Tian Bian Yi Duo Yun, 2005 / Dirigido por Ming-liang Tsai
Com Kang-sheng Lee, Shiang-chyi Chen, Sumomo Yozakura, Kuei-Mei Yang e Yi-Ching Lu.
Nota (3/5)
Ao mesmo tempo em que se assemelha a um filme experimental, cheio de longas tomadas, silêncio, Tian Bian Yi Duo Yun torna-se também um filme de arte, mais pela expressividade e pela liberdade que tem de se expressar da forma que deve o que se propõe sem nenhuma barreira. Em meio a uma história estranha e absurda, surgem dois personagens curiosos e distintos. Desde os primeiros momentos do filme, sabemos que aqueles personagens, de alguma forma, se conectarão ao longo do filme, seja por um laço dramático, seja por laços românticos. Mas como isso pode acontecer? Por que eu fiz essa pergunta? Porque são personagens completamente diferentes, dois extremos da vida.
Em Taipe, Taiwan, há um surto de seca horrível causando falta de água e a única, mais barata e agradável forma de contornar a situação são com as melancias, frutas com grande quantidade de água em seu interior. Nesse cenário catastrófico, somos apresentados a duas pessoas: uma jovem mulher solitária que acabara de voltar da França e vive em seu apartamento sem grandes altos; e um homem, um antigo relojoeiro, que se tornou ator pornô e é visinho dessa jovem. Intercalando entre as cenas de sexo do ator pornô com uma atriz e a vida monótona e sem graça da jovem, assim somos apresentados aos dois. Dois extremos, contrastes de personalidades e, desde então, já temos idéia de que estes, a qualquer momento, por mais diferentes que sejam, vão se encontrar.
O filme transcorre em um silêncio angustiante, mas não à toa, pois reflete a vida desses dois personagens, vazias e desesperançosas. O homem, que, mesmo atuando em filmes pornôs, não tem relacionamentos sérios, não convive com outras pessoas e não gosta de melancia. A mulher que procura de alguma forma se aproximar do mundo alugando filmes e das outras pessoas, mesmo que com sua personalidade tímida demais que a afasta das pessoas sem nem conseguir falar uma palavra. E é por acaso que estes dois se encontram, em um parque no meio da cidade clara banhada pelo sol escaldante, o homem dormindo num brinquedo e a mulher, por ver uma garrafa de água ao seu lado, vê a oportunidade de lavar sua melancia. Deste ponto em diante vemos uma aproximação tímida dos dois ao mesmo tempo em que vemos algo novo surgir dentro deles.
Mas então, o que poderia tornar o filme ruim? Bom, quase não há falas no filme, o diretor então pareceu querer estragar o filme adicionando teatros musicais para expressar o que cada um dos personagens sente. Poderia sim, ser uma boa idéia se não fosse tão bobo. Alterna de palhaçadas, brincadeiras coloridas e vergonhosas a danças com guarda-chuvas com estampas de melancia, tão bobo, tão infantil que, se não fosse pelas letras conectando o filme ao espetáculo, seria uma apresentação infantil, o que, normalmente, tira o foco sério e, mesmo que á vezes cômico, do filme. Aquela lentidão quase filosófica é perturbada pelos musicais. A própria lentidão é um fator às vezes ruim, mesmo que refletindo o estado dos personagens. Ao decorrer do filme, vemos o cotidiano de cada um dos dois, o homem que tem sua rotina gravando filmes pornôs e a mulher com sua vida monótona, indo às vezes alugar filmes e por vezes cedendo à curiosidade de entrar na sala privada de filmes pornôs.
O filme se assemelha a um filme experimental. Ming-liang Tsai procura mais experimentar ângulos ousados com sua câmera estática, por vezes no canto do teto ou de baixo de algo, sem muita coisa nova a mostrar. Porém, pode ser um fator a ser levado em conta, pois a falta de movimento da câmera também se torna um reflexo da vida dos dois e a exploração de cada ângulo, uma forma de escapar da rotina, nesse caso, a rotina dos filmes que não ousam em procurar posições de câmera.
Nessa trama absurda (seca, melancias) que mais parece uma desculpa para mostrar o relacionamento do casal com um toque de novidade, vemos aquele desenrolar lento, quase parando. O filme seria muito pequeno se não fosse por uma coisa, uma coisa que salva completamente o filme de todo o desastre: a seqüência final. O ápice, o topo do filme. Ainda que o corpo do filme seja ruim, esse final consegue beirar a perfeição, seja pelo que ele aborda, por como é conduzido e pelos sentimentos que ele passa. É o tipo de final que faz toda aquela lentidão, aquela tortura ser válida, pois é o que se espera e dezenas de vezes mais, a prova de que algo pode acontecer, pode existir. Mesmo que ousado e que soe ofensivo, fazer o quê? É tão inesperado e original que não dá para falar que este filme é de todo ruim ou não encontrar nele algum sentimento, não dar reconhecimento a ele em meio a uma discussão sobre cinema.
O filme também é muito comentado pelo seu exagero no sexo, ainda mais para um filme lançado comercialmente. Mesmo que o ato não seja explícito (penetração), o filme tem um conteúdo sexual ousado com diversas cenas de sexo, masturbação e até mesmo uma ejaculação. Mas isso é necessário.
