terça-feira, 12 de julho de 2011

O Quarto do Pânico


Panic Room, 2002/ Dirigido por David Fincher
Com Jodie Foster, Kristen Stewart, Forest Whitaker, Jared Leto


(3/5)

De todos os gêneros pelos quais o diretor David Fincher se aventurou, o que mais saiu beneficiado pela lente do cineasta foi o suspense. Desde os sucesso de público e crítica de Seven - Os Sete Crimes Capitais (Se7en, 1995), as grandes expectativas em volta das novas produções do diretor sempre se focaram em possíveis novos suspenses, mesmo com suas tentavivas no terreno do drama e da fantasia. Tudo isso porque o estilo de filmagem e de direção de Fincher se casa perfeitamente com o que se espera de um bom filme de suspense. O que acontece, portanto, em O Quarto do Pânico não é muito diferente, embora não seja este o melhor exemplar do gênero em sua filmografia.

Visto por muitos como o mais sem graça de Fincher, O Quarto do Pânico não deve ser analisado com a mesma dose de exigência que filmes como Seven e Clube da Luta (Fight Club, 1999) proporcionaram. Isso porque a proposta dessa produção não é muito ambiciosa e se limita a entreter o público com uma trama ágil e bastante genérica, mas não por isso menos interessante. Na verdade, é até bastante inovadora para os padrões de seu cineasta, se levarmos em conta que desde Alien 3 (Alien 3, 1992) que Fincher não apostava em uma mulher como protagonista de seus filmes. Fora isso, nunca antes o diretor se valeu de um único cenário para a construção de sua história, e nem veio a fazer de novo até o momento. Ou seja, foi um risco escolher uma mulher como personagem principal e um único cenário para o desenrolar da idéia, dois elementos que geralmente não atraem o grande público.

Contrariando as expectativas baixas, com uma pequena ajuda do poder de Jodie Foster como atriz rentável, O Quarto do Pânico foi bem nas bilheterias e até hoje é bem recorrente quando o assunto é a filmografia de Fincher, alcançando assim um significado muito maior do que seu próprio conteúdo. A atriz escalada inicialmente para conduzir a trama era Nicole Kidman, mas Fincher sabia que sua protagonista precisava de uma presença mais forte e ágil, que passasse para o público segurança e inteligência. E ninguém melhor que Foster para dar vida a esse tipo de personagem. De fato, é ela que faz deste filme algo um tanto acima da média e relevante no meio de tantas outras produções americanas para o gênero.

A força da atriz é o suficiente para fazer da protagonista Meg Altman um verdadeiro deleite. Mesmo estando numa condição de desvantagem segundo a premissa do enredo, Meg consegue competir com a habilidade dos vilões e em momento algum fica por baixo, garantindo ao filme uma dose de adrenalina e dinâmica muito bem vinda, ao contrário da grande maioria das protagonistas histéricas e de QI duvidoso que geralmente assumem esse posto. Com isso em mente, é muito mais fácil aceitar todo o conjunto da obra quando somos apresentados à rotina de Meg e sua filha Sarah (Kristen Stewart), que se mudam para uma ampla casa em Nova York, privilegiada por um cômodo especial secreto apelidado de Quarto do Pânico, que possui uma segurança avançada para caso de emergências. Mal sabem elas que logo na primeira noite no novo lar um trio de bandidos invadiria o local. Agora refugiadas dentro do tal Quarto do Pânico, elas terão de reunir forças para sobreviver, principalmente ao descobrirem que é lá dentro que se encontra o alvo dos três assaltantes.

É então que a técnica de Fincher entra em ação, ao fazer daquele ambiente pequeno e estranho o elemento que protege as personagens ao mesmo tempo que se mostra o grande responsável por toda aquela situação perigosa. O quarto do pânico as colocou em perigo ao atrair três homens perigosos e altamente qualificados para a casa, mas ao mesmo tempo é a única forma de salvação e proteção delas. Fincher faz do cômodo um personagem, cheio de mistérios e segredos, que instiga curiosidade do espectador ao apresentar uma imagem de segurança e amaeaça. Resta então acompanhar e torcer por Meg, não somente para que ela escapar, mas também para conseguir descobrir o que há de tão precioso dentro do quarto e que atrai tanto a atenção dos três homens.

Sensações como claustrofobia, pânico, desespero, mal estar, falta de ar, e afins preenchem a tela e atingem o espectador, numa duração curta e eficiente que cumpre sua proposta de causar medo. Por outro lado, é um tanto decepcionante ver o rumo tomado por Fincher, que poderia ter tirado dessa premissa algo muito maior e mais significativo. A condução do filme é um tanto previsível, mesmo com uma Jodie Foster inspirada, e a revelação precoce do segredo em volta do quarto do pânico tira metade da graça. O que poderia ter sido um filmaço baseado na descontrução de uma mãe e uma filha em um ambiente inóspito, se torna um thriller que opta por caminhos fáceis e conclusões esperadas. No fim, Fincher errou ao dar prioridade à situação, e não aos personagens. Os personagens ali ganham uma significado de meras marionetes a fazerem exatamente o que era esperado, quando na verdade poderiam ter ganhado uma atenção especial e saído do terreno seguro dos suspenses. Certamente o cineasta percebeu isso e corrigiu mais tarde na hora de produzir Zodíaco (Zodiac, 2007), um suspense que acerta em tudo o que O Quarto do Pânico erra.

Mas isso não tira os méritos da produção, que apesar de menor, ainda assim está acima da média. Mesmo escolhendo alternativas mais básicas, Fincher fez de O Quarto do Pânico um bom suspense, que ganha um tanto mais de prestígio com as presenças de Foster e Whitaker. Mais que isso, é uma prova de que o diretor soube muito bem aproveitar seu enredo e, principalmente, seu cenário. São poucos os que sabem fazer o bom uso de ambientes pequenos e únicos sem deixar tudo tedioso ou pretensioso. Nesse ponto Fincher ganha muitos pontos e graças à isso temos em mãos uma obra que não é perfeita, mas com certeza agrada e proporciona algo além do óbvio.

Por Heitor Romero
11/07/2011

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