domingo, 1 de maio de 2011

A Vida e Morte de Peter Sellers

The Life and Death of Peter Sellers, 2004/ Dirigido por Stephen Hopkins
Com Geoffrey Rush, Charlize Theron, Emily Watson, John Lithgow, Miriam Margoyles, Stephen Fry, Peter Vaughan e Stanley Tucci.


(2/5)

Para começar este texto, lanço uma afirmação que, acredito eu, poucos leitores irão discordar: Peter Sellers foi um artista único e incrível. Ao longo de sua carreira, Sellers se mostrou um ator de versalitidade impressionante, interpretando personagens que se tornaram marcantes, como o Inspetor Clouseau da série de filmes "A Pantera-Cor-de-Rosa", o Dr. Fantástico do filme de mesmo título (um dos melhores de todos os filmes, em minha humilde opinião) e o jardineiro Chance, de "Muito Além do Jardim", além de tantos outros. Porém, embora tenha tido um grande sucesso em frente às câmeras, o ator tinha uma vida particular extremamente complicada, e é principalmente esta que o diretor Stephen Hopkins aborda em "A Vida e Morte de Peter Sellers".

O filme trata, basicamente, de como Peter Sellers (interpretado magistralmente por Geoffrey Rush, de quem falaremos mais adiante) era incapaz de conciliar o sucesso no cinema com estabilidade familiar. Essa dificuldade em equilibrar os dois lados de sua cinema acabou provocando o fim de seu casamento com Annie Sellers (Emily Watson), a quem sempre amou, e posteriormente um novo divórcio de Britt Ekland (Charlize Theron), além de mais dois casamentos fracassados. Ao mesmo tempo, praticamente não tinha amigos, a não ser o diretor Blake Edwards (John Lithgow), com quem trabalhou por cerca de 20 anos e com quem também mantinha uma relação difícil. A depressão e os crescentes problemas de saúde acabaram o levando à morte, aos 54 anos de idade.

Como a sinopse acima dá a entender, o filme é basicamente uma biografia deste grande ator, sem grande inventividade por parte do roteiro, e muito menos do diretor. Muito pelo contrário, todas as vezes em que Hopkins tenta fazer algo "diferente" (basicamente algumas seqüências em que Geoffrey Rush assume outros personagens, como a mãe, a esposa ou o pai de Peter Sellers, e se dirigindo à câmera em primeira pessoa), tudo soa forçado e gratuito, sem razão de terem sido incluídas no filme. Para piorar, há uma cena tenebrosa, uma tentativa do diretor em criar algo "psicodélico", como Rush interpretando o personagem de Sellers no filme "Um Beatle no Paraíso", que acaba caindo no puro mau gosto.

Mas o próprio Rush é o grande trunfo e a força vital desta biografia. Para todo fã dde Peter Sellers (como este que vos escreve), é impressionante a atuação de Rush, tanto em termos de semelhança física, como os trejeitos e marcas caracterísitcas do comediante. E os melhores momentos momentos do filme são exatamente aqueles em que Rush interpreta Sellers interpretando alguns de seus personagens! Nesse sentido, é um deleite todas mas seqüências que mostram o processo de criação dos personagens do filme "Dr. Fantástico", de Stanley Kubrick (aqui interpretado por Stanley Tucci): está lá a icônica cena da sala de guerra, com a conversa no telefone entre o presidente americano (Geoffrey Rush/Peter Sellers) e o presidente soviético, e ainda as discussões entre Sellers e Kubrick, que gostaria que o ator interpretasse quatro personagens no filme ( o quarto seria o comandante do avião), mas este recusou.

A atuação de Geoffrey Rush é tão impressionante que o próprio Blake Edwards, recentemente falecido, afirmou ter sido esta a maior interpretação que ele já tinha visto. A fala de Edwards pode ser um exagero, mas de fato é tão impressionante o trabalho deste grande ator australiano, que por vezes parece ser o próprio Sellers atuando no filme. O restante do elenco também se sai bem, com destauqes para Emily Wtason, ótima no papel da primeira esposa do ator, e John Lithgow, sempre competente. A única questão que fica é: por que foi escalado Stanley Tucci para interpretar Stanley Kubrick, um dos melhores (senão o melhor) diretores de todos os tempos? Não somente Tucci não tem qualquer tipo de semelhança com Kubrick, como também é um ator limitadíssimo, e fica a sensação de que um ator mais competente poderia ter feito melhor jus ao genial diretor.

No fim das contas, "A Vida e Morte de Peter Sellers" é um filme correto, um tanto mal dirigido, mas que ganha força graças à atuação soberba de Geoffrey Rush, que lhe rendeu alguns merecidos prêmios, como um Globo de Ouro. Mas que Peter Sellers merecia um filme melhor, que trabalhasse de maneira mais cuidadosa sua vida profissional e pessoal, é inegável, já que talvez tenha sido um dos maiores artistas de cinema de todos os tempos.

Por Douglas Braga

01/05/2011

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