É um filme que vale a pena assistir, mesmo que por seus momentos finais (não que se deva descartar o desenvolvimento do filme).
Por Pedro Ruback
Nota (3/5)
Ao mesmo tempo em que se assemelha a um filme experimental, cheio de longas tomadas, silêncio, Tian Bian Yi Duo Yun torna-se também um filme de arte, mais pela expressividade e pela liberdade que tem de se expressar da forma que deve o que se propõe sem nenhuma barreira. Em meio a uma história estranha e absurda, surgem dois personagens curiosos e distintos. Desde os primeiros momentos do filme, sabemos que aqueles personagens, de alguma forma, se conectarão ao longo do filme, seja por um laço dramático, seja por laços românticos. Mas como isso pode acontecer? Por que eu fiz essa pergunta? Porque são personagens completamente diferentes, dois extremos da vida.
Em Taipe, Taiwan, há um surto de seca horrível causando falta de água e a única, mais barata e agradável forma de contornar a situação são com as melancias, frutas com grande quantidade de água em seu interior. Nesse cenário catastrófico, somos apresentados a duas pessoas: uma jovem mulher solitária que acabara de voltar da França e vive em seu apartamento sem grandes altos; e um homem, um antigo relojoeiro, que se tornou ator pornô e é visinho dessa jovem. Intercalando entre as cenas de sexo do ator pornô com uma atriz e a vida monótona e sem graça da jovem, assim somos apresentados aos dois. Dois extremos, contrastes de personalidades e, desde então, já temos idéia de que estes, a qualquer momento, por mais diferentes que sejam, vão se encontrar.
O filme transcorre em um silêncio angustiante, mas não à toa, pois reflete a vida desses dois personagens, vazias e desesperançosas. O homem, que, mesmo atuando em filmes pornôs, não tem relacionamentos sérios, não convive com outras pessoas e não gosta de melancia. A mulher que procura de alguma forma se aproximar do mundo alugando filmes e das outras pessoas, mesmo que com sua personalidade tímida demais que a afasta das pessoas sem nem conseguir falar uma palavra. E é por acaso que estes dois se encontram, em um parque no meio da cidade clara banhada pelo sol escaldante, o homem dormindo num brinquedo e a mulher, por ver uma garrafa de água ao seu lado, vê a oportunidade de lavar sua melancia. Deste ponto em diante vemos uma aproximação tímida dos dois ao mesmo tempo em que vemos algo novo surgir dentro deles.
Mas então, o que poderia tornar o filme ruim? Bom, quase não há falas no filme, o diretor então pareceu querer estragar o filme adicionando teatros musicais para expressar o que cada um dos personagens sente. Poderia sim, ser uma boa idéia se não fosse tão bobo. Alterna de palhaçadas, brincadeiras coloridas e vergonhosas a danças com guarda-chuvas com estampas de melancia, tão bobo, tão infantil que, se não fosse pelas letras conectando o filme ao espetáculo, seria uma apresentação infantil, o que, normalmente, tira o foco sério e, mesmo que á vezes cômico, do filme. Aquela lentidão quase filosófica é perturbada pelos musicais. A própria lentidão é um fator às vezes ruim, mesmo que refletindo o estado dos personagens. Ao decorrer do filme, vemos o cotidiano de cada um dos dois, o homem que tem sua rotina gravando filmes pornôs e a mulher com sua vida monótona, indo às vezes alugar filmes e por vezes cedendo à curiosidade de entrar na sala privada de filmes pornôs.
O filme se assemelha a um filme experimental. Ming-liang Tsai procura mais experimentar ângulos ousados com sua câmera estática, por vezes no canto do teto ou de baixo de algo, sem muita coisa nova a mostrar. Porém, pode ser um fator a ser levado em conta, pois a falta de movimento da câmera também se torna um reflexo da vida dos dois e a exploração de cada ângulo, uma forma de escapar da rotina, nesse caso, a rotina dos filmes que não ousam em procurar posições de câmera.
Nessa trama absurda (seca, melancias) que mais parece uma desculpa para mostrar o relacionamento do casal com um toque de novidade, vemos aquele desenrolar lento, quase parando. O filme seria muito pequeno se não fosse por uma coisa, uma coisa que salva completamente o filme de todo o desastre: a seqüência final. O ápice, o topo do filme. Ainda que o corpo do filme seja ruim, esse final consegue beirar a perfeição, seja pelo que ele aborda, por como é conduzido e pelos sentimentos que ele passa. É o tipo de final que faz toda aquela lentidão, aquela tortura ser válida, pois é o que se espera e dezenas de vezes mais, a prova de que algo pode acontecer, pode existir. Mesmo que ousado e que soe ofensivo, fazer o quê? É tão inesperado e original que não dá para falar que este filme é de todo ruim ou não encontrar nele algum sentimento, não dar reconhecimento a ele em meio a uma discussão sobre cinema.
O filme também é muito comentado pelo seu exagero no sexo, ainda mais para um filme lançado comercialmente. Mesmo que o ato não seja explícito (penetração), o filme tem um conteúdo sexual ousado com diversas cenas de sexo, masturbação e até mesmo uma ejaculação. Mas isso é necessário.
É um filme que vale a pena assistir, mesmo que por seus momentos finais (não que se deva descartar o desenvolvimento do filme).
Por Pedro Ruback
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