciado nos estudos da ciência por um tutor pago pelo próprio barão, Paul Krempe (Robert Urquhart). Após anos de pesquisa, Victor consegue construir uma criatura (Christopher Lee) a partir de restos mortais, mesmo indo contra a opinião de Paul. Entretanto, quando a criatura ganha vida, ela não é nada do que Victor sonhou que ela seria, e coloca toda a redondeza, incluindo sua esposa Elizabeth (Haze Court) em perigo.



O diretor Terrence Fisher realizou dezenas de filmes para a produtora Hammer, e aqui já podemos perceber como era habilidoso em criar seqüências de terror. Mesmo estas não sendo muitas há momentos memoráveis, como a cena no telhado, perto do fim. Fisher dá vários closes no rosto desfigurado de Christopher Lee, aumentando a sensação de desconforto com o espectador com a criatura, além do uso correto da trilha sonora.

Mas, mais do que um simples filme de terror, "A Maldição de Frankenstein" também se revela uma interesante análise acerca dos limites do ego do super humano, e de sua ambição. Victor Frankenstein,  interpretado com fúria por Peter Cushing, deseja a todo custo construir uma criatura perfeita, utilizando um corpo vigoroso, mãos de artista e  um cérebro e cientista, que contenha o conhecimento de toda uma vida. Seu objetivo não é o bem comum, como defende o amigo Paul, mas satisfazer seu ego e obter prestígio perante a sociedade científica. Para isso, não hesita em superar todos os obstáculos. Assim, durante todo o filme, fica a impressão de que o grande vilão não é a criatura, e sim o seu criador (embora o final ambígüo possa colocar isso em xeque, e proporcionar outras interpretações).



O ator Christopher Lee, ainda em início de carreira, aparece pouco, mas já demonstra um enorme talento. A criatura não tem uma única fala, e Lee utiliza pura e simplesmente de seu corpo para dar vida ao monstro. É um trabalho extremamente complexo, mas realizado com ótima desenvoltura por um dos maiores atores de todos os tempos. A maquiagem parece precária para os parâmetros atuais, mas consegue passar a idéia do absurdo que fez Frankenstein dando vida a uma aberração. Por outro lado, a maquiagem peca em um ponto crucial: o personagem Frankenstein era bem mais novo que seu tutor Paul, mas o ator Peter Cushing era quase 10 anos mais velho que Richard Uquhart, e no filme eles parecem no máximo ter a mesma idade! Além disso, quase  se passa na mansão de Frankenstein, e a trama praticamente se resume ao laboratório e à sala de estar, o que é uma certa frustração para quem espera terror.

Ainda assim, "A Maldição de Frankenstein"  é uma ótima opção para quem quer se aventurar em filmes de terror antigos, e mais especificamente nos da Hammer Productions. Além de ser sempre um prazer ver um ícone como Christopher Lee atuando, mesmo que por poucos minutos.

Por Douglas Braga



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