domingo, 22 de agosto de 2010

Os Excêntricos Tenenbaums


Os Excêntricos Tenenbaums
The Royal Tenenbaums, 2001
Dirigido por Wes Anderson
Escrito por Wes Anderson & Owen Wilson
Com Gene Hackman, Anjelica Houston, Ben Stiller, Owen Wilson, Luke Wilson, Gwyneth Paltrol, Danny Glover, Bill Murray

De certa forma, as maluquices deste filme fazem sentido. Acho completamente correta a mensagem que a tagline do filme passa. "Família não é uma palavra. É uma sentença." Acima de tudo, família é uma coisa complicada. Por normas da sociedade, devemos amar, proteger e servir nossa família assim como os bombeiros servem e protegem a sociedade. Ou como os policiais (a diferença é que os bombeiros não vendem armas para traficantes, certo?). Entretanto, como podemos amar, servir e proteger uma família neurótica, onde cada um tem feridas psicológicas ou emocionais? É isso que este excelente filme de Wes Anderson (Três é Demais, A Vida Marinha com Steve Zissou) tenta explorar.
O filme começa com um prólogo brilhante. Conhecemos a família Tenenbaum, formada por Chas (Stiller), Richie (Luke Wilson) e a filha adotiva Margot (Paltrow). Eles vivem numa casa que parece um castelo em Nova York. Uma Nova York estranha, de casas que parecem castelos e sem táxis amarelos. Os Tenenbaums são uma família de gênios. Entretanto, com o passar do tempo, quando cada um vai lentamente se despedaçando, em sua genialidade ou qualidades, a família vai igualmente se deteriorando. Até que o pai, Royal (Hackman), é despejado do hotel onde vivia e, sem lugar para onde ir, resolve voltar para a casa que comprou a 22 anos atrás, antes da família se deteriorar.


"Família". Este é um tema recorrente na filmografia de Anderson. Tanto quanto vingança é recorrente na filmografia de Quentin Tarantino (Cristo!, eu não consigo passar um dia sem falar este nome!). Wes fala de família neste filme, em A Vida Marinha com Steve Zissou, em A Viagem a Darjeeling. Aliás, as famílias que o Sr. Anderson abordam não são famílias normais, mas desfuncionais, como a minha (e muitas outras), e Wes sabe como ninguém falar sobre este tema.

A direção do filme é -- no mínimo -- interessante. Anderson tem um ótimo estilo, embora não saiba ainda usa-lo eficientemente. Seu estilo é caracterizado por uma lente grande-angular, que forma um efeito interessante, chamado de "efeito barril", onde a imagem tem uma distorção para dentro, fazendo os objetos se aproximarem do público. Wes também se utiliza do zoom e do dolly para apresentar personagens que surgem de repente, ou quando eles se impressionam (lembra um pouco o estilo de Martin Scorsese, que -- aliás -- quando perguntado sobre "quem poderia ser o próximo Scorsese", respondeu "observem Wes Anderson").

Mas... mesmo com um diretor talentoso, o filme falha. Mais por culpa do roteiro do que pela direção. Assinado por Anderson e por Owen Wilson, o roteiro parece formar um monte de cenas desconexas na primeira hora de projeção, transformando a projeção em algo frio e sem graça. Tudo bem que as personagens são assim, frias, mas num filme que se propõe a fazer rir a partir das desgraças que acontecem com os Tenenbaums, isso é um pecado. Felizmente isso muda no seu final, com tiradas sensacionais e uma construção ótima no fio narrativo, mesmo que um tanto tarde.


Wes conta com um elenco de luxo em seu filme. Gene Hackman (Operação França, O Jovem Frankstain), Gwyneth Paltrow (Shakespeare Apaixonado, O Talentoso Ripley), Ben Stiller (Greenberg, Duplex), entre tantos outros, formam um elenco estrelado sensacional, contando com a participação de Alec Baldwin na narração. Gwyneth Paltrow constrói a personagem mais interessante, sem dúvida. Repleta de dúvidas e com uma alma completamente despedaçada, Paltrow nos diz tudo isso com um olhar triste, maquiagem pesada e sua presença sempre distante no enquadramento, normalmente nos cantos e quase desfocada na câmera do talentoso Wes Anderson. Gene Hackman também não fica para trás e faz um adorável mentiroso (a cena final diz tudo o que precisávamos saber sobre Royal Tenenbaum).

Mesmo assim o filme permanece com um grande vazio. Um interessante vazio em tom vermelho.

Nota: 3 estrelas em 5

Por Victor Bruno

2 comentários:

Vazio? Mesmo depois de ver todos aqueles personagens sendo muito bem construídos e desenvolvidos, você ainda diz que o filme é vazio? Vazio por que? Faltou o que?

Eu -- particularmente -- achei o filme um tanto mal estruturado. O desenvolvimento das personagens, por parte de Anderson e Wilson, foi brilhante, mas acho que faltou um certo "tempero" na história, e foi jutamente esta falta de pimenta no molho do filme que me deixou com um certo vazio. Não que falte história ou conteúdo no filme de Wes, mas poderia ter sido melhor, para me tirar este certo "vazio".

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