How Do You Know, 2010 / Dirigido por James L. Brooks
Com Reese Witherspond, Paul Rudd, Owen Wilson, Jack Nicholson e Kathryn Hahn
(3/5)
O cinema de James L. Brooks é interessante. Tal como Woody Allen, Brooks conta sempre a mesma história, variando apenas tempo, lugar e personagens. As piadas são parecidas, o estilo de humor é o mesmo. Até o esqueleto narrativo é compartilhado. Mas, ainda como Woody Allen, ver seus filmes continua sendo uma experiência agradável e divertida. Não podemos pedir muito dos seus filmes. Não são trabalhos revolucionários, não são ousados: São agradáveis e ponto final.
Logo, não esperava nada demais deste Como Você Sabe (How Do You Know, 2010). O que eu pensava que iria ver? Uma comédia bacana e leve que iria me entreter durante duas horas. O que eu vi? Uma comédia bacana e leve que iria me entreter durante duas horas. Quer algo melhor do que acertar nas expectativas? Não. Coisa melhor é impossível. Portanto, devemos tratar o filme como tal. Uma comédia bobinha, onde não devemos esperar nada demais.
Mas parece que nem todo mundo compartilha esse pensamento. Eu sinceramente me impressionei quando vi que o filme tem apenas uma cotação de 30% no Rotten Tomatoes (aquele famoso agregador de críticas online). Ou seja, apenas 30% dos críticos que assistiram ao filme escreveram positivamente sobre a obra. Agora, das duas uma: Ou eu não sei o que é um bom filme (aposto que muita gente concordou com essa afirmativa), ou os críticos, sinceramente, não souberam como avaliar a obra. (Ainda há uma terceira opção, que diz que todos eles estavam de mau humor quando assistiram ao filme, mas sinceramente acho difícil que 70% deles estavam num dia ruim.)
Acredito que essa recepção fria por parte da crítica (e, surpreendentemente, do público, já que o filme fracassou miseravelmente na bilheteria norte-americana) venha de um certo “preconceito” por parte das pessoas quanto ao gênero comédia. Nos dias de hoje, quando nós já estamos tão saturados de filmes estúpidos e nojentos, um lugar para um filme no estilo de Como Você Sabe é meio difícil. Considerei este filme uma espécie de screwball comedy dos tempos modernos. E tenho certeza de que não estou equivocado. Diálogos rápidos, personagens neuróticos, história girando em torno de uma mulher... está tudo lá!
Agora, não precisa ser nenhum Roger Ebert da vida para notar que L. Brooks tem problemas sérios na construção do roteiro. E, sendo bem sincero, existe a vaga impressão de que ele elaborou sua história com mais pretensão do que o recomendável. O que era para ser um simples triângulo amoroso transformasse num emaranhado mal ajustado de histórias. Elas têm um eixo narrativo coerente? Têm. Mas não está bem construído.
Lisa (Reese Witherspond, fofa) é uma talentosa jogadora de beisebol. O problema dela é um só: Está ficando velha – tem 31 anos (sem contar que é 0.3 segundos mais lenta do que os outros quando chega na primeira base, conforme observa seu novo treinador). Por conta disso, será cortada do time. Ao mesmo tempo, ela começa a namorar o proeminente e arrogante jogador Matty (Owen Wilson), um homem boêmio (falando da forma mais elegante possível) e que não tem limites quando o assunto é excentricidades. Matty é bonito, rico e seguro de si.
Mas eis que surge na história George (Paul Rudd), um inseguro e ansioso e paranoico executivo. Ele tem um grande problema em mãos: Acabou de ser indiciado pelo Governo norte-americano por fraude na documentação da sua empresa. Enriquecimento ilícito, eles dizem. Para completar, George acabou de terminar um namoro com Terry (Shelley Conn). Resultado: O rapaz está um caco. George se apaixona imediatamente por Lisa e o cenário está completo.
Só que o diretor-roteirista Brooks não sabe como resolver, como montar seu filme – ou melhor, sua história. Lembra quando eu disse que ele montou de forma pretensiosa um emaranhado de histórias mal resolvidas? Aliás, eu deveria ter dito que são histórias mal resolvidas e mal conectadas. O homem pula de um segmento para o outro de uma forma estranhamente tresloucada. Felizmente o entendimento do filme não é prejudicado, o que não torna esse erro um grande pecado, mas faltam pontos de referência. Os segmentos permanecem em aberto, existem reticências ali.
