quinta-feira, 29 de julho de 2010

Talk Radio - Verdades que Matam

Talk Radio - Verdades que Matam
Talk Radio, 1988
Dirigido por Oliver Stone
Roteiro de Eric Bogosian & Oliver Stone (baseado no livro Talked to Death, de Sephen Singular e na peça Talk Radio, criada por Eric Bogosian e Ted Savinar, escrita por Eric Bogosian)
Com Eric Bogosian, John C. McGinley, Ellen Greene, Leslie Hope, Alec Baldwin

Um programa de "talk radio" é similar ao de um "talk show", como aqueles que o Soares faz. Vou dar um exemplo de como a coisa toda funciona:

"- Olá, eu sou Victor Bruno e estou começando o nosso programa preferido, Conversa de Cinéfilo. Já temos ouvintes na linha, é Alice Costa, do Rio Grande do Sul. Alô.

- Alô, Victor.

- Sim, é ele quem está, falando. Pode perguntar.

- Eu gostaria de saber qual sua opinião sobre a tecnologia Blu-Ray, e quando ela estará disponível para o grande público."

Um radialista de "talk show" em seu perfeito estado de consciência responderia:

"- Olha, acho que o Blu-Ray estará dentro de cinco, seis, anos, disponível para o grande público. Acredito que será como o DVD que, inicialmente, as pessoas achavam que era algo impossível. Agora é difícil de encontrar uma pessoa que -- pelo menos -- não tenha assistido um filme na tecnologia do DVD."


Um radialista de "talk show" no estado de consciência de Barry Camplain responde:

"- Olhe, minha filha, como você vem ligar para cá falando de porcaria de Blu-Ray quando o nosso país está tão ruim? Você sabia que ontem mesmo dois adolescentes drogados esfaquearam uma senhora de 72 anos? Sabia? Eu não ligo para o que você pensa! Estamos aqui para denunciar a bagunça que este país está!"

O tema de Talk Radio é perfeito para Oliver Stone (Entre o Céu e a Terra, Nascido em 4 de Julho). Aqui temos o caso de um radialista judeu chamado Barry Champlain (Bogosian) que apresentava um programa de rádio que procurava denunciar os (milhares, infinitos, colossais) podres da América. Ele tem um estilo corrosivo extremamente sarcástico irônico de apresentar seu "talk show", e não mede esforços para humilhar todos aqueles que discordam das suas opiniões (que são pra lá de controversas e polêmicas). Pelo programa ser apresentado na madrugada, aparecem vários tipos malucos insanos e drogados falando com Barry. Tudo muda quando a ex-esposa do radialista, Ellen (Greene), visita-o para sua primeira transmissão em rede nacional, e, teoricamente, o amor entre os dois é reacendido. Como se não bastasse Barry ter de lutar contra sua consciência e não se deixar levar pelo momento, um neo-nazista chamado Chet (Earl Hindeman, apenas na voz) anda ligando constantemente para o programa, ameaçando a vida do apresentador. Nada de mais, devido a natureza do programa e de Barry. Teoricamente, é claro.

Analisando bem a sinopse, não parece nada diferente de coisas que nós já não tenhamos visto anteriormente no cinema. Um exemplo bem claro de pessoas da mídia tentando mudar o mundo nas telas do cinema é no filme de Rede de Intrigas, de Sidney Lumet. Aqui, assim como no filme de 1976, também temos discursos longos e bate-bocas intermináveis com a produção do show. Tudo isso ficaria deslocado se não fosse uma ótima direção de Stone (quando ele ainda era normal e não era impressionado com teorias da conspiração e afins), e um excelente roteiro de Eric Bogosian (que estrela o filme, como já dito) e do diretor.


O filme, por te sido feito com um orçamento minúsculo (4 milhões de dólares) está cheio de atores desconhecidos, principalmente na época do lançamento. Mas "ator desconhecido" não significa "mal ator". O principal exemplo disso é justamente no protagonista: Eric Bogosian (em seu primeiro filme) nos entrega um Barry Champlain perfeito. O ator que já havia encarnado o radialista na peça que deu origem a esta película interpreta um homem que parece desalmado, à beira da insanidade e cheio de dúvidas, que, querendo ou não, leva para casa quando a manhã nasce, o peso de todas as ligações que recebeu. Barry é tão abalado emocionalmente que quando seu chefe Dan (Baldwin), liga-o num dia de domingo é obrigado a pedir desculpas, pois sabe que "domingo é o único dia em que você não se odeia." Alec Baldwin (hoje uma grande estrela) faz também um bom papel como Dan, o presidente da rádio onde Barry trabalha. John C. McDinley, como Stu, também faz uma ótima performance.

O maior pecado do filme, sem dúvidas, não estão nas atuações, nem na direção e roteiro, mas sim na edição. Diga-me, oh, pai celestial, para que colocar um flashback de quase dez minutos mostrando as origens de Barry e sua esposa?! Não há necessidade nenhuma! Nenhuma! Então para quê colocar?! Me parece que aconteceu aqui que o filme tinha de ter um running time X a produção resolveu entupir o buraco que faltava de tempo com esse flashback desnecessário, que quase mata o filme inteiro. Fora isso, o filme não tem nenhum grande pecado, ou falha (talvez um pouco na cinematografia de Robert Richardson (Kill Bill vol. 1 & 2, Neve Sobre os Cerdos), mas temos de levar em consideração que este é um dos primeiros filmes do diretor de fotografia).

Ao final dos maravilhosos 110 minutos de projeção, fica uma boa mensagem. Uma mensagem que Ernest Hemingway já havia nos dado em 1940:

"O mundo é um belo lugar, pelo qual devemos lutar."
-- Ernest Hemingway, de From Whom the Bell Tolls

Sim, com certeza, senhor Hemingway. Precisamos de mais Barry Champlains. Mas também não precisamos de mais gente como ele. O mundo também é ambíguo.

Nota: 4 estrelas em 5.

Por Victor Bruno

1 comentários:

quase mata o filme inteiro. ahah..esse flash nem Barry aprovaria..pq isso é quase coo um intervalo durante o filme..vc pode comer, namorar, ir ao banheiro e voltar pra continua-lo

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