sábado, 10 de julho de 2010

Bastardos Inglórios

Bastardos Inglórios
Inglourious Basterds, 2009
Dirigido por Quentin Tarantino
Escrito por Quentin Tarantino
Com Christoph Waltz, Brad Pitt, Mélaine Laurent, Daniel Brühl, Eli Roth, Til Schweiger, Michael Fassbender, Diane Kruger

Bastardos Inglórios... o que dizer sobre este filme? Nós podemos dizer muitas coisas. Nós podemos dizer que uma grande prova de amor de Quentin Tarantino (Pulp Fiction, Jackie Brown). Nós podemos dizer que é um grande entretenimento para um fim de semana. Mas nós podemos principalmente dizer que é uma experiência maçante.

A sinópse do filme: de um lado temos Shosanna (Laurent). Em 1941 sua família foi massacrada pelo cínico Coronel Hans Landa (Waltz), e agora ela está em busca de vingança (muito original vindo de Tarantino). Do outro temos o esquadrão semi-suicida do Tenente Aldo "O Apache" Raine (Pitt). A missão do esquadrão é simples: matar e escalpar o maior número de nazistas possíveis.

É uma trama boa. Você pode tirar várias coisas daí. O problema do filme é Tarantino e seu ego do tamanho da loucura de Hitler. O cinema de Tarantino não permite, de forma alguma nenhum tipo de evolução. É o cinema do quase. Você quase tem bons diálogos, você quase tem uma boa direção, você quase tem um bom filme. Aliás, Tarantino tem algo em seu tempero que eu não posso dizer se é bom ou ruim: seu estilo é tão emaranhado, tão confuso sem confusão que é impossível não escrever uma crítica sem que você automáticamente fale do roteiro e da direção. Se há algum mérito para o diretor será justamente aí: ele consegue casar roteiro e direção muito bem.


É importante dizer que Tarantino não tem um estilo de direção claro. Ora ele gosta de fazer um cinema que lembra Truffaut (que fique claro que eu não estou pondo Tarantino num pedestal e elevando-o ao nível de Truffaut. Fata muuuito para o Taranta chegar ao nível de francês Truffaut), ora Tarantino gosta de mexer um pouco na câmera. Nisso seu trabalho é muito bom. Em suma, o problema de Tarantino é um só. Seu cinema nunca deixa o espectador mergulhar. Tudo em seu filme é superficial, intocável. Parece que Tarantino constrói uma parede invisível entre os seus personagens e o espectador, como se seus personagens fossem meras peças, e que temos que nos limitar a assisti-los. Isto é errado, no meu ponto de vista. O cinema não deve ser meramente contemplativo. Cinema é sentimento, e Tarantino, mesmo com pilhas de filmes assistidos, não compreendeu isso. Entretanto, isso é refletido em seus...

...roteiros. A platéia pode colaborar comigo e levantar os braços para a seguinte questão: quem gosta dos diálogos dos filmes de Quentin? Mmm... a suprema maioria, obviamente... isso se não tiver alguns mentirosos aqui no meio com medo de serem massacrados pelos fãs do diretor. Eu não vou mentir dizendo que não gosto do estilo de longos diálogos que Tarantino adota em seus filmes. Entretanto, se há alguma coisa que me irritou demais em seu novo filme é: o exagero de diálogos quase desmedido. Não é mal usar um certo número de diálogos, como ele gosta de fazer, mas é realmente necessário colocar uma cena de quase 15 minutos apenas para apresentar um jogo de cartas? Tudo bem, o errado não é mostrar o jogo de cartas, mas fazer a redundância de reexplicar uma coisa que acabamos de ver. E não é apenas uma vez que Tarantino comete esse erro. Vejamos a cena em que a personagen Bridget von Hammesmark (Kruger) diz que Hitler estará na premiére do filme "O Orgulho da Nação", do seu braço direito Joseph Goebbels. Ela dá a informação e, em seguida, temos um insert com Hitler falando exatamente o que acabamos de escutar. Sem contar nas enormes cenas em que as personagens discutem cinema. O que?! Cinema?! Pessoas no meio da guerra discutindo cinema?! Ah, francamente, Quentin... isso não existe em lugar nenhum. É certo que Bastardos é um grande ode ao cinema, mas... não deveria ser nas entrelinhas? Tarantino parece ter uma ânsia incontrolável de exibir todo seu conhecimento cinematográfico aqui, assim como um pavão exibe sua masculinidade para as fêmeas com seu rabo invejável (então nós somos as fêmeas).