Eventualmente – e fatalmente, também – isso afeta o desenvolvimento das personagens. É público e notório que, por passarem mais tempo em cena e por terem as histórias melhor desenvolvidas, Paul Rudd e Reese Witherspond cativam mais o público – afinal, sabemos mais sobre aqueles caras. Na outra mão, Owen Wilson não passa de um sacana filho da mãe arrogante que já transou com pilhas de mulheres (o cara tem uma gaveta com escovas de dente só para as suas garotas!) e Jack Nicholson... bem, permitam-me ser franco, qual a real função de Jack Nicholson nesse filme? Nicholson não deve ter mais que 20 minutos de cenas, pouco faz para mostrar o enorme talento que o consagrou (não que ele esteja ruim aqui). De fato, Nicholson só vai ter uma real importância neste filme já no finalzinho. Entretanto, uma das melhores gags dele em Como Você Sabe é dele, bem na cena final.
Mas não podemos crucificar L. Brooks por cometer todas essas falhas que eu citei, muito menos dizer que eu estou me contradizendo. Um filme – acreditem ou não – não se resume só ao seu roteiro. Um filme é um conjunto de tudo o que está dentro e fora de enquadramento, orquestrado pelo seu diretor: E James L. Brooks faz um ótimo trabalho. Optando pelo método da direção invisível (jamais chamando atenção para si), Brooks repete, basicamente falando, a mesma fórmula que já havia utilizado em Espanglês (Spanglish, 2004), mas desta vez de uma forma mais apurada e amadurecida (comparando de forma grosseira, Brooks me lembrou um pouco o trabalho que Mike Nichols fez em Closer – Perto Demais, apesar de serem dois filmes completamente diferentes). Ele gasta mais tempo refinando seu design de produção e a fotografia. Tome como exemplo a cena onde Lisa encontra George pela primeira vez no restaurante: Preste atenção no vidro do parapeito onde ela está apoiada. Você encontrará marcas de impressões digitais lá. Agora diga: É ou não nos apoiarmos nos vidros dos lugares com a mão, deixando nossas impressões lá? Sim, é. Também observe como o apartamento de George é um lugar em permanente caos e desordem (refletindo um aspecto da sua personalidade). A desenhista de produção Jeannine Claude Oppewall deixa caixas e pilhas de roupas empacotadas e folhas e mais folhas de papéis e documentos em cima das mesas, enquanto o sempre não menos que genial diretor de fotografia Janusz Kaminski deixa o lugar sempre as escuras. Não apenas aqui no apartamento de George, mas também em seu escritório, onde as sombras parecem surgir mesmo quando não há nenhum corpo. Por outro lado, veja que o apartamento da personagem de Owen Wilson é bem iluminado.
Brooks também arranca boas performances dos seus atores, sendo a melhor delas a de Paul Rudd. Rudd consegue sem sombra de dúvidas atuar de forma convincente. Além de atuar muito bem com a voz, recorrendo a uma linguagem rápida e insegura bem woodyallenesca, Rudd também aplica uma linguagem corporal excelente, aplicando-se muito bem a sua personagem. Reese Witherspond também atua muito bem, apesar de sempre morder o lábio inferior e olhar para cima. Sempre. Já Owen Wilson não fede nem cheira. Apenas atua como habitualmente faz.
Agora, assim como aconteceu em Espanglês, o orçamento deste filme é inexplicável. 120 milhões de dólares? Hein?! Não, sério: 120 milhões. Fazer o quê, né? Na vida existem sempre coisas inexplicáveis.
Agora, sendo bem sincero, aqui vai um modo para se divertir enquanto assiste a este filme: Sente-se no sofá, pegue uma tigela de pipoca e um refrigerante, chame sua namorada (é um filme para dois, pode apostar) e esqueça dos seus problemas. No que se propõe, Como Você Sabe é bem eficiente, apesar do seu título quase inexplicável.
Por Victor Bruno
01/05/2011
2 comentários:
Boa crítica. Realmente, foi uma das únicas que falou do filme "positivamente". Não sou fã do cinema de Brooks, mas ainda assim irei conferir a obra com o único intuito: ver uma comédia.
abs.
Sinceramente, acho que é o melhor que você faz, Alan.
Abraços.
Postar um comentário