quinta-feira, 19 de maio de 2011

Lars von Trier!


Agora chega a minha vez de entrar na roda: Sendo piada ou não, algumas coisas não devem ser ditas. Até alguns dias atrás, eu acreditava que todo sujeito na face da Terra sabia disso – ingenuidade latente. Mas me parecia algo tão óbvio, tão notório... algo que se aprendia de berço. Uma coisa que até o mais desbocados dos homens saberia discernir. Obviamente eu estava enganado, redondamente enganado. Sim, senhor, Lars von Trier me desenganou.

Acredito que todos aqui já estão cientes da polêmica (a nova, diga-se de passagem) que o dinamarquês mais controvertido do mundo criou ontem na sessão de Q&A após a premiére do seu novo filme, Melancholia, em Cannes. Trier disse e fez:

“Eu realmente queria ser um judeu, mas então descobri que na verdade eu era nazista. Você sabe... por que a minha família era alemã, Hartmann. Uh... o que também se tornou uma espécie de prazer [solitário riso nervoso]. Então, sou uma espécie de... sim. [Longo silêncio reflexivo.] Eu, eu, eu... o que eu posso dizer é que... eu entendo Hitler. Mas mas acho que ele fez algumas coisas erradas. Posso vê-lo sentado sozinho em um bunker. [Kirsten Dunst diz algo como “Que horror!”] Mas eu tenho uma lógica quanto a isso! Eu... eu acredito que entendo o homem. Ele não é o que eu chamaria de “cara legal”, mas... sim, eu o entendo. Eu até me simpatizo com ele, entendo muito, mas, vamos lá, não sou a favor da Segunda Guerra Mundial, não sou contra judeus – já Susanne Bier... [diretora judia de Em um Mundo Melhor] – não, nem mesmo contra Susanne Bier! Isso também foi uma piada, mas, claro, sou a favor de judeus. Não muito, claro, por que Israel é uma verdadeira dor de cabeça, mas... poxa, como posso terminar essa frase?”

Já na metade da sua piada ele já sabia que havia entrado pelo cano. A piada é obviamente imbecil, boba, estúpida, idiota, babaca. Primeiro, o Trier não tinha que fazer piada nenhuma. Ele é diretor, não comediante de stand-up. Sejamos francos, aquilo era realmente, mas realmente necessário? Vamos ser realistas e racionais, essa parece ser mais uma tentativa infantil, inútil e imbecil de um diretor superestimado e carente por atenção para aparecer. Creio que a maioria dos leitores saibam de todo o histórico de depressão e melancolia (com o perdão do trocadilho) e arrogância de Trier. E quem vai a Cannes sempre que Trier marca presença, já podemos esperar, na menor das expectativas, três coisas: Polêmica, aplausos e vaias. Trier é um homem que, para dizer o mínimo, não tem papas na língua e não quer ter.

Mas ao mesmo tempo em que ele é um mestre na arte da polêmica, ele é um grande – conforme dito – infantil. Fazendo uma comparação bem grossa, Trier equivale a uma criança mimada chorando no canto do quarto pedindo atenção ao pai enquanto este conversa com um amigo. Qual a atitude que devemos tomar? Ignorar. Se mandarmos calar a boca, o aí é que o garoto desatina. Trier é aquele menino bagunceiro da sala, o palhaço da turma. Sim!, aquele que quando estudávamos sistema reprodutor ficava sorrindo e fazendo palhaçada sempre que a professora falava sobre pênis.

Agora, calma. Não vou crucificar o Trier por ser um inútil – isso seria desonesto comigo mesmo e com você que se presta a ler o que eu penso sobre isso. Quando estava pronto para escrever esse texto ontem de noite, um alarme soou na minha cabeça: Será que eu estou sendo honesto? Será que fui atrás de todas os fatos? Será que eu vou verdadeiramente atingir a cerne da questão? O verdadeiro X da equação? São perguntas consideráveis para qualquer um que vá escrever um texto pessoal. Isso aqui não é um editorial. Nem um de nós do Ornitorrinco Cinéfilo compartilha a mesma opinião.

Enfim, foi nesse momento em que acessei o Diário de Bordo, o blog do Pablo Villaça (um homem que notoriamente dispensa apresentações). Eu sabia que ele iria postar algo com uma luz mais crítica e sóbria e menos comercial que as dos jornais. Dito e feito: O homem salvou o texto. Tomei um tempo para refletir e cá estou com a minha pena virtual.

O resultado dessas vinte e quatro horas de pensamento foram que: 1) Trier é mais babaca do que eu pensava que ele fosse. 2) Independente de ser um massacre numa escola, de ser um homem de Neuilly-sur-Seine fazendo sexo com uma camareira ou de ser um cineasta falando bobagem, nunca confie nos jornais, eles não estão nem aí se são honestos ou não. Todos são Charles Foster Kanes da vida. Tanto é verdade que parece que o próprio Gilles Jacob parece ter se deixado levar na onda e cometeu o erro de banir Trier. Ou o próprio Trier se deixou levar e pediu desculpas (o que me deixou realmente preocupado e me levou a quase acreditar que o Arrebatamento aconteceria nesse sábado).

Sendo um inútil ou não, Trier não merecia ter sido expulso. Deveriam tê-lo ignorado. Expulsá-lo só dará mais corda para o cara.

Ou não. Sempre vai ter gente dando corda pra ele. No Palais des Festivals ou não. O tipo do cara que se pintar a bunda de branco e sair correndo pelado no meio da rua vai ter gente que achará isso lindo.

Só não me digam que Cannes sofre da Síndrome do Politicamente Correto. É lá onde são exibidos filmes como Dente Canino, OK?

Mas agora a pergunta é: Scorsese, você ainda embarca nessa com o Trier?

Por Victor Bruno

1 comentários:

Tá aí um um diretor que tenta buscar o ''talento'' em meio ao bolo de polêmicas. Idiota ao extremo. É como eu sempre digo, se me permite: ''daq a pouco ele pinta o cu de branco e sai correndo pelado na rua.''

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