Jules et Jim, 1962 / Dirigido por François Truffaut
Com Jeane Monreau, Oskar Werner e Henri Serre
(2/5)
Nem tudo que reluz é ouro, e infelizmente no cinema não é diferente. Geralmente o nome de quem assina a direção de um filme é um dos principais fatores de atração do público que entende um pouco mais de cinema, e justamente por isso quase sempre o espectador se vê condicionado a gostar de determinada produção apenas pelas suas credenciais. O caso de Jules e Jim, um filme do aclamado François Truffaut, exemplifica bem essa situação, já que na verdade se trata de uma obra fraca e sem fôlego, que não condiz com seus nomes envolvidos. Na verdade, tinha tudo para dar certo, levando em conta sua premissa e seu diretor, mas acabou se resumindo em algo descartável e esquecível, que poderia muito bem não ter existido.
Em momento algum se notam as características positivas sempre presentes nas obras de Truffaut, muito menos aquela inventividade refrescante que a novelle vague trouxe para o cinema da época. A história um tanto avançada de uma mulher dividida entre seus sentimentos por dois homens poderia resultar numa grande inovação, levando em conta as características revolucionárias que os cineastas da novelle vague traziam consigo. Mas o resultado é infrutífero, conduzido por uma narrativa boba e por uma total falta de responsabilidade no que diz respeito à composição dos personagens centrais.
Os primeiros 15 minutos são excessivamente narrados por uma voz irritante que só está lá para adicionar informações óbvias ou inúteis. Além do que, todo o começo é um grande conjunto de informações que não serão aproveitadas em momento algum no decorrer da trama. Tudo só começa a desencalhar com o surgimento de Catherine, uma mulher de espírito indomável que se apaixona por Jules, melhor amigo de Jim. Depois de passar alguns anos casada com Jules e ter uma filha com ele, Catherine se descobrirá verdadeiramente apaixonada por Jim.
Jules e Jim são dois personagens que tinham tudo para engatar uma boa trama, mas são conduzidos de forma tão leviana pelo roteiro que parecem dois fantoches obedecendo a ordens aleatórias. Catherine, por outro lado, tem uma personalidade muito bem trabalhada e desenvolvida, mas em momentos algum tem força o suficiente para assumir as rédeas como protagonista do filme, restringindo-se assim a uma personagem grande demais para um texto tão fraco. Ela é complicada, indecisa, egoísta e insensível, resultando numa pessoa interessante de se ver em ação. Jules e Jim, por outro lado, não acompanham esse “furacão”, já que ficam presos nos clássicos estereótipos de “certinho” e “safado” respectivamente. Aí já não se sabe se o foco do filme é a amizade entre os dois ou o amor tríplice entre eles e Catherine.
Outro problema de percurso se encontra nos momentos decisivos, que são passados de forma muito rápida e sem um pingo de atenção. A forma como a amizade entre Jules e Jim se abala depois que Catherine passa a amar Jim é tratada com tanta futilidade, colocando Jules como um perfeito idiota a aceitar aquilo sem esboçar qualquer tipo de reação, seja ela positiva ou negativa. Jim também perde o compasso quando passa a se desentender com Catherine, voltando ao zero como um personagem sem brilho próprio que só sobrevive da existência dela. Ela, por fim, é tão egocêntrica (não que isso seja um defeito de texto) que ofusca os dois, mas não tem aonde descarregar toda sua capacidade de crescimento na trama, já que se encontra rodeada por contextos e personagens inferiores e banais.As soluções dos conflitos são fáceis e preguiçosas, e o maior exemplo disso se encontra no desfecho chatinho e sem graça. Jules, o personagem mais insosso, termina ganhando todas as atenções e, como não tem capacidade de lidar com elas, finaliza o filme de forma estúpida a abrupta.
Tudo só não se perde de vez num mar de equívocos por alguns momentos de pura genialidade, como a cena em que Jim lê uma carta desamorosa de Catherine, em que o rosto dela aparece narrando o texto sob a paisagem de sua casa de campo. Mas esses momentos são raros, picotados e, juntos, não dão mais que 10 minutos de metragem.
