Lawrence da Arábia
Lawrence of Arabia, 1962
Dirigido por David Lean
Roteiro de Robert Bolt e Michael Wilson
Com Peter O'Toole, Omar Sharif, Alec Guinness, Athonny Quinn
Realmente. O nome de Lawrence da Arábia, sem dúvida nenhuma, será eterno, não só pelo filme que será discutido aqui, mas também pelos próprios feitos do Lawrence da Arábia real, Thomas Edward "T.E." Lawrence. O inglês que teve um sonho, o de ver o povo árabe poder ter sua própria nação. Não mediu esforços para ver seu sonho realizado, ver os Turcos Otomanos irem embora das areias das Arábias.
Lawrence da Arábia conta a história deste homem, T.E. Lawrence. Arqueólogo, espião, militar e escritor. Durante a Primeira Guerra Mundial Lawrence é enviado para o deserto como concelheiro militar por dois motivos:
(O que seria de Lawrence sem a Arábia?)
Um épico dessas proporções não poderia cair em mãos melhores que as mãos do gênio David Lean, que havia ganhado o Oscar pelo premiado A Ponte do Rio Kwai (1957). Todo mundo sabe que Lean tem um gosto especial por épicos. Por isso o orçamento e o calendário de filmagens foram enormes. Se por um lado Lean tinha uma enorme elasticidade de prazos e orçamento por parte do estúdio, por outro o deserto não deu trégua para sua equipe. À começar pelo diretor de fotografia Freddie Young. Se ele já estava quebrando a cabeça com as dunas, tendo que encontrar um jeito de filmar na areia sem perder o foco, o sol ainda fazia o favor de derreter o filme dentro da câmera. Robert Bolt sempre clamou a autoria do roteiro para si, dizendo que Michael Wilson apenas o ajudou a concluir a história. Segundo ele, Wilson deveria ser creditado apenas como "assistente de roteirista". Wilson acabou sendo creditado como co-autor. Por fim, os atores sofriam com o sol intenso, com desidratação. Os produtores terminaram por ter que filmar apenas um take por dia, esticando o prazo para quase 300 dias de filmagem.
Mesmo com um excelente diretor, um excelente roteirista e maravilhosas locações, o filme não seria nada sem excelentes interpretações. Peter O'Toole, em seu primeiro grande filme, nos entrega um maravilhoso Lawrence. Um sujeito culto e elegante. Sua interpretação com um leve toque de feminilidade o deixa ainda melhor, com um quê de classe. Omar Sharif faz um brilhante Sherif Ali, que realmente lhe valeu a indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Sherif nada mais é do que a voz da consciência de Lawrence. Entretanto parecem que suas palavras de nada valem para El Aurens (era como Lawrence era chamado pelos beduínos). Suas palavras se perdem no ar seco do deserto. Alec Guinness, Anthony Quinn, Jack Hawkins e Claude Raine fazem todos também excelentes interpretações. A personagem de Raine, o Sr. Dryden, parece que foi escrita sob medida para ele. Um tipo concelheiro. Uma espécie de Sherif Ali de calças.
Entretanto a película peca na edição de Anne V. Coates. Não em como Anne edita, mas sim no running time. A viagem de Lawrence até o Faiçal (Guinness), logo no início do filme, toma 40 minutos de duração, quando poderia durar apenas 20. De fato, a primeira parte do filme, antes do intervalo, é quase toda tomada de viagens, indas e vindas de Lawrence. Entretanto, esse é o único pecado de Coates.
Freddie Young faz a melhor fotografia do deserto na história do cinema. É ele a idéia do clássico take de entrada do Sherif Ali, onde, em um plano muito, muito, muito longo, utilizando-se de uma lente de 70 milímetros (posteriormente chamada de "David Lean lens"), vemos a personagem sair das dunas tomadas por ondas de calor. O plano é tão distante que parece que o Sherif está flutuando, pois não conseguimos ver a areia que ele está pisando. Em termos claros, a fotografia deste filme é um orgasmo visual.
O filme forma um painel psicológico de Lawrence. Seu desejo de ser sobre-humano, passando por provações que ele mesmo se impõe, como atravessar o Sinai.
"- Você não pode atravessar o Sinai! Ninguém pode atravessar o Sinai!
- Moisés atravessou."
Lawrence se acha um Deus. Na cena em que ele diz que vai tomar Jerusalém, ele caminha e a câmera o flagra na frente de um painel com anjos, uma óbvia referência ao seu gênio extraordinário, um semi-Deus. Ele não está errado em pensar que é um Deus pois é como ele mesmo escreveu:
Sem as Arábias, Lawrence seria um homem sem nome.