Os atores. Estão todos bons. Pitt faz um engraçado (não hilário, apenas engraçado) Aldo Raine. Chega a ser incomodativo suas caretas, que remetem à Marlon Brando em O Poderoso Chefão. E seu sotaque enjoado, arrastado e rouco de um bom nativo do Tennesse, ao mesmo tempo que enriquece, caricatura ainda mais sua persona. E falando em personagens caricaturais, todos os alemães não são, nada mais, nada menos, que a visão de Quentin sobre os alemães nazistas: todos berram e são fanfarrões. O que dizer da cena em que Goebbels aparece fazendo sexo? Gritando e berrando? Estava doendo, Goebbels? É Tarantino, nobre leitor, ele não tem capacidade de criar uma persona verdadeira. Todos são caricaturais, é como se estivéssemos assistindo a um desenho animado, lendo uma tirinha do Dik Browne. (Aliás, foi exatamente o que um crítico judeu chamado Liel Liebowitz disse. OK, não com essas palavras, mas ele disse que Tarantino desenha um Terceiro Reich como se fosse um cartunista (caso você pesquise na Wikipédia americana, você encontrará essa citação).)


Christoph Waltz. Eu deveria escrever um post só para ele. Nunca mais, não recentemente, encontraremos uma atuação tão boa. Sensacional, beneficiado por bons diálogos -- ou pelo menos boas tiradas. Parece que Tarantino, em alguns lampejos de criatividade, ou quando alguém apontava uma arma para sua cabeça (provavelmente os irmãos Weinstein) e o lembrava que é um filme -- não uma coletânea de outros filmes (OK, eu não achei exemplo melhor).

Pensando melhor, Bastardos Inglórios não é um grande ode de Quentin ao cinema, mas sim um grande ode de Quentin a si mesmo. O ego de Tarantino é visível na tela. Ele quase invade a cena. E isso deve ter dado um trabalho enorme para a pobre Sally Menke (editora de todos os filmes de Quentin). E também trabalho para David Wasco, Robert Richardson, e toda produção do filme. Se todos dizem que o filme também é uma homenagem ao spaghetti western, que revelou Sergio Leone, não era melhor ter feito logo um spaghetti western, assim como fez com Kill Bill?

"Sabe... eu acho que. Espera. Garçoenete. Mais café. Enfim. Como eu ia dizendo: esse novo filme do Tarantino. Até que eu gosto de Pulp Fiction, sabe?, mas toda vez... é direto a mesma coisa que ele faz. Blá, blá, blá, tiro e morte. Se ele quer fazer filme no estilo dos filmes que ele assistia quando era um reles balconista, vai fazer logo, bichão! Todo mundo vai gostar. E isso me irrita."

Mais o que irrita mais é a sua arrogância, por que você só saberá o que é a guerra quando a ver pelos olhos de Quentin Tarantino. Ele já esteve numa guerra para saber? Ou será que ele esteve e o que viu foram soldados falando sobre Leni Riefenstahl?

Nota: 3 estrelas em 5.

Por Victor Bruno

4 comentários:

kkkkkkkk

passou no roda-viva uma atriz e diretora francesa ha um tempo atrás, esqueci o nome.. quando ela foi perguntada sobre o tarantino, ela comentou que foi um cinema que nasceu de maneira independente, e interessante até certo ponto (cães de aluguel) mas que tornou-se imbeci.

Huahauha..... concordo....

O que salva o filme é a fotogafia excelente e a incrível atuação de Christoph Waltz....

É bom saber que não estamos sozinho no mundo. Tô de saco cheio de peudos-cults-intelectuais que acham Tarantino o máximo só pra fazer média.

AbraçoZzz

Vaneza, se você souber como eu apanhei em fóruns de Cinema por ter escrito este texto...

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