quinta-feira, 22 de julho de 2010

E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?

E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?
O Brother, Where Art Thou?, 2000
Dirigido por Joel Coen (e Ethan Coen, não creditado)
Escrito por Ethan Coen & Joel Coen (baseado na Odisséia, de Homero)
Com George Clooney, Tim Blake Nelson, John Turturro, Chris Thomas King, John Goodman, Holly Hunter

Uma rápida pesquisa na Wikipédia sobre humor negro nos dá a seguinte resposta:


O humor negro é um subgênero do humor que utiliza situações consideradas por muitos como de mau gosto ou politicamente incorretas, usualmente de natureza mórbida, para fazer rir ou divertir o público menos susceptível. Entre os temas retratados pelo humor negro estão a morte, o suicídio, o racial, as doenças e a violência entre outros.

É realmente muito difícil conseguir conciliar elegância e humor negro sem parecer algo gratuito, ou mesmo pervertido. Usar algo como morte para fazer as outras pessoas rirem é -- no mínimo -- algo muito difícil. Mas faz parte da tarefa de alguém que quer fazer as outras pessoas rirem. No mundo, só existem duas pessoas que conseguem fazer o humor negro com elegância e qualidade, aliás um deles nem é uma pessoa, mas um grupo: o famoso Monty Python (O Sentido da Vida, A Vida de Brian). A outra pessoa... também não é uma pessoa, mas sim uma dupla: Os Irmãos Coen (Fargo, Na Roda da Fortuna). Claro que eu estou esquecendo de citar -- digo, eu não estou citando muita gente, como Hugh Laurie (não só pela sua participação na série House, mas como pelo seu livro O Vendedor de Armas, que é muito bom).

O filme dos Coen em questão é O Brother, Where Art Thou?. No Brasil, o filme se chama E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?. Não é uma má tradução, mas é um tanto vulgar. O título do filme, na sua língua original é mais poético. Uma tradução "mais acertada" seria "Oh, Meu Irmão, Onde Estás?". O "Art Thou" do título original é arcáico, e só é utilizado quando se quer fazer algo bem formal. Chamar um título tão poético de "Cadê Você" me parece um crime contra a língua portuguesa e contra a língua inglesa. E contra os Coen. E contra a produtora que autorisou o título, e contra qualquer pessoa que goste do título original. Mas, pelo menos, os tradutores do título não cometeram o crime que cometeram com Shutter Island.


O Brother começa com a fuga de três prisioneiros -- Everett (Clooney), Pete (Turturro) e Delmar (Blake Nelson) -- cuja a única função que tinham era quebrar pedras (aquelas clássicas cenas de prisioneiros americanos quebrando pedras com camisetas parecidas com as dos Irmãos Metralha). Eles só faziam isso: quebrar pedras. No calor escaldante, semi-infernal do meio-oeste americano. Eles fojem sem ter nada a perder (salvo a vida, se os guardas pegarem-os no flagra). O objetivo da fuga não é só a busca pela liberdade, mas um baita tesouro que Everett supostamente escondeu. Só que muitas surpresas que lhes aguardam no caminho.

A direção dos Coen é a habitual. Eles são adeptos do estilo de direção invisível. Não movem muito a câmera, entretanto, não mexer na câmera não significa que não tenham cuidado com a fotografia. Aliás, a fotografia é um dos melhores aspectos neste filme, ao lado, é claro do afiado roteiro e da belíssima trilha sonora. Aspectos que veremos mais à frente na crítica, após os comerciais.

...

O roteiro. O roteiro de O Brother é uma maravilha do cinema. Por mais que Joel e Ethan insistam em dizer que não se basearam na Odisséia de Homero, está na cara que se basearam. Dizer que... a liberdade é vermelha, quando você sabe que é branca (sim, foi uma referência ao filme de Zrzisztof Kieslowski). Inclusive cada personagem no filme tem seu exato correspondente no poema de Homero. Por exemplo: Everett é o correspondente de Ulíssis (aliás, o nome completo de Everett é Ullysses Everett McGill), o Xerife Cooley é o correspondente de Posseidon, etc.


George Clooney (Conduta de Risco, Queime Depois de Ler) arrasa como Everett McGill. Por algum motivo sua performance -- e até mesmo sua personagem -- me recordaram outro filme dos Coen: O Amor Custa Caro (Intolerable Cruelty - 2004). A personagem que Clooney me recorda é Miles Massey. Os dois tem obsessão por alguma parte do corpo. (Miles é louco pelos dentes. Everett pelo cabelo.) Os dois são espertos. Os dois são apaixonados perdidamente pelas suas amadas. Fora Clooney, as atuações de Tim Blake Nelson, John Turturro, Chris Thomas King e Charles Durning também são dignas de nota.

Fora o roteiro dos Coen, o filme tem outro trunfo. Um grande trunfo, aliás. Um não, dois. T-Bone Brunett é o responsável por uma das melhores trilhas sonoras dos últimos anos. (Quem gosta das trilhas sonoras dos filmes do Taran -- gasp! gasp!, rrgghhhh, arf!, hum - hum... desculpem. Eu não consigo dizer "Tarantino" sem me engasgar. Nâo sei o que vêem nele.) O soundtrack de Brunett é artístico, e tem hisória por trás das músicas. Todas elas são grandes ícones do country e da música negra do meio-oeste. Aliás, as músicas são de uma sonoridade muito agradável. (Eu mesmo não consigo de escutar In the Jailhouse). O outro trunfo é uma impecável fotografia de Roger Deakins (Kundun, O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford (eu adoro esse título)), que varia entre o verde e o sépia do meio-oeste.

No final, O Brother se torna mais um grande filme dos Coen que não é reconhecido. Por alguma razão os filmes deles não tem alcance. (Tudo bem, O Brother não é um Fargo da vida.) Acho que é a multidão anestesia de todos as pessoas de hoje. Alguém viu os números da bilheteria de Um Homem Sério? Pesquisem. Isso só me faz pensar que quanto menor a bilheteria, melhor é o filme...

Isso não é uma regra, mas façam uma tentativa.

Nota: 4 estrelas em 5.

Por Victor Bruno

3 comentários:

to baixando aqui os filmes dos coen que ainda não assisti. recentemente vi que alguns filmes que eu teinha asisstido fora dirigido por eles "matadores de velhinhas", "o grande lebowski"

como já foi citado aqui victor, tudo leva a crer que eles sejam uma das poucas coisas decentes que restaram em hollywood...

assisti um filme koreano aboslutamente lindo recentemente victor, chamado "Mother" é recente, acho que desse ano.. muito bom, muito bom mesmo.

Coreano? Eu pensei que só fizessem filmes pornôs por lá. (rs.)

Eu vou assistir hoje aquele filme britânico 'In the Loop'. Parece bom.

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