(2/5)
Nem tudo que reluz é ouro, e infelizmente no cinema não é diferente. Geralmente o nome de quem assina a direção de um filme é um dos principais fatores de atração do público que entende um pouco mais de cinema, e justamente por isso quase sempre o espectador se vê condicionado a gostar de determinada produção apenas pelas suas credenciais. O caso de Jules e Jim, um filme do aclamado François Truffaut, exemplifica bem essa situação, já que na verdade se trata de uma obra fraca e sem fôlego, que não condiz com seus nomes envolvidos. Na verdade, tinha tudo para dar certo, levando em conta sua premissa e seu diretor, mas acabou se resumindo em algo descartável e esquecível, que poderia muito bem não ter existido.
Em momento algum se notam as características positivas sempre presentes nas obras de Truffaut, muito menos aquela inventividade refrescante que a novelle vague trouxe para o cinema da época. A história um tanto avançada de uma mulher dividida entre seus sentimentos por dois homens poderia resultar numa grande inovação, levando em conta as características revolucionárias que os cineastas da novelle vague traziam consigo. Mas o resultado é infrutífero, conduzido por uma narrativa boba e por uma total falta de responsabilidade no que diz respeito à composição dos personagens centrais.
Os primeiros 15 minutos são excessivamente narrados por uma voz irritante que só está lá para adicionar informações óbvias ou inúteis. Além do que, todo o começo é um grande conjunto de informações que não serão aproveitadas em momento algum no decorrer da trama. Tudo só começa a desencalhar com o surgimento de Catherine, uma mulher de espírito indomável que se apaixona por Jules, melhor amigo de Jim. Depois de passar alguns anos casada com Jules e ter uma filha com ele, Catherine se descobrirá verdadeiramente apaixonada por Jim.
Jules e Jim são dois personagens que tinham tudo para engatar uma boa trama, mas são conduzidos de forma tão leviana pelo roteiro que parecem dois fantoches obedecendo a ordens aleatórias. Catherine, por outro lado, tem uma personalidade muito bem trabalhada e desenvolvida, mas em momentos algum tem força o suficiente para assumir as rédeas como protagonista do filme, restringindo-se assim a uma personagem grande demais para um texto tão fraco. Ela é complicada, indecisa, egoísta e insensível, resultando numa pessoa interessante de se ver em ação. Jules e Jim, por outro lado, não acompanham esse “furacão”, já que ficam presos nos clássicos estereótipos de “certinho” e “safado” respectivamente. Aí já não se sabe se o foco do filme é a amizade entre os dois ou o amor tríplice entre eles e Catherine.
Outro problema de percurso se encontra nos momentos decisivos, que são passados de forma muito rápida e sem um pingo de atenção. A forma como a amizade entre Jules e Jim se abala depois que Catherine passa a amar Jim é tratada com tanta futilidade, colocando Jules como um perfeito idiota a aceitar aquilo sem esboçar qualquer tipo de reação, seja ela positiva ou negativa. Jim também perde o compasso quando passa a se desentender com Catherine, voltando ao zero como um personagem sem brilho próprio que só sobrevive da existência dela. Ela, por fim, é tão egocêntrica (não que isso seja um defeito de texto) que ofusca os dois, mas não tem aonde descarregar toda sua capacidade de crescimento na trama, já que se encontra rodeada por contextos e personagens inferiores e banais.As soluções dos conflitos são fáceis e preguiçosas, e o maior exemplo disso se encontra no desfecho chatinho e sem graça. Jules, o personagem mais insosso, termina ganhando todas as atenções e, como não tem capacidade de lidar com elas, finaliza o filme de forma estúpida a abrupta.
Tudo só não se perde de vez num mar de equívocos por alguns momentos de pura genialidade, como a cena em que Jim lê uma carta desamorosa de Catherine, em que o rosto dela aparece narrando o texto sob a paisagem de sua casa de campo. Mas esses momentos são raros, picotados e, juntos, não dão mais que 10 minutos de metragem.
Ver uma premissa tão legal, em época de inovações como a novelle vague, nas mãos de alguém como Truffaut, ser desperdiçada de tal maneira chega a ser um desgosto. A narração brega, incansável e interminável finaliza tudo como um grande circo de horrores. Ou seja, um filme dispensável que ocasiona uma pequena mancha no currículo quase impecável de um dos diretores franceses mais renomados e talentosos.
Por Heitor Romero
Por Heitor Romero
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