Nota: 5 estrelas em 5
Por Victor Bruno
Lawrence of Arabia, 1962
Dirigido por David Lean
Roteiro de Robert Bolt e Michael Wilson
Com Peter O'Toole, Omar Sharif, Alec Guinness, Athonny Quinn
"Nunca haverá, em tempo algum, um homem como ele. Seus feitos entrarão para a história, e seu nome viverá para sempre nas lendas da Arábia"-- Winston Churchill
Realmente. O nome de Lawrence da Arábia, sem dúvida nenhuma, será eterno, não só pelo filme que será discutido aqui, mas também pelos próprios feitos do Lawrence da Arábia real, Thomas Edward "T.E." Lawrence. O inglês que teve um sonho, o de ver o povo árabe poder ter sua própria nação. Não mediu esforços para ver seu sonho realizado, ver os Turcos Otomanos irem embora das areias das Arábias.
Lawrence da Arábia conta a história deste homem, T.E. Lawrence. Arqueólogo, espião, militar e escritor. Durante a Primeira Guerra Mundial Lawrence é enviado para o deserto como concelheiro militar por dois motivos:
- Seu enorme conhecimento da cultura árabe.
- Seu enorme conhecimento estratégico.
(O que seria de Lawrence sem a Arábia?)
Um épico dessas proporções não poderia cair em mãos melhores que as mãos do gênio David Lean, que havia ganhado o Oscar pelo premiado A Ponte do Rio Kwai (1957). Todo mundo sabe que Lean tem um gosto especial por épicos. Por isso o orçamento e o calendário de filmagens foram enormes. Se por um lado Lean tinha uma enorme elasticidade de prazos e orçamento por parte do estúdio, por outro o deserto não deu trégua para sua equipe. À começar pelo diretor de fotografia Freddie Young. Se ele já estava quebrando a cabeça com as dunas, tendo que encontrar um jeito de filmar na areia sem perder o foco, o sol ainda fazia o favor de derreter o filme dentro da câmera. Robert Bolt sempre clamou a autoria do roteiro para si, dizendo que Michael Wilson apenas o ajudou a concluir a história. Segundo ele, Wilson deveria ser creditado apenas como "assistente de roteirista". Wilson acabou sendo creditado como co-autor. Por fim, os atores sofriam com o sol intenso, com desidratação. Os produtores terminaram por ter que filmar apenas um take por dia, esticando o prazo para quase 300 dias de filmagem.
Mesmo com um excelente diretor, um excelente roteirista e maravilhosas locações, o filme não seria nada sem excelentes interpretações. Peter O'Toole, em seu primeiro grande filme, nos entrega um maravilhoso Lawrence. Um sujeito culto e elegante. Sua interpretação com um leve toque de feminilidade o deixa ainda melhor, com um quê de classe. Omar Sharif faz um brilhante Sherif Ali, que realmente lhe valeu a indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Sherif nada mais é do que a voz da consciência de Lawrence. Entretanto parecem que suas palavras de nada valem para El Aurens (era como Lawrence era chamado pelos beduínos). Suas palavras se perdem no ar seco do deserto. Alec Guinness, Anthony Quinn, Jack Hawkins e Claude Raine fazem todos também excelentes interpretações. A personagem de Raine, o Sr. Dryden, parece que foi escrita sob medida para ele. Um tipo concelheiro. Uma espécie de Sherif Ali de calças.
Entretanto a película peca na edição de Anne V. Coates. Não em como Anne edita, mas sim no running time. A viagem de Lawrence até o Faiçal (Guinness), logo no início do filme, toma 40 minutos de duração, quando poderia durar apenas 20. De fato, a primeira parte do filme, antes do intervalo, é quase toda tomada de viagens, indas e vindas de Lawrence. Entretanto, esse é o único pecado de Coates.
Freddie Young faz a melhor fotografia do deserto na história do cinema. É ele a idéia do clássico take de entrada do Sherif Ali, onde, em um plano muito, muito, muito longo, utilizando-se de uma lente de 70 milímetros (posteriormente chamada de "David Lean lens"), vemos a personagem sair das dunas tomadas por ondas de calor. O plano é tão distante que parece que o Sherif está flutuando, pois não conseguimos ver a areia que ele está pisando. Em termos claros, a fotografia deste filme é um orgasmo visual.
O filme forma um painel psicológico de Lawrence. Seu desejo de ser sobre-humano, passando por provações que ele mesmo se impõe, como atravessar o Sinai.
"- Você não pode atravessar o Sinai! Ninguém pode atravessar o Sinai!
- Moisés atravessou."
Lawrence se acha um Deus. Na cena em que ele diz que vai tomar Jerusalém, ele caminha e a câmera o flagra na frente de um painel com anjos, uma óbvia referência ao seu gênio extraordinário, um semi-Deus. Ele não está errado em pensar que é um Deus pois é como ele mesmo escreveu:
Todos os homens sonham, mas não da mesma forma. Os que sonham de noite, nos recessos poeirentos das suas mentes, acordam de manhã para verem que tudo, afinal, não passava de vaidade. Mas os que sonham acordados, esses são homens perigosos, pois realizam os seus sonhos de olhos abertos, tornando-os possíveis.
-- T. E. Lawrence, Os Sete Pilares da Sabedoria
Nota: 5 estrelas em 5
Por Victor Bruno