sexta-feira, 14 de maio de 2010

O épico dentro do épico - Spartacus


Eu acho Kirk Douglas um idiota. Sem dúvida alguma. Tudo bem, ele fez filmes bons, disso eu não discordo. Sendo bem sincero eu não conheço muito sua carreira, aliás, nem sei o que a maioria pensa sobre eles. Nunca pensei em caminhar no meio da rua e dizer "Ei, o que você pensa sobre o ator Kirk Douglas?"

De fato os seus dois únicos filmes que eu considero verdadeiros são Glória Feita de Sangue e Spartacus, ambos dirigidos pelo -- na época -- iniciante Stanley Kubrick. O primeiro foi um grande sucesso, gozando de boa crítica e público, aliado ao fato de ter uma produção bem tranquila (claro que não tão tranquila quanto os filmes posteriores de Kubrick, muito menos com a liberdade que ele gostaria).

Se a produção de Glória Feita de Sangue foi uma calmaria, não podemos dizer o mesmo de Spartacus. Após três semanas de produção o experiente diretor Anthony Mann (de Cimarron e El Cid) foi demitido de uma maneira extremamente estranha e sem aviso prévio. Entra em cena o jovem Kubrick, de apenas 32 anos, com a dura missão de dirigir um filme épico, de orçamento astronômico, num local tenso, com um roteiro que contradiz tudo o que ele acreditava, com um roteirista na Lista Negra.

O inferno kubrickiano começa justamente com a sua librerdade criativa. A maior parte das idéias do diretor foram vetadas pelo real diretor do filme: Kirk Douglas. Mais tarde Kubrick disse que dirigiu "um filme moralista idiota." O roteiro de Dalton Trumbo nada mais é do que um melodrama de 3 horas e meia baseado em um livro de Howard Fast. Aliás, este filme não é nada parecido com o extremamente polêmico Lolita, seu filme seguinte.

Kubrick também teve que gastar voz, e muita voz com o diretor de fotografia Russel Merty. Os storyboard de Kubrick eram rasgados, xingados, massacrados. Nas barracas das produções ninguém se surpreenderia se um belo dia Kubrick saltasse em cima do pescoço de Merty e o estrangulasse.

No final Kubrick ainda teve a sua boa amizade com Douglas desmanchada por ummotivo bobo: como Dalton Trumbo estava proibido de assinar qualquer coisa em Hollywood por ser um dos "supostos comunistas" no auge do mccartismo, Kubrick pediu permissão para Douglas para ser creditado como roteirista do filme. Ora, mais essa!, Kubrick, Stanley Kubrick pedindo permissão para alguém?! E mais, ela foi negada, com um sonoro não de Kirk! Mas o que você queria que Stanley fizesse? Ele é o diretor, bolas, não deveria dever nada a seu ninguém. Por esse simples motivo os dois nunca mais se falaram. Mais tarde, Kirk, quando Kubrick fazia sucesso, disse: "Kubrick pode ser um gênio, mas é um idiota." Eu acho que há uma pequena contradição nesta afirmação.

Spartacus foi um estrondoso sucesso. Apesar de não gostar do filme, eu agradeço a Kirk por substituir Mann por Kubrick, afinal, este filme foi a porta de entrada de Stanley Kubrick para as grandes produções.

No final, Spartacus é um filme de Kirk Douglas dirigido por Stanley Kubrick.

Por Victor Bruno

1 comentários:

Concordo contigo. Me decepcionei extremamente quando assisti. Uma das únicas coisas que realmente gostei foi o diálogo de Tony Curtis e Laurence Olivier, achei bem interessante